Às vezes, olhando as fotos, até eu imagino que no projeto tudo é muito fácil, que as crianças não dão trabalho, que se comportam na hora de ouvir uma boa história, que são quase santas. Mas não se esqueçam: elas são crianças!!! Alguns dias querem mais é brincar, querem mais é zoar com o outro, querem mais é o lanche, querem mais outra coisa que não a leitura. Fazer o quê? Às vezes, vem tudo junto. Foi mais ou menos isso o que aconteceu na manhã de sábado, 02 de maio.
Naquele dia, recebíamos a visita ilustre do querido Rafael Cordeiro (na foto acima), amigo dos livros, amigo dos Roedores de Livros, universitário, funcionário da Livraria Cultura de Brasília, um dos responsáveis por indicações das novidades literárias que muitas vezes levamos para tomar café ali mesmo, na loja, e - outras tantas - depois do café, levamos para casa.
Mas sabemos que Arnaldo Antunes tem toda razão ao dizer que: "Criança não trabalha! Criança dá trabalho!!!". Quando o projeto foi acontecer na Ceilândia (DF), em 2007, nós éramos todos verdes no trato e maduros na teoria. Muitas vezes pensamos em desistir da leitura no meio da história, em gritar mandos e desmandos, em juntar os livros e voltar para casa. Sim, somos passíveis de erros. Mas, apesar das intempéries, aprendemos a seguir na tempestade com um mínimo de senso de direção. Com o tempo, descobrimos que é o amor pelas crianças que nos move, antes mesmo do desejo de espalhar o gosto pela leitura.
Nossas crianças são ricas em fantasias e problemas. Tem a que repetiu o ano; o que, envergonhado, cala o fato de não ter telefone; a que aparece sempre com a ficha sem a assinatura da mãe ou responsável (mas vai toda semana - Tia, eu esqueci!!!); o que leva livro para o pai ler; a que ainda não sabe ler, mas finge muito bem; o que chega sempre atrasado e com sono pois a mãe trabalha até tarde da noite, em casa, na mais antiga profissão do planeta; enfim, um mar de histórias, nem sempre felizes. E a gente precisa de paciência e sabedoria (escrever isso aqui é até fácil - ao vivo é bem diferente) para lidar com os imprevistos de comportamento. Na verdade achamos que um psicólogo seria uma grande aquisição para o grupo.
Desculpem o desabafo, mas é que naquele sábado a turma estava particularmente dispersa, motivados por uma criança que tem testado nossos limites desde o início das atividades deste ano. Clama sempre por atenção e, com isso, atrapalha o rendimento de todos. Mas sabemos que o que lhe falta é carinho. Vale à pena conquistar pelo amor e respeito. Esperamos que ele não desista de nós.
Depois de abusar da paciência de vocês com este desabafo, gostaria de dizer que antes da dispersão o Tino orquestrou uma mediação cheia de "puns" coletivos na leitura do divertido O HOMEM QUE SOLTAVA PUM (Mário Prata, com ilustrações de Patrício Bisso, Caramelo). As crianças adoram temas escatológicos. Eu fiquei com a mediação de VIVIANA, RAINHA DO PIJAMA (Steve Webb, Salamandra). Foi aí que a dispersão se deu, não por causa do livro - que é ótimo para se contar. Foi difícil retomar o controle, mas consegui contar a história e a maioria se divertiu muito tentando advinhar os pijamas dos convidados da festa da protagonista. UFA!!!
Depois de renovadas as fichas, retomamos os empréstimos de livros e, sob o controle da Edna, cada um do grupo levou dois livros para ler em casa. Semana que vem a gente vai saber deles as primeiras impressões dessas leituras. Fizemos ainda a segunda reunião do Clube de Leitura com os mais "velhos". Mas quero escrever sobre o Clube numa outra ocasião. Por fim, para descontrair, Tino encerrou as atividades daquele dia com uma série de brinquedos cantados como o Andar de Trem e o ensurdecedor Scubidú. Mais do que nunca: Hatuna Matata!!!
P.S. Valeu a visita, Rafael!!! E os biscoitos estavam de-li-ci-o-sos!!!!!!!!!!!
3 comentários:
E como dá!
Sei bem o que é isso. E as suas vão por vontade própria. Na escola, não é bem assim!
E meus adolescentes? Haja cintura, por isso, a minha é fininha.
Este livro dos puns, eu tinha na outra escola. Quando comprei num salão do livro, precisavam ver os "OHs!"Rssss
Abraços
Põe trabalho nisso, é uma loucura e bem sabem o quê fazer para pirar a nossa cabeça, hehehe. Enfim gente, que trabalho interessante e bacana! Adoro livros, adoro ler, adoro crianças.
Tenho 2 meninos de 11 e 5 anos e uma meta, escrever e ilustrar livros infantis.
Parabéns prá todos. Bjs
Me identifiquei com seu desabafo. Também fui "contadora de história" no Varjão e com seus relatos relembrei tudo que já passei lá. É nessas horas que provamos que "o amor move montanhas"...kkkkk
Passei a compreender que nem sempre veremos "os frutos" ,mas me conforta saber q a semente está sendo plantada. Tinha dias que ia até desanimada...preparada para o "rojão" e pensando se realmente valia a pena, mas as crianças sempre surpreendiam e apenas um sorriso e um "tia" já renovava muinhas forças.
Uma vez minha mãe, sem querer, saiu e deixou meu carro trancado na garagem e eu quase desisti de ir, mas me lembrei que eles estariam lá (às vezes até 50 crianças) me esperando. Pulei o portão e chamei um taxi. O taxista morava no varjão e não acreditou que eu saia da minha casa todo domingo pra ir contar história pras crianças lá...realmente só compreende quem faz...
Parabéns pelo lindo trabalho de vcs.
Que Deus renove suas forças físicas e mentais.
Grannnde abraço de letrinhas, música e sonhos :D
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