sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O Poeta, a canção e o amor dos elefantes.

Foi no tempo dos LPs. Lá em casa havia um disco do Paulo Diniz numa capa escura que destacava a silueta do seu rosto. Morávamos na Bahia. Tinha uns oito anos. Era algo como um “The Best Of”. Ainda hoje posso cantar de cor músicas como Pingos de Amor, Quero Voltar Pra Bahia, Um Chope Pra Distrair, O Meu Amor Chorou... mas tinha uma que chamava mais atenção: contava a história de um tal de José. A letra era diferente das outras. Umas palavras que soavam estranhas para mim. Sabia que o personagem estava sofrendo. Curioso, quis saber de quem era a música. Bem, a música era do Paulo Diniz mas a letra era de um tal Carlos Drummond de Andrade. Achei o nome bonito. Imponente. De gente importante. Mais tarde descobri que era poeta. Gostava mais do Vinícius, do Quintana... mas Drummond sempre esteve ali ao meu lado. Ele costumava dizer que “sentimos saudade de momentos de vida e momentos de pessoa”. Hoje – lembrando a passagem de 20 anos sem Drummond – senti esta saudade inteira. Lembrei de pai, de mãe, de amigos distantes e do velho som Gradiente tocando o LP do Paulo Diniz. Engraçado... aquilo mexeu com meus oito anos.


Tempos depois, já adulto, descobri um conto de Drummond para crianças. Não, não era poesia. Ou era? HISTÓRIA DE DOIS AMORES (Record, com ilustrações de Ziraldo) conta a história do elefante Osborne e do “pulgo” Pul que resolveu se instalar nas orelhas do paquiderme. A partir daí vivem aventuras no mundo animal. Guerras, intrigas, sete anos de paz e, enfim, a procura por um grande amor. O livro fala principalmente sobre a amizade. Socorrer o amigo nas horas difíceis, usar da franqueza mesmo correndo o risco de perder o amigo e reconhecer quando se está errado. Algo em comum entre você e seu amigo do peito? Pois é assim que seguem juntos a pulga (ou melhor, o pulgo) Pul e o elefante Osborne até encontrarem cada um a sua cara-metade. Ziraldo arrebenta nas ilustrações. Dá um banho de originalidade ao criar seus elefantes com bocas na perna, ou pernas na boca, enfim. Espero que vocês já tenham encontrado “um amor tão bonito como a luz das estrelas e o perfume das violetas”. O meu amor eu encontrei. É um amor como o dos elefantes de Drummond e Ziraldo. Você não a conhece? Está aqui embaixo na foto que registra aquela manhã cinzenta do dia em que encontramos o poeta em Copacabana. Ele estava com frio. Oferecemos o casaco. Ele aceitou. Falamos sobre a infância. Ele disse: “A criança imita o adulto e este, a criança. Ao brincar com a criança, o adulto está brincando consigo mesmo”. Deixamos o poeta ali na calçada. Engraçado... aquilo mexeu com meus trinta anos.

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