terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Um roedor foi o "culpado" de tudo...

Foi tudo “culpa” de um roedor. Explico:

Chegamos a Pirenópolis (GO) no início da noite de sexta passada. Sexta feira 13 (e nosso quarto na pousada também era o 13!!!). Tivemos sorte. A segunda palestra do escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão – marcada para as 18h – sofria de um atraso incomum: tinha público demais e cadeiras de menos. A produção correu para bem acomodar a todos e às 19h estávamos todos lá eu, Ana, Ignácio e outras 150 pessoas ocupando a saleta do prédio da Casa de Câmara e Cadeia da cidade. Todos presos, acorrentados às palavras do convidado especial da 1ª FLIPIRI (Festa Literária de Pirenópolis).

Ignácio de Loyola Brandão estava ali por sua relevante contribuição para a literatura brasileira (mais de 20 livros publicados, muitos deles premiados) e por ser o detentor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ficção 2008 conquistado por seu livro infantil O Menino Que Vendia Palavras. O autor relata que a história de um menino que se vê trocando os significados de vocábulos por bugigangas com seus colegas foi inspirada em suas memórias da infância.

Um dia, ao entrar na sala onde seu pai lia um jornal, os olhos do menino Ignácio encontraram os grossos volumes de uma enciclopédia na estante. Na lombada do terceiro volume estava impresso um nome estranho. O menino perguntou ao pai qual o significado daquela palavra e recebeu como resposta que ele mesmo deveria pesquisar no livro. A palavra (que agora me foge à memória) significava uma espécie de rato europeu com 30 dentes. Daí em diante, pesquisar o significado dos nomes passou a ser uma atividade prazerosa do menino Ignácio em Araraquara, no interior de São Paulo. Ele, que recebia elogios das professoras do primário por sua desenvoltura com os verbetes, dedicou a duas delas - ainda vivas - o prêmio recebido em outubro passado.

A sala se apequenava diante dos tantos curiosos, turistas, professores autores e amantes de livros que já ouviam atentamente as palavras do autor de O Homem que Odiava a Segunda Feira, que temperavam com um humor contagiante a noite quente de lua cheia. Lembrou dos tempos em que os meninos pobres do interior iam ao circo levando gatos como ingresso (para alimentar os leões), falou dos dias de aperto quando se viu perto da morte (o anestesista, na hora crítica da tão temida cirurgia, se aproximou e disse: - Seu Ignácio, sou seu fã, adoro o livro tal! Mas o tal livro não era de sua autoria. E agora? Confiar ou na palavra (e na ação) daquele profissinal tão relapso em literatura? Dizer a ele a verdade ou deixar que a cirurgia corresse tranquilamente? Tudo registrado no livro autobiográfico Veia Bailarina. Risos em todo o prédio.

Quando a palestra foi aberta a perguntas do público, o assunto mais “quente” foi o uso do politicamente correto na Literatura Infantil. Loyola disse – entre outras coisas – que o tema é delicado e ele mesmo está encontrando dificudades em escrever um final para outra história (Os Escorpiões no Círculo de Fogo), em que as crianças caçam os insetos para ver se é verdade a crença de que, quando expostos no centro de um círculo de fogo, os animais se suicidam com uma picada de seu próprio ferrão. Por falar em história infantil, vem aí o próximo livro do autor, escrito para este público: Os Olhos Loucos dos Cavalos Cegos. Achei o título muito bom e o enredo – também inspirado nas memórias da meninice do escritor paulista – é um pedido de desculpas ao seu querido avô.

Aquele nosso primeiro momento foi coroado com um bate papo informal com Ignácio de Loyola Brandão na mesa de autógrafo. Simpático, solícito, feliz em perceber num leitor a força do seu premiado livro, Ignácio, que já havia feito história na aconchegante cidade goiana na abertura da 1ª FLIPIRI, continuou o centro das atenções durante todo o final de semana. Ganhamos todos: turistas, cidadãos de Pirinópolis, professores, escritores, leitores. E pensar que toda esta paixão do convidado principal começou há mais de sessenta anos, num verbete que traduzia a forma incomum de um roedor europeu. Bem, nós também temos uma forma incomum de roer. Engraçado os caminhos da literatura. Hatuna Matata.

Um comentário:

Alessandra Roscoe disse...

Tino,
A Flipiri vai mesmo ficar na história. Já deixou saudades...
Vocês, quando forem se apresentar, avisem-me, não quero perder! Coloquei umas fotos lá no blog, em forma de apresentação de slides.
Depois passe por lá!
Beijo pra você e Ana Paula