Peter Hunt é um dos principais críticos de Literatura Infantil e Juvenil da contemporaneidade (copiei a definição do blog da Cosac). Recentemente, foi lançado por aqui o seu livro Crítica, Teoria e Literatura Infantil, um tijolo amarelo originalmente publicado em língua inglesa há 20 anos, porém, com algumas revisões do autor para a edição brasileira. Estive no encontro promoviodo pela editora Cosac & Naify e pela PUC Rio, em que o autor apresentou suas ideias.O encontro foi no meio da tarde do dia 21 de outubro (uma quinta) e reuniu uma plateia de mais ou menos uma centena de escritores, ilustradores, editores, professores e demais curiosos acerca da Literatura Infantil. Para abrir os trabalhos, a organização convidou João Luis Cecantini (UNESP), Maria Teresa Pereira (UERJ) e Sonia Monnerat (UFF) para palestrarem sobre o livro em questão e o trabalho do crítico literário brasileiro. A intenção foi boa, mas o resultado final me pareceu como se convidassem o Latino para abrir o show do Paul MacCartney - talvez por eu não pertencer ao meio acadêmico e não estar tão acostumado à linguagens tão rebuscadas. Mas, apesar da polêmica fala de Maria Teresa Pereira - que pos um pouco de calor na sala, e se retirou deixando o incêndio para seus colegas de mesa (disseram que, por motivos previamente informados à organização) - antes do fim dessa abertura, muita gente - inclusive eu - estava no cafezinho esperando pelo encontro com Peter Hunt.
Valeu a pena. Peter Hunt não foi nada "acadêmico". Falou a linguagem dos normais e, com um humor bem tropical para um ser britânico, conseguiu passar o seu pensamento aos presentes - alguns já bem enraizados (afinal, o livro foi escrito há 20 anos). A partir de uma tirinha do Peanuts, de imagens de livros antigos e trechos de histórias, muitas "já" publicadas por cá, ele abriu a palestra afirmando que "É claro que é fácil escrever para crianças. Tão fácil como criá-las".
A partir daí, falou de como é difícil para um adulto ler o livro infantil - "É duas vezes mais difícil ler o livro infantil do que um livro normal", pois a criança o faz como um leitor inexperiente e o adulto, precisa fazer essa leitura também "com sua criança interior".Aproveitando a deixa de que fala-se por aí que os livros infantis devem ser bonzinhos, politicamente corretos, etc e tal, Peter Hunt disse que é mais fácil ver uma criança nua na vida real do que em livros infantis e aproveitou para fazer críticas à Academia que, em geral, desconhece as crianças. Para ilustrar, disse que quando vai à palestras para esse público, leva fotos de seus filhos e quando as apresenta, ouve da plateia exclamações como: "- OH, GOD! REAL CHILDS!!!". Risos de adesão do público carioca!
Durante a palestra, o autor parecia uma criança brincando na hora do recreio. Mas com suas "piadas" foi plantando suas críticas:
"Se Harry Potter vende somente por causa do marketing, nós, críticos literários, estamos perdidos";
"Em todo livro infantil há um adulto escondido";
O autor fez também uma leitura acerca dos tempo. Lembrou que, no século XIX, adultos e crianças liam os mesmos livros. O que derruba a teoria de que o livro infantil deve ser bobinho, bonitinho e cheio de firulas para atrair (enganar) o leitor. E que hoje, a infância não é mais um "espaço" protegido. Com isso, as crianças "sabem" de "coisas" ainda mais cedo, se vestem como adultos, e, muitas vezes, também agem como adultos.Por fim, encerro com uma frase-vitamina que me remeteu ao trabalho do Roedores de Livros:
"Um livro infantil pode mudar uma vida pois, para uma criança que não lê muitos livros, um livro faz a diferença".
Ao final, saímos da Gávea e fui para o Centro, onde começava mais uma edição da Primavera dos Livros. Ali, ao lado de amigos queridos, a conversa esticou, esticou, esticou e só terminou alta noite no Lamas. O Rio de Janeiro continua lindo!!! Hatuna Matata!!!
P.S.1. Na terceira foto, perfil de Renata Nakano, que muito trabalhou na pubicação do livro (que é ótimo, gente; só precisei enfrentar a introdução, depois ficou fácil e instigante) e do encontro com o autor.P.S.2. Na quarta foto, eu e a queridíssima Ana Maria Santeiro (fazendo as vezes de tradutora para um roedor nada afeito à linguagem do Mickey) conversamosrapidamente com o Peter Hunt antes do autógrafo.