terça-feira, 29 de abril de 2008

Tapete Vermelho para as crianças

Dizem por aí que a origem do costume de se estender um tapete vermelho para que pessoas importantes possam passar por ele vem de muitos anos. Séculos. E a questão não era exatamente O tapete e sim a sua cor. Segundo descobri por aí, na Antiguidade (cerca de 1000 a.C.), a cor púrpura, avermelhada, só era obtida em uma concha chamada porphura, que liberava esse pigmento quando atacada. Assim, mobilizavam-se centenas de empregados só para abrir as conchas e retirar a bolsa com tinta, o que a tornava extremamente cara. Por isso, só os nobres tinham condições de usá-las para tingir tecidos. O tapete vermelho era ainda mais caro porque, além do pigmento ser muito valioso, a feitura também era trabalhosa. Por indicar tanta riqueza, era a peça ornamental mais importante de um palácio.

Sem precisar gastar tantos tostões com a tal da concha e sem explorar a mais valia, Ana Paula e Edna compraram o material e encomendaram a uma costureira a confecção de um tapete vermelho para que nossas ilustres crianças ficassem mais a vontade. A sombra da árvore no jardim do Centro Comunitário da Criança ficou ainda mais acolhedora. Enquanto isso, nossa sala vai ganhando a estrutura necessária.

Foi assim, estendendo o tapete vermelho, que começamos as atividades no último sábado, 26 de abril. Ceilândia tinha um céu digno da fama do céu de Brasília. Azul, azulzinho com poucas nuvens. Este é só o terceiro reencontro. Ana Paula não pode ir. Edna, Célio e eu comandamos as atividades.

Para a mediação, pensei em comentar sobre a cobertura da imprensa sobre o caso Isabella Nardoni. Todas as crianças estavam por dentro do assunto. Algumas tinham até feito algum trabalho a respeito na escola. Ali, no mundinho deles, o caso é só mais um. Dia desses, dois deles me contaram uma história depois de uma canção:

Menina: - Eu tinha um tio que gostava de tocar violão.

Menino: - Ele era assim, gordinho, parecido com o senhor.

Menina: - Ele morreu num acidente de carro semana passada.

Menino: - Foi. Depois do acidente, deram seis tiros nele, dentro do carro.

Menina e Menino: - A gente sente uma saudade dele. Era um cara bem divertido.

E saíram para brincar enquanto eu fiquei com as músicas engasgadas na garganta.

Voltando para a mediação, escolhi A Verdadeira História dos Três Porquinhos para falar que tudo pode ter duas ou mais versões. E a gente acredita no que está mais próximo do que acreditamos e isso pode estar no grupo que veicula o fato (polícia, família, líderes religiosos, uma mídia mais confiável que outra, etc). A leitura e o papo foram um SUCESSO!!! As crianças foram se chegando... se chegando... se aconchegaram!!! Todos acompanharam de perto o “depoimento” do lobo Alex que justificava o acontecido com os três porquinhos como um mal entendido, pois o que ele queria mesmo era uma xícara de açúcar. Difícil foi acreditar na conversa de um lobo. O livro é ótimo. Um clássico. As crianças adoraram. Acho que qualquer dia vou arriscar ler O Livro dos Pontos de Vista (Ricardo Azevedo, Ática).
Empolgado com o sucesso do texto anterior, não resisti e li uma aquisição recente: Os três ladrões. O livro, originalmente lançado nos anos 70, havia sumido das prateleiras. Retornou às prateleiras este mês numa reedição da Global. Conta sobre três famigerados ladrões de carruagem que numa noite, durante um assalto, encontram na carruagem apenas uma menina, órfã, que iria para a casa de uma tia malvada. O trio resolve adotar a criança e outras mais que aparecem em seu caminho. Nossos meninos e meninas ficaram ligados na história, tentavam adivinhar o que aconteceria na página seguinte, corriam com os olhos em busca de guardar cada ilustração. Tensão na hora do encontro com a pequena órfã. Surpresa no desenrolar da história. Por fim, o alívio pelo final da história.
Algumas crianças resolveram ler para todos um dos livros que levaram para casa na semana passada. Jardson leu A Galinha Xadrez e deu início à leitura compartilhada. Depois, escolheram novos livros para o empréstimo. Foi neste momento que eu deixei florescer um sorriso. É que no final do ano passado um dos meninos não poderia mais participar do projeto como ouvinte. Era o Daniel. A idade já ultrapassava o limite. Mas ele não quis deixar os Roedores de Livros. Daí o meu riso florido. Daniel está novamente conosco, desta vez, ajudando na organização das crianças e na conferência dos livros emprestados e devolvidos. É mais um voluntário a serviço dos Roedores de Livros. Naquela manhã, sentado no tapete vermelho junto com tantas crianças e livros, vi que não apenas ajudamos a despertar o gosto pela leitura. Estamos também formando cidadãos. Hatuna Matata.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Os Melhores de 2007 - Segundo a FNLIJ

Queridos amigos. Saiu hoje a premiação da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) para os melhores livros publicados em 2007. Muita coisa nós ainda não conhecemos. Alguns já resenhamos por aqui como A Invenção de Hugo Cabret, Histórias Tecidas em Seda e Zubair e os labirintos. Outros, como O jogo de amarelinha, A pequena marionete, As mais belas histórias das Mil e uma noites, Minha Ilha Maravilha, Poeminha em língua de brincar e João Felizardo o rei dos negócios nós já levamos para tomar um café e alguns vieram para nossa toca.
O que surpreendeu por aqui foi a inclusão do ótimo O amor e o diabo em Angela Lago: a complexidade do objeto artístico (André Mendes, UFMG), vencedor na categoria O Melhor Livro Teórico. Apesar de não contar com a força de divulgação de uma grande editora, o seu texto falou mais alto e se impôs, merecidamente. Sua visão sobre o Cântico dos Cânticos - livro de imagem na lista dos meus preferidos - é surpreendente.
A grande vencedora foi a Companhia das Letras com três indicações, seguida da Cosac & Naify, Edições SM, Cortez e Ática com duas, cada. Ou seja, um resultado bem mais equilibrado que o do ano passado. Devo confessar que senti falta de alguns livros, mas toda premiação nos deixa com essa sensação, não é mesmo? Receber uma láurea da FNLIJ é muito importante e ajuda a movimentar o mercado editorial infanto-juvenil. Isso é ótimo. 2007 foi um ano de grandes publicações. E este ano também começa promissor. Aproveito e convido todos a comparecerem ao Salão do Livro da FNLIJ que acontecerá no final de maio, no Rio de Janeiro. É um exemplo de como se deve tratar a Literatura Infantil desde seus autores até o público que freqüenta. Mais informações no SITE DA FNLIJ.
Parabéns aos vencedores! Parabéns à FNLIJ. No final, ganha sempre a nossa Literatura Infantil.

domingo, 27 de abril de 2008

Bonito de se ver e de se ler.

Meu pai nasceu no interior do Ceará e viveu uma infância árida de sabores literários. Entre a sua casa e a escola havia uma distância razoável que era percorrida diariamente no lobo de um jumento. Tinha sorte. Outros percorriam a pé. Apesar disso, a vida dura do povo do sertão não tornou o menino Francisco um homem rude. Muito pelo contrário. Estudou até onde pôde e seguiu à risca os ensinamentos religiosos. Não sei ao certo, mas a Bíblia deve ter sido seu grande livro onde viajou nas aventuras de Jonas no interior da baleia ou Daniel na cova dos leões. Ainda hoje, gosta de ler biografias de santos e outros assuntos relativos à vida religiosa.

Na minha infância, na maioria das vezes, foi meu pai, quem me levava até a porta da escola. O menino Francisco, agora com trinta e poucos anos, conquistara o status de ser chamado pelo sobrenome: Freitas. O trabalho dele levou nossa família para o interior do Piauí e da Bahia. Papai dividia seu tempo de leitor entre os versículos bíblicos e os normativos da empresa. Sabia tudo de cor. Outros livros também chegavam em casa. Ele os comprava dos mascates que vendiam enciclopédias pelo interior. Mas eram de uso dos filhos. Lembro de ter devorado alguns volumes de O Mundo da Criança. A escola pedia alguns títulos da coleção Vaga-lume. Eu também gostava da coleção do Cachorrinho Samba. Eu tinha fome de histórias. Papai me alimentava com livros, gibis e amor.

Muito tempo depois, com a chegada dos cabelos brancos, meu velho ganhou o título de “Seu” Freitas. Assim ainda o chamam, muitos. Veio a aposentadoria e, aos poucos, vi que poderia – depois de aprender tanto com ele – dividir com meu pai o gosto por tantos livros que tive a oportunidade de conhecer. Desde então, nos tornamos parceiros de algumas leituras. Houve uma revolução lá em casa e depois dos 60 anos, na melhor idade, o menino do sertão descobriu a internet, voltou a estudar e, depois de tanto trabalho, pôde se entregar aos prazeres de uma juventude tardia, porém, bem vinda. Hoje, distantes a apenas três horas de avião, somos mais amigos que pai e filho.

Num dos nossos últimos encontros ele me perguntou se eu conhecia algum livro de Fernando Pessoa para indicar. Alguém do nosso círculo de amigos havia falado sobre o poeta português e aguçado sua curiosidade. Disse-lhe que sim, contei um pouco sobre o que eu conhecia mas não me senti à vontade para apresentar uma coletânea qualquer ou uma antologia. A poesia, às vezes, pode soar estranha para novos leitores, como meu pai. Prometi a mim mesmo que encontraria algum livro-aperitivo que despertasse uma fome de poemas no meu querido senhor-menino.

Demorei a encontrar este livro mas, confesso que fui negligente em minha busca. Dia desses descobri O Almirante Louco (Fernando Pessoa, organização de Carlos Felipe Moisés, ilustrações de Odilon Moraes, SM) e meus olhos se encheram de cores, cheiros, arrepios, saudades e outras sensações. O curioso é que foi em abril, mês em que o “Seu” Freitas faz aniversário. Enfim, encontrei o presente. Tive que encomendar outro para mim, pois só tinha um exemplar na livraria.

O livro apresenta um projeto gráfico, um cuidado com o visual que pousa na perfeição. Não consigo imaginá-lo mais belo. Não fica a dever em nada aos poemas. As ilustrações de Odilon Moraes emprestam ainda mais beleza ao texto. Odilon criou ainda imagens para cada um dos pseudo-personagens de Fernando Pessoa. O livro, é bonito de se ver e de se ler.

São apenas 64 páginas, mas, como disse antes, é um aperitivo. Delicioso. Temperado, com ingredientes selecionados por Carlos Felipe Moisés, que escreve seus comentários com uma linguagem concisa, fácil de entender, sem os arroubos eruditos de algumas edições – que assustam leitores mais simples. Divididos em blocos, Moisés apresenta características de Fernando Pessoa e seus personagens: Alberto Caeiro (poeta da natureza), Álvaro de Campos (o almirante louco) e Ricardo Reis (um poeta calmo e ignorado). Tudo seguido – é claro – de uma Seleção de poemas. Estão lá Quadras ao gosto popular, trechos de O Guardador de Rebanhos, Ah, um soneto entre outros. Por fim, há uma biografia leve, seguida de ótimas indicações de leitura para os que tiverem mais fome de Fernando Pessoa.

O Almirante Louco segue amanhã para os braços de “Seu” Freitas. Mais um pequeno mimo em retribuição a tanto que me deu e ainda me oferece. Fica aqui o desejo íntimo de que Fernando Pessoa e seus outros “eus” encantem desde o menino do sertão até o jovem senhor de cabelos brancos, personagens que habitam em meu pai, um homem que – mesmo sem ter lido o Poeta português – me ensinou:

Quem tem pouco, tem tudo;

Quem tem nada, é livre;

Quem na tem, e não deseja

Homem, é igual aos deuses.


P.S. As imagens:

1ª - Capa do Livro; 2ª - Fernando Pessoa por Odilon Moraes; 3ª - Alberto Caeiro por Odilon Moraes; 4ª – Álvaro de Campos por Odilon Moraes e 5ª – Ricardo Reis por Odilon Moraes.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sinistro!!! E ótimo!!!

Ele destoava na estante colorida da livraria. Aquele roxo da capa me chamou a atenção. Não resisti e levei o danado para tomar um café. Dei uma folheada e me encantei com as ilustrações e com um pequeno detalhe do projeto gráfico: a numeração das páginas estava impressa de forma incomum. Incomum. É a palavra certa para descrever A Maldição da Moleira (Índigo, com ilustrações de Alê Abreu, Girafinha). Moleira? O Aurélio explica: “A abóboda do crânio”. Difícil? Heitor explica: “Algumas latinhas de molho de tomate têm um ponto saliente na tampa. Ao apertar este ponto, a lata se abre. Os bebês funcionam ao contrário. Nosso “ponto” se chama “moleira”, e quando você aperta a cabeça do bebê se fecha”. A avó de Heitor apertou sua moleira quando ele era um bebezinho e com isso, ele adquiriu consciência. O livro narra, então, a visão consciente do bebê Heitor diante do convívio com Teletubbies, móbiles, um gato “selvagem”, o genial Comandante Oscar, uma mãe atenciosa e um pai desastrado, entre outros personagens.

Devo confessar que o conteúdo do livro é tão instigante quanto a sua capa. Depois da sua leitura fiquei olhando diferente para os bebês que passavam por mim nos shoppings, praças e ruas. Procurava descobrir em seus olhares um quê da “consciência” do Heitor que, antes de completar um ano, já sabia que “quando mamãe está contente, todos estão contentes”.

Índigo é o pseudônimo de Ana Ayer. No momento, estou no último conto de outro livro dela: Como Casar com André Martins (Girafinha). Na verdade, é o primeiro conto, pois resolvi ler o livro de trás pra frente. O que posso dizer deste? Bem, o texto é ótimo. É inteligente e sagaz. O tom confessional adolescente não se aproxima do banal. As ilustrações de Janaína Tokitaka também dão um show de originalidade. Indicadíssimo para depois dos onze anos. Mas, vamos voltar para a Maldição da Moleira que é o tema deste post.

Ainda não falei das ilustrações do meu livro roxo preferido. São de Alê Abreu e, nesta edição, as sensações que tenho ao ver seus desenhos me remetem ao belíssimo-louco-incomum-genial livro Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias (Tim Burton, Girafinha). O Heitor de Alê Abreu tem um rosto expressivo e olhos enormes que ora lembram a doçura do olhar pidão do gato de botas do Sherek 2, ora demonstram a sagacidade do personagem felino. É isso: ele conseguiu fechar a moleira da sua criação que aparenta uma infância-adulta em parceria com o texto de Índigo. Alê também ilustrou outros livros que gostamos muito e que estão em nossa estante como As Cocadas (Cora Coralina, Global) e ABC do Mundo Árabe (Paulo Daniel Farah, SM). Cada um com uma identidade visual. Belas imagens.

Para instigar a curiosidade de vocês e, quem sabe, motivar uma visita à livraria mais próxima, copio a seguir o trecho de A Maldição da Moleira em que o Comandante Oscar explica ao pequeno Heitor o que são “conversas”:

Elas acontecem na mesa da cozinha, e normalmente têm duração de uma hora. Papai passa a maior parte do tempo entre a cozinha e a lavanderia, fumando e expelindo fumaça para trás. Aproveita que mamãe não está vendo para bater as cinzas do cigarro no tanque. Durante amaior parte do tempo é mamãe quem fala. No começo tudo é falado como num seriado de televisão. Começa com uma explicação da situação e uma série de questões que papai e mamãe consideram erradas. Durante esta parte da conversa, você deve permanecer calado. Se nessa etapa inicial você disser alguma coisa, colocará tudo em risco, e a conversa pode terminar em gritos. Então é aconselhável que você fique quieto, apenas ouvindo mamãe falar. Ela apresenta a lista de tudo o que você fez errado. No final, ela vai dizer para o papai parar de fumar e falar a parte dele. Papai joga fora o cigarro, bebe um copo d’água e diz:

- Você sabe que sua mãe está certa.

Daí ele repete tudo o que ela falou, só que mais rápido. Mamãe volta a falar mais algumas coisas e diz que chegou a sua hora de falar. Nessa hora você não deve falar. Você fica calado, e depois de um tempo de silêncio papai diz que eles estão fazendo tudo isso para o seu próprio bem. Você permanece calado e papai volta para a lavanderia. Acende outro cigarro. Mamãe vai perguntar se você quer um leitinho. Você responde que não tem fome. E eles, ou papai ou mamãe, insistem para você dizer alguma coisa. Você deve esperar para que eles insistam algumas vezes. Daí você pede desculpas. Se você só pedir desculpas, sem se defender, eles aliviam a pena que será imposta. Se você não se agüentar de ódio e fizer a besteira de se defender, você será ouvido, mas terá que cumprir a pena do mesmo jeito.

A Maldição da Moleira me conquistou primeiro por seu projeto gráfico. Depois pelo argumento fora do comum. O texto de Índigo e as ilustrações de Alê Abreu já fazem parte dos meus favoritos. Experimente. No pior das hipóteses você vai se sentir incomodado. E isso já é ótimo. O que posso dizer mais sobre este livro?

- Sinistro!!! E ótimo!!!

terça-feira, 22 de abril de 2008

"Um livro é pouco para uma semana"...

Foi exatamente no dia 19 de abril de 1994 que comprei o primeiro livro infantil para Ana Cecília, minha filha, então com seis anos. Lembro como se fosse ontem. Deliciosamente, foi um livro de Jô Oliveira: Kuarup, a festa dos mortos – lenda dos povos indígenas do Xingu. Ele era meu professor no curso de Artes Plásticas da UnB e convidou a turma para o lançamento do livro que aconteceu inusitadamente numa loja do McDonald’s aqui em Brasília. Coisas da vida. É impressionante como o sorriso de Jô e o seu autógrafo no livro ficaram marcados também na memória da minha filha. Há alguns anos eles se reencontraram e ela lembrou da história do livro e do delicioso programa de índio daquele 19 de abril.

No último sábado, também um 19 de abril, saí para o projeto com alguns livros escolhidos em torno das coisas indígenas e, é claro, levei o meu – e da Ceci – Kuarup à tiracolo. Também levei um maracá que trouxe do Amazonas. Para quem não conhece, o Maracá é um chocalho indígena, utilizado em festas, cerimônias religiosas e guerreiras, que consiste em uma cabaça seca, desprovida de miolo, na qual se metem pedras ou caroços.

Nossa sala, na Creche Comunitária da Criança, ainda está sofrendo os ajustes e, mais uma vez, recebemos as crianças na área externa, à sombra de uma árvore. A sombra quase foi completamente ocupada pois havia um número maior de crianças do que na semana passada, embora ainda não fossem as 30 desejadas. É que algumas ainda não souberam da retomada do projeto. Outras, mesmo sabendo, ainda não apareceram. Mas, novas crianças aportaram por lá. Com isso, o projeto segue enriquecido de olhares curiosos.

Comecei os “trabalhos” falando do meu reencontro com o livro infantil há 14 anos naquele lançamento do Kuarup. Mostrei o livro, o maracá e falei que dia desses vou levar o Jô Oliveira para mostrar seus livros no projeto. O livro passou de mão em mão. Eles adoraram as ilustrações coloridas, mas queriam mesmo era conhecer a história. Lá fui eu me aventurar a falar de Mavutsinim, o herói mítico dos índios Kamayurás e a Festa dos Mortos, o Kuarup. Tocamos o maracá, falamos sobre a outros assuntos relativos à cultura indígena. Mas não paramos por aí. Os meninos queriam mais. E nós também.

Jardson, um dos garotos do projeto, não desgrudava do Baú. Sentou-se em cima dele. Quis abrí-lo a todo instante. Descobrir mais sobre os livros. Eu tento controlar a sua vontade e conto As duas cobras encantadas do livro O Caçador de Histórias (Yaguarê Yamã, Martins Fontes). Falei que nós conhecemos o autor no Salão da FNLIJ no Rio de Janeiro ano passado e nosso moleque querido não resistiu e disse: "Ô Ana Paula, eu também quero ir para o Salão". Seria ótimo, não é?! Bem, enquanto isso não acontece a gente segue fazendo o possível.
Para encerrar a mediação, escolhi ler O Calça Molhada, do livro Amazonas – no coração encantado da floresta (Thiago de Melo, Cosac & Naify). O conto fala sobre o boto cor-de-rosa (ou avermelhado) e seu poder de sedução. Conversamos sobre outros mitos indígenas e as crianças puderam dividir conosco o que ouviram em sala de aula esta semana. A sombra da árvore nunca aprendeu tanto quanto naquela manhã.
Depois de tanta conversa, abrimos o baú. De lá, saíram vários livros, mas o que mais impressionou as crianças foi O Livro das Árvores (feito pelo povo indígena Ticuna, organizado por Jussara Gomes Gruber, Global). Os olhos brilhavam ao folhear as ricas ilustrações, porém não havia tempo para mais histórias. Foi então que saiu a frase que valeu o dia. Talvez, o ano.

Era hora das crianças escolherem os livros para levar para casa quando ouvimos: “Tia, um livro é pouco para uma semana”. E assim, a partir daquele sábado, elas passam a levar para casa dois livros por semana. Sobre isso a Edna escreveu: “Desde o princípio de nosso projeto, o livro foi apresentado das mais variadas formas no sentido de promover o gosto, o encantamento pela leitura entre essas crianças carentes de emoções prazerosas. Emoções essas que, sabemos, uma leitura pode proporcionar. Hoje, nossa alegria é real. Em nossas crianças, a leitura é fonte de prazer”.

Edna, em sua avaliação do nosso segundo encontro deste ano, observa outras mudanças: “Logo no início do projeto, em 2006, as crianças se mostravam tímidas. Alegravam-se com as histórias, participavam com suas perguntas. Mas ainda de forma tímida. Hoje, percebemos uma grande mudança. As crianças dão às suas asas – sim elas as têm, como os anjos - sua verdadeira função diante de um livro: voar. Já não voam nas asas das nossas palavras. Querem aprender a voar. Elas querem ler. Não somente ouvir. Voam com seus olhos e fala. Neste sábado, 19 de abril de 2008, dia do índio, novamente aconteceu essa manifestação. Elas querem voar através da leitura. Queremos vê-los lá no alto do céu. Bem alto”. Hatuna Matata.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte IV

Para coroar sua programação, a produção do 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás convidou Lygia Bojunga Nunes para encenar o monólogo Livro, de sua autoria. O auditório Lago Azul, lotado, parou para ver e ouvir a autora de clássicos da nossa literatura como A Bolsa Amarela e O Sofá Estampado. Laureada com o HANS CHRISTIAN ANDERSEN - o prêmio internacional mais importante da literatura para crianças e jovens – Lygia encantou a todos ao falar sobre suas paixões literárias. Foram seis. E aproveito a ausência de muros da internet para convidá-los a conhecer estes livros. Nada pode explicar a sensação de assistir a Lygia Bojunga neste monólogo. No palco, apenas uma cadeira como cenário. A escritora-atriz entra abraçada a um livro. Ela não encena. É mais que isso: revive suas paixões. Vamos a elas.

Tudo começou aos sete anos, quando Reinações de Narizinho acordou a imaginação da menina-futura escritora. Foi um encontro adiado, porém arrebatador para a criança que não se dava bem com tantos livros de princesas de mundos tão tão distantes. A brasilidade que permeia o texto de Monteiro Lobato encantou o olhar infantil de Lygia que se descobriu curioso pela literatura. Tempos depois, sua paixão foi por Raskólhnikov, personagem principal de Crime e Castigo, livro de Dostoievski. As angústias, as verdades, as ações daquele jovem estudante balançaram o coração da jovem Lygia. Mas a atmosfera dos contos de Edgar Allan Poe em suas Histórias Extraordinárias fez com que Dostoievski fosse descansar na estante e o escritor norte americano caiu nos braços apaixonados da adolescente.

A quarta paixão, Lygia não revela nem sob tortura. É inconfessável! Diz que foi um daqueles autores “profissionais” que seguem uma fórmula mágica para escrever seus livros e encantar seus leitores. A tal literatura barata. Foi uma longa paixão que provocou intrigas com uma amiga crítica literária que afirmava ao referir-se aos tais livros: - Isso é uma AZIA INTELECTUAL... Para curar só LENDO UM BICARBONATO! Não foi preciso. Um dia, ávida para beber da nova versão para a velha fórmula do tal autor, foi surpreendida por um texto diferente, quase uma descrição de uma viagem. A paixão acabou. Ufa!!!

Depois desta longa aventura, foi a vez da poesia encantar a moça. O livro Cartas a um Jovem Poeta de Rainer Maria Rilke foi uma paixão avassaladora. Seguia com Lygia por todos os caminhos. Iam ao cinema, aos cafés... Era companhia certa para um caso a três (Lygia, o livro e um jovem apaixonado). Foram meses até que num acidente, Rilke morreu afogado no arpoador.

Para curar a dor da perda, o jovem apaixonado apresentou os Poemas de Alberto Caeiro. Nada poderia ser mais atraente. Fernando Pessoa - o autor por trás de Caeiro - estaria para sempre atrapalhando aquela relação pois ambos, Lygia e o jovem, eram loucos pelo poeta português.

A vida seguiu, o jovem também se perdeu no tempo. Lygia pôde, enfim, apreciar Fernando Pessoa a sós. Outros livros passaram por seu olhar mas nenhum deles foi tão avassalador quanto estes seis. Lygia Bojunga termina exultando a paciência. Quando o assunto é literatura, não precisamos ter pressa. O livro sempre espera por nós para ter um caso com a nossa imaginação. Fim do monólogo. Cai o pano. Aplausos de pé. Estamos todos ainda mais apaixonados pelos livros. E, como se fosse possível, ainda mais apaixonados por Lygia Bojunga. Hatuna Matata.
Nesta última foto, Roedores de Livros e Lygia Bojunga, no Salão de Goiás. Um papo delicioso e o desejo de um reencontro em maio, no Salão da FNLIJ. Para ver mais sobre Lygia Bojunga em nosso blog, clique AQUI e AQUI.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Brinquedos Populares na Memória

Todos sabem que o Roedores de Livros é – antes de qualquer outra atividade secundária (sim, elas existem!!!) – um projeto de incentivo à leitura junto a crianças carentes da periferia do entorno de Brasília. Sabem também que nosso trabalho é voluntário pois, se fôssemos esperar pela burocracia, ainda estaríamos preenchendo formulários e anotando os números de protocolos. Somos mais educadores que profissionais do ramo de projetos culturais e por isso, convivemos diariamente com as dificuldades financeiras que abrangem nosso projeto. Mas os obstáculos estão aí para serem superados. Com todo o poder de “evolução” inerente ao ser humano, nosso grupo tem imaginado estratégias para conseguir manter um caixa básico para bancar o lanche, faxina, materiais para as oficinas e outras “emergências”. Uma das idéias – são várias – é a de fazermos produtos para venda direta aqui no Blog. Temos percebido o interesse de muitas pessoas por nossas sacolas – e elas estarão à venda até o final de maio (dois modelos). Outro produto em estudo são as camisetas com frases de livros (estamos conversando com alguns autores para a liberação dos direitos). Mas o primeiro produto made in Roedores de Livros que esgotou num pulo foi o Jogo da Memória – Brinquedos Populares.
Tudo começou com um e-mail que recebemos da querida Camila Carrossine, que tem um blog lindo, lindo, lindo chamado Karaminholas. Ela se mostrou encantada com o projeto e logo, logo nós pensamos em algo para fazermos juntas. A idéia foi que ela fizesse ilustrações de brinquedos populares e os Roedores produziriam um jogo da memória a partir dos desenhos. Gente... ficou LINDO!!! Levamos o primeiro "lote" para Goiânia e voltamos apenas com o jogo na memória. Vamos fazer mais para breve. Mas se você quiser um jogo, entre em contato pelo nosso e-mail roedoresdelivros@gmail.com e deixe lá o seu recado. No mais, queremos deixar aqui, publicamente o nosso MUITO OBRIGADO à Camila, dizer que ADORAMOS o seu curta metragem MARIA FLOR (pois é... a moça também trabalha com animação e o seu amado, Alê Camargo, produziu o premiadíssimo CALANGO, entre outras façanhas. Enfim, tudo muito lindo. Este papo de oferecer produtos Roedores de Livros para a auto-sustentação do projeto sem termos que – necessariamente – pôr a mão no bolso está em gênese. No futuro, quem sabe, teremos uma franquia em Nova Iorque, outra em Quixadá e uma terceira em Atlântida (hehehe). Afinal, desde que o mundo é mundo, os roedores habitam nos locais mais impossíveis. Ah... mas em cada lugar desses, a gente leva um punhado de livros e junta outro tanto de crianças e seguimos com as maravilhas. Brincadeiras à parte, vejam como o Jogo da Memória ficou lindo!!! E é isso!!! Hatuna Matata.
Nesta foto, Tino, Alê Camargo, Camila Carrossine e eu.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Flagrante: Roedores de Livros em Ação!!!

Esta foto registra o flagrante de uma Roedora de Livros em ação. Foi no 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás, no stand da Livraria Cultura Goiana. Enquanto livros novos ocupavam as partes nobres das estantes, no chão, quase esquecidos pelo público, preciosidades se apertavam e quase pulavam ao ver o olhar guloso de Ana Paula. Dizem que o simpaticíssimo Seu Paulo, dono da livraria, tem um acervo precioso e invejável na sua loja... mas que "o ouro" mesmo fica em um depósito na sua casa. Ah, e as preciosidades estavam todas a R$ 3,00 (cada)!!! Saímos de lá com primeiras edições de Sylvia Orthof, Marina Colassanti, Joel Rufino dos Santos... prêmios Jabuti fora de catálogo e outras delícias. Além de enriquecer nossa biblioteca particular, aproveitamos o "queima" para acolher novos títulos de qualidade no acervo da biblioteca do nosso projeto. Enfim... fica a dica: se vocês passarem por goiânia, procurem pela livraria de Seu Paulo, a Cultura Goiana. Vá com tempo, paciência e apetite. Saímos de lá fartos do "lanche". Hatuna Matata.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Foi uma Firimfimfoca...

Queridos amigos, a primeira apresentação das Histórias de uma fada carioca no Terraço Shopping foi uma Firimfimfoca só... Para conferir outras fotos CLIQUE AQUI!!! That´s all, folks.

domingo, 13 de abril de 2008

Piquenique com Livros

Começamos... Neste sábado, 12 de abril, iniciamos as atividades do projeto Roedores de Livros em 2008. É o nosso terceiro ano. De muitos outros. Da nossa visita a Goiânia, trouxemos alguns livros de uma coleção de contos populares recontados e lustrados por Claudio Martins na forma de cartas enigmáticas. Nossas crianças adoraram. Se apoderaram dos livros e leram em voz alta para o pequeno grupo (muitos ainda não sabiam da retomada do projeto). A dificuldade na leitura não foi maior que o desejo de ler em voz alta e assim, espontaneamente, ouvimos as histórias. Foi emocionante. Só estando lá para mostrar o arrepio no braço. Pois foi assim, à sombra de uma árvore, na voz de Deysiane, Guilherme (que leu - e bem - mesmo sem os óculos de sete graus que estavam quebrados), Tiago e Wanessa. Enquanto isso, o pequeno André ouvia a tudo, atento, abraçado ao seu novo amigo "dragão" que nem se importou em ficar de cabeça pra baixo (Veja na última foto).
Hoje pela manhã recebemos um email da Edna Freitas - nossa roedora que a cada dia se mostra muito mais que uma ótima relações públicas e arquivista - relatando sua visão do nosso encontro matinal no último sábado. A seguir, reproduzo o seu relato. No mais, aguardem por novas notícias deste mundinho que - graças a Deus - continua a nos presentear também com ótimas surpresas, como o desenrolar desta estréia. Hatuna Matata.

OS ROEDORES DE LIVROS - sob o céu de ceilândia - 12.04.2008
pensando alto:
Hoje fomos ao centro comunitário da criança para receber a sala - onde nós, os roedores, trabalharemos a partir de agora. Não poderia ser um lugar melhor: uma creche. Tudo se respira crianças.
Ao chegarmos lá, estavam lavando a sala para nos entregar tudo limpinho.
A notícia se espalhou ao redor e logo algumas crianças ficaram sabendo de nossa presença. E vieram até nós.
Somos voluntários. Ser voluntário é saber lidar com o improviso. Enquanto aguardávamos a sala para colocar nossas caixas, livros,..... fomos fazendo o reconhecimento da área.
E tudo começou a acontecer ali mesmo. Sob as árvores, sob o céu de ceilândia.
E levamos os livros onde as crianças e nós estávamos. "Discretamente" colocamos os livros sobre a grama... E não é que hoje, as crianças é que contaram/leram as histórias para nós?
Sim, ficamos ouvindo. E tivemos que organizar 'os leitores', pela ordem.
Hoje a natureza imperou: era terra, grama, árvores, um céu lindo, nosso trabalho de voluntário foi um grande pic-nic onde o ingrediente LEITURA reinou absoluto. Nossos leitores estavam com sede, sede de ler. Ler para serem ouvidos. Ouvidos por nós. Valeu.
Retornei pela estrutural, refazendo os 46 km de volta até minha pousada em Sobradinho. De volta pra casa. De volta pra serra. Pensando no dia de hoje, sob o céu de ceilândia.
Inté.
Edna


1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte III

Estávamos saindo do auditório Lago Azul, no Centro de Convenções de Goiânia, após a fala de Ricardo Azevedo, quando notamos a presença dos escritores e ilustradores Marilda Castanha e Nelson Cruz que acabavam de chegar. Aproveitamos que as atenções estavam voltadas para os autógrafos de Ricardo Azevedo e fomos nos apresentar ao casal mineiro. Um amigo comum já havia falado sobre os Roedores de Livros e nós havíamos trocado mimos virtuais. Este seria nosso primeiro contato pessoal. Não poderia ser melhor. Marilda e eu descobrimos afinidades e uma nova amiga em comum. Imediatamente ligamos para Brasília para contar as novidades... sorrisos flagrados na foto acima. O papo foi interrompido para as apresentações formais ao público.
Nelson Cruz acaba de relançar pela Cosac & Naify e com novo projeto gráfico os livros Dirceu e Marília (na foto acima, a primeira edição, pela Formato), Bárbara e Alvarenga e Chica e João, todos centrados em personagens históricos de Minas Gerais. Eles fazem parte da coleção Histórias para Contar Histórias onde o autor e ilustrador passeia com talento pelos caminhos do tema que defenderia nesta noite: “Ilustração, história e ficção”. Nelson Cruz abordou seu tema com maestria explicando o trabalho minucioso de pesquisa que realizou para produzir o ótimo livro No Longe dos Gerais. Ficou nítida sua paixão pela obra literária de Guimarães Rosa, inspiração para seu livro e que o levou a percorrer o interior de seu estado natal refazendo a viagem original do autor de Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile. Mostrou fotos da viagem que serviram aos estudos iniciais para as ilustrações do livro. E pedindo atenção aos primeiros rabiscos, mostrou ao público todo o trabalho para chegar a um resultado final. O público - formado por educadores, ilustradores e curiosos - assistia a tudo com uma expressão de encanto. É muito fácil pousar os olhos e descansar a fantasia num livro pronto, mas, para chegar a um produto de qualidade, às vezes é preciso muito trabalho para que as idéias ganhem forma no papel. Só sentimos a falta do riacho que entrava pela sala e saía pela cozinha nas ilustrações de Nelson. Ele conta que se emocionou muito ao beber da água ali, agachado no chão da cozinha. Por causa da forma que tomou o projeto gráfico, a cena tão bem trabalhada e vivida emocionalmente pelo artista, foi cortada exatamente no ponto do riacho (fato que deixou Nelson em silêncio por uma semana enquanto analisava o boneco do livro deixando a editora à espera do seu “ok”). Nada não! O livro – mesmo sem o riacho correndo dentro da casa – ficou uma maravilha e ganhou o prêmio de Melhor Projeto Editorial de 2004 pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Fim da explanação: aplausos e olhos voltados para Marilda Castanha.
Marilda Castanha também teve os premiados livros Pindorama e Agbalá relançados com novos projetos gráficos e incorporados à coleção Histórias para Contar Histórias da editora Cosac e Naify. Nossa relação de amor com a obra de Marilda vem de alguns anos: O embrião dos Roedores de Livros começou a se formar depois que Ana Paula me apresentou o livro O Rei da Fome (Marilda Castanha, Ediouro, capa na foto acima). Adubei suas idéias, ela resolveu pôr a mão na massa e cá estamos. Temos uma paixão por este livro. Mas esta história fica para outra hora. Vale agora dizer que sua fala foi sobre “Ilustração, linguagem, processo de criação”. Centrada nos relançamentos e de forma descontraída, Marilda falou das minúcias que envolveram a criação de Pindorama, dos seus estudos para descobrir cores formas e texturas para os projetos, do trabalho para chegar à forma e cores do navio negreiro de Agbalá. Pindorama nasceu depois de um convite para expor seu trabalho num importante seminário de ilustração em Bratislava, na Europa. Em sua apresentação, vimos estudos que resultaram nas ilustrações maravilhosas destes livros, descobrimos alguns “segredos” escondidos em detalhes dos desenhos, as alegrias e angústias da criação e tantas outras confissões nos tornaram (Marilda e o público) quase íntimos. Depois daquele encontro, arregalamos o olhar para outras ilustrações dela e tentamos descobrir os segredos ali pintados. Fim da apresentação, o bate papo rolou solto até que a produção disse que seria impossível continuarmos. Bem, todos foram para suas casas.
Ana Paula, Eu, Marilda Castanha e Nelson Cruz seguimos para o hotel onde o papo se desenrolou até depois da meia-noite. Eu já estava virando abóbora e as histórias seguiam o curso normal. Que delícia. Nelson e Marilda são como nós: apaixonados pelo que fazem, de vida simples e de uma sinceridade que empata com o bom humor. O que falamos até depois da meia-noite? Nem te conto!!! Mas que renderam boas risadas, renderam!!! Aguardem nova edição do premiado Pula Gato e um novo livro - com um tema há muito esquecido - do Ernani Ssó ilustrado pelo Nelson Cruz. Tem mais novidades por aí, mas vamos deixar que os bons ventos as apresentem. Para encerrar, uma montagem com o carinho que os dois deixaram em nossos livros. Hatuna Matata.
Ainda temos mais para contar sobre o Salão do Livro de Goiás. Aguardem!!!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Doe um LIVRO USADO e ganhe um NOVO!!!

DOE SEU LIVRO USADO E GANHE UM NOVO!!!

O grupo FIRIMFIMFOCA participa de evento no TERRAÇO SHOPPING (HC/AOS Entrequadras 2/8 Lt 5 Octogonal - (61) 3223-1617) capitaneado por uma campanha de DOAÇÃO DE LIVROS INFANTIS para o projeto ROEDORES DE LIVROS.

O grupo FIRIMFIMFOCA apresenta histórias infantis de Sylvia Orthof no Terraço Shopping durante os sábados de abril, comemorando o mês do livro, participando da campanha DOE SEU LIVRO USADO E GANHE UM NOVO.

Nesta campanha, o doador leva um exemplar usado para a livraria LEITURA, no interior do Shopping e ganha um exemplar participante da promoção. São 50 livros por semana – o que não impede que o público possa também fazer uma simples doação. Vale ressaltar que a campanha visa arrecadar livros infantis, de literatura (não didáticos). Os livros arrecadados serão doados para a biblioteca do Projeto Roedores de Livros, que acontece nas manhãs de sábado, na Ceilândia.

O grupo FIRIMFIMFOCA preparou três sets diferentes para as apresentações do Terraço Shopping. A estréia acontece no próximo sábado, 12 de abril, às 18 horas, em espetáculo aberto ao público (gratuito) na Praça das Palmeiras. Em 40 minutos, o grupo apresenta as histórias A Fada lá de Parságada, A Bruxa Uxa e o elefantinhozinhozinhozinho, O Sapato que miava e Maria vai com as outras.

A Fada lá de Parságada é um belíssimo belo texto poético descrevendo a fada poesia, uma fada preta. A Bruxa Uxa e o elefantinhozinhozinhozinho conta sobre uma de suas personagens mais famosas de Sylvia: UXA, que era ora fada, ora bruxa, personagem gorda com dois peixes nos olhos e os cabelos melados de mel. Nessa história, ela encontra o elefantinhozinhozinhozinho que, como o nome já diz, é minúsculo. O Sapato que miava fala do gato Fedelho, tão boa vida que vivia enfiado no sapato de sua dona, uma velha, que calçava seus sapatos com o gato dentro, ele, a cada passo ia miando, miando, miando... Enfim, Maria vai com as outras é a história de uma ovelha que só entra em fria por fazer tudo que suas amigas fazem até que um dia descobre sua autonomia.

Apareçam por lá, levem suas crianças e participem da campanha de doação de livros!!!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte II

Nosso primeiro encontro literário em Goiânia foi no elevador do hotel. Ele saía com uma pasta na mão e nós entrávamos com malas, cuias e livros. “Professor”, disse o Tino, "vai devagar que já já a gente chega lá no auditório! É só o tempo de despejar a matula”. E foi mesmo. Pegamos um táxi e seguimos para o Centro de Convenções de Goiânia. Conseguimos chegar no início da palestra “Armadilhas para a formação de leitores : didatismo, sistema cultural dominante e políticas educacionais” proferida pelo escritor, ilustrador e pesquisador Ricardo Azevedo que, sem querer, havia atendido ao pedido do Tino e “esperou” a nossa presença para começar sua fala.

Começou afirmando que, de uma forma geral, as escolas não sabem bem o que fazer com os livros de ficção e de poesia em sala de aula. Para elas, o livro de literatura deve ser tratado como um livro didático, com suas soluções equacionadas e respostas exatas. Há uma necessidade de que o conteúdo destes livros não germinem a fantasia e sim, tenham serventia prática no mundo real. A escola quer uma resposta prática para a questão “para que serve a literatura?”. É necessário que a literatura caiba no didatismo, no utilitarismo. A literatura, para a maioria das escolas, não serve como mero instrumento da fantasia. Lembrei de uma palestra do professor Bartolomeu Campos de Queirós em que ele falava da necessidade da escola de medir o conhecimento. De repente ele saiu com a pérola: “- Quero ver a escola medir qual criança é mais feliz na hora do recreio”. Ricardo Azevedo criticou veementemente esta postura didática reforçando a idéia de que é preciso mudar esta situação.


Seguindo o roteiro do texto que escreveu para a palestra, o escritor fazia a sua leitura e, vez em quando, olhava discretamente para o visor do relógio que estava posicionado no lado inferior do pulso esquerdo. O tema era polêmico e o risco de ultrapassar os limites do tempo previsto era alto. Agora falava da cultura ocidental preocupada na formação do indivíduo em detrimento do coletivo. As pessoas estão cada vez mais sozinhas e a escola promove esta individualidade. Ricardo indagou: “- Como construir uma sociedade equilibrada formando centros do mundo?” E seguiu afirmando: “A solidariedade é uma questão de inteligência social”. “O homem não funciona sozinho. Ele passa a ser Homem quando se relaciona com outros homens, pois é um ser dialógico”. Por fim, falou sobre as diferentes formas de se estudar o mundo, lembrando que na ciência oriental, o cientista senta-se ao lado da flor para “conhece-la”. Por outro lado, o cientista ocidental precisa “destruir” a flor para que possa saber sobre ela.

Hora do público se manifestar. O papo seguiu mais como um desabafo dos ouvintes do que como um confronto das idéias apresentadas por Ricardo Azevedo. A maioria – senão, todos – concordava com o olhar crítico do pesquisador. Mas se falou também que em algumas escolas – poucas, ainda – esta visão didática estava perdendo sua força. Esperamos que contagie outros centros de ensino.

No final, depois dos autógrafos, eu e Tino conversamos muito com Ricardo Azevedo. Falamos sobre o projeto e da lista de reservas do ótimo “Contos de enganar a morte” que aconteceu assim que o livro chegou à biblioteca dos Roedores de Livros em 2007. Falei que utilizo o conto O Rei que virou vaca nos meus cursos há muitos anos. Ele me informou que este texto foi publicado recentemente no livro Papagaio come milho, Perquito leva a fama (Moderna). Ah... Falamos sobre tantas outras coisas que não caberiam neste post. Na verdade, seguimos aprendendo e Ricardo Azevedo tem muito a ensinar. Agradecemos pela sua simpatia e paciência (o Tino levou um horror de livros para ele autografar). Esperamos por novos encontros. Hatuna Matata.

terça-feira, 8 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte I

Queridos amigos... enfim, chegamos do 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás... a foto acima é o "Kit Roedores" que levamos para as apresentações e para as oficinas que fomos convidados (as malas não couberam na foto... hehehe)... Temos muito a dividir com vocês ao longo desta semana. Encontros e conversas com Ricardo Azevedo, Nelson Cruz e Marilda Castanha. Encontros com amigos virtuais. O monólogo de Lygia Bojunga. As oficinas e apresentações. Enfim, um Salão que teve seus sucessos e seus percalços - como tantos outros. Esperamos que possa crescer em sua segunda edição. Nós provamos das suas delícias e, aos poucos, compartilharemos com vocês. Abraços de letrinhas.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Saudades, guri. Saudades.

"Foi uma jornada e tanto. Daquele 23 de fevereiro de 2002, com uma apresentação sensacional da Elisa Lucinda, até hoje, 31 de março de 2008, a Esquina da Palavra valeu uma vida. Estou fechando a livraria com um tremendo orgulho por esse período todo. A alegria que encontrei aqui, os amigos que fiz, a pequena parcela na vida de cada um de vocês, os livros editados, os autores que aqui autografaram - não tenho como não falar da Valéria Grassi, das adrianas Falcão e Lisboa, do Marçal Aquino, do Bonassi, do John Gledson, do Ismail Xavier e tantos outros que é até injusto citar só alguns -, leram seus livros, beberam e curtiram esse canto de Brasília, até mesmo essa agonia financeira que muitos de vocês viram acontecer, tudo isso vai ficar para sempre comigo."

Com estas palavras, nosso querido Lourenço Flores inicia sua carta informando o enceramento das atividade da nossa livraria de estimação Esquina da Palavra. Todos sentimos muito. Ao mesmo tempo, conhecemos as dificuldades e torcemos para que o amigo siga seu caminho sem tantos obstáculos. Para não me demorar nas palavras, copiamos texto da jornalista Conceição Freitas publicado ontem no jornal Correio Braziliense. Assinamos embaixo. O resto é silêncio.

"Acabou um paraíso

Se o paraíso é uma espécie de livraria, como dizia Jorge Luis Borges, uma espécie de paraíso acabou de acabar, a livraria Esquina da Palavra, na 405 Norte. O mesmo Borges inventou uma biblioteca de Babel, muito gigante, onde caberiam todos os livros que foram escritos e os que ainda vão ser, todas as histórias de todas as pessoas, tudo o que cada uma viveu e o que cada uma poderia viver.

A biblioteca do Borges ocupa salas hexagonais, como uma colméia, cada uma delas com o mesmo número de prateleiras, que se repetem ao infinito. Livros sobre todos os temas que pertencem ao mundo, os que não pertencem, os que já pertenceram e os que ainda vão pertencer. Muitos totalmente aloprados, mistura de todas as combinações de letras, de tal modo que é impossível lê-los.

Claro que a biblioteca de Borges é uma metáfora. Do universo, dizem. Da complexidade e infinitude do cosmos e de todas as possibilidades imagináveis e inimagináveis de tudo que o contém. Hoje já tem gente aproveitando o conto para uma metáfora da internet , a rede de compartimentos infindáveis.

A biblioteca de Babel é aterrorizante. Ela existe para nos avisar de que o todo é inalcançável e maluco de quem imaginar que pode dominar o conhecimento completo de tudo o que existe no cosmos.

A Esquina da Palavra era uma livraria sem a ambição inexeqüível da completude. Fez escolha: literatura, com exceção para livros importantes de áreas do conhecimento. A Esquina da Palavra era teimosa: quis manter acesa a idéia de uma livraria que não despeja sobre a cabeça do leitor uma quilométrica oferta de títulos de interesses tão múltiplos quantos são os humanos sobre a Terra. Uma livraria que acolhe o leitor um a um, com o comedimento e a intimidade que ficam muito bem numa livraria.

As grandes redes de livraria são de uma comodidade difícil de escapar. Têm o título que eu procuro e se não têm, encontram, caso não esteja esgotado. Dão descontos que só as grandes redes podem oferecer. Mas são tão sufocantes quanto o Google com seus 4.330.000 resultados para a palavra livraria. A multidão de capas e títulos nas prateleiras e balcões me transformam numa formiguinha que perdeu o caminho de casa.

A Esquina da Palavra, paraíso que acabou nesta segunda-feira, era reconfortante como uma casa, estimulante como um mestre, e deixava cada um de nós do tamanho de nós mesmos — e com a ponte sempre aberta para o reencontro silencioso com a nossa própria humanidade, que é o que um bom livros nos dá, e até um ruim, tão bom é ler um livro.

Nos seis anos, um mês e oito dias de vida, a Esquina da Palavra fez encontros inesquecíveis de gente como Adriana Falcão, Adriana Lisboa, Marçal Aquino e shows igualmente marcantes, até mesmo o improvável encontro do senador Eduardo Suplicy com o também senador Marco Maciel, acompanhados pelo Supla e pelo João, os filhos. Mas acabou."


Por fim, se você estiver em Brasília no próximo final de semana, aceite o convite do Lourenço e apareça para a despedida:
"Nos próximos sábado e domingo, dias 5 e 6, a partir das 9h, estarei fazendo uma queima dos livros que ainda tenho aqui - todos com 50% de desconto. Quem quiser, por favor apareça".

P.S. Lourenço e sua Livraria foram citados algumas vezes aqui no blog. Uma dessas postagens você lê AQUI.