terça-feira, 7 de agosto de 2007

Quanto vale uma boa história?...

Para construir este post, vou reproduzir um trechinho do livro autobiográfico A ARTE DE CONSTRUIR CIDADÃOS – As 15 lições da Pedagogia do Amor (Celebris) do pedagogo e “contador de histórias” ROBERTO CARLOS RAMOS. Ele acabara de chegar à Espanha pela primeira vez:
Foi nesse país que conheci uma senhora que era uma fantástica contadora de histórias, que me vendeu um belo potinho, que, segundo ela, havia pertencido a Napoleão Bonaparte. Ela me contou das bravuras de Napoleão e de como havia conseguido adquirir aquele pote. Fiquei tão impressionado com a história do pote, que perguntei se ela poderia me vende-lo. Ela perguntou quanto eu tinha na carteira. Quando lhe falei a cifra que tinha, ela reclamou, mas disse que apesar de ser pouco o dinheiro que eu carregava ela iria aceitar, pois havia se simpatizado comigo. Entreguei-lhe todo o dinheiro, e quando ela abriu o armário para pegar o famoso pote vi que lá dentro havia muitos outros potes iguais ao que ela estava me vendendo. Muito desconfiado, perguntei:
- Espera aí! Por que tantos potes iguais?
- Eu tenho culpa se Napoleão era louco? Eu tenho culpa se aquele homem adorava colecionar potes? Isto tudo aqui pertencia a ele, e, além de tudo, ainda queria dominar o mundo! – disse ela sem nenhum constrangimento.
Percebi que, na verdade, era uma história que ela estava me contando. Revoltado, pedi o meu dinheiro de volta. A resposta dela foi interessante:
- O dinheiro não é possível lhe dar de volta. Estou lhe dando o pote de graça porque você me pagou pela história que lhe contei, e por uma história contada não é possível devolver o dinheiro.Quando ela me disse aquilo me dei por vencido e me conformei com a perda do dinheiro porque ela me ensinou uma grande lição. A força do convencimento das palavras. Além do mais, encontrei naquela senhora, que era uma pessoa fantástica, um estímulo muito grande para me tornar um contador de histórias.

Há duas semanas quando estivemos em Pirenópolis (GO) fomos convidados a conhecer a Cachoeira do Rosário, distante cerca de 40km do centro da cidade. O acesso não tão fácil e a grana desembolsada faria qualquer professor assalariado pensar duas vezes. Ao chegarmos lá havia uma turma de jovens com “seus” carros bacanas, som alto, gritos e tudo mais. Pensei: - Que fria!!! Este lugar é o caos para quem quer sossego e natureza. Mas fomos em frente. Chegamos à cabana e subimos para o mirante repleto de redes (o Tino abriu um sorriso...) e esperamos os jovens seguirem rumo às cachoeiras. De repente, surge um caboclo, nativo, chamado Demócrito, que nos dá as boas vindas e o seguinte conselho:
- Parece que vocês são como eu. Amam a natureza, o silêncio. Então, sigam por aquela outra trilha, façam o caminho oposto. E descubram nossa beleza.
Beliscamos uns torresmos, queijo e goiabada noutra mesa, água do filtro, pegamos os cajados e seguimos até uma das nascentes do Tocantins. Depois, cachoeiras, piscinas naturais, pássaros invisíveis e um almoço caseiro de fartar um T-Rex.

Fugimos para o primeiro andar e fomos descansar os olhos nas redes do local. Perto das 17h, poucos remanescentes apreciavam aquele silêncio. Sentimos um aroma de chá. Descemos e compartilhamos aquela efusão com Demócrito e Jaqueline, sua esposa. Descobrimos que eles eram os proprietários do lugar. Papo vai, papo vem e, enquanto o sol pensava em descansar, o Tino abriu uma roda de histórias contando A DIVISÃO DOS GANSOS (uma de suas preferidas)... Aí deu-se o milagre: Demócrito, criado naquele cerrado, contou causos das noites em que ficou sozinho na mata, falou do Pai do Mato e de outras aventuras. Jurou que assombração existe. Para não fazer feio, Jaque, que conta histórias para as crianças em Pirenópolis, também desfilou seu repertório e nós, lembramos de Roberto Carlos Ramos e sua história sobre o encontro com aquela senhora na Espanha.
Ao final, o sol se pôs, a turma da Cachoeira do Rosário saiu numa Kombi que parecia a da Miss Sunshine, e nós voltamos para casa com a sensação oposta de quando chegamos lá: Pagamos pouco pelas histórias que ouvimos e ainda levamos de graça cachoeiras, redes, piscinas naturais, almoço, uma rodada de chá, o canto dos pássaros invisíveis e a primeira noite de lua cheia do mês de julho. Juro que deu para ouvir os lobisomens depois da meia noite!!!

P.S. Nas fotos, de cima pra baixo: a) Os exploradores Lucia Helena, Eu, Anna Claudia Ramos e Tino; b) Eu e o Tino em estado mineral na exata hora do meu beijo transformador; c) Os exloradores com o casal Demócrito e Jaqueline; d) A guerreira Kombi da Cachoeira do Rosário e o pôr-do-sol.

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