sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Quarta, 22 de agosto. Prazer em Ler - parte III

13h30.
Depois de um almoço regado a muito bate papo, comida boa, nem tão barata assim... voltamos para a Câmara Americana de Comércio (AMCHAM) bem na hora da palestra da genial ANGELA-LAGO. Seu tema foi O Prazer do Livro para o Leitor Iniciante. Gente, uma AULA sobre ilustração. Se você pensa que ilustrar um livro infantil é só colocar um desenho ali e pronto... está muito enganado. Existe todo um estudo para que estas ilustrações possam servir ao papel de oferecer ao leitor iniciante o prazer de ler. Ângela revela que a criança vai aprender com os livros de imagem a “seqüência” da leitura alfabética (da esquerda para a direita, de cima para baixo). O bom livro-imagem para criança inicialmente deve fazer uso do IR e VOLTAR. Num segundo momento, passa a uma relação de PERSPECTIVA AFETIVA, trabalhando o PEQUENO e o GRANDE. Mostrou em slides que os desenhos das crianças também apresentam ênfase no que lhes é mais importante. Ressaltou a VISÃO DE RAIO X, onde não basta desenhar o visível. Vale ilustrar o oculto.
A explanação de Angela-Lago foi rica em exemplos. A autora-ilustradora mostrou toda a complexidade teórica que envolve um livro imagem e que é intuitivamente assimilada pelo leitor mirim. A autora encerrou a palestra dizendo que o texto pode sim usar de recursos para reforçar a idéia da imagem. Falou ainda da técnica da CARTA ENIGMÁTICA (livro que usa o jogo entre palavras e ilustrações, como no seu livro A novela da panela (acima)). Por fim, deixou na cabeça de todos a idéia de que “O livro, antes de prazer, é PAIXÃO!”. Depois, nos deixou ainda mais apaixonados por sua obra fantástica.
Ainda encantados e apaixonados por Angela-Lago, fomos agraciados com a palestra da ilustradora GRAÇA LIMA sobre a Narrativa Imagética. Ela começou sua fala dizendo-se feliz e surpresa com a presença de tanta gente num seminário sobre o prazer da leitura. Lembrou que a “nova” geração tem a imagem como babá. Nossos filhos sofrem a influência do que vêem na TV, no computador, no cinema, enfim. Ressaltou a importância de se formular uma PEDAGOGIA DO OLHAR para mostrar o cuidado com o que se apresenta como imagem e como olhar o que se dá a ver. Se pôs lado a lado conosco ao destacar sua difícil relação com seu filho e a leitura. Provocou risos ao ironizar o título do seminário (Prazer em Ler) e propor o que seu filho indicou: Odeio Ler!!! Provavelmente estaria repleta de jovens. Após a descontração, falou sobre seu tema que era sobre a capacidade de contar alguma coisa através da imagem.
A partir daí, uma AULA sobre o papel da ilustração na história do livro. A ilustração, no início, era só um detalhe. Na renascença a escrita era tão sofisticada e restrita aos escribas que o próprio texto se tornava “imagem” sem significado de leitura. Só a partir do século XIX, a ilustração passa a ocorrer como reforço da fantasia, como manifestação do sonho. Graça conseguiu mostrar a que veio e certamente acrescentou muito a todos. Depois da palestra, o Tino não resistiu e levou o genial Sai da lama, jacaré (aguardem a resenha) para um autógrafo. Falamos sobre a paixão por jacarés, sobre o livro Vizinho, Vizinha (outra resenha para breve), Roger Mello e Mariana Massarani (que com Graça formam OS CAPADURA EM CINGAPURA) e o próximo projeto dos três: Mercado das Pulgas. Simpatia transbordando por todos os traços. Adoramos conhecê-la. Aprendemos um pouco mais. Depois de tudo, uma foto para registrar o encontro. Hilariana, Eu e Graça Lima. O Tino? Ah, quem mandou ele gostar de tirar fotos?

Quarta, 22 de agosto. Prazer em Ler - parte II

12h30
Pausa para o almoço. Correria para encontrar um lugar em harmonia com a tríplice aliança: comida gostosa, barata e perto do Centro de Convenções. Foi um passeio e tanto pelas redondezas. Divertido. Por fim, encontramos. A mesa reuniu cerca de 15 novos amigos. Finalmente encontramos nossa querida Denise Cantuária (Peirópolis), companheira desde o Salão da FNLIJ. Na mesa, ainda, Peter, Renata e Lúcia, a turma da Editora SM, Silvia Oberg e Stela Maris da Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato, entre outros. Papo vai, papo vem, conhecemos o trabalho incrível da Biblioteca. Fomos presenteados com um exemplar da BIBLIOGRAFIA BRASILEIRA DE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL, VOLUME 14, referente a produção literária de 2003.
O livro, publicado em 2006, é uma verdadeira referência com a citação de 591 livros lançados naquele ano, com a avaliação/resenha das obras mais relevantes. A equipe sofre toda a dificuldade de quem depende de iniciativas dos governos, mas estão no volume 14 (!!!)... impressionante.
É um trabalho gigantesco e heróico deste grupo. Deveria chegar ao alcance de cada professor deste país. Como se não bastassem as ótimas resenhas – as meninas conhecem o chão onde pisam – o livro apresenta índices que facilitam a vida do leitor. Você pode procurar os livros por autores/tradutores/adaptadores, por seus títulos, por ilustradores, por editoras, por indicação da faixa etária a quem os livros são indicados, índices de Séries e Coleções, e de gêneros.
Não sei qual a disponibilidade desta publicação para o público em geral, mas recomendo aos interessados que procurem a Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato (site no link do primeiro parágrafo) e perguntem se é possível adquirir esta obra-referência. Por aqui, posso afirmar que o Tino anda debruçado em suas páginas e descobrindo novos tesouros.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Quarta, 22 de agosto. Prazer em Ler - parte I

9h00.
Chegamos de táxi ao local do seminário Prazer em Ler de Promoçãod a Leitura. Recebemos as credenciais e uma sacola com livro, caderno de notas e outras referências sobre o evento. O espaço das palestras parecia abrigar mais de 500 pessoas. Uma estrutura ímpar de organização e nós, de olhos abertos para não perder nada. Sentamos num cantinho lateral e aguardamos a abertura do seminário. Numa coincidência daquelas, Peter O’Sage do Dobras da Leitura, senta-se ao nosso lado. Era um dos amigos virtuais que queríamos encontrar por lá. Sintonia total. Com ele a ilustradora e autora Lucia Hiratsuka (falaremos mais sobre Lúcia noutro post) e Renata Nakano da Miró Editorial. Nossos primeiros amigos. A primeira impressão: tudo daria certo. Como, de fato, aconteceu.

A manhã, fria, ansiava por Teresa Columer. Sua experiência na Espanha já tomou a forma de dois livros: A Formação do Leitor Literário e o Andar Entre Livros, que lançou neste encontro. Sua palestra teve a consistência do seu currículo como especialista em literatura para crianças. Encantada com as possibilidades da leitura no Brasil, lembrou de ver Ulisses - personagem do livro ODISSÉIA - esperando por crianças numa biblioteca no coração da Amazônia.
Falou sobre o problema da solidão urbana das crianças e da importância da leitura autônoma nos primeiros anos. É aí onde se começa o domínio da língua, se descobre o acesso ao imaginário (a criança pode ser outra sem deixar de ser ela mesma) e se dá a socialização cultural (ampliando sua experiência de mundo). Destacou a importância de ler com os outros pois, o compartilhamento da leitura cria pontes e a oportunidade de cruzá-las. Estabelece um vínculo maior com os colegas. É aí onde nasce a perspectiva narrativa. Vale conversar com as crianças sobre o que leram, cada um contando sua leitura do texto. Enfim, alertou que este importante compartilhamento não é comum na escola, embora necessário.
Por fim, falou sobre a importância de ler com os especialistas. O mestre deve alertar para alguns pontos importantes e com isso, conduzir o leitor de mãos dadas pelo universo literário e abrir portas. Cruzá-las ou não fica a critério do leitor, mas cabe aos professores alertar para várias nuances. Por exemplo: Não se pode esconder que o ato de ler é um exercício. Exige esforço e treino. Não é fácil, mas como numa academia de ginástica, com a prática, fica-se musculoso para a leitura. Outro fato esquecido é o de falar sobre as diferenças entre as traduções de uma mesma obra. Enquanto uma pode enfatizar o som, as palavras, uma outra pode realçar o sentido. Nunca se fala sobre tradução na escola e, num mercado como o nosso, feito de inúmeras traduções e adaptações, é importante que o leitor conheça essas nuances. O mestre deve sedimentar a idéia de que num texto literário não existe uma interpretação única, certa. Pode-se ler de formas distintas. Aí, ela arrasou mostrando que o livro Frankstein da inglesa Mary Shelley pode ser visto como uma novela de terror ou de ficção científica. Pode ser uma obra sobre a solidão ou um relato sobre a época e vida de sua autora. Por fim, pode ser ainda um símbolo do desencanto social sobre a emancipação das massas. Uma verdadeira aula.

12h30. Saímos para o almoço com as idéias fervendo. O seminário nos abria portas. Queremos atravessá-las, todas!!!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Remédio pra curar catapora...

Enquanto estive viajando, meu filho pegou catapora... liguei para ele e falei do medo que eu tinha de pegar a doença por telefone. Ele riu um riso que revelou sua alma sadia. Lembrei de imediato de um livro de poemas que funciona como um remédio para os dias de cama. Fala de bronquite, caxumba, dor de garganta, frieira e outros males infantis. Provoca risos a cada estrofe. Deixei me contagiar pela doença do escritor e resolvi rimar na resenha.

Ricardo Azevedo escreveu,
Parece que adoeceu,
Gripou de inspiração
Tosse, Asma, Comichão.
Transpirou poesias, rimas
Sarampo, galo, adivinhas
Também fala de alergia,
parece que contagia,
O texto é uma gostosura...
mas tem cada figura...
E pra tirar o nenê da cama,
mostre os desenhos da Mariana,
Não tem genérico que dê jeito.
Este livro é amigo do peito.
Não tem contra-indicação
Só faz bem pro coração
E pra encerrar a resenha
Antes que a doença venha
Reproduzo abaixo, agora
O poema Catapora:

Tem muito bicho pintado
Que dá gosto de se ver:

Tem a onça e a pantera
Tem a cobra e o lagarto.

Tem girafa, tem cachorro,
Tem porco, pato e besouro.

Tem galinha, joaninha,
Poço-espinho, passarinho.

Tem bicho que é uma beleza,
Pintado por natureza.

Mas eu, na frente do espelho,
Cheio de manchas, vermelho,

No mau pijama, sozinho,
Só pego e digo baixinho:

- Não amola, dá o fora!
Vai embora, catapora!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Prazer em ler - Roedores em Sampa!!!

Faz frio. Muito frio em São Paulo. O termômetro marca 12º Celsius. Mas nosso coração bate forte, esquentando a alma. Estamos mais uma vez bebendo na fonte. Eu e Ana Paula participamos do Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura, evento capitaneado pelo Instituto C&A em parceria com a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Hoje foi o primeiro dia. No palco principal, Teresa Columer, Angela Lago, Graça Lima, Ana Maria Machado. Nos bastidores, novos amigos e reencontros. Muito bom notar que a amizade plantada no Salão do Rio de Janeiro em maio passado já oferece deliciosos frutos. No meio de tudo, encontramos o sempre querido Renato Alencar, que tanto nos acolheu com sua simpatia quando os Roedores de Livros acontecia na Biblioteca Comunitária T-Bone. Mas nossa anfitriã neste evento é, sem dúvida, a Hilariana. Menina-fada desbravadora. Encantada com o universo das letras. Descobre aos poucos o poder transformador das histórias. A força de um bom trabalho tendo o livro como ferramenta. Divide tudo conosco. É a mágica que faz da divisão uma soma. Por aqui, estamos todos aprendendo. Teremos ótimas histórias para contar. Até a volta com fotos, fatos e muito mais. Agora vou correr para as cobertas. Enquanto escrevia este texto, deixei o Antes do Depois do professor Bartolomeu me esperando... ele me convida a deitar palavras no travesseiro. É sempre um carinho na alma. Inté!!! Abraços de letrinhas direto da terra da garoa.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Papa-figo na Ceilândia...

Ainda é muito recente e intensa a sensação de ver a garotada chegar com o livro na sacola dos Roedores. Desde então os primeiros momentos são de compartilhamento das histórias descobertas. No último sábado, 18/08, ouvi frases do tipo:

- Olha o que tem de legal no "meu" livro!!!
- Ah, a história do meu foi assim!!!

Enquanto isso, eu só de olho no que seria para mim o melhor dia do ano do projeto!!! Por vários motivos. Um deles foi notar o engajamento dos outros roedores. A preocupação com os "detalhes" que tanto frisamos nas reuniões e que as vezes são esquecidos. O papa-figo que a Juliana trouxe junto com as quadras de advinhas do Ricardo Azevedo deixou o grupo atento, envolvido. É isso: envolvimento!!! Acho que até os meninos não deram tanto trabalho nesta semana. Isso tem diminuído a cada encontro. A literatura tem aplacado a indisciplina.Disciplina. Uma das crianças não apareceu. Talvez por conta da minha exigência por disciplina. Outra, pela primeira vez não foi repreendida durante as três horas do projeto. Talvez por conta da minha exigência por disciplina. Não sei como avaliar isso. Vou esperar a semana que vem e espero encontrar todos na Pró Gente!!!
A oficina de artes foi outra felicidade. Vilma e Luciana deixaram todos pintarem o sete, o oito, o saci, a mula e outras fantasias. A experiência com tinta e pincel parece ter ampliado o sorriso de todos. Acredito - por algumas dificuldades motoras que notamos - que muitos não desfrutam do prazer de desenhar e pintar em casa e na sala de aula. Eles brincaram bastante com cores, pincéis. Comparavam os trabalhos. Tinha sempre um olho espiando para ver se estava melhor ou pior... enfim, a oficina foi um show!!! Para encerrar, gostaria de falar dos bastidores. Além da Edna e do Célio, que nem sempre aparecem nos comentários, mas que têm fundamental importância para o desenvolvimento das nossas idéias, nada disso seria possível na Ceilândia sem o empenho e doação dessas três maravilhas aí abaixo. Representando a Pró Gente que nos recebe com toda a atenção devida temos - da direita para a esquerda - a Tita, que nos ensina as entrelinhas, os cuidados do trabalho com as crianças daquela região (vocês não imaginam como são tortuosos os caminhos), a Néia e sua filha, imprescindíveis para o sucesso do lanche e da limpeza do espaço. Meninas, obrigada de coração. Sabemos das dificuldades - tantas. Sabemos o quanto seria fácil dizer: - NÃO!!! Obrigada pelo SIM que nos abraça, fortalece e transforma a vida de todos em volta.
Ih, eu ia me esquecendo... todo mundo levou livro para casa!!!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Os vizinhos de Cora Coralina...

Hoje pela manhã vi na TV que em alguns estados do Brasil, como Goiás, São Paulo e também no Distrito Federal comemora-se no dia 20 de agosto o DIA DO VIZINHO. O Brasil inteiro deveria lembrar também que esta é a data do natalício de CORA CORALINA e agraciar a programação com a doce poesia desta poeta-doceira goiana. A nós, Roedores de Livros, cabe lembrar que esta comemoração foi uma sugestão de Cora aos governantes do seu tempo. Ela costumava dizer que o vizinho “é mais que parente, pois é o primeiro a saber das coisas que acontecem na vida da gente”. Como forma de homenageá-la, decidiram que o DIA DO VIZINHO seria comemorado no dia do seu ANIVERSÁRIO. É certo que Cora morava no interior e que aqueles eram outros tempos. Para lembrar, aproveito para postar fotos da nossa última visita ao Museu Casa de Cora na Cidade de Goiás – um local imperdível onde a poesia ultrapassa os limites do papel e alcança o olhar pleno de horizontes. O poema abaixo está numa moldura pendurada na parede do quintal da casa de Cora e conquistou nossos corações (Eu, Lucia Elena, Anna Claudia Ramos e Tino Freitas) naquela visita. Uma dica: se o guia parecer apressado, não lhe dê ouvidos. Tenha paciência para absorver toda a sabedoria que impera no lugar. Uma sabedoria simples de quem sabe cultivar os amigos, de quem ainda dá bom dia ao vizinho.
Minha Poesia... Já era viva e eu, sequer nascida.
Veio escorrendo num veio longínquo de cascalho.
De pedra foi o meu berço.
De pedra tem sido meus caminhos.
Meus versos: pedras quebradas no rolar e
Bater de tantas pedras
Em torno, o abandono.
Aninha, a menina boba da casa.

Foi uma ex-escrava que me amamentou no
Seio fecundo.
Eram seus braços prazenteiros e generosos que
Me erguiam, ainda rastejante, e Aninha
Adormecia, ouvindo estórias de encantamento.

Minha madrinha Fada...
Eu era Aninha Borralheira.
Era ela que me tirava das cinzas e me calçava
Sapatinhos de cristal.
Me vestia. Me carregava na Procissão.
Eu dormia na cadeirinha de seus braços.
E sonhava que era um anjo de verdade
Aconchegada na nuvem macia de seu xale.

Toda melhor lembrança da minha pueria
Distante está ligada a essa antiga escrava.

No tarde da minha vida assento o seu nome
Na pedra rude do meu verso: Mãe Didi.

Cora Coralina.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O Poeta, a canção e o amor dos elefantes.

Foi no tempo dos LPs. Lá em casa havia um disco do Paulo Diniz numa capa escura que destacava a silueta do seu rosto. Morávamos na Bahia. Tinha uns oito anos. Era algo como um “The Best Of”. Ainda hoje posso cantar de cor músicas como Pingos de Amor, Quero Voltar Pra Bahia, Um Chope Pra Distrair, O Meu Amor Chorou... mas tinha uma que chamava mais atenção: contava a história de um tal de José. A letra era diferente das outras. Umas palavras que soavam estranhas para mim. Sabia que o personagem estava sofrendo. Curioso, quis saber de quem era a música. Bem, a música era do Paulo Diniz mas a letra era de um tal Carlos Drummond de Andrade. Achei o nome bonito. Imponente. De gente importante. Mais tarde descobri que era poeta. Gostava mais do Vinícius, do Quintana... mas Drummond sempre esteve ali ao meu lado. Ele costumava dizer que “sentimos saudade de momentos de vida e momentos de pessoa”. Hoje – lembrando a passagem de 20 anos sem Drummond – senti esta saudade inteira. Lembrei de pai, de mãe, de amigos distantes e do velho som Gradiente tocando o LP do Paulo Diniz. Engraçado... aquilo mexeu com meus oito anos.


Tempos depois, já adulto, descobri um conto de Drummond para crianças. Não, não era poesia. Ou era? HISTÓRIA DE DOIS AMORES (Record, com ilustrações de Ziraldo) conta a história do elefante Osborne e do “pulgo” Pul que resolveu se instalar nas orelhas do paquiderme. A partir daí vivem aventuras no mundo animal. Guerras, intrigas, sete anos de paz e, enfim, a procura por um grande amor. O livro fala principalmente sobre a amizade. Socorrer o amigo nas horas difíceis, usar da franqueza mesmo correndo o risco de perder o amigo e reconhecer quando se está errado. Algo em comum entre você e seu amigo do peito? Pois é assim que seguem juntos a pulga (ou melhor, o pulgo) Pul e o elefante Osborne até encontrarem cada um a sua cara-metade. Ziraldo arrebenta nas ilustrações. Dá um banho de originalidade ao criar seus elefantes com bocas na perna, ou pernas na boca, enfim. Espero que vocês já tenham encontrado “um amor tão bonito como a luz das estrelas e o perfume das violetas”. O meu amor eu encontrei. É um amor como o dos elefantes de Drummond e Ziraldo. Você não a conhece? Está aqui embaixo na foto que registra aquela manhã cinzenta do dia em que encontramos o poeta em Copacabana. Ele estava com frio. Oferecemos o casaco. Ele aceitou. Falamos sobre a infância. Ele disse: “A criança imita o adulto e este, a criança. Ao brincar com a criança, o adulto está brincando consigo mesmo”. Deixamos o poeta ali na calçada. Engraçado... aquilo mexeu com meus trinta anos.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

A mais malvada das malvadíssimas mulheres...

Quando estávamos no Rio de Janeiro fomos conhecer um sebo indicado pela Mariana Massarani. Chama-se Beta de Aquarius e fica no bairro do Catete, pertinho do Flamengo, onde estávamos hospedados. Lá, parecia que o tempo havia parado. Uma aura mística envolvia o lugar. Talvez fosse a presença de Ísis, a gata siamesa que estava sempre ao lado do simpático proprietário Antônio. Ela parecia personagem saída do filme MIB (Homens de Preto). Olhava para nós como se buscasse os livros da nossa mente. Encantados pela aura do local e seus habitantes, mergulhamos naquela floresta de livros em busca de alguma preciosidade. Encontramos a primeira edição da Bolsa Amarela, entre outros títulos que insistiram em mudar para Brasília. Nestes, um chamou mais atenção que os outros: A PIOR MULHER DO MUNDO (Fernando Hinojosa, Nova Fronteira).
Não, não era nenhum especial do Guinnes e sim uma história espetacular sobre injustiça, maus tratos e esperteza para se livrar das adversidades. O livro conta a história de uma mulher malvada, “a mais malvada das mulheres malvadíssimas do mundo”. Maltratava os filhos, os animais, os cidadãos daquele local. Todos tinham medo dela. Seu prazer era provocar o outro. Incomodar. Ferir. O conto segue até que um dia a população descobre um meio de “derrotá-la” usando da sabedoria do homem mais velho do povoado. O mexicano Fernando Hinojosa é um premiado escritor de literatura infantil no seu país com livros publicados no mundo inteiro. Neste livro, criou um texto que, lido em voz alta para as crianças, provoca interjeições. ARGH!!! UI! NOSSA!!! CARACA!!!
As ilustrações do Rafael Barajas são extensões do texto. Carregam a mesma força do beliscão na bochecha e do limão pingando no olho. Na edição brasileira os desenhos estão em preto e branco mas é fácil imaginar as cores das malvadezas da pior mulher do mundo. Não pense que é um livro politicamente correto. Mas é aí que está o seu encanto. Se seu filho (assim como os Roedores de Livros) se diverte cantando Atirei o Pau no Gato e O Cravo Brigou com a Rosa, vai devorar este livro. Vai odiar a pior mulher do mundo. Vai ler a história até o fim para descobrir como ela foi enganada. E vai crescer e se tornar um cara legal assim como o menino maluquinho. E se você está no Rio de Janeiro, corre lá no catete para conhecer a Ísis e o Antônio. Com certeza você encontrará um livro com o desejo de ser adotado. E o precinho, ó... vale a pena!!! That´s all, folks.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Funcionário da Fantasia Pública...

Atenção, atenção!!!
Entra em cena o CAPITÃO JONAS RIBEIRO – FUNCIONÁRIO DA FANTASIA PÚBLICA!!!

Depois de uma apresentação-declaração-de-amor de Íris Borges numa brincadeira com os títulos de seus livros, Jonas Ribeiro assumiu a PALAVRA no auditório da Escola Parque 308 Sul e encantou cerca de 300 pessoas que lotavam aquele local na última segunda, 13 de agosto, ávidas por dicas sobre como se tornar um grande contador de histórias.

Eis algumas dicas condensadas daquele bate papo:
Antes de tudo, é preciso um trabalho diário com a PALAVRA, em casa, sem a presença do público. Pesquisar as nuances, o perfume, as cores de cada história. Ler sempre. Conversar bastante. Não entregar o “discurso” pronto. Deixar espaços. Estar sempre atento às sutilezas. Reciclar para não ficar ultrapassado. Renovar o repertório.

Passado este momento, Jonas nos presenteou com uma história tibetana conquistando o silêncio de todos. No conto, a personagem materna perdia a visão pouco a pouco. Enquanto isso, era fácil perceber olhares envoltos na emoção da PALAVRA. Jonas Ribeiro era todo fábula. A história dançava na sua voz, nos seus gestos, por todo o auditório. Provocou suspiros. Arrancou aplausos ao fim de 15 minutos. O público estava no bolso.

Depois, com a ajuda do inseparável baú repleto de lenços, Jonas nos apresentou sua bruxa Cremilda provocando risos e a participação de todos durante a história. Tiradas geniais com a do GLOSS e a de que “todo professor adora transformar garrafa PET numa obra de arte” provocaram aplausos espontâneos além de vários “iuhús” na platéia. Jonas Ribeiro encanta. Distribui abraços, beijos, autógrafos. Como num passe de mágica guarda a noite e o tempo no seu baú. Cria uma viagem no tempo. Saímos todos crianças de lá. Mais sapecas, peraltas, felizes.
Na platéia, foto acima, parte dos Roedores de Livros: Eu, Tino, Edna e Luciana. Encontramos ainda muitos contadores de histórias da cidade... e a cada dia descobrimos mais gente se engajando nesta lida!!! Na foto abaixo, Míriam (elogiada publicamente por Jonas acerca da sua performance no último sábado), Aldanei e Teresa. Conversa vai, conversa vem, parece que vamos nos encontrar no SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CONTADORES DE HISTÓRIAS promovido pelo SESC do Rio de Janeiro no final deste mês. Motivo para obedecer a mais um “mandamento” de Jonas Ribeiro para ser um bom contador de histórias: conhecer outros trabalhos, reconhecer talentos, se envolver com os gigantes pois, convivendo com estes, pode-se agigantar também, compartilhando erros e acertos. Sabido este Capitão Jonas!!! Gigante este funcionário da fantasia pública!!! Seguimos aprendendo. Iuhúúúú!!!