domingo, 31 de janeiro de 2010

"Ler é uma aventura"

A seguir reproduzimos a entrevista que a pesquisadora, ensaista e tradutora LIGIA CADEMARTORI deu ao jornalista Severino Francisco, publicada no caderno Diversão & Arte do jornal CORREIO BRAZILIENSE edição de 24 de janeiro de 2010. Lígia, que em tempos idos escreveu O QUE É LITERATURA INFANTIL? para a Coleção Primeiros Passos (Brasiliense) está com um novo livro na praça: O PROFESSOR E A LITERATURA - Para pequenos, Médios e Grandes (Autêntica) em que aborda as relações do professor com a literatura e sobre as relações entre professores e alunos com a mediação da leitura. Vale à pena ler o que ela tem a dizer. (A foto abaixo foi reproduzida a partir do arquivo em PDF da entrevista e é de autoria de Daniel Ferreira)

“LER É UMA AVENTURA”


A gaúcha Lígia Cademartori, colaboradora do Correio, radicada em Brasília há mais de 20 anos, é uma das mais importantes pesquisadoras da história da leitura no Brasil. Mas, antes de tudo, é uma leitora apaixonada, uma dependente química dos livros. Ela se revolta com o fato de que os professores quase sempre são colocados na condição de instrumentos dos projetos de leitura e não de sujeitos pensantes. Lígia acaba de publicar O professor e a literatura para pequenos, médios e grandes, em que defende uma visão original e polêmica da leitura em uma era do bombardeio dos meios de comunicação de massa e do império do consumo. Ela sustenta que detestar um livro pode ser algo bem interessante e o importante é ler com paixão.


Você escreve sobre muito sobre os desafios para a formação de leitores. Mas, afinal, como se tornou uma leitora?


Eu não poderia deixar de ser leitora porque nasci em uma casa de leitores. Meu pai era um empresário apaixonado por filosofia e poesia, e a minha mãe devorava romances e gostava de cinema. O meu pai era o que chamo de leitor dependente, ou seja, aquele que não vive sem leitura. Quando estava para morrer, sobrevivendo na base do soro, perguntei se ele não precisava de alguma coisa. Então ele me pediu para abrir um jornal e se aproximar dele para que pudesse ler. Argumentei que ele não podia, pois estava tomando soro e ele respondeu: “Fazer soro sem ler enlouquece”.


Mas viver em uma sociedade de consumo sem ler também não enlouquece?


Olha, estamos vivendo uma situação perturbadora: não somos mais do que consumidores. Você é um consumidor classe A, B ou C. É terrível, mas desde o instante em que chegam à escola, as crianças são avaliadas pela marca do tênis ou da mochila. Todos procuram se adequar aos padrões do consumo para sobreviver. Quem não se enquadra é excluído, pois a sociedade de consumo é bastante totalitária e intransigente.


Qual a responsabilidade da escola nesse processo? Ela não poderia ter uma postura menos passiva em relação ao mundo do consumo?


As crianças já nascem com uma pauta de consumo e a escola é um cenário desse processo. A escola já produziu símbolos, já foi referência, mas, hoje, ela só repercute o que ocorre no mundo da mídia. Mas, para que ela interfira na formação das crianças é preciso que os professores sejam leitores, é preciso que eles não se rendam à pauta do consumo e ao grande jogo de interesses que envolve o mercado editorial. A literatura é uma provocação e um convite para o ser, para a sua singularidade, para ouvir a sua voz.


É possível transmitir a paixão pela leitura sem gostar de ler?


Eu perguntei a um professor que estava indicando alguns livros: “Você gostou?” E ele respondeu: “Ainda não li”. Que critério está comandando essa escolha? Muito possivelmente o da publicidade. É preciso conceder aos alunos a liberdade de se manifestar com franqueza sobre a sua experiência de leitura. Deixa eles dizerem que detestaram, que odiaram, que acharam um saco. Não gostei dá uma discussão fantástica. Não gostar é um efeito tão importante quanto gostar. A função da literatura não é formar consensos, é colocar os sentidos em tensão. Qualquer coisa que não seja a apatia é boa.


Como despertar o interesse pelo livro em uma sociedade da informação, sob um bombardeio vertiginoso de estímulos e seduções?


Hoje, as escolas de primeiro e segundo graus têm muito mais livros do que há 30 ou 40 anos. No entanto, não podem concorrer com a velocidade e o processo avassalador da informação instantânea. O professor tem de saber que não vai entrar pela porta da frente, mas sim pela fresta. Na era da velocidade ele vai propor: pare com tudo, vamos fazer a experiência lenta, mas essencial da leitura. Ela é uma aventura do sentido.


O que Monteiro Lobato poderia fazer se estivesse vivo?


Monteiro Lobato não concorreu com os meios de comunicação. A minha geração sempre teve a literatura por perto. Só existiam o livro, o rádio e a eletrola. O Lobato formou toda uma geração de leitores com novos valores. Ele era um racionalista, formou uma geração de crianças críticas e irreverentes. Lobato insinuou, sem que os pais percebessem, uma moral relativa, que rompia com as ideias prontas e a moral absoluta.



Você acha que é possível estabelecer uma relação espiritual com os autores que a gente lê nos livros?


Certa vez, quando eu trabalhava em uma instituição do governo, relacionada aos livros, recebi um telefonema e a voz do outro lado da linha se identificou: “Eu sou filha do Monteiro Lobato”. Eu disse para ela: “Eu também”. A minha maneira de ver o mundo foi muito influenciada pelo espírito crítico do Lobato.


Tivemos uma produção de literatura infanto juvenil de alta qualidade com a Ruth Rocha e a Ana Maria Machado. Elas não fizeram a cabeça de várias gerações de crianças?


São autoras que tiveram uma função muito importante porque a obra delas questionou muito os valores opressivos de um país que vivia sob uma ditadura militar. Elas fizeram a sátira e a crítica do poder em uma sociedade autoritária. Mas a literatura dirigida às crianças e aos adolescentes não fala mais das relações do poder.


O que mudou e quais são os traços marcantes da nova literatura para crianças e adolescentes?


Eu detecto mudanças em dois aspectos: no plano formal e nos temas. No plano formal, o desenho e os textos passaram a ter a mesma importância. As imagens não se limitam mais a serem ilustrações do texto. É como se as imagens narrassem uma história e o texto outra. Essa tendência é bastante significativa em uma cultura em que a imagem ocupa um espaço avassalador no imaginário das crianças. E, neste sentido, valeria a pena citar dois nomes: Fernando Vilela e o brasiliense Roger Mello. Em nossa sociedade eminentemente visual, em que tudo passa pela tevê, a nova literatura seduz pela imagem. O brasiliense Roger Melo é um dos maiores ilustradores do mundo. É uma grife em qualquer bienal internacional do livro. O outro aspecto interessante na literatura do século 21 é a tendência a ver e respeitar as diferenças. Você não vê o outro como objeto do seu olhar, mas como sujeito. Uma obra como Lampião e Lancelote, de Fernando Vilela, aproxima diferentes culturas diferentes e aparentemente distantes. Aprender a ver o outro é o traço essencial dessa nova literatura.


Por que a sua ênfase nos clássicos?


Questiono o absolutismo do conceito de literatura juvenil. O exemplo do que ocorreu com o escritor Luiz Rufatto me parece muito bom. Ele tinha 12 anos, morava em uma cidadezinha do interior de Minas, passou por uma biblioteca, mas não estava à procura de nenhum livro. Uma bibliotecária lhe indicou um livro russo de leitura adulta que, a princípio, não tinha nada a ver com a realidade imediata dele, em vez de replicar o que se passa na tevê. O livro teve um enorme impacto em sua sensibilidade e despertou sua veia de escritor. Sou capaz de apostar que o livro da Feiurinha, escrito pelo Pedro Bandeira, que serviu de base para o filme da Xuxa, estará na maioria das listas de livros a serem indicados nas escolas. A literatura também virou um item do consumo e do mercado. Por isso, eu tenho reivindicado, quixotescamente, que o professor leia para que ele mesmo seja capaz de fazer a sua lista.


Você escreveu um livro preocupada com a relação didática dos professores com os alunos e, ao mesmo tempo, afirma que nem todos serão leitores. Não é uma contradição?


Sou filha única e todas as minhas notas em matemática eram ruins, ficavam abaixo da média em outras matérias. Os meus pais contrataram os melhores professores de matemática, mas não adiantou, não consegui me apaixonar por aquilo. Tenho uma amiga que fica acordada até de madrugada, no gelo do Rio Grande do Sul, para fazer cálculo. Ela é louca por aquilo. Fui também aluna medíocre de música e abandonei o piano no dia em que a professora disse que, a partir dali, eu teria de me dedicar cinco horas por dia. Eu perguntei: e que tempo terei para ler? Ela disse: você não terá. A escola tem a obrigação de dar competência textual aos alunos, ensinar a ler e a escrever. Mas a paixão pela leitura também é uma vocação.


A que leitor se refere quando afirma que nem todos serão leitores?


Há o sujeito que lê eventualmente, que está de férias e compra um livro para ler na praia. Mas estou falando de gente que não pode viver sem ler.


Ler também cria dependência química?


Sim, tem gente que não consegue viver sem ler, não consegue parar de ler.


O Roland Barthes afirma que da mesma maneira que existe um obscurantismo do saber existe um obscurantismo do prazer. Ou seja: há prazeres que desconhecemos. Você concorda?


Concordo plenamente, é um prazer que exige iniciação, mas acho também que a leitura é uma aventura da subjetividade. A leitura é doação de sentido. Quem dá o sentido é quem se emociona, é o sujeito. Nem sempre essa aventura será do prazer. Ela pode ser dolorosa. E também você precisa admitir que algumas pessoas não têm esse prazer. O nosso magnífico poeta João Cabral de Melo Neto destestava música e teatro. Mas por causa disso, ele criou uma poesia toante, uma antimúsica, uma poesia a palo seco.


Por que abandonar o programa Big Brother Brasil para ler um livro?


A diferença é a da brutalidade e a do requinte de percepção. O Big Brother não tem nada de reality show, nada de realidade como o nome anuncia. É um teatro grotesco. A gente pega um livro e consegue ter uma interpretação da realidade, um modelo do mundo, com o qual você pode concordar ou discordar, mas que vai te ajudar a entender melhor a existência. A boa literatura permite sempre que você ouça a sua própria voz.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Cadê o Juízo do menino?... foi visto na lista dos melhores livros para crianças de 2009 do ESTADÃO.

Olá Pessoal... outras boas novas sobre o livro CADÊ O JUÍZO DO MENINO? (ilustrações de Mariana Massarani, Manati). O jornal O ESTADO DE SÃO PAULO publicou no seu suplemento infantil (ESTADINHO) de sábado, 16/01, uma lista com os melhores livros infantis lançados em 2009. Nosso livro está lá junto com outros 39 ótimas opções para leitura. Se você quiser ler a edição especial na íntegra, basta CLICAR AQUI.

Clique sobre a imagem acima para ler a apresentação publicada no suplemento infantil ESTADINHO ESPECIAL. Abaixo o texto que fala sobre as desparafuzices do nosso menino sem juízo. Hatuna Matata.

Cadê o Juízo do menino?... foi visto na Ciência Hoje das Crianças!!!

Olá pessoal. O ano começou com algumas alegrias para o livro CADÊ O JUÍZO DO MENINO? (Ilustrações de Mariana Massarani, Manati). Uma das revistas mais interessantes, voltada para o público infantil - CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS - publicada pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) publicou no seu site uma resenha bem bacana sobre o livro. Acima, reproduzo a página (clique sobre a imagem para ampliá-la). Você pode ler a resenha CLICANDO AQUI. Hatuna Matata.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PRÊMIO CUTIA 2009 - OS MELHORES LIVROS PARA CRIANÇAS EM LÍNGUA PORTUGUESA

Recontos da tradição oral, histórias inéditas, poesia e o resgate de um conto português do início do século passado estão nessa seleção que premia nove autores e oito ilustradores brasileiros, um autor e um ilustrador português e uma ilustradora chilena. Todos os livros foram publicados em 2009 e aqui, aparecem em ordem alfabética.

AS HORROROSAS MARAVILHOSAS / ELIAS JOSÉ (TEXTO) / ILUSTRAÇÕES (ROSINHA CAMPOS) / EDITORA DCL

O clássico conto popular das irmãs bordadeiras que ajudam uma jovem a encontrar um marido ganha textura e beleza tanto nas ilustrações de Rosinha Campos bordadas por Lane Costa quanto no ritmo gostoso que Elias José imprimiu à trama. Uma história muito bem costurada com cores, flores e amores.

BICHO DE SETE CABEÇAS E OUTROS SERES FANTÁSTICOS / EUCANAÃ FERRAZ (TEXTO) / ANDRÉ DA LOBA (ILUSTRAÇÕES) / EDITORA COMPANHIA DAS LETRINHAS

Caramba! Impossível afirmar se o mais encantador são os poemas criativos, cheios de nonsense do autor ou as ilustrações produzidas pelo absurdamente incrível André da Loba, fotografadas por Sarah Munt. Duas obras de arte reunidas num só volume. Impressionantemente, absurdamente belo.

COMO SOMOS / FLÁVIA LINS E SILVA (TEXTO) / LEICIA GOTLIBOWSKI (ILUSTRAÇÕES) / INDICA (INSTITUTO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE).

Numa edição caprichada, a síndrome de down é apresentada através do olhar de uma criança. Sem didatismo e cheio de metáforas ao alcance do pequeno leitor, o texto frui, conquista. Há um certo suspense que se revela ao final numa sacada que a autora pescou do seu cotidiano. Ah, e as ilustrações são in-crí-veis.

DONA FEIA / ANDERSON DE OLIVEIRA (TEXTO) / WALTER LARA (ILUSTRAÇÕES) / EDITORA ABACATTE

As ilustrações “à moda antiga” de Walter Lara - que nós adoramos - podem fazer o leitor imaginar que a história é um conto popular tradicional. E é aí que Anderson de Oliveira supreende com uma história novinha em folha, porém atemporal, num texto enxuto, esculpido, cheio de rimas, quase poesia.

FORMIGAS / ELAINE PASQUALI CAVION (TEXTO) / ANDRÉ NEVES (ILUSTRAÇÕES) / EDITORA PAULUS

A estreia de Elaine na literatura infantil acontece em grande estilo num livro pequeno no formato e gigante em expressão. Texto e ilustrações caminhando juntos num enredo inspirado: a descoberta da poesia por um cordão de formigas. Um presente para todos que acreditam nos poderes mágicos das palavras.

LENDAS JUDAICAS / ILAN BRENMAN (TEXTO) / RENATO MORICONI (ILUSTRAÇÕES) / EDITORA SALESIANA

Histórias da cultura judaica, plenas em sabedoria, para inspirar leitores de todas as idades. Escrita como se o autor estivesse sussurrando no ouvido do leitor, essa edição ganha mais beleza com as ilustrações muito bem dispostas no projeto gráfico. Para estar sempre à mão e fazer sucesso nos encontros da família.

O LIVRO DE ANA / BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS (TEXTO) / MARCONI DRUMMOND (ILUSTRAÇÕES) / EDITORA GLOBAL

O autor é artesão da palavra. Menino farto em imaginação. Curioso, desta vez fantasia sobre o conteúdo do livro que repousa nas mãos da imagem de Sant`Ana. Surpreendentes o tema e a forma. Ilustrações e projeto gráfico dão uma beleza exótica para a edição. Ora estranha, ora íntima ao olhar. Genial.

O LOBO / GRAZIELA BOZANO HETZEL (TEXTO) / ELISABETH TEIXEIRA (ILUSTRAÇÕES) / EDITORA MANATI

Um livro para quem ama contar histórias. Um livro para quem sente saudade. Para ouvir em silêncio cada frase da autora entrando pelos olhos, ecoando no coração. Aceite o convite do lobo misterioso de olhos amarelos. Aceite o desafio de imaginar as duas histórias (sim, duas) depois do fim. Fim? Acho que não.

O MISTÉRIO DA ÁRVORE / RAUL BRANDÃO (TEXTO) / MÁRIO VALE (ILUSTRAÇÕES) / EDITORA LARROUSSE.

Publicado originalmente em Portugal na década de 1920, o texto - de um dos maiores escritores lusitanos – fala de uma “árvore enorme que há séculos servia de forca”. As ilustrações (fotografias de objetos criados a partir de latas, carvão e cinzas) são fantásticas. Literatura numa “arquitetura” moderna.

ONDE O SOL NÃO ALCANÇA / JANAÍNA MICHALSKI (TEXTO) / ALÊ ABREU (ILUSTRAÇÕES) / EDITORA NOVA FRONTEIRA

Emocionante conto sobre a descoberta da amizade por duas crianças. As ilustrações ensolaradas e originais dão uma dimensão e beleza inesperadas ao quintal onde a história acontece. Para quem acredita que para uma amizade acontecer basta estar atento e disposto. Arrepia.

E para você que nos acompanha, mais uma vez, deixamos o convite para que deixe a sua lista dos melhores nos comentários abaixo. Hatuna Matata!!!

sábado, 9 de janeiro de 2010

Prêmio CAPIVARA 2009 - OS MELHORES LIVROS PARA JOVENS BRASILEIROS

Nesta seleção, escolhemos dois textos que já haviam sido publicados anteriormente mas que agora ganharam nova roupagem, quatro livros inéditos de autores nacionais e outros quatro de autores estrangeiros. Projetos gráficos que enchem os olhos, histórias que enchem a alma, renovam a forma de se ver o mundo lá fora, derpertam o sorriso, enfim, não convidam o leitor apenas para passar o tempo. Os livros estão dispostos em ordem alfabética. Aproveitem e deixem os seus preferidos nos comentários. Hatuna Matata!!!

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS / LEWIS CARROLL (TEXTO) / NICOLAU SEVCENKO (TRADUÇÃO) / LUIZ ZERBINI (ILUSTRAÇÕES) / EDITORA COSAC & NAIFY

Mesmo prefirindo a tradução que ANA MARIA MACHADO fez para a Ática, o trabalho de SEVCENKO também nos encanta. E em conjunto com o excepcional trabalho de ZERBINI e com o rico projeto gráfico dessa edição (em duas versões ambas maravilhosas) a editora oferece ao leitor um livro que é uma obra de arte.

DE QUANTA TERRA PRECISA O HOMEM? / LIVE TOLSTÓI / CÁRCAMO (TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E ILUSTRAÇÕES) / CIA DAS LETRAS

O conto escrito em 1885 ganha uma edição brasileira definitiva e caprichada na tradução, nos traços e nas tintas. É fato que a história de um homem tentado pelo diabo a desejar sempre mais continua atual. Mas o delicado trabalho de pesquisa de Cárcamo em recriar nas ilustrações os personagens, os objetos, as paisagens de séculos passados dão à obra russa sua vocação original: ser um Clássico.

O DIA EM QUE LUCA NÃO VOLTOU / LUÍS DILL (TEXTO) / CIA DAS LETRAS

Para falar de crianças desaparecidas o autor escreve um texto sem pontos ao final das frases e com poucos parágrafos. Assim, transmite a angústia de uma família da classe A portoalegrense ao ver que seu filho único nao voltou para casa. Horas, dias, semanas e meses depois a história ganha em emoção e plasticidade com o projeto gráfico caprichado. Atual, original e de tirar o fôlego.

O ELEFANTE DO MÁGICO / KATE DiCAMILLO (TEXTO) / YOKO TANAKA (ILUSTRAÇÕES) / RODRIGO NEVES (TRADUÇÃO) / MÔNICA STAHEL (REVISÃO) / EDITORA WMF MARTINS FONTES

Se você ainda acredita que o impossível pode acontecer ao seu redor, essa história cabe no seu coração. Personagens e enredo a serviço da fantasia. Um livro mágico contra a saudade e o desconsolo. E as 19 ilustrações de YOKO TANAKA fazem a gente suspirar diante do belo. Surpreendente e emocionante.

O LABIRINTO DOS OSSOS (The 39 Clues) / RICK RIORDAN (TEXTO) / RAFAEL MANTOVANI (TRADUÇÃO) / EDITORA ÁTICA

A saga dos irmãos Cahill chega ao Brasil. A série (prevista para 10 livros e com 7 já publicados lá fora) é vista como substituta do sucesso Harry Potter. O texto é ágil. Mistura ação com informações históricas ao estilo de Dan Brown – para jovens. Ótima leitura. Esperamos que os cards e o site – instrumentos paralelos à leitura e proposta inovadora da série – também sejam publicados por cá.

OS 13 PORQUÊS / JAY ASHER (TEXTO) / JOSÉ AUGUSTO LEMOS (TRADUÇÃO) / EDITORA ÁTICA.

O tema não é fácil: suicídio. Mas a trama é singular: a personagem morreu e deixou 7 fitas cassete (!!!) a serem entregues a 13 pessoas que influíram diretamente na sua decisão final. O texto tem dois narradores: ora você “ouve” um dos destinatários das fitas, ora você “ouve” a jovem suicida. Impossível de largar antes do fim. E você não sairá o mesmo depois da leitura.

OS MONSTROS / DAVE EGGERS (TEXTO) / FERNANDA ABREU (TRADUÇÃO) / CIA DAS LETRAS

A partir do roteiro do filme inspirado no livro infantil ONDE VIVEM OS MONSTROS o autor transforma um clássico infantil com 9 frases num livro de 264 páginas. Um desafio e tanto. O resultado é uma história bem amarrada, em capítulos curtos, cheia de traquinagem, bagunça e muita criatividade, que cativa a atenção do leitor mesmo que ele não conheça a obra original.

PIVETIM / DÉCIO TEOBALDO (TEXTO) / EDITORA SM

Pivetim, Carol, Bala Perdida, Dimba e Que Fedor vão fazer o leitor sentir a fome, a febre, o medo e a solidão de ser uma criança moradora de rua, no centro do Rio de Janeiro. Aqui, a fantasia é tão curta e rápida quanto as frases que o autor esculpiu para contar a história. Um novo Capitães da Areia. Imperdível.

QUERIDA / LYGIA BOJUNGA (TEXTO) / EDITORA CASA LYGIA BOJUNGA

É incrível como o texto de Lygia Bojunga permanece forte, belo e íntimo. Ela sempre retrata um pedaço da gente ou de alguém que nós conhecemos. Neste 22º livro, uma família vive e revive as consequências de suas escolhas. Um encontro pode modificar uma vida. Se o encontro entre tio e sobrinho foi emocionante os personagens. Nosso encontro com a obra de Lygia sempre o é.

UM PINGUIM TUPINIQUIM / ÍNDIGO (TEXTO) / GIRAFINHA

Na nossa literatura Infantil e juvenil poucos escrevem com qualidade um texto sarcástico e divertido como a Índigo. Nesse livro, um pingüim cansado de fazer a mesma coisa que os outros resolve rumar para o norte. Pega uma carona com o Amyr Klink, encontra os balões do padre que desapareceu no mar e vai parar num sítio onde se apaixona por uma galinha. Absurdo, engraçado e inteligente.