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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

É fácil escrever para crianças...

Peter Hunt é um dos principais críticos de Literatura Infantil e Juvenil da contemporaneidade (copiei a definição do blog da Cosac). Recentemente, foi lançado por aqui o seu livro Crítica, Teoria e Literatura Infantil, um tijolo amarelo originalmente publicado em língua inglesa há 20 anos, porém, com algumas revisões do autor para a edição brasileira. Estive no encontro promoviodo pela editora Cosac & Naify e pela PUC Rio, em que o autor apresentou suas ideias.

O encontro foi no meio da tarde do dia 21 de outubro (uma quinta) e reuniu uma plateia de mais ou menos uma centena de escritores, ilustradores, editores, professores e demais curiosos acerca da Literatura Infantil. Para abrir os trabalhos, a organização convidou João Luis Cecantini (UNESP), Maria Teresa Pereira (UERJ) e Sonia Monnerat (UFF) para palestrarem sobre o livro em questão e o trabalho do crítico literário brasileiro. A intenção foi boa, mas o resultado final me pareceu como se convidassem o Latino para abrir o show do Paul MacCartney - talvez por eu não pertencer ao meio acadêmico e não estar tão acostumado à linguagens tão rebuscadas. Mas, apesar da polêmica fala de Maria Teresa Pereira - que pos um pouco de calor na sala, e se retirou deixando o incêndio para seus colegas de mesa (disseram que, por motivos previamente informados à organização) - antes do fim dessa abertura, muita gente - inclusive eu - estava no cafezinho esperando pelo encontro com Peter Hunt.

Valeu a pena. Peter Hunt não foi nada "acadêmico". Falou a linguagem dos normais e, com um humor bem tropical para um ser britânico, conseguiu passar o seu pensamento aos presentes - alguns já bem enraizados (afinal, o livro foi escrito há 20 anos). A partir de uma tirinha do Peanuts, de imagens de livros antigos e trechos de histórias, muitas "já" publicadas por cá, ele abriu a palestra afirmando que "É claro que é fácil escrever para crianças. Tão fácil como criá-las".

A partir daí, falou de como é difícil para um adulto ler o livro infantil - "É duas vezes mais difícil ler o livro infantil do que um livro normal", pois a criança o faz como um leitor inexperiente e o adulto, precisa fazer essa leitura também "com sua criança interior".

Aproveitando a deixa de que fala-se por aí que os livros infantis devem ser bonzinhos, politicamente corretos, etc e tal, Peter Hunt disse que é mais fácil ver uma criança nua na vida real do que em livros infantis e aproveitou para fazer críticas à Academia que, em geral, desconhece as crianças. Para ilustrar, disse que quando vai à palestras para esse público, leva fotos de seus filhos e quando as apresenta, ouve da plateia exclamações como: "- OH, GOD! REAL CHILDS!!!". Risos de adesão do público carioca!

Durante a palestra, o autor parecia uma criança brincando na hora do recreio. Mas com suas "piadas" foi plantando suas críticas:

"Se Harry Potter vende somente por causa do marketing, nós, críticos literários, estamos perdidos";

"Em todo livro infantil há um adulto escondido";

O autor fez também uma leitura acerca dos tempo. Lembrou que, no século XIX, adultos e crianças liam os mesmos livros. O que derruba a teoria de que o livro infantil deve ser bobinho, bonitinho e cheio de firulas para atrair (enganar) o leitor. E que hoje, a infância não é mais um "espaço" protegido. Com isso, as crianças "sabem" de "coisas" ainda mais cedo, se vestem como adultos, e, muitas vezes, também agem como adultos.

Por fim, encerro com uma frase-vitamina que me remeteu ao trabalho do Roedores de Livros:

"Um livro infantil pode mudar uma vida pois, para uma criança que não lê muitos livros, um livro faz a diferença".

Ao final, saímos da Gávea e fui para o Centro, onde começava mais uma edição da Primavera dos Livros. Ali, ao lado de amigos queridos, a conversa esticou, esticou, esticou e só terminou alta noite no Lamas. O Rio de Janeiro continua lindo!!! Hatuna Matata!!!

P.S.1. Na terceira foto, perfil de Renata Nakano, que muito trabalhou na pubicação do livro (que é ótimo, gente; só precisei enfrentar a introdução, depois ficou fácil e instigante) e do encontro com o autor.

P.S.2. Na quarta foto, eu e a queridíssima Ana Maria Santeiro (fazendo as vezes de tradutora para um roedor nada afeito à linguagem do Mickey) conversamosrapidamente com o Peter Hunt antes do autógrafo.