quarta-feira, 25 de junho de 2008

Programa Leitura em Debate

No final da tarde de 29 de maio, uma quinta feira, no Auditório Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, assisti a um encontro ímpar e de muita valia para os que, como eu, têm um vínculo com a Literatura Infantil e Juvenil. Foi a estréia do programa Leitura em Debate: a Literatura Infantil e Juvenil que apresentará 08 edições com periodicidade mensal até dezembro de 2008 sempre com a curadoria e mediação de Anna Claudia Ramos (Veja a programação completa no flyer abaixo).

Naquela ocasião o tema debatido foi “Discutindo a qualidade na Literatura Infantil e Juvenil” e contou com as palestrantes Emília Galego (Cuba), Elizabeth Serra (Brasil) e Silvia Castrillón (Colômbia) todas representantes do IBBY em seus países e com um histórico invejável de atividades em prol da Leitura.

Planejado para as 16h00, começou com um pequeno atraso, coisas da estréia. Mas tudo estava impecável: desde a seleção dos palestrantes até a estrutura do auditório que ofereceu aos simples mortais (eu incluso) um sistema de tradução simultânea. O que destoou do conjunto foi o pequeno público presente (cerca de 20 pessoas), mas justifica-se pela concorrência com o Salão FNLIJ do Livro que acontecia ali próximo. Espera-se que os próximos encontros – com temática igualmente interessante – atraia um público maior.
Anna Cláudia Ramos abriu a palestra falando sobre a importância da criação daquele programa, do aval da Fundação Biblioteca Nacional e do time de convidados selecionados para aquela estréia. Depois, passou a palavra para Elisabeth Serra que lembrou prontamente que há cerca de 10 anos não se falava (ou questionava) a qualidade em educação. Discorreu sobre a importância do IBBY (que com quase 60 anos de fundação está presente em 70 países) no empenho em promover a qualidade nos livros e na Leitura para crianças e jovens. Explicou que, com a criação da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) e a conseqüente parceria com o IBBY, começou a mudar a qualidade nos livros brasileiros para crianças e jovens. Mudanças que começaram pra valer nos anos 70 com o início das premiações da FNLIJ e a criação do selo Altamente Recomendável que forçou às editoras a terem um cuidado maior nas traduções de livros importados e a oferecerem uma produção mais caprichada dos livros para crianças. Falou de uma evolução que se deu em três momentos: primero, nos anos 80 com o que chamou de BOOM do TEXTO (a consolidação do trabalho de grandes autores com Ruth Rocha e Ana Maria Machado); em segundo lugar, o BOOM da ILUSTRAÇÃO nos anos 90 (Roger Mello ,Mariana Massarani, Graça Lima, etc) e, finalmente, nesta década, o BOOM do PROJETO GRÁFICO. Completou o raciocínio, junto com Anna Cláudia Ramos, sugerindo que está chegando de renovar o ciclo voltando a atenção novamente para o texto (que anda meio esquecido por estas bandas).

Depois, falou a Emília Galego – que eu não conhecia e que fiquei fã. Ela falou sobre o conceito de MERCADO (oferta e demanda) pedindo a atenção do nosso olhar para a entrada das editoras internacionais no mercado latino americano (notadamente, no Brasil, a compra da Editora Moderna, Salamandra e Objetiva pela Santillana e a entrada da Edições SM com um forte trabalho de divulgação). Em resumo, ela afirma a lógica capitalista de que o livro que mais se publica é o mais vendido e vice versa e que tudo isso nem sempre tem a ver com qualidade. Um ciclo vicioso que mina as atividades das editoras de pequeno porte e conseqüentemente faz com que a literatura infantil entre no mundo da globalização. As idéias mais originais correm o risco de se perderem em meio a publicação e venda dos blockbusters internacionais. Eu, que estou timidamente escrevendo algumas idéias, me senti intimidado diante de tanta realidade. Silvia Castrillón falou da dura realidade das bibliotecas do seu país e comentou acerca das observações de Emília e Elisabeth que, por fim, se mostrou em busca de um texto contestador. Disse que encontra pouco texto com um “quê” de original e reclamou que há muito livro politicamente correto na Literatura Infantil. Suas últimas palavras naquela tarde ecoaram no auditório da Biblioteca Nacional: “É muito importante que todos percebam que os livros de qualidade não vão fazer a revolução. O caminho é muito mais longo. A grande missão que devemos abraçar é a de levar os livros a todas as classes pois todos têm direito a Arte”. Assim seja!

Nesta quinta, 26 de junho, as 16h00 acontece o segundo encontro do programa debatendo sobre “Os programas de incentivo à leitura do Brasil”. Participam da mesa, além de Anna Claudia Ramos, Eliane Pszczol, José Castilho Marques Neto e Célia Regina Delácio Fernandes. O encontro também acontece no Auditório Machado de Assis e a Biblioteca Nacional informa que haverá transmissão simultânea para todo o Brasil via internet através do site do Instituto Embratel. Vale a pena acessar.

Um comentário:

Fátima Campilho disse...

Cheguei atrasada! Se soubesse que haveria essa transmissão teria assistido. Passei uma mensagem para a Anna Cláudia justificando minha ausência porque estaria trabalhando no horário.
Conheci Silvia e Emília no ano passado durante o seminário Prazer em Ler do C&A. São politizadas, maravilhosas!
Infelizmente, livro de qualidade não faz sucesso em país que não é leitor, como o nosso.Ninguém entende! Quem sabe daqui a umas cinco gerações!
Abraços.