quarta-feira, 28 de maio de 2008

Marina e Maurício no Salão...

Marina Colasanti, ao receber o prêmio (Hors Concours) de melhor livro de poesia, tirou da "manga" uma carta que recebeu (?) de Maurício Leite e a leu em público. Ele é um arte-educador, contador de histórias ENCANTADOR, que já vi em ação e que deu aulas (um mini-curso) para Ana Paula há muitos anos, quando ainda morava em Brasília. Atualmente ministra oficinas e conta histórias pela Europa, África e outroa continentes. Ele, sempre munido do livro, trabalha de forma genial, inclusive usando livros "só" de imagens, arrancando beijos, interjeições e aplausos da garotada. Depois, deixa sua mala - repleta de livros, brinquedos populares e outros badulaques - aberta para o deleite da garotada. Na carta, ele fala das dificuldades que encontrou numa viagem para contar histórias em Angola, e exulta a alegria das crianças admiradas com as histórias e os livros. Agradece aos escritores pelas histórias publicadas, instrumento de seu trabalho, importantes (as histórias e sua contação) para o despertar do gosto pela leitura em crianças mundo afora.

Naquela sala, indiretamente, Marina Colasanti - sem querer, querendo - disse à todos que um bom contador de histórias pode sim, incentivar a leitura. Maurício Leite usa de objetos em suas apresentações, assim como usa o livro. Os Tapetes Contadores de Histórias, usam objetos em seu excepcional trabalho, assim como usam o livro. Outros tantos também assim o fazem. A FNLIJ - Fundação NAcional do Livro Infantil e Juvenil, condena qualquer ação que não se prenda exclusivamente à leitura dos livros. Diz que o "resto" não incentiva a leitura. É mero entretenimento. Mergulhado na minha insignificância teórica, mas na força da prática que exerço, e sem as amarras políticas que envolvem tudo em torno da FNLIJ, digo que as palavras de Maurício Leite, repetidas por Marina Colasanti naquela sala na noite de segunda feira, soaram como música em meus ouvidos. Ao final de cada Firimfimfoca, por exemplo, os pais saem em busca dos livros da Sylvia Orthof atendendo ao pedido dos filhos.

O salão da FNLIJ é sim, o grande momento da litratura infantil e juvenil brasileira, como escreveu Socorro Acioli num comentário neste blog. É mais: um grande encontro de artistas do livro. É também um balcão de negócios. A mais organizada feira de livros que já vi. Porém, exitem muitos arte-educadores que usam o livro e suas histórias - e outros elementos - com talento e sucesso, despertando o gosto pela leitura, que não têm seu trabalho valorizado por esta instituição que tanto preza o livro e a criança. A FNLIJ merece todos os aplausos, mas - assim como qualquer mortal - não está imune a críticas. De um lado e de outro, todos queremos despertar nas crianças o gosto, o prazer pela leitura seja através de programas governamentais e projetos de incentivo à leitura ou práticas individuais. Queremos o mesmo: mais bibliotecas, mais mediadores, mais arte-educadores, mais leitores com prazer em ler. Hatuna Matata.

Premiando...

Cá estamos, mais uma vez, num cyber café carioca, postando algumas impressões sobre o que acontece no 10º Salão FNLIJ do Livro Infantil e Juvenil. No cyber, não consegui baixar as fotos (tantas) que entopem o cartão de memória da nossa máquia, por isso copio acima foto tirada no site oficial. Pouco tempo depois que esta foi tirada, as paredes naquele espaço estavam lotadas de outros autores, ilustradores, editores e participantes do salão. Receberam as láureas em mãos a divertidíssima Mighian Nunes (ganhou outro prêmio no ano passado), Jaqueline Soares (ambas do concurso Leia Comigo), Rosilene Pereira(concurso Tamoios), Graziela Hetzel e Elisbeth Teixeira (que me deu uma bronca por ter colocado o ex-libres no "lugar errado" do livro), Nilson Moulin, Cárcamo, Roger Melo (com uma camiseta MARAVILHOSA), Lucia Hiratsuka, Karen Acioly, André Mendes e Marina Colasanti. Quebrando o "protocolo", a sala foi sonorizada por "wuhús" calorosos e barulhentos quando foi anunciada a premiação de Lúcia Hiratsuka por seu livro Histórias Tecidas em Seda. Segundo os organizadores, foi a primeira premiação dela e da editora Cortez. O próprio sr Cortez, emocionadíssimo, subiu para receber o prêmio ao lado da doce Hiratsuka. Muita emoção, mesmo. Graziela Hetzel chorou no palco, emocionadíssima com a premiação de seu maravilhoso livro O Jogo de Amarelinha, enquanto Bia Hetzel, sua filha, fotógrafa, escritora, editora e gente boa, registrava tudo. Depois de uma belíssima apresentação musical, o 2º andar do Instituto Italiano de Cultura foi o palco de uma deliciosa recepção. Novos amigos, velhos amigos e muita conversa fiada e afiada nesta confraternização. Parabéns a todos. Autores, ilustradores, editores, Instituto Italiano de Cultura, patrocinadores e FNLIJ. A Literatura Infantil e Juvenil - que ainda está às margens da grande mídia, mas conquista a passos fortes um espaço melhor - merece toda esta atenção e reconhecimento. Nós, Roedores de Livros, ávidos consumidores de histórias e aprendizes na arte de conquistar novos leitores, aplaudimos e agradecemos. Wuhúúúúúúú!!!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Primeiras impressões do Salão da FNLIJ 2008

No último sábado, enquanto Edna, Célio, Aline e Juliana davam seqüência ao projeto na Ceilândia, eu e Ana Paula desembarcávamos no Rio de Janeiro para participarmos do 10º Salão FNLIJ di Livro para Crinaças e Jovens. A primeira impressão ao entrar no MAM, sede do salão, é a de nos sentirmos em casa. Livros. Autores. Ilustradores. Tantos que guardamos em casa nas estantes, nos emails, nos telefonemas... e agora, ali, ao alcance do olhar, do abraço, do reencontro, do muito prazer. Muito prazer. Esta é a palavra. Estou num Cyber-café no Flamengo e tenho que correr para o lançamento do novo e belíssimo livro de Ana Terra, Sai pra lá. Por isso, deixo mais impressões para depois. O que posso dizer é que os encontros após o salão são deliciosos. Segunda, uma mesa gigantesca no Cervantes reuniu editores, André neves, Elma, Marcelo, Ivan Zigg, Ana Terra, Cárcamo, Roger Melo, Hermes Bernardi Jr., Anna Claudia Ramos, Sandra Pina entre tantos outros. Ontem, no salão, o grande momento foi o lançamento do MARAVILHOSO livro Pelos Jardins Boboli - Reflexões dobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens, do genial Rui de Oliveira. Além de fãs, curiosos e alunos, Rui concentrou na platéia mais da metade dos melhores autores e ilustradores para crianças do Brasil, todos na fila de autógrafos. Um momento inesquecível. Talvez Rui ainda estivesse lá agora autografando (a fila era imensa) se a Beth Serra (a comandante em chefe do Salão) não aparecesse por lá com o microfone na mão expulsando todos da sala pois o horário havia estourado. À noite, num restaurante do Horto, Eva Furnari, Ricardo Azevedo, Diléa Frate e boa parte do "time" da primeira noite. Nesta segunda acontece a entrega dos prêmios da fundação. A noite também promete. Sigo informando aos poucos. Aguardem fotos e relatos de cada encontro.

Mais informações no SITE DO SALÃO.

sábado, 24 de maio de 2008

Visitas na toca dos roedores de livros.

Queridos amigos, no último sábado, 17 de maio, nosso encontro - como diria a Edna - foi SHOW!!! Quer dizer, todos os percalços do sábado anterior ficaram para trás. A turma veio disposta a participar ouvindo e contando histórias. Pra começo de conversa, tivemos três visitas: Lysiane (que sempre dá uma força para o projeto), Aline e Daila. Essas duas últimas foram conhecer nosso trabalho. A Vanessa grudou na Aline, contou histórias para ela e ajudou a tornar aquela manhã ainda mais gostosa. Na mediação, contamos o Monstro, não me coma!, Dá um sorriso pra titia! e A divisão dos gansos do livro O homem que contava histórias. Depois que alguns conaram sobre o livro que levaram para casa na semana anterior, pausa para o lanche e hora de escolher novos livros. Ao final, antes de irmos para casa, brincamos de ciranda e "andamos de trem". Um final de manhã divertidíssimo. Para exemplificar tudo isso, resolvi que as fotos falarão por si. Darei título a elas só para reforçar a idéia. Portanto, a primeira foto, chama-se "sala de leitura - esperando os roedores";
"O apetite que arregala os olhos";
"Visitas ganham histórias de boas vindas"... voltem sempre!;
"Mergulhando nos livros";
"Andando de trem, antes de ir para casa".

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Palavra de criança

Semana passada descobrimos que um livro do acervo do projeto não havia descansado na prateleira desde o recomeço das atividades em 2008. Seis semanas depois, seis crianças diferentes pegaram o tal livro para ler. Tempos atrás, a Júlia leu este livro e me disse que tinha gostado muito. Baseada nesta informação, resolvi apresentá-lo à turma assim que ele chegou ao acervo. No mesmo dia aconteceu o primeiro empréstimo e, desde então, está passando de mão em mão numa disputa acirrada sempre que ele retorna à casa. Estou falando do livro Tem um cabelo na minha terra (texto e ilustrações de Gary Larson, Cia das Letrinhas). Curiosa, no último sábado perguntei para algumas crianças sobre o que elas acharam da leitura:

- É muito engraçado! – disse uma.

- A gente não consegue parar de ler! – disse outra.

- É um livro muito bom! – Finalizou uma terceira leitora.

Com argumentos tão fortes e sinceros, fui descobrir as delícias desta história de minhoca e me surpreendi com as sutilezas que o autor colocou no texto e nas ilustrações.
Tem um cabelo na minha terra é, antes de tudo, um livro muito engraçado. Uma família de minhocas (pai, mãe e filho) jantam em casa quando o pequeno minhoco encontra um cabelo na terra que comia. Ele acha tudo aquilo o fim da picada: “Estamos debaixo de todo o mundo! Somos o último escalão da cadeia alimentar! Comida de passarinho! Isca para pescaria! Que vida é essa, me digam! Nunca saímos para nadar, para acampar, para uma caminhada, nada! (...) E além do mais, eu já ia esquecendo, comemos terra! Terra no café da manhã, terra no almoço, terra no jantar! Terra, terra, terra! E agora, ainda por cima, vejam só! Aparece um cabelo na minha terra! O insulto final – não agüento mais! Detesto ser minhoca!”. Papai minhoco resolve, então, contar a história de Benedita, uma linda donzela que vivia numa floresta e que se encantava com a magia da natureza. Durante um passeio, a moça vai se encantando com a natureza ao redor, enquanto o senhor minhoco, narra todos os equívocos daquele encanto superficial, oferecendo ao seu filho – e ao leitor - um choque de realidade. Tudo com muito humor. Ao final, o pequeno minhoco percebe que amar a natureza não é o mesmo que entender a natureza, que o mundo natural é feito de conexões e que as minhocas também têm sua importância para o bom funcionamento do todo. As ilustrações brincam o tempo todo lado a lado com o bom humor do texto. Por exemplo, na sala de jantar das minhocas, a terra está servida em pratos, acompanhados de talheres. Não preciso lembrar que minhocas não têm braços (dããããã). Gary Larson conta uma história divertida, inusitada, que oferece caminhos para ensinar ao leitor sobre preservação do meio ambiente.

Analisando as respostas das crianças que fizeram a leitura de Tem um cabelo na minha terra por puro impulso, estimuladas pela propaganda de um leitor anterior, da mesma idade, do seu círculo de amigos, a gente percebe que o livro de Gary Larson encanta porque – antes de tudo - tem um texto inusitado que contagia, que provoca risos e que é, por fim, muito bom. Palavra de criança. Quem somos nós para duvidar. Hatuna Matata.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

As caixas de Hermes

A primeira vez que encontrei o Planeta Caiqueria (Hermes Bernardi Jr., ilustrações de André Neves, Projeto) foi numa livraria em Brasília numa tarde onde só tinha a grana para o café e muita curiosidade por novos livros. Fiquei numa convulsão para levá-lo para casa. Primeiro pela criação primorosa das ilustrações do André Neves – que me fez tirá-lo da estante num primeiro momento. Depois, pela força da história-quase-fábula de Hermes. O livro, com sua força de recortes, texturas e cores, é um presente para os olhos... coisas de André. O texto, por sua vez, acarinha o coração. Fala da solidão, da responsabilidade, do amor e das surpresas que a vida apronta. Sei lá... Acho até que fala de um tempo remoto e gostoso quando a vida era só ouvir histórias... depois vieram as contas a pagar, os filhos a educar, horas de trabalho mais que horas livres... Abrindo o Caiqueria, volto àqueles tempos de descompromissos com a realidade. Então, no meu mundo só resta a fantasia. É maravilhoso recordar estes momentos ao simples despetalar de folhas deste livro.
Passaram-se alguns dias e o livro finalmente veio morar aqui em casa. Vez em quando, como agora, vou correndo até a estante fazer companhia à estranha Criatura – este é o seu nome - que tem por ofício guardar e manter fechadas as caixas que guardam as histórias que guardam as palavras. Nas minhas andanças por aí, descobri que o nome Caiqueria surgiu da mistura de CAIxa, brinQUEdo e HistóRIA. Uma colagem criativa para descrever o que acontecia naquele planeta. Criatura cultivava frases num jardim, colhia e as guardava em caixas diversas, aprisionadas em histórias distintas. Cada história em sua caixa e Criatura com tudo aquilo para si. Um dia, durante um cochilo de Criatura, um Big Bang abriu as caixas e espalhou as histórias pelo mundo. Ao acordar, Criatura descobre a liberdade. Sua e das histórias. Eu fiquei assim, mais livre e mais encantado com a literatura infantil.
A primeira vez que encontrei o E um rinoceronte dobrado (Hermes Bernardi Jr., com imagens de Guto Lins, Projeto) foi inusitada. Ele chegou em casa sem nem eu saber. Além de dobrado, veio espremido com outros livros num “lote” de “cortesia da editora”. Era um time de ótimos livros e eu saí roendo pra todo lado. De repente, já empanturrado do “lanche”, pesquei o tal rinoceronte da sacola e comecei a ler, sem dar muita atenção ao autor ou ao ilustrador. Na terceira página eu já estava apaixonado pelo texto. Na quarta, quando o autor resolve colocar numa caixa de sapatos dois quilos de quando ele era contente eu parei a leitura. Voltei à capa e descobri o autor. Caixas... Hermes... é claro que ali estava uma ligação com o Planeta Caiqueria. Arrepiei com a descoberta. Para os mais atentos, a ligação nem precisava estar escrita no final do livro como, de fato, está.
O texto nasce da resposta do autor à pergunta: O que eu colocaria numa caixa de sapatos? Daí surge a fantasia que passa por todos os sabores de picolé, um momento de chuva, um saquinho de beleza, meias fedidas, pensamentos embalados em mel, rimas, absurdos e outros sabores. O projeto gráfico de Guto e Adriana Lins dá vida aos “objetos” que vão compondo a tal caixa como os quindins (sim, eu os vi), uma zebra fantasiada de cacho de uva, um jacaré de paletó, entre outras criações poéticas. Tudo com muita criatividade embora, às vezes, deixe a impressão de que tantas imagens na página ocupem o espaço que o texto oferece para a imaginação do leitor voar ainda mais alto. O livro encerra com a mesma pergunta do início. Desta vez, dirigida ao leitor que, inserido na brincadeira poética de Hermes, se vê apto a colocar suas mais loucas criações e memórias eletivas na caixa de sapatos. Talvez um balanço de rede, ou uma camiseta amarelo-petróleo... quem sabe o arco-íris que eu vi na voz da Maria Bethânia ou a risada do Pedro, o calor da Ana... De uma coisa estou certo: ficarei mais atento ao que sair da caixola de Hermes. Espero que ele continue a me surpreender com ótimas histórias.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Pouco, às vezes, é muito.

Sábado passado, 10 de maio, véspera do dia das mães, a turma estava muito dispersa. Não foi um dia dos mais tranquilos. Talvez por estarem todos ansiosos para fazer os cartões e descobrir qual a surpresa que levariam como presente para suas mães. Talvez pela presença de um ou outro novo menino que trouxe uma eletricidade diferente. Mas a garotada estava ligada na tomada. Elétrica. Atenção mesmo só na primeira história, contada pela Hilariana. Ela escolheu o livro Ensinei meu gato a falar francês (Sérgio Vieira Brandão, ilustrado por , Paulinas). Depois, seguiram as leituras das crianças, mas não aconteceu com a atenção das semanas anteriores. Peguei uma história para ler. Não funcionou. Estavam dispersos mesmo.
Calma e concentração para a hora de cada um fazer um cartão para a mãe. Nossos meninos e meninas encontram na figura da mãe toda a força para seguir em frente. Muitas trabalham, não têm marido, mas, com todas as dificuldades, conseguem oferecer um mínimo de carinho para seus filhos. Pouco, às vezes, é muito diante de tanta adversidade. Por isso acredito que a vontade de oferecer algo para as mães trouxe uma carga de realidade que a fantasia dos nossos livros não conseguiu romper.
Conseguimos a doação de livros para que cada criança levasse de presentepara sua mãe histórias de mulheres vencedoras. Num embrulho simples, reencontramos o sorriso sincero e o orgulho de todos em voltar para casa com este mimo. Agora, sim, com o presente na mão, de volta ao projeto, era a hora de escolher os livros para empréstimo.
Sentada na relva (pense!!!) a Edna finalizou os trabalhos daquela manhã, anotando os livros que cada criança escolheu. Enquanto aguardam a sua vez na fila, uns lêem, outros trocam informações sobre suas escolhas, e outros ainda só esperam a hora de ir para casa.

Hatuna Matata!!!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

"Ser criança era moleza"...

Um livro pode passar despercebido até pelos mais atentos roedores. No meu caso, isso acontece num dia borocochô, ou acreditando numa resenha que me faz desinteressar pelo título (nunca dê tanto crédito às resenhas), ou tantos outros motivos. Pois é. Aconteceu comigo. Havia lido em algum lugar que Adeus Contos de Fadas (Leonardo Brasiliense, 7 Letras) conquistara o Prêmio Jabuti 2007 na categoria Livro Juvenil. Curioso, busquei mais informações na internet e confesso que o que li não moveu a minha curiosidade de conhecê-lo ao vivo. Mas – para o meu deleite enquanto leitor – encontrei o danado outro dia numa prateleira, abri uma página aleatória e li em voz alta para a Ana Paula e para o Rafael – amigo querido que dá vida à seção infantil de uma grande livraria daqui de Brasília. O texto, ia além das palavras. Na mesma tarde o livro veio para casa. E o pior: ele não consegue ficar na estante. Passeia de lá pra cá sempre que chega uma visita ou quando preciso de inspiração para tornar o dia mais interessante.

Adeus conto de fadas chegou até a minha casa de roupa nova. Segunda edição com uma capa mais instigante, que veste 72 minicontos. Nada mais que 15 linhas em cada um. Segundo pincei no Wikipédia, no miniconto, "muito mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de "preencher" as elipses narrativas e entender a história por trás da história escrita". O título faz referência ao fim da infância. A passagem do mundo do faz-de-conta para realidade. A terra do nunca ficou presa nos livros e viver esta nova fase não é nada fácil.

No livro, temas adolescentes: a menina que se acha feia, a gravidez precoce, o primeiro beijo, competição, inveja, sexo, amor. Bom humor e inteligência andam juntos o tempo todo. Tem para o universo masculino, para o feminino e para os dois juntos em harmonia - ou não. A turma vai se deliciar. E se você já passou da adolescência, não se incomode. As situações descritas fizeram parte da sua visa. Vale à pena descobrí-las neste livro.

Leonardo tem um dom impressionante para dar títulos aos seus minicontos. Não são escolhidos ao acaso. Interagem com o texto. Muitas vezes, são imprescindíveis para a harmonia do conjunto. All you need is love refere-se à onda de “eu odeio...” do orkut; Medições, deixa claro o que os meninos fazem no banheiro sem que o texto fale em banheiro; Constrangida, conta as impressões de um adolescente e do atendente da farmácia às 10 da noite.

Hoje, descobri que o Dobras da Leitura em sua edição 46 publicou uma resenha bem bacana sobre o livro. Uma pena eu não ter visitado aquele link antes. Não teria demorado tanto para provar as delícias de Adeus Conto de Fadas. Mas os livros esperam por nós, não é mesmo?! Eu só espero que meu relato apaixonado conquiste novos leitores. Para não correr o risco, deixo que o próprio Leonardo Brasiliense convide a todos a mergulhar em seus minicontos fantásticos. Apaixone-se pelos desencantos, surpresas e felicidades da adolescência.

Pra descontrair (in Adeus Contos de Fadas).

No banheiro da casa dele, os dois olham fixamente para o teste de gravidez.

- Mas tem que ficar rosa ou azul?

- Calma, ainda não deu o tempo.

Passa um minuto. Passam dois. E nada. Ela começa a chorar, e gagueja:

- Ainda não aconteceu nada.

Ele pega a “caneta”, trêmulo que mal consegue segurá-la:

- Será que não funciona?

- Tu comprou onde essa porcaria?

Ele também já chora, e rindo ao mesmo tempo:

- Na mesma farmácia da camisinha.

Hatuna Matata!!!

P.S. Sobre as imagens.

A primeira – Capa da Segunda Edição;

A segunda – Capa da Primeira Edição;

A terceira – Troféu do Prêmio Jabuti.

sábado, 10 de maio de 2008

Como funcionam as coisas

Ainda no sábado passado, 03 de maio, Samanta arrancou gargalhadas ao ler a história do filho que dizia ao pai que não queria ir à escola. Mais uma pérola do livro Papagaio come milho, periquito leva a fama!.
Eu simplesmente adorei esta foto do Jardesson contando história!!!
Aqui, Tiago e Guilherme curtindo a sombra, o tapete e uma leitura descompromissada. As coisas funcionam e nem precisa saber como (veja a capa do livro). Hatuna Matata.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Livros, sombra e cuca fresca...

Sábado passado, 03 de maio, o dia se fez belo e construiu uma sombra generosa para que o projeto acontecesse mais uma vez ao ar livre. Teoricamente, isso acontece porque ainda estamos em processo de ajustes na "sala da fantasia". Na prática, adoramos o improviso. Mesmo. Recebemos a visita do Evanilton, irmão da Edna, que deu uma passadinha para conhecer a turma. Presentes ainda a Hilariana, o Célio, Ana Paula, as crianças e eu.
Começamos as atividades com a Ana Paula lendo O rei que virou vaca, texto de Ricardo Azevedo que finalmente ganhou as páginas de um livro. Está no novíssimo Papagaio come milho, periquito leva a fama! (moderna), um livro repleto de histórias divertidas, quadras e adivinhas. A turma ficou curiosa para saber que fim teria aquela trama sobre um rei que acordou achando que era vaca e queria que seu corpo fosse fatiado e distribuído entre o povo.
Depois eu contei O Diabinho Bom, um conto mais longo, porém contagiante, escrito por Pierre Gripari, no ótimo livro Contos da Rua Brocá. É a história de um diabinho que na escola lá no inferno fazia tudo o que não devia. Ou seja, sabia a lição, fazia o dever, estudava história, geografia... ah, e não fazia guerra de papel na classe! Uma vergonha para a família. O pai, o diabo, ficava zangado com a falta de traquinagem do filho. Um dia, o pequeno encontrou um padre e pediu um conselho. Queria ser bom. O religioso disse: - É simples: obedeça aos seus pais!!! Risos à sombra da árvore.
O Livro das Árvores, que havia feito um sucesso danado há duas semanas, foi pinçado do baú por uma das crianças. A Edna, então, leu sobre o Mapinguari. Mais uma vez, todo mundo de olho. Depois, a sombra resolveu acolher as leituras das crianças. Mas isso eu conto no próximo post.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Força, agilidade e paciência.

Alguns livros têm uma embalagem que encanta. Ficam expostos na entrada das livrarias, têm a assinatura de um grande ilustrador e o autor, às vezes, já escreveu algo interessante que nos faz acreditar que qualquer coisa que escrever será muito boa. Ledo engano. Já fui pego por estas armadilhas e bravamente segui em frente até a última página. Mas, como já ouvi dizer por aí, devemos também ler livros ruins assim como assistimos a filmes ruins. Assim, apuramos o gosto. Digo isso porque gosto de fuçar as estantes das livrarias. E se você – como eu – tem paixão por livros infantis, sabe que fuçar naquelas estantes não é nada fácil. É preciso força, agilidade e paciência. Força para abrir espaço entre os livros, pois eles insistem em ficar espremidos uns nos outros. Agilidade para manter o equilíbrio em espaços geralmente minúsculos. Paciência para perdoar a ignorância dos vendedores (há exceções). Por fim, vez em quando encontro um tesouro.
Foi assim que descobri A História de Despereaux (Kate DiCamillo, ilustrações de Timothy Basil Ering, Martins Fontes). Primeiro, simpatizei com o ratinho da capa. Achei o título difícil – até agora, não sei pronunciar direito. Ignorei o ícone que revelava uma premiação importante. Ao folhear, me apaixonei pelas ilustrações. Trouxe-o para casa. Agora, depois de devorar suas 260 páginas, escrevo este texto feliz e surpreso por minha conquista no garimpo.
Despereaux Tilling é um pequeno camundongo diferente dos demais da sua espécie. Gosta de música e – como os Roedores de Livros – prefere ler a roer os livros de verdade (Juliana diria poeticamente que nós roemos com os olhos). Por causa destas preferências ele entra em contato com a princesa Ervilha e se apaixona por ela. Seus companheiros camundongos o condenam ao calabouço do castelo onde provavelmente morrerá devorado pelos ratos. Pois é. Ratos não gostam de camundongos. No calabouço há o terrível Chiaroscuro, um rato que quer viver na superfície pois detesta a escuridão. Em seu primeiro passeio por lá, encantado com as luzes de um candelabro, acabou matando a rainha, o que acarretou medidas drásticas impostas pelo Rei. Longe dali, uma menina chamada Migalha Sementeira vivia triste. E quase surda pois suas orelhas viviam doloridas e amassadas como uma folha de repolho de tantos puxões que sofia do homem que a comprara de seu pai. Ela fora vendida por uma toalha de mesa vermelha, uma galinha e um punhado de cigarros. E isso a deixava profundamente triste. Queria ser uma princesa.
Estes três personagens são apresentados em capítulos separados, depois a história vai se encaixando como se fosse um quebra-cabeças. O narrador segue dialogando com o leitor como se alguém estivesse ali sussurrando as ações em nossos ouvidos numa narrativa contagiante. Uma história que fala de amor, ódio, esperança, perdão, tudo misturado com muita aventura. Dá pra sentir o cheiro da sopa na cozinha do castelo. Dá pra sentir a escuridão do calabouço. A cada página seguimos torcendo pelo pequeno Despereaux. Por fim, o camundongo, o rato e a menina das orelhas de repolho se encontram e a história ganha o seu desfecho. Encantado, como um menino guloso, eu ainda queria mais daquela iguaria deliciosa!!!
Agora, fuçando na internet em busca de links e outras informações sobre o livro, descobri que A História de Despereaux será lançada nos cinemas em dezembro de 2008. Os atores Matthew Broderick, Sigourney Weaver, Dustin Roffman fazem parte do elenco estelar que dará voz aos personagens animados. Mas não espere tanto para conhecer este camundongo. Ele vai conquistar você e as crianças simplesmente nas páginas do livro de Kate DiCamillo. Eu me rendi aos encantos desta história que pesquei numa estante espremida de livros numa loja de Brasília. Torço para que vocês desenvolvam a força, agilidade, paciência e façam boas pescarias também. Hatuna Matata.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Meu encontro com Os Três Ladrões

Um dia, tinha que ser um dia azul, com nuvens brancas, vento suave, sol quase cor-de-rosa, tinha que ser num dia assim (*)” para que eu reencontrasse OS TRÊS LADRÕES. Não foi num seqüestro relâmpago, muito menos num assalto a banco ou no calçadão de uma praia carioca. Os ladrões aos quais me refiro eu poderia ter encontrado se morasse distante daqui, nos tempos em que as carruagens eram movidas a cavalos de verdade e rodas de madeira. Nos encontramos pela primeira vez há muitos anos, quando tive acesso aos vídeos da coleção Crianças Criativas. A única coisa que eles conseguiram roubar de mim foi a atenção. E agora, me vejo com o olhar e o coração presos ao encanto não do vídeo, mas, finalmente, do livro OS TRÊS LADRÕES (Tomi Ungerer, Global) em novíssima edição.


Publicada originalmente em 1963 e vencedora de diversos prêmios, incluindo o Hans Cristian Andersen (2000) esta história teve sua primeira edição traduzida para a Língua Portuguesa em 1997. Três ladrões se ocupam em assaltar carruagens com uma estratégia infalível acumulando uma riqueza de fazer inveja aos mais ricos. Um dia, ao encontrarem uma pequena órfã, os três malvados são tocados pelo amor e passam a dar um novo sentido a suas vidas.

Surpreendente por tratar de temas opostos e conflitantes de forma simples e direta, o livro conquista desde o leitor iniciante até seus pais e avós. Todos concedem o perdão aos malvados ladrões. Todos se encantam com as belíssimas ilustrações, que dialogam com o leitor, às vezes mais do que as palavras. Emoção pura! O clima soturno, reforçado pelo uso intenso das cores azul e preto, de repente ganha outras matizes. Os ladrões não têm rosto visível. Muitas ações são sugeridas através de um jogo de sombras. Fica a cargo da nossa imaginação.

Tomi Ungerer, nasceu em 1931 na Alsácia, região administrativa da França. No final dos anos 50 foi morar nos Estados Unidos da América onde trabalhou como ilustrador em publicações famosas como a revista Life e o diário The New York Times, onde ficou conhecido por seu traço criativo e cheio de humor. No Brasil, infelizmente, tem poucos livros disponíveis. Entre eles, O Homem-Lua e O Chapéu.

Em Os Três Ladrões, desde o início, há um clima de suspense e a gente fica esperando o que vai acontecer com desafortunada órfã. Torcemos por ela. E a história, de repente, acolhe o nosso desejo. Se você quer se deliciar com uma outra “leitura” desta história, veja abaixo o filme feito em 1972 com base nas ilustrações e textos originais. Mas não se acomode. Não tenha medo de encontrar Os Três Ladrões. E, se tiver oportunidade, leve-os para casa. O livro consegue ser bem melhor que o filme. E nem você nem as crianças precisarão de um computador para entrar no mundo da fantasia. That’s all, folks.

(*) Trecho da história Um elefante incomoda muita gente, de Sylvia Orthof, publicada no livro Os Bichos que tive (Salamandra).


sexta-feira, 2 de maio de 2008

Roedores de Livros na Revista Nova Escola!!!

Queridos amigos. O Roedores de Livros foi um dos 29 projetos selecionados para a Edição Especial Leitura da revista Nova Escola, referência nacional quando o assunto é educação. Uma honra para nós dividirmos o espaço com tanta gente boa de todo o Brasil.
A revista ficou um primor. Na introdução, um panorama sobre a situação do livro e dos leitores no Brasil. Depois, apresenta projetos a partir de uma escala de idades (até 3 anos; de 4 a 6 anos; de 7 a 9 anos; de 10 a 12 anos e de 13 a 15 anos). No rodapé da edição, mais de 150 sugestões de livros!!! E ainda tem entrevistas com Tatiana Belinky, Heloísa Prieto, Fanny Abramovich, Ruth Rocha e Ivana Arruda Leite.
Nosso projeto aparece na faixa entre 7 e 9 anos. Da página 30 até a 39 dividimos as experiências e conquistas com os projetos Borrachalioteca (Sabará, MG), Casulo (São Paulo, SP), Expedição Vaga Lume Portel e o Jegue Livro, do Comunidade de Leitores (Alto Alegre do Pindaré, MA). Já trocamos figurinhas rápidas com a Elza Maria dos Santos (Jegue Livro) e com o Marcos Túlio Damascena (Borrachalioteca) vencedores do Prêmio Viva Leitura de 2006 e 2007 (respectivamente) e somos solidários nas dificuldades e nas conquistas.
Aproveitamos para agradecer o trabalho da repórter Débora Menezes, em particular, que soube transformar em palavras o trabalho de tantos em prol do gosto pela leitura. Nosso obrigado também por toda atenção recebida por Carol Salles. Mas deixamos um parabéns a toda a equipe desta edição. A revista encontra-se nas bancas. Acho que vocês podem comprá-la também pelo site da Nova Escola. Enfim, vale à pena investir e conhecer um pouco do que se faz neste universo.

Esperamos, por fim, que a revista sirva menos para divulgar estas ações e mais para provocar novos parceiros, voluntários, educadores, empresários. Provocar, no sentido de, juntos, arregaçarmos as mangas para mudar com consistência o panorama do livro e dos leitores brasileiros. Hatuna Matata.