terça-feira, 22 de abril de 2008

"Um livro é pouco para uma semana"...

Foi exatamente no dia 19 de abril de 1994 que comprei o primeiro livro infantil para Ana Cecília, minha filha, então com seis anos. Lembro como se fosse ontem. Deliciosamente, foi um livro de Jô Oliveira: Kuarup, a festa dos mortos – lenda dos povos indígenas do Xingu. Ele era meu professor no curso de Artes Plásticas da UnB e convidou a turma para o lançamento do livro que aconteceu inusitadamente numa loja do McDonald’s aqui em Brasília. Coisas da vida. É impressionante como o sorriso de Jô e o seu autógrafo no livro ficaram marcados também na memória da minha filha. Há alguns anos eles se reencontraram e ela lembrou da história do livro e do delicioso programa de índio daquele 19 de abril.

No último sábado, também um 19 de abril, saí para o projeto com alguns livros escolhidos em torno das coisas indígenas e, é claro, levei o meu – e da Ceci – Kuarup à tiracolo. Também levei um maracá que trouxe do Amazonas. Para quem não conhece, o Maracá é um chocalho indígena, utilizado em festas, cerimônias religiosas e guerreiras, que consiste em uma cabaça seca, desprovida de miolo, na qual se metem pedras ou caroços.

Nossa sala, na Creche Comunitária da Criança, ainda está sofrendo os ajustes e, mais uma vez, recebemos as crianças na área externa, à sombra de uma árvore. A sombra quase foi completamente ocupada pois havia um número maior de crianças do que na semana passada, embora ainda não fossem as 30 desejadas. É que algumas ainda não souberam da retomada do projeto. Outras, mesmo sabendo, ainda não apareceram. Mas, novas crianças aportaram por lá. Com isso, o projeto segue enriquecido de olhares curiosos.

Comecei os “trabalhos” falando do meu reencontro com o livro infantil há 14 anos naquele lançamento do Kuarup. Mostrei o livro, o maracá e falei que dia desses vou levar o Jô Oliveira para mostrar seus livros no projeto. O livro passou de mão em mão. Eles adoraram as ilustrações coloridas, mas queriam mesmo era conhecer a história. Lá fui eu me aventurar a falar de Mavutsinim, o herói mítico dos índios Kamayurás e a Festa dos Mortos, o Kuarup. Tocamos o maracá, falamos sobre a outros assuntos relativos à cultura indígena. Mas não paramos por aí. Os meninos queriam mais. E nós também.

Jardson, um dos garotos do projeto, não desgrudava do Baú. Sentou-se em cima dele. Quis abrí-lo a todo instante. Descobrir mais sobre os livros. Eu tento controlar a sua vontade e conto As duas cobras encantadas do livro O Caçador de Histórias (Yaguarê Yamã, Martins Fontes). Falei que nós conhecemos o autor no Salão da FNLIJ no Rio de Janeiro ano passado e nosso moleque querido não resistiu e disse: "Ô Ana Paula, eu também quero ir para o Salão". Seria ótimo, não é?! Bem, enquanto isso não acontece a gente segue fazendo o possível.
Para encerrar a mediação, escolhi ler O Calça Molhada, do livro Amazonas – no coração encantado da floresta (Thiago de Melo, Cosac & Naify). O conto fala sobre o boto cor-de-rosa (ou avermelhado) e seu poder de sedução. Conversamos sobre outros mitos indígenas e as crianças puderam dividir conosco o que ouviram em sala de aula esta semana. A sombra da árvore nunca aprendeu tanto quanto naquela manhã.
Depois de tanta conversa, abrimos o baú. De lá, saíram vários livros, mas o que mais impressionou as crianças foi O Livro das Árvores (feito pelo povo indígena Ticuna, organizado por Jussara Gomes Gruber, Global). Os olhos brilhavam ao folhear as ricas ilustrações, porém não havia tempo para mais histórias. Foi então que saiu a frase que valeu o dia. Talvez, o ano.

Era hora das crianças escolherem os livros para levar para casa quando ouvimos: “Tia, um livro é pouco para uma semana”. E assim, a partir daquele sábado, elas passam a levar para casa dois livros por semana. Sobre isso a Edna escreveu: “Desde o princípio de nosso projeto, o livro foi apresentado das mais variadas formas no sentido de promover o gosto, o encantamento pela leitura entre essas crianças carentes de emoções prazerosas. Emoções essas que, sabemos, uma leitura pode proporcionar. Hoje, nossa alegria é real. Em nossas crianças, a leitura é fonte de prazer”.

Edna, em sua avaliação do nosso segundo encontro deste ano, observa outras mudanças: “Logo no início do projeto, em 2006, as crianças se mostravam tímidas. Alegravam-se com as histórias, participavam com suas perguntas. Mas ainda de forma tímida. Hoje, percebemos uma grande mudança. As crianças dão às suas asas – sim elas as têm, como os anjos - sua verdadeira função diante de um livro: voar. Já não voam nas asas das nossas palavras. Querem aprender a voar. Elas querem ler. Não somente ouvir. Voam com seus olhos e fala. Neste sábado, 19 de abril de 2008, dia do índio, novamente aconteceu essa manifestação. Elas querem voar através da leitura. Queremos vê-los lá no alto do céu. Bem alto”. Hatuna Matata.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte IV

Para coroar sua programação, a produção do 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás convidou Lygia Bojunga Nunes para encenar o monólogo Livro, de sua autoria. O auditório Lago Azul, lotado, parou para ver e ouvir a autora de clássicos da nossa literatura como A Bolsa Amarela e O Sofá Estampado. Laureada com o HANS CHRISTIAN ANDERSEN - o prêmio internacional mais importante da literatura para crianças e jovens – Lygia encantou a todos ao falar sobre suas paixões literárias. Foram seis. E aproveito a ausência de muros da internet para convidá-los a conhecer estes livros. Nada pode explicar a sensação de assistir a Lygia Bojunga neste monólogo. No palco, apenas uma cadeira como cenário. A escritora-atriz entra abraçada a um livro. Ela não encena. É mais que isso: revive suas paixões. Vamos a elas.

Tudo começou aos sete anos, quando Reinações de Narizinho acordou a imaginação da menina-futura escritora. Foi um encontro adiado, porém arrebatador para a criança que não se dava bem com tantos livros de princesas de mundos tão tão distantes. A brasilidade que permeia o texto de Monteiro Lobato encantou o olhar infantil de Lygia que se descobriu curioso pela literatura. Tempos depois, sua paixão foi por Raskólhnikov, personagem principal de Crime e Castigo, livro de Dostoievski. As angústias, as verdades, as ações daquele jovem estudante balançaram o coração da jovem Lygia. Mas a atmosfera dos contos de Edgar Allan Poe em suas Histórias Extraordinárias fez com que Dostoievski fosse descansar na estante e o escritor norte americano caiu nos braços apaixonados da adolescente.

A quarta paixão, Lygia não revela nem sob tortura. É inconfessável! Diz que foi um daqueles autores “profissionais” que seguem uma fórmula mágica para escrever seus livros e encantar seus leitores. A tal literatura barata. Foi uma longa paixão que provocou intrigas com uma amiga crítica literária que afirmava ao referir-se aos tais livros: - Isso é uma AZIA INTELECTUAL... Para curar só LENDO UM BICARBONATO! Não foi preciso. Um dia, ávida para beber da nova versão para a velha fórmula do tal autor, foi surpreendida por um texto diferente, quase uma descrição de uma viagem. A paixão acabou. Ufa!!!

Depois desta longa aventura, foi a vez da poesia encantar a moça. O livro Cartas a um Jovem Poeta de Rainer Maria Rilke foi uma paixão avassaladora. Seguia com Lygia por todos os caminhos. Iam ao cinema, aos cafés... Era companhia certa para um caso a três (Lygia, o livro e um jovem apaixonado). Foram meses até que num acidente, Rilke morreu afogado no arpoador.

Para curar a dor da perda, o jovem apaixonado apresentou os Poemas de Alberto Caeiro. Nada poderia ser mais atraente. Fernando Pessoa - o autor por trás de Caeiro - estaria para sempre atrapalhando aquela relação pois ambos, Lygia e o jovem, eram loucos pelo poeta português.

A vida seguiu, o jovem também se perdeu no tempo. Lygia pôde, enfim, apreciar Fernando Pessoa a sós. Outros livros passaram por seu olhar mas nenhum deles foi tão avassalador quanto estes seis. Lygia Bojunga termina exultando a paciência. Quando o assunto é literatura, não precisamos ter pressa. O livro sempre espera por nós para ter um caso com a nossa imaginação. Fim do monólogo. Cai o pano. Aplausos de pé. Estamos todos ainda mais apaixonados pelos livros. E, como se fosse possível, ainda mais apaixonados por Lygia Bojunga. Hatuna Matata.
Nesta última foto, Roedores de Livros e Lygia Bojunga, no Salão de Goiás. Um papo delicioso e o desejo de um reencontro em maio, no Salão da FNLIJ. Para ver mais sobre Lygia Bojunga em nosso blog, clique AQUI e AQUI.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Brinquedos Populares na Memória

Todos sabem que o Roedores de Livros é – antes de qualquer outra atividade secundária (sim, elas existem!!!) – um projeto de incentivo à leitura junto a crianças carentes da periferia do entorno de Brasília. Sabem também que nosso trabalho é voluntário pois, se fôssemos esperar pela burocracia, ainda estaríamos preenchendo formulários e anotando os números de protocolos. Somos mais educadores que profissionais do ramo de projetos culturais e por isso, convivemos diariamente com as dificuldades financeiras que abrangem nosso projeto. Mas os obstáculos estão aí para serem superados. Com todo o poder de “evolução” inerente ao ser humano, nosso grupo tem imaginado estratégias para conseguir manter um caixa básico para bancar o lanche, faxina, materiais para as oficinas e outras “emergências”. Uma das idéias – são várias – é a de fazermos produtos para venda direta aqui no Blog. Temos percebido o interesse de muitas pessoas por nossas sacolas – e elas estarão à venda até o final de maio (dois modelos). Outro produto em estudo são as camisetas com frases de livros (estamos conversando com alguns autores para a liberação dos direitos). Mas o primeiro produto made in Roedores de Livros que esgotou num pulo foi o Jogo da Memória – Brinquedos Populares.
Tudo começou com um e-mail que recebemos da querida Camila Carrossine, que tem um blog lindo, lindo, lindo chamado Karaminholas. Ela se mostrou encantada com o projeto e logo, logo nós pensamos em algo para fazermos juntas. A idéia foi que ela fizesse ilustrações de brinquedos populares e os Roedores produziriam um jogo da memória a partir dos desenhos. Gente... ficou LINDO!!! Levamos o primeiro "lote" para Goiânia e voltamos apenas com o jogo na memória. Vamos fazer mais para breve. Mas se você quiser um jogo, entre em contato pelo nosso e-mail roedoresdelivros@gmail.com e deixe lá o seu recado. No mais, queremos deixar aqui, publicamente o nosso MUITO OBRIGADO à Camila, dizer que ADORAMOS o seu curta metragem MARIA FLOR (pois é... a moça também trabalha com animação e o seu amado, Alê Camargo, produziu o premiadíssimo CALANGO, entre outras façanhas. Enfim, tudo muito lindo. Este papo de oferecer produtos Roedores de Livros para a auto-sustentação do projeto sem termos que – necessariamente – pôr a mão no bolso está em gênese. No futuro, quem sabe, teremos uma franquia em Nova Iorque, outra em Quixadá e uma terceira em Atlântida (hehehe). Afinal, desde que o mundo é mundo, os roedores habitam nos locais mais impossíveis. Ah... mas em cada lugar desses, a gente leva um punhado de livros e junta outro tanto de crianças e seguimos com as maravilhas. Brincadeiras à parte, vejam como o Jogo da Memória ficou lindo!!! E é isso!!! Hatuna Matata.
Nesta foto, Tino, Alê Camargo, Camila Carrossine e eu.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Flagrante: Roedores de Livros em Ação!!!

Esta foto registra o flagrante de uma Roedora de Livros em ação. Foi no 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás, no stand da Livraria Cultura Goiana. Enquanto livros novos ocupavam as partes nobres das estantes, no chão, quase esquecidos pelo público, preciosidades se apertavam e quase pulavam ao ver o olhar guloso de Ana Paula. Dizem que o simpaticíssimo Seu Paulo, dono da livraria, tem um acervo precioso e invejável na sua loja... mas que "o ouro" mesmo fica em um depósito na sua casa. Ah, e as preciosidades estavam todas a R$ 3,00 (cada)!!! Saímos de lá com primeiras edições de Sylvia Orthof, Marina Colassanti, Joel Rufino dos Santos... prêmios Jabuti fora de catálogo e outras delícias. Além de enriquecer nossa biblioteca particular, aproveitamos o "queima" para acolher novos títulos de qualidade no acervo da biblioteca do nosso projeto. Enfim... fica a dica: se vocês passarem por goiânia, procurem pela livraria de Seu Paulo, a Cultura Goiana. Vá com tempo, paciência e apetite. Saímos de lá fartos do "lanche". Hatuna Matata.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Foi uma Firimfimfoca...

Queridos amigos, a primeira apresentação das Histórias de uma fada carioca no Terraço Shopping foi uma Firimfimfoca só... Para conferir outras fotos CLIQUE AQUI!!! That´s all, folks.

domingo, 13 de abril de 2008

Piquenique com Livros

Começamos... Neste sábado, 12 de abril, iniciamos as atividades do projeto Roedores de Livros em 2008. É o nosso terceiro ano. De muitos outros. Da nossa visita a Goiânia, trouxemos alguns livros de uma coleção de contos populares recontados e lustrados por Claudio Martins na forma de cartas enigmáticas. Nossas crianças adoraram. Se apoderaram dos livros e leram em voz alta para o pequeno grupo (muitos ainda não sabiam da retomada do projeto). A dificuldade na leitura não foi maior que o desejo de ler em voz alta e assim, espontaneamente, ouvimos as histórias. Foi emocionante. Só estando lá para mostrar o arrepio no braço. Pois foi assim, à sombra de uma árvore, na voz de Deysiane, Guilherme (que leu - e bem - mesmo sem os óculos de sete graus que estavam quebrados), Tiago e Wanessa. Enquanto isso, o pequeno André ouvia a tudo, atento, abraçado ao seu novo amigo "dragão" que nem se importou em ficar de cabeça pra baixo (Veja na última foto).
Hoje pela manhã recebemos um email da Edna Freitas - nossa roedora que a cada dia se mostra muito mais que uma ótima relações públicas e arquivista - relatando sua visão do nosso encontro matinal no último sábado. A seguir, reproduzo o seu relato. No mais, aguardem por novas notícias deste mundinho que - graças a Deus - continua a nos presentear também com ótimas surpresas, como o desenrolar desta estréia. Hatuna Matata.

OS ROEDORES DE LIVROS - sob o céu de ceilândia - 12.04.2008
pensando alto:
Hoje fomos ao centro comunitário da criança para receber a sala - onde nós, os roedores, trabalharemos a partir de agora. Não poderia ser um lugar melhor: uma creche. Tudo se respira crianças.
Ao chegarmos lá, estavam lavando a sala para nos entregar tudo limpinho.
A notícia se espalhou ao redor e logo algumas crianças ficaram sabendo de nossa presença. E vieram até nós.
Somos voluntários. Ser voluntário é saber lidar com o improviso. Enquanto aguardávamos a sala para colocar nossas caixas, livros,..... fomos fazendo o reconhecimento da área.
E tudo começou a acontecer ali mesmo. Sob as árvores, sob o céu de ceilândia.
E levamos os livros onde as crianças e nós estávamos. "Discretamente" colocamos os livros sobre a grama... E não é que hoje, as crianças é que contaram/leram as histórias para nós?
Sim, ficamos ouvindo. E tivemos que organizar 'os leitores', pela ordem.
Hoje a natureza imperou: era terra, grama, árvores, um céu lindo, nosso trabalho de voluntário foi um grande pic-nic onde o ingrediente LEITURA reinou absoluto. Nossos leitores estavam com sede, sede de ler. Ler para serem ouvidos. Ouvidos por nós. Valeu.
Retornei pela estrutural, refazendo os 46 km de volta até minha pousada em Sobradinho. De volta pra casa. De volta pra serra. Pensando no dia de hoje, sob o céu de ceilândia.
Inté.
Edna


1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte III

Estávamos saindo do auditório Lago Azul, no Centro de Convenções de Goiânia, após a fala de Ricardo Azevedo, quando notamos a presença dos escritores e ilustradores Marilda Castanha e Nelson Cruz que acabavam de chegar. Aproveitamos que as atenções estavam voltadas para os autógrafos de Ricardo Azevedo e fomos nos apresentar ao casal mineiro. Um amigo comum já havia falado sobre os Roedores de Livros e nós havíamos trocado mimos virtuais. Este seria nosso primeiro contato pessoal. Não poderia ser melhor. Marilda e eu descobrimos afinidades e uma nova amiga em comum. Imediatamente ligamos para Brasília para contar as novidades... sorrisos flagrados na foto acima. O papo foi interrompido para as apresentações formais ao público.
Nelson Cruz acaba de relançar pela Cosac & Naify e com novo projeto gráfico os livros Dirceu e Marília (na foto acima, a primeira edição, pela Formato), Bárbara e Alvarenga e Chica e João, todos centrados em personagens históricos de Minas Gerais. Eles fazem parte da coleção Histórias para Contar Histórias onde o autor e ilustrador passeia com talento pelos caminhos do tema que defenderia nesta noite: “Ilustração, história e ficção”. Nelson Cruz abordou seu tema com maestria explicando o trabalho minucioso de pesquisa que realizou para produzir o ótimo livro No Longe dos Gerais. Ficou nítida sua paixão pela obra literária de Guimarães Rosa, inspiração para seu livro e que o levou a percorrer o interior de seu estado natal refazendo a viagem original do autor de Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile. Mostrou fotos da viagem que serviram aos estudos iniciais para as ilustrações do livro. E pedindo atenção aos primeiros rabiscos, mostrou ao público todo o trabalho para chegar a um resultado final. O público - formado por educadores, ilustradores e curiosos - assistia a tudo com uma expressão de encanto. É muito fácil pousar os olhos e descansar a fantasia num livro pronto, mas, para chegar a um produto de qualidade, às vezes é preciso muito trabalho para que as idéias ganhem forma no papel. Só sentimos a falta do riacho que entrava pela sala e saía pela cozinha nas ilustrações de Nelson. Ele conta que se emocionou muito ao beber da água ali, agachado no chão da cozinha. Por causa da forma que tomou o projeto gráfico, a cena tão bem trabalhada e vivida emocionalmente pelo artista, foi cortada exatamente no ponto do riacho (fato que deixou Nelson em silêncio por uma semana enquanto analisava o boneco do livro deixando a editora à espera do seu “ok”). Nada não! O livro – mesmo sem o riacho correndo dentro da casa – ficou uma maravilha e ganhou o prêmio de Melhor Projeto Editorial de 2004 pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Fim da explanação: aplausos e olhos voltados para Marilda Castanha.
Marilda Castanha também teve os premiados livros Pindorama e Agbalá relançados com novos projetos gráficos e incorporados à coleção Histórias para Contar Histórias da editora Cosac e Naify. Nossa relação de amor com a obra de Marilda vem de alguns anos: O embrião dos Roedores de Livros começou a se formar depois que Ana Paula me apresentou o livro O Rei da Fome (Marilda Castanha, Ediouro, capa na foto acima). Adubei suas idéias, ela resolveu pôr a mão na massa e cá estamos. Temos uma paixão por este livro. Mas esta história fica para outra hora. Vale agora dizer que sua fala foi sobre “Ilustração, linguagem, processo de criação”. Centrada nos relançamentos e de forma descontraída, Marilda falou das minúcias que envolveram a criação de Pindorama, dos seus estudos para descobrir cores formas e texturas para os projetos, do trabalho para chegar à forma e cores do navio negreiro de Agbalá. Pindorama nasceu depois de um convite para expor seu trabalho num importante seminário de ilustração em Bratislava, na Europa. Em sua apresentação, vimos estudos que resultaram nas ilustrações maravilhosas destes livros, descobrimos alguns “segredos” escondidos em detalhes dos desenhos, as alegrias e angústias da criação e tantas outras confissões nos tornaram (Marilda e o público) quase íntimos. Depois daquele encontro, arregalamos o olhar para outras ilustrações dela e tentamos descobrir os segredos ali pintados. Fim da apresentação, o bate papo rolou solto até que a produção disse que seria impossível continuarmos. Bem, todos foram para suas casas.
Ana Paula, Eu, Marilda Castanha e Nelson Cruz seguimos para o hotel onde o papo se desenrolou até depois da meia-noite. Eu já estava virando abóbora e as histórias seguiam o curso normal. Que delícia. Nelson e Marilda são como nós: apaixonados pelo que fazem, de vida simples e de uma sinceridade que empata com o bom humor. O que falamos até depois da meia-noite? Nem te conto!!! Mas que renderam boas risadas, renderam!!! Aguardem nova edição do premiado Pula Gato e um novo livro - com um tema há muito esquecido - do Ernani Ssó ilustrado pelo Nelson Cruz. Tem mais novidades por aí, mas vamos deixar que os bons ventos as apresentem. Para encerrar, uma montagem com o carinho que os dois deixaram em nossos livros. Hatuna Matata.
Ainda temos mais para contar sobre o Salão do Livro de Goiás. Aguardem!!!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Doe um LIVRO USADO e ganhe um NOVO!!!

DOE SEU LIVRO USADO E GANHE UM NOVO!!!

O grupo FIRIMFIMFOCA participa de evento no TERRAÇO SHOPPING (HC/AOS Entrequadras 2/8 Lt 5 Octogonal - (61) 3223-1617) capitaneado por uma campanha de DOAÇÃO DE LIVROS INFANTIS para o projeto ROEDORES DE LIVROS.

O grupo FIRIMFIMFOCA apresenta histórias infantis de Sylvia Orthof no Terraço Shopping durante os sábados de abril, comemorando o mês do livro, participando da campanha DOE SEU LIVRO USADO E GANHE UM NOVO.

Nesta campanha, o doador leva um exemplar usado para a livraria LEITURA, no interior do Shopping e ganha um exemplar participante da promoção. São 50 livros por semana – o que não impede que o público possa também fazer uma simples doação. Vale ressaltar que a campanha visa arrecadar livros infantis, de literatura (não didáticos). Os livros arrecadados serão doados para a biblioteca do Projeto Roedores de Livros, que acontece nas manhãs de sábado, na Ceilândia.

O grupo FIRIMFIMFOCA preparou três sets diferentes para as apresentações do Terraço Shopping. A estréia acontece no próximo sábado, 12 de abril, às 18 horas, em espetáculo aberto ao público (gratuito) na Praça das Palmeiras. Em 40 minutos, o grupo apresenta as histórias A Fada lá de Parságada, A Bruxa Uxa e o elefantinhozinhozinhozinho, O Sapato que miava e Maria vai com as outras.

A Fada lá de Parságada é um belíssimo belo texto poético descrevendo a fada poesia, uma fada preta. A Bruxa Uxa e o elefantinhozinhozinhozinho conta sobre uma de suas personagens mais famosas de Sylvia: UXA, que era ora fada, ora bruxa, personagem gorda com dois peixes nos olhos e os cabelos melados de mel. Nessa história, ela encontra o elefantinhozinhozinhozinho que, como o nome já diz, é minúsculo. O Sapato que miava fala do gato Fedelho, tão boa vida que vivia enfiado no sapato de sua dona, uma velha, que calçava seus sapatos com o gato dentro, ele, a cada passo ia miando, miando, miando... Enfim, Maria vai com as outras é a história de uma ovelha que só entra em fria por fazer tudo que suas amigas fazem até que um dia descobre sua autonomia.

Apareçam por lá, levem suas crianças e participem da campanha de doação de livros!!!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte II

Nosso primeiro encontro literário em Goiânia foi no elevador do hotel. Ele saía com uma pasta na mão e nós entrávamos com malas, cuias e livros. “Professor”, disse o Tino, "vai devagar que já já a gente chega lá no auditório! É só o tempo de despejar a matula”. E foi mesmo. Pegamos um táxi e seguimos para o Centro de Convenções de Goiânia. Conseguimos chegar no início da palestra “Armadilhas para a formação de leitores : didatismo, sistema cultural dominante e políticas educacionais” proferida pelo escritor, ilustrador e pesquisador Ricardo Azevedo que, sem querer, havia atendido ao pedido do Tino e “esperou” a nossa presença para começar sua fala.

Começou afirmando que, de uma forma geral, as escolas não sabem bem o que fazer com os livros de ficção e de poesia em sala de aula. Para elas, o livro de literatura deve ser tratado como um livro didático, com suas soluções equacionadas e respostas exatas. Há uma necessidade de que o conteúdo destes livros não germinem a fantasia e sim, tenham serventia prática no mundo real. A escola quer uma resposta prática para a questão “para que serve a literatura?”. É necessário que a literatura caiba no didatismo, no utilitarismo. A literatura, para a maioria das escolas, não serve como mero instrumento da fantasia. Lembrei de uma palestra do professor Bartolomeu Campos de Queirós em que ele falava da necessidade da escola de medir o conhecimento. De repente ele saiu com a pérola: “- Quero ver a escola medir qual criança é mais feliz na hora do recreio”. Ricardo Azevedo criticou veementemente esta postura didática reforçando a idéia de que é preciso mudar esta situação.


Seguindo o roteiro do texto que escreveu para a palestra, o escritor fazia a sua leitura e, vez em quando, olhava discretamente para o visor do relógio que estava posicionado no lado inferior do pulso esquerdo. O tema era polêmico e o risco de ultrapassar os limites do tempo previsto era alto. Agora falava da cultura ocidental preocupada na formação do indivíduo em detrimento do coletivo. As pessoas estão cada vez mais sozinhas e a escola promove esta individualidade. Ricardo indagou: “- Como construir uma sociedade equilibrada formando centros do mundo?” E seguiu afirmando: “A solidariedade é uma questão de inteligência social”. “O homem não funciona sozinho. Ele passa a ser Homem quando se relaciona com outros homens, pois é um ser dialógico”. Por fim, falou sobre as diferentes formas de se estudar o mundo, lembrando que na ciência oriental, o cientista senta-se ao lado da flor para “conhece-la”. Por outro lado, o cientista ocidental precisa “destruir” a flor para que possa saber sobre ela.

Hora do público se manifestar. O papo seguiu mais como um desabafo dos ouvintes do que como um confronto das idéias apresentadas por Ricardo Azevedo. A maioria – senão, todos – concordava com o olhar crítico do pesquisador. Mas se falou também que em algumas escolas – poucas, ainda – esta visão didática estava perdendo sua força. Esperamos que contagie outros centros de ensino.

No final, depois dos autógrafos, eu e Tino conversamos muito com Ricardo Azevedo. Falamos sobre o projeto e da lista de reservas do ótimo “Contos de enganar a morte” que aconteceu assim que o livro chegou à biblioteca dos Roedores de Livros em 2007. Falei que utilizo o conto O Rei que virou vaca nos meus cursos há muitos anos. Ele me informou que este texto foi publicado recentemente no livro Papagaio come milho, Perquito leva a fama (Moderna). Ah... Falamos sobre tantas outras coisas que não caberiam neste post. Na verdade, seguimos aprendendo e Ricardo Azevedo tem muito a ensinar. Agradecemos pela sua simpatia e paciência (o Tino levou um horror de livros para ele autografar). Esperamos por novos encontros. Hatuna Matata.

terça-feira, 8 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte I

Queridos amigos... enfim, chegamos do 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás... a foto acima é o "Kit Roedores" que levamos para as apresentações e para as oficinas que fomos convidados (as malas não couberam na foto... hehehe)... Temos muito a dividir com vocês ao longo desta semana. Encontros e conversas com Ricardo Azevedo, Nelson Cruz e Marilda Castanha. Encontros com amigos virtuais. O monólogo de Lygia Bojunga. As oficinas e apresentações. Enfim, um Salão que teve seus sucessos e seus percalços - como tantos outros. Esperamos que possa crescer em sua segunda edição. Nós provamos das suas delícias e, aos poucos, compartilharemos com vocês. Abraços de letrinhas.