
- Espera aí! Por que tantos potes iguais?
- Eu tenho culpa se Napoleão era louco? Eu tenho culpa se aquele homem adorava colecionar potes? Isto tudo aqui pertencia a ele, e, além de tudo, ainda queria dominar o mundo! – disse ela sem nenhum constrangimento.
Percebi que, na verdade, era uma história que ela estava me contando. Revoltado, pedi o meu dinheiro de volta. A resposta dela foi interessante:
- O dinheiro não é possível lhe dar de volta. Estou lhe dando o pote de graça porque você me pagou pela história que lhe contei, e por uma história contada não é possível devolver o dinheiro.Quando ela me disse aquilo me dei por vencido e me conformei com a perda do dinheiro porque ela me ensinou uma grande lição. A força do convencimento das palavras. Além do mais, encontrei naquela senhora, que era uma pessoa fantástica, um estímulo muito grande para me tornar um contador de histórias.”

- Parece que vocês são como eu. Amam a natureza, o silêncio. Então, sigam por aquela outra trilha, façam o caminho oposto. E descubram nossa beleza.
Beliscamos uns torresmos, queijo e goiabada noutra mesa, água do filtro, pegamos os cajados e seguimos até uma das nascentes do Tocantins. Depois, cachoeiras, piscinas naturais, pássaros invisíveis e um almoço caseiro de fartar um T-Rex.
Fugimos para o primeiro andar e fomos descansar os olhos nas redes do local. Perto das 17h, poucos remanescentes apreciavam aquele silêncio. Sentimos um aroma de chá. Descemos e compartilhamos aquela efusão com Demócrito e Jaqueline, sua esposa. Descobrimos que eles eram os proprietários do lugar. Papo vai, papo vem e, enquanto o sol pensava em descansar, o Tino abriu uma roda de histórias contando A DIVISÃO DOS GANSOS (uma de suas preferidas)... Aí deu-se o milagre: Demócrito, criado naquele cerrado, contou causos das noites em que ficou sozinho na mata, falou do Pai do Mato e de outras aventuras. Jurou que assombração existe. Para não fazer feio, Jaque, que conta histórias para as crianças em Pirenópolis, também desfilou seu repertório e nós, lembramos de Roberto Carlos Ramos e sua história sobre o encontro com aquela senhora na Espanha.
Ao final, o sol se pôs, a turma da Cachoeira do Rosário saiu numa Kombi que parecia a da Miss Sunshine, e nós voltamos para casa com a sensação oposta de quando chegamos lá: Pagamos pouco pelas histórias que ouvimos e ainda levamos de graça cachoeiras, redes, piscinas naturais, almoço, uma rodada de chá, o canto dos pássaros invisíveis e a primeira noite de lua cheia do mês de julho. Juro que deu para ouvir os lobisomens depois da meia noite!!!
P.S. Nas fotos, de cima pra baixo: a) Os exploradores Lucia Helena, Eu, Anna Claudia Ramos e Tino; b) Eu e o Tino em estado mineral na exata hora do meu beijo transformador; c) Os exloradores com o casal Demócrito e Jaqueline; d) A guerreira Kombi da Cachoeira do Rosário e o pôr-do-sol.
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