terça-feira, 27 de julho de 2010

Sorrisos e sustos

Para a mediação de leitura na manhã do dia 10 de julho separamos alguns livros de suspense e medo. Mas abri os trabalhos com músicas para destravar os sorrisos. Brinquedos cantados, vinícius de moraes e uma ou outra música minha para descontrair o ambiente. Era o dia de medir os contrastes.

O primeiro livro escolhido foi TIO LOBO (Xosé Ballesteros, il Roger Olmos, Callis). Quando o assunto é literatura politicamente incorreta e fabulosa, esse é um dos nossos livros preferidos, ao lado de A Promessa do Girino, Coelho Mau, A Pior Mulher do Mundo, Agora não, Bernardo... para citar alguns. É certo que existem pais e professores que podem até não gostar, mas as crianças se envolvem com esses livros. Tomam uns sustos pois as narrativas vez ou outra tomam caminhos incomuns. Mas isso faz parte. E no projeto, procuramos apresentar a boa literatura, que alcance as emoções das crianças. Não foi diferente com essa leitura. E a menina mentirosa teve um fim merecido, segundo a nossa turma.

A foto acima e abaixo mostra o jogo com o livro que uma boa mediação permite ao leitor. As crianças afastadas, envolvidas com o lobo que quer castigar a menina, aproximam-se do "perigo" para ver a cena, pois a curiosidade e a certeza da fantasia são mais fortes que qualquer razão. E elas estão certas. Ao final da história, a conversa segue sem traumas.

O segundo livro foi O HOMEM DO SACO (Rogério Trezza, Brinque Book) e o suspense tomou conta da nossa sala de leitura. É muito interessante ver como as palavras têm força para cutucar a imaginação da gente. Ufa!!! Ao final, não era nada daquilo que se pensava. Vamos para o próximo livro.

A leitura do terceiro livro - SETE HISTÓRIAS PARA SACUDIR O ESQUELETO (Angela Lago, Cia das Letrinhas) - foi demais. Incrível mistura de sustos e sorrisos num mesmo texto. A turma, lá pelas tantas, pegou o mote enquanto esperavam o setset chegar. Ana sussurrava: - Caioooooooo, Caioooooooo... E parecia que era meia-noite na saleta...

Por fim, uma leitura inteligente sobre o medo que mora dentro da gente. MAURÍCIO, O LEÃO DE MENINO (Flávia Maria, il Millôr Fernandes, Cosac & Naify) tirou a preguiça que deitou Isabela na almofada...

... para colocar a curiosidade dela quase dentro das páginas laranjas e negras do livro.

Foi uma manhã especial. Emocionante. Como tem sido as outras. Repleta de surpresas e boas histórias. Hatuna Matata.

Só sei que foi assim...

Noite de junho. Segunda feira carioca. Eu, Ana Paula e Kleber Sales pegamos um táxi no Flamengo e vamos até o Cervantes da Prado Junior, em Copacabana. Desejo de jantar o incrível sanduba de lá. O taxista joga a gente bem na esquina e, assim que ela se vai, percebemos que o restaurante está fechado. Enquanto esperamos outro táxi, Ana Paula e Kleber entram na banca de revista. Após um minuto, escuto o diálogo de Ana Paula com o jornaleiro:

- E essa revista, quanto é?
- Deixa eu ver... Ah... essa tá aí mas não tá a venda não! Se quiser, pode levar.
- Por quanto?
- Pode levar de graça.
- Pode?
(o jornaleiro dá uma última folheada no álbum ilustrado e diz) - Pode!

Ana e Kleber saem da banca e entram no táxi de volta para o Flamengo.
Nas mãos dela, um álbum importado com ilustrações de Arthur Rackham, editado por David Larkin e com apresentação de Leo Jonh De Freitas. Um livraço de um dos mais célebres ilustradores do mundo, com 35 desenhos que ilustraram obras com Alice no País das Maravilhas (abaixo), Fábulas de Esopo e Contos dos Irmãos Grimm. Um presente e tanto para Roedores de Livros. Saciamos a fome literal com um prato literário!!!

Para conhecer um pouco mais sobre Arthur Rackham, CLIQUE AQUI.

Nós, ficamos de olho, atentos, pescando e roendo raridades por aí. Depois conto mais dessas histórias inacreditáveis.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Como um espelho

Sábado, 03 de julho. Férias. Copa do mundo. Frio de rachar na Ceilândia, mesmo às 9h da manhã. Para esse dia preparamos algumas ações diferentes. Depois da seção musical, escolhemos os três livros da coleção que a editora Manati traduziu lá da Índia para as crianças brasileiras: Pega esse crocodilo e Tigre em cima da árvore (Anushka Ravishankar, il Pulak Biswas), e Elefantes nunca esquecem (Anushka Ravishankar, il Christiane Pieper).

Os livros têm excelência gráfica, onde texto e ilustração conversam entre si, saltam aos olhos do leitor ganhando novas formas e tamanhos, ultrapassando os limites da linha escrita. A palavra também ilustra a narrativa, contando histórias que prenderam a atenção da turma. Ver a força do livro (história e ilustração e projeto gráfico) durante uma mediação é um presente dos melhores para um Roedor de Livros.

Mas Ana Paula convidou algumas crianças a ler para nós. Essa era a grande surpresa daquela manhã. Queríamos ouvir suas vozes, a fluência da leitura, enfim, descobrir o pequeno roedor de livros que já despertara em cada um. Os livros escolhidos por elas ainda são pequenos em texto, mas foi grande a emoção em ver a história ganhar a sala em vozes e gestos que por vezes lembravam a mim ou Ana Paula.

Mesmo timidamente, estavam ali os jogos com o livro, ora criando o suspense, ora mostrando as ilustrações; e a capacidade de chamar a atenção do leitor-ouvinte. Foi como olhar no espelho e sentir-se ainda mais bonito, mais jovem, com um futuro cheio de boas histórias pela frente. E isso foi DEMAIS. Queremos mais!!! Hatuna Matata!!!

Contos nas Bancas

Domingo é dia de trocar uns reais por informação, diversão e tutano por aqui, na toca dos Roedores de Livros. A gente vai ate uma banca de revistas e vez em quando acontece de descobrir um tesouro. Dia desses foi um álbum do Arthur Rackham - mas essa história eu conto depois. Ontem, voltamos para casa com um punhado de ótimas histórias por um precinho especial. É que está nas bancas a Edição Especial de CONTOS da revista NOVA ESCOLA. Já é o quinto volume com textos selecinados para ler com crianças e jovens - mas eu, por exemplo - me diverti à beça, sozinha. Na seleção, contos publicados anteriormente na edição mensal da revista e outros inéditos. A historaiada começa com Maria Amália Camargo e sua criativa brincadeira com as palavras e seus significados muito alem dos que você encontraria no dicionário. Tem mais: Silvana Tavano, Flavio Carneiro, Roseana Murray... muita gente boa. Ah, e tudo ricamente ilustrado por uma seleção de artistas como Mateus Rios, Ionit Zilberman, Ricardo Giroto... E tudo por um precinho especial: R$ 6,90. O que você está esperando? Dá uma passadinha na banca mais próxima e leva uma pra casa. Diversão garantida para todas as idades. Hatuna Matata!!!

sábado, 24 de julho de 2010

Artista africano impedido de entrar no Brasil

Replicando email enviado há pouco por Benita Prieto:

Boniface Ofogo Nkama, nascido na República dos Camarões e radicado na Espanha desde 1988, nosso convidado para o Simpósio Internacional de Contadores de Histórias que acontecerá na próxima semana, no Rio de Janeiro e em Ouro Preto, foi impedido de entrar no Brasil, no aeroporto de Confins/BH, pela Polícia Federal que alegou falta de visto, no dia 23/07/2010(sexta-feira), vindo de Madri em voo da TAP.

(Leia AQUI o email na íntegra, publicado no blog Resumo do Cenário).

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O peixe sushi apareceu no Roedores de Livros

"Quem me ensinou a nadar / Quem me ensinou a nadar / Foi, foi, marinheiro / Foi "os peixinhos" do mar..."

Foi com essa canção que o Tino abriu o encontro com as crianças naquele sábado, 26 de junho. Voltávamos de uma semana no Rio de Janeiro, em que participamos do Salão da FNLIJ, e estávamos ora com o som do mar arrebentando no Arpoador, ora com o silêncio do mar na enseada de Botafogo. Saímos de casa, então, com alguns livros que ambientavam suas histórias no mundo das águas salgadas.

O primeiro livro que mediamos foi ROSALINA - A PESQUISADORA DE HOMENS (Bia Hetzel, il Graça Lima, Manati) e o Tino aproveitou para contar como a autora tirava as fotos das baleias (ele ainda hoje acha impressionante imaginar a cena da fotógrafa amarrada na proa do barco, jogada pra cima e pra baixo pelas ondas, esperando encontrar uma baleia). A garotada ficou impressionada com a história que saiu no jornal e com as ilustrações mescladas com as fotos.

"Como pode um peixe vivo / Viver fora da água fria..."

A segunda leitura foi da lenda japonesa URASHIMA TARO (recontada e ilustrada por Lucia Hiratsuka, Global). E a fantasia começou a mexer com a fantasia da turma, já acostumada com o fundo do mar do Bob Esponja. Ao final, todos surpresos com a curiosidade premiada do personagem mítico japonês. Beleza e suspiros da nossa turma.

"Eu não dou daqui / Marinheiro só..."

Dava pra sentir a maresia entrando pela janela quando fui desdobrando o livro NO MAR (Jean-François Martin, Il Marie Aubinais, Scipione) e descobrindo seus personagens numa conversa louca e cumulativa em torno de um anzol. Diversão e informação.

Mas a turminha se esbaldou pra valer quando apresentei um dos presentes que trouxemos do Rio de Janeiro especialmente para o projeto: o livro OS MERGULHADORES (escrito e ilustrado por Mariana Massarani, Global). Foi abrir a primeira página e - de início - ver os olhos curiosos mergulhando no livro. Depois, o mergulho foi literal. Tudos se espremeram em torno do livro e das curiosidades que a autora pescou e distribuiu a todos.

Lá pelo meio do livro, duas pérolas para nosso baú de histórias: uma das crianças ficou de pé e rodou em cima do tapete, imitando um farol, com o braço estendido fazendo as vezes do facho de luz e uma voz soou mais alta que as outras para dizer: - Ih, só faltou o peixe sushi!!!

Por fim, separamos as turmas por gênero: meninos de um lado, meninas do outro e cada grupo foi desenhar o seu fundo do mar particular. Mais um dia espetacular. Hatuna Matata!!!


P.S. E o peixe sushi apareceu no desenho.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Gian Calvi no Salão FNLIJ

Para mim, um dos momentos mais emocionantes do Salão FNLIJ do Livro Infantil e Juvenil 2010 foi o encontro com o ilustrador GIAN CALVI, numa performance-bate papo com o público num meio de tarde junina carioca. Tenho uma admiração absurda pelo trabalho dele. A coleção CRIANÇAS CRIATIVAS, sob sua coordenação, é uma obra prima a serviço do leitor infantil.

Sob o olhar atento de Laura Sandroni (foto acima, sentada, à esquerda) e de ilustradores como Rosinha Campos e Jô Oliveira - para citar apenas dois - Gian começou a falar do seu trabalho, mas logo logo se entregou à diversão. Confessou às crianças (o local estava lotado) que gosta muito de criar coisas que não existem. Sugeriu misturar um bicho e um objeto. Daí surgiu a COBRACLETA. O artista começou a dar forma ao objeto que nasceu ali e, a partir do nome, foi existindo no branco do papel. Mas Gian Calvi foi além. Convidou a criançada a ajudar na criação fantástica. A meninada se empolgou e - ao lado do artista - participou da festa criativa. Foi o máximo!!!

Gian Calvi ajudou na formação de diversos ilustradores, sem que estes copiem seu estilo. Mariana Massarani, por exemplo, me contou que a técnica que usou para fazer as mais de 70 ilustrações do CONTROLE REMOTO foi ensinada a ela por Gian. Naquela tarde, após a performance, numa conversa rápida, mostrei a ele o livro e contei o que Mariana havia confessado. Ele parou para folhear o livro, abriu um sorriso como se estivesse recordando bons momentos, me deu um abraço e disse:
- Mande um beijão pra Mariana. O livro está lindo!!!
E seguiu seu caminho.

Em 2010, ele comemora 50 anos de dedicação à fantasia. No primeiro semestre, a exposição GIAN CALVI - 50 ANOS VENDO AS COISAS DE OUTRO JEITO, apresentou à nova geração toda a genialidade desse artista. Espero que ela chegue a todo o Brasil. Enquanto isso não acontece, você pode se aproximar um pouco mais da obra de Gian Calvi no vídeo abaixo, que apresenta a exposição para quem não pode ir ao CENTRO CULTURAL DOS CORREIOS, no Rio de Janeiro, sede da mostra. Aproveite! Hatuna Matata!!!


terça-feira, 13 de julho de 2010

Videoreportagem - Roedores de Livros - Programa Inclisão



Trecho do programa INCLUSÃO sobre contadores de histórias, destacando o projeto ROEDORES DE LIVROS, apresentado pela jornalista SOLANGE CALMON, exibido na TV Senado em junho 2010.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

TV SENADO na toca dos Roedores de Livros...

Em 2006, poucas semanas após o início do nosso projeto, a jornalista Solange Calmon fez uma reportagem televisiva em que aparecíamos como um dos destaques. No sábado 12 de junho, ela e a equipe do programa INCLUSÃO, da TV SENADO, aportaram na toca dos Roedores de Livros para registrar as novidades após 4 anos de atividades.

A turma demorou a chegar. Até achamos que os jogos da Copa do Mundo iriam atrapalhar o andamento do projeto. Mas, parece que todos estavam combinados: a turma chegou de uma vez só e fizemos a festa para a garotada e para a equipe de TV.

Entre os livros que escolhemos para a mediação estavam O MONSTRO PELUDO (Henriette Bichonnier, SM) e A PIOR MULHER DO MUNDO (Francisco Hinojosa, Nova Fronteira). Dois livros que pescam a atenção e a interação das crianças. O primeiro, por sua construção cheia de rimas. O segundo, por mexer com uma personagem absurdamente má e apresentar um final criativo. Foi muito bom.

A reportagem já foi ao ar - como indicamos em post anterior. Em breve a gente vai publicar uma edição no Youtube mas, se vocês quiserem acompanhar antes, é possível assistir a reportagem completa navegando no site da TV SENADO. CLIQUE AQUI e assista ao programa. Desde já, agradecemos o carinho e atenção prestados por Solange e sua equipe. Foi um prazer recebê-los. Apareçam sempre que quiserem. Para reportar nossas ações ou simplesmente para participar delas. Hatuna Matata!!!

Surpresa na caixa do correio...

O pessoal dos Correios tem aparecido na toca dos Roedores de Livros com algumas surpresas, além das contas a pagar. Uma das melhores dos últimos dias foi essa caixa aí de cima. Para saber o que veio dentro dela é só navegar no LITERATINO.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O pequeno Nicolau foi ao cinema... e nós também...

Os livros do PEQUENO NICOLAU frequentam a toca dos Roedores de Livros há muito, muito tempo. Os textos insPIRADÍSSIMOS de René Goscinny e as ilustras geniais de Sempé são obrigatórias em qualquer estante de literatura, sem classificação estária. São para todos os leitores. Até aí, nenhuma novidade e se quiserem recordar, aqui no Roedores de Livros já postamos RESENHA SOBRE A OBRA.
O que é novo e maravilhosamente assustador para mim - frustrado com tantas adaptações incrivelmente inferiores aos livros que as inspiraram -, é que o filme O PEQUENO NICOLAU (em cartaz aqui em Brasília) é tão bom quanto os livros. Emociona, diverte, encanta. Diálogos ágeis, atores incríveis, música ótima... E mais não devo dizer. Vá ao cinema - se não chegou ainda à sua cidade - espere chegar às locadoras. Vale cada real investido. Assista e depois me conte. Hatuna Matata!!!


sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Marcador de juízo!!!

Eu tenho uma paixão explícita pelo Israel. Ele é a expressão do que imagino ser uma criança feliz. A cada semana ele tem uma tirada diferente, que só poderia ter saído de uma cuca criativa, plena de infância. Uma delas foi durante a oficina que fizemos logo depois de ler o meu livro, Cadê o juízo do menino?, quando Ana Paula convidou a turma para fazer marcadores de livro. No alto dos seus seis anos, ele apareceu assim e disse: - Tá aqui o meu MARCADOR DE JUÍZO!!!

Escolhendo frutos saborosos

O mês de junho também chegou na toca dos Roedores de Livros e tivemos que fechar as janelas da sala de leitura. Apesar da claridade no céu azulado, sem nuvens, o frio chegou trazendo preguiça e um pouco de incômodo. Nessas horas a gente agradece ao novo espaço no Shopping Popular da Ceilândia e dizemos: - Que bom termos janelas para fechar e barrar o vento frio.

Na manhã do dia 05/06 decidimos ler os livros que as crianças escolhessem, dos expostos nos painéis da sala de leitura. A primeira escolha foi CHAPEUZINHO AMARELO (Chico Buarque, com ilustras do Ziraldo, José Olympio) e as brincadeiras que o autor faz com as palavras ficaram por um tempo rondando a sala mesmo depois da leitura. Todo mundo brincando com os trosmons, gãodra e outras criações. Depois, a garotada escolheu o livro COMO NASCERAM AS ESTRELAS (Clarice Lispector, ilustrações de Ricardo Leite, Nova Fronteira). Li a primeira história, que dá título ao livro de lendas brasileiras. Foi muito bom reviver o texto e perceber a atenção das crianças.

A turma gostou de escolher as histórias e a seguinte foi O CASO DAS BANANAS (Milton Celio de Oliveira Filho, com ilustras da Mariana Massarani, Brinque Book) e aí, todo mundo ficou de olho no livro e nas palavras para descobrir o mistério.

Por fim, a escolha recaiu em CADÊ O JUÍZO DO MENINO? (Tino Freitas, com ilustras da Mariana Massarani, Manati). E a leitura trouxe a turma para mais perto do livro, soltou os sorrisos e - depois da leitura - a meninada saiu à procura dos juízos escondidos no livro.

É claro que escolhemos a dedo os livros que vão para os expositores. E vez em quando a gente troca por novos livros. Ao final de cada mediação, as crianças tem um tempo para livres escolhas e leituras solitárias ou compartilhadas, como a da foto. Aos poucos, a garotada tem se sentido mais à vontade e pescado bons livros. Sempre conversamos sobre os autores e ilustradores. Estamos plantando - quem sabe - uma autonomia que preze pela qualidade dos frutos escolhidos para que a leitura siga tão saborosa quanto foi naquela manhã. Hatuna Matata!!!

Sonho de consumo...

A foto acima registra o primeiro acervo móvel da Biblioteca de Saint Paul (Minnesota - EUA), que entrou em circulação em 1917. Aqui, no Roedores de Livros, a gente tem pensado muito nessa opção como modo de fazer a literatura chegar ainda mais longe. Sonhar não custa nada. Quem sabe um dia? Torçam daí que a gente segue trabalhando. Hatuna Matata!!!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Entre crianças e monstros...

Monstros sempre habitaram o universo infantil. Falo daqueles que aparecem de vez em quando lá da terra do fundo da imaginação, ou às vezes nem aparecem, mas insinuam-se embaixo das camas ou dentro dos armários. Na manhã daquele sábado, 29 de maio, convidamos dois deles para fermentar a fantasia da garotada do Roedores de Livros.

O primeiro foi O MONSTRO MONSTRUOSO DA CAVERNA CAVERNOSA (Rosana Rios, com ilustras do André Neves, DCL) que com suas seis orelhas e dois narizes e a aversão a devorar princesas por preferir sorvete de chocolate ganhou de imediato a simpatia dos pequenos, que foram perdendo o medo inicial e congelando o olhar nas ilustrações maravilhosas e os ouvidos na história criativa. Juro que ouvi sorrisos apesar da monstruosidade do tema.

Depois foi a vez de convidar O GRÚFALO (Axel Scheffler, Brinque Book) a visitar nossa toca. De novo, o suspense inicial, todos sentados a uma distância segura para, no fim, quase entrarem nas páginas.
Depois da mediação, dividimos a turma em dois grupos, separados por faixa etária. Cada um com a missão de criar um monstro em conjunto.

O resultado? Bem, vou deixar um suspense, mostrarei só depois. Mas adianto que, desde então, apesar de guardarmos os dois monstros nas paredes da toca dos Roedores, a cada semana eles aparecem em lugares diferentes.

Daquela manhã, saímos com uma certeza: entre crianças e monstros, deve haver sempre um bom livro. Hatuna Matata!!!

Roído no Blogue da Índigo...

Para se embelezar mais, visite o blog VIDA NO CAMPO.

Delicadeza, sem perder a esperteza.

Não gosto de ler livros em PDF. Desde antes do Kindle e do Ipad chegarem por aqui. Deixo eles para o jornal, ou para outras leituras rápidas. Livro eu gosto de "ler pegando". Uso as duas mãos, finco o polegar embaixo, no meio das páginas... ah, as páginas... gosto de sentí-las. É uma experiência particular, . Meus amigos sabem disso. Em PDF só os que escrevo pois tenho que aprová-los mas... como saber da capa dura do Controle Remoto? E a genial descoberta ao abrir as orelhas de Topo Gigio de Cadê o Juízo do Menino? Bem tudo isso para dizer que finalmente encontrei um exemplar em papel de COBRAS EM COMPOTA, livro de Índigo, edição bacana, publicado pelo Ministério da Educação em 2006 pelo programa Literatura para Todos.

Desde quando li o primeiro livro dessa escritora paulista (A MALDIÇÃO DA MOLEIRA) tenho procurado por Cobras em Compota, dito por alguns próximos como um livro fantástico. Ontem à noite devorei o danado do livro com um sorriso nos lábios. Depois de uma desnecessária "Carta ao leitor" escrita por alguém do Ministério da Cultura, fui iluminado pelo prefácio - esse sim, de categoria - escrito por Marcelino Freire, do qual tirei o título desse post: "Para curar o mau humor. A dor nas costas. O peso do dia-a-dia. O cansaço. Aliviar o seu ar preocupado. Eis o antídoto (...)"

Uma vez, numa palestra em São Paulo, Luiz Raul Machado disse que Marina Colasanti era um Andersen de saia. Acho até que já escrevi isso: para mim, Índigo é Nelson Rodrigues desencarnado. Imagine o escritor carioca escrevendo para crianças e jovens. Mas Índigo escreve também para os maiores. Eu sou fã. Leio tudo dela que chega por aqui. Ainda não consegui achar o tom para escrever sobre os ótimos SAGA ANIMAL e UM DÁLMATA DESCONTROLADO, obrigatórios em qualquer biblioteca infantil.

COBRAS EM COMPOTA é assim: indispensável. Dezenas de contos curtíssimos, ágeis. Um relato de loucas memórias de uma infância pra lá de criativa. Cobras guardadas em potes gigantes de maionese expostos na Sala de Ciências da escola; traquinagens entre irmãos na mesa do jantar ou brincando com o gato e a tal psicologia infantil. O livro vai chegando ao fim e as memórias vão adolescendo. Obrigatório para as leitoras - não apenas juvenis -, os contos Notícias do Dromedário, O Que eu Aprendi com as Gorilas, O Pintinho e o Analista e O Peixe Dele. Índigo ainda brinca - a sério - com o mundo da literatura nos contos O Livro Pompom, A Biblioteca Silenciosa e Namorado e Medo de Piolho - este último reproduzido ao final do post.

O Ministério da Educação, através do site DOMÍNIO PÚBLICO disponibiliza o livro em PDF. Eu tentei baixá-lo hoje pela manhã. Segundo informado no site, já foram feitos 921 downloads. Quando eu cliquei, esperei uns 10 minutos e dos 9 megas só havia sido baixado 1,3. Achei que fosse minha internet. Não era. Tentei de novo. A caixa de download que se abriu informou que demoraria 25 minutos para baixar. Resolvi escrever o post e até agora, baixou pouco mais da metade. Desisti. Você pode ter melhor sorte. CLIQUE AQUI para baixar o arquivo.

Mas se você for como eu, avesso a ler livros em monitores, procure numa biblioteca pública perto da sua casa (não sei se foi disponibilizado "somente" para bibliotecas escolares) ou nos sebos virtuais. Não é possível encontrá-lo nas livrarias! Não sei como, mas num desses sítios famosos, encontrei há pouco, quase duas dezenas de Cobras em Compotas disponíveis para compra. O livro É MUITO BOM!!! Hatuna Matata!!!

NAMORADO E MEDO DE PIOLHO (texto de Índigo)

Livro não vende. Não vende porque as pessoas não lêem. E assim ficava, num eterno mantra de que nesse país ninguém lê. Certo dia resolvi tomar uma providência. Procurei uma creche comunitária e pedi uma turma de jardim. Meu raciocínio era que de nada adiantava ensiná-los a ler, se eles não entendessem para que servia a leitura.
Ganhei a turma. Entre 4 e 5 anos. Analfabetos de tudo, do jeito que eu queria. Comecei a ler para eles. Levei u8m monte de livros, fizemos uma roda e passamos várias tardes assim, eu lendo e eles prestando atenção, sem piscar, de tão curiosos. Foi comovente. Ia embora feliz, certa de que estava pegando gosto pela coisa.
"Você não tem medo de pegar piolho?", foi o único comentário do meu namorado.
Corta.
Seis meses depois, continuava me encontrando semanalmente com a turminha. No final da leitura eles pulavam em cima de mim, me abraçavam, me cobriam de beijos.
Nunca peguei um piolho sequer. O namorado dançou faz tempo.