quinta-feira, 19 de junho de 2008

Iguaizinhas, parecidas, diferentes.

Ana Terra é uma menina curiosa. E há muito aprendi que sem o motor da curiosidade não teríamos chegado à lua, criado a lâmpada elétrica incandescente nem descoberto que no interior de um coco verde há um líquido delicioso, refrescante e nutritivo. Numa visita recente a Brasília, a escritora e ilustradora gaúcha separou um tempo para um passeio diferente, fruto da sua curiosidade. Além do Congresso Nacional, da Torre de TV e da Ponte JK, ela queria visitar papelarias. Buscava por papéis com texturas e imagens diferentes para suas colagens. Descobrimos uma lojinha de produtos japoneses no final da Asa Sul e foi difícil escolher o que levar entre tantos e belos achados. Passou um tempinho e dia desses fomos premiados com o novo fruto da curiosidade de Ana Terra: o livro Sai pra lá (Texto e ilustrações de Ana Terra, Larousse) que surpreende nas ilustrações, no projeto gráfico e, é claro, na história.

Branca, Albina, Neve e Clara são ovelhas e amigas que se vangloriam da bela lã que cobre seus corpos. Parecem iguais. Lindas. Um dia Clara desaparece. Quando volta, tosada, rosada e magrela, é excluída do grupo com um suntuoso “sai pra lá”, pois agora não pertence à classe das mais bonitas. A solidão de Clara dura até que suas amigas também perdem a preciosa lã. Antes iguais, agora parecidas, as ovelhas percebem suas diferenças. Uma tem uma mancha na pele, outra tem as pernas finas, uma terceira usa roupa de baixo e a última canta como ninguém. Enfim, amigas novamente, apesar das diferenças. Simples assim. Simples? Olha, não é bem assim.
Escrever para os pequenos sem parecer bobo não é fácil. Em Sai pra lá, Ana Terra valoriza a inteligência do pequeno leitor e desenvolve o enredo em frases curtas, enxutas, cadenciadas e com um humor que dialoga com as ilustrações. Ah, as ilustrações. A moça que dorme ouvindo as estrelas pegou tinta acrílica, papéis, tecidos, fotografias, selos, linhas, rendas bateu tudo no liquidificador da sua imaginação e serviu 32 páginas saborosas para olhos de todas as idades. De primeira, eu fiquei fã das ovelhas vestidas de linha. As personagens andam de patins, jogam xadrez, fazem piquenique. Há sempre uma sutileza a observar. Lá pelas tantas, um gato está sob a mira do olhar desconfiado de dois pássaros... Por que será?
O projeto gráfico apresenta dois momentos em que o livro também vira brinquedo. O leitor precisa sair da rotina posicionando-o de um jeito diferente. No final, Ana Terra brinca com os outros bichos que passeiam pela história. A gente se diverte mais um pouco, como naqueles filmes em que o diretor coloca imagens extras enquanto passam os créditos.
As ovelhas de Sai pra lá, definitivamente, entram para o nosso seleto rebanho onde estão Ofélia, Maria e as Outras. Ana Terra teve sua curiosidade premiada com este livro, um marco na sua produção literária. Mas não fique pensando, caro leitor, que os Roedores de Livros também não são curiosos. Uma ovelha nos contou (méééééééé...) que a escritora e ilustradora gaúcha está trabalhando em projetos novos e interessantes. Daqui, deixo as barbas de molho e espero curioso e paciente. Hatuna Matata.

P.S. Nesta última foto, Ana Terra (à esquerda) mata a curiosidade e troca figurinhas com
Eva Furnari.

Um comentário:

Fátima Campilho disse...

Meus pequenos amaram o livro!
VOU para a FLIP!
Vocês nem imaginam como eu estou felizzzz!
Abraços.