segunda-feira, 19 de maio de 2008

As caixas de Hermes

A primeira vez que encontrei o Planeta Caiqueria (Hermes Bernardi Jr., ilustrações de André Neves, Projeto) foi numa livraria em Brasília numa tarde onde só tinha a grana para o café e muita curiosidade por novos livros. Fiquei numa convulsão para levá-lo para casa. Primeiro pela criação primorosa das ilustrações do André Neves – que me fez tirá-lo da estante num primeiro momento. Depois, pela força da história-quase-fábula de Hermes. O livro, com sua força de recortes, texturas e cores, é um presente para os olhos... coisas de André. O texto, por sua vez, acarinha o coração. Fala da solidão, da responsabilidade, do amor e das surpresas que a vida apronta. Sei lá... Acho até que fala de um tempo remoto e gostoso quando a vida era só ouvir histórias... depois vieram as contas a pagar, os filhos a educar, horas de trabalho mais que horas livres... Abrindo o Caiqueria, volto àqueles tempos de descompromissos com a realidade. Então, no meu mundo só resta a fantasia. É maravilhoso recordar estes momentos ao simples despetalar de folhas deste livro.
Passaram-se alguns dias e o livro finalmente veio morar aqui em casa. Vez em quando, como agora, vou correndo até a estante fazer companhia à estranha Criatura – este é o seu nome - que tem por ofício guardar e manter fechadas as caixas que guardam as histórias que guardam as palavras. Nas minhas andanças por aí, descobri que o nome Caiqueria surgiu da mistura de CAIxa, brinQUEdo e HistóRIA. Uma colagem criativa para descrever o que acontecia naquele planeta. Criatura cultivava frases num jardim, colhia e as guardava em caixas diversas, aprisionadas em histórias distintas. Cada história em sua caixa e Criatura com tudo aquilo para si. Um dia, durante um cochilo de Criatura, um Big Bang abriu as caixas e espalhou as histórias pelo mundo. Ao acordar, Criatura descobre a liberdade. Sua e das histórias. Eu fiquei assim, mais livre e mais encantado com a literatura infantil.
A primeira vez que encontrei o E um rinoceronte dobrado (Hermes Bernardi Jr., com imagens de Guto Lins, Projeto) foi inusitada. Ele chegou em casa sem nem eu saber. Além de dobrado, veio espremido com outros livros num “lote” de “cortesia da editora”. Era um time de ótimos livros e eu saí roendo pra todo lado. De repente, já empanturrado do “lanche”, pesquei o tal rinoceronte da sacola e comecei a ler, sem dar muita atenção ao autor ou ao ilustrador. Na terceira página eu já estava apaixonado pelo texto. Na quarta, quando o autor resolve colocar numa caixa de sapatos dois quilos de quando ele era contente eu parei a leitura. Voltei à capa e descobri o autor. Caixas... Hermes... é claro que ali estava uma ligação com o Planeta Caiqueria. Arrepiei com a descoberta. Para os mais atentos, a ligação nem precisava estar escrita no final do livro como, de fato, está.
O texto nasce da resposta do autor à pergunta: O que eu colocaria numa caixa de sapatos? Daí surge a fantasia que passa por todos os sabores de picolé, um momento de chuva, um saquinho de beleza, meias fedidas, pensamentos embalados em mel, rimas, absurdos e outros sabores. O projeto gráfico de Guto e Adriana Lins dá vida aos “objetos” que vão compondo a tal caixa como os quindins (sim, eu os vi), uma zebra fantasiada de cacho de uva, um jacaré de paletó, entre outras criações poéticas. Tudo com muita criatividade embora, às vezes, deixe a impressão de que tantas imagens na página ocupem o espaço que o texto oferece para a imaginação do leitor voar ainda mais alto. O livro encerra com a mesma pergunta do início. Desta vez, dirigida ao leitor que, inserido na brincadeira poética de Hermes, se vê apto a colocar suas mais loucas criações e memórias eletivas na caixa de sapatos. Talvez um balanço de rede, ou uma camiseta amarelo-petróleo... quem sabe o arco-íris que eu vi na voz da Maria Bethânia ou a risada do Pedro, o calor da Ana... De uma coisa estou certo: ficarei mais atento ao que sair da caixola de Hermes. Espero que ele continue a me surpreender com ótimas histórias.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Pouco, às vezes, é muito.

Sábado passado, 10 de maio, véspera do dia das mães, a turma estava muito dispersa. Não foi um dia dos mais tranquilos. Talvez por estarem todos ansiosos para fazer os cartões e descobrir qual a surpresa que levariam como presente para suas mães. Talvez pela presença de um ou outro novo menino que trouxe uma eletricidade diferente. Mas a garotada estava ligada na tomada. Elétrica. Atenção mesmo só na primeira história, contada pela Hilariana. Ela escolheu o livro Ensinei meu gato a falar francês (Sérgio Vieira Brandão, ilustrado por , Paulinas). Depois, seguiram as leituras das crianças, mas não aconteceu com a atenção das semanas anteriores. Peguei uma história para ler. Não funcionou. Estavam dispersos mesmo.
Calma e concentração para a hora de cada um fazer um cartão para a mãe. Nossos meninos e meninas encontram na figura da mãe toda a força para seguir em frente. Muitas trabalham, não têm marido, mas, com todas as dificuldades, conseguem oferecer um mínimo de carinho para seus filhos. Pouco, às vezes, é muito diante de tanta adversidade. Por isso acredito que a vontade de oferecer algo para as mães trouxe uma carga de realidade que a fantasia dos nossos livros não conseguiu romper.
Conseguimos a doação de livros para que cada criança levasse de presentepara sua mãe histórias de mulheres vencedoras. Num embrulho simples, reencontramos o sorriso sincero e o orgulho de todos em voltar para casa com este mimo. Agora, sim, com o presente na mão, de volta ao projeto, era a hora de escolher os livros para empréstimo.
Sentada na relva (pense!!!) a Edna finalizou os trabalhos daquela manhã, anotando os livros que cada criança escolheu. Enquanto aguardam a sua vez na fila, uns lêem, outros trocam informações sobre suas escolhas, e outros ainda só esperam a hora de ir para casa.

Hatuna Matata!!!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

"Ser criança era moleza"...

Um livro pode passar despercebido até pelos mais atentos roedores. No meu caso, isso acontece num dia borocochô, ou acreditando numa resenha que me faz desinteressar pelo título (nunca dê tanto crédito às resenhas), ou tantos outros motivos. Pois é. Aconteceu comigo. Havia lido em algum lugar que Adeus Contos de Fadas (Leonardo Brasiliense, 7 Letras) conquistara o Prêmio Jabuti 2007 na categoria Livro Juvenil. Curioso, busquei mais informações na internet e confesso que o que li não moveu a minha curiosidade de conhecê-lo ao vivo. Mas – para o meu deleite enquanto leitor – encontrei o danado outro dia numa prateleira, abri uma página aleatória e li em voz alta para a Ana Paula e para o Rafael – amigo querido que dá vida à seção infantil de uma grande livraria daqui de Brasília. O texto, ia além das palavras. Na mesma tarde o livro veio para casa. E o pior: ele não consegue ficar na estante. Passeia de lá pra cá sempre que chega uma visita ou quando preciso de inspiração para tornar o dia mais interessante.

Adeus conto de fadas chegou até a minha casa de roupa nova. Segunda edição com uma capa mais instigante, que veste 72 minicontos. Nada mais que 15 linhas em cada um. Segundo pincei no Wikipédia, no miniconto, "muito mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de "preencher" as elipses narrativas e entender a história por trás da história escrita". O título faz referência ao fim da infância. A passagem do mundo do faz-de-conta para realidade. A terra do nunca ficou presa nos livros e viver esta nova fase não é nada fácil.

No livro, temas adolescentes: a menina que se acha feia, a gravidez precoce, o primeiro beijo, competição, inveja, sexo, amor. Bom humor e inteligência andam juntos o tempo todo. Tem para o universo masculino, para o feminino e para os dois juntos em harmonia - ou não. A turma vai se deliciar. E se você já passou da adolescência, não se incomode. As situações descritas fizeram parte da sua visa. Vale à pena descobrí-las neste livro.

Leonardo tem um dom impressionante para dar títulos aos seus minicontos. Não são escolhidos ao acaso. Interagem com o texto. Muitas vezes, são imprescindíveis para a harmonia do conjunto. All you need is love refere-se à onda de “eu odeio...” do orkut; Medições, deixa claro o que os meninos fazem no banheiro sem que o texto fale em banheiro; Constrangida, conta as impressões de um adolescente e do atendente da farmácia às 10 da noite.

Hoje, descobri que o Dobras da Leitura em sua edição 46 publicou uma resenha bem bacana sobre o livro. Uma pena eu não ter visitado aquele link antes. Não teria demorado tanto para provar as delícias de Adeus Conto de Fadas. Mas os livros esperam por nós, não é mesmo?! Eu só espero que meu relato apaixonado conquiste novos leitores. Para não correr o risco, deixo que o próprio Leonardo Brasiliense convide a todos a mergulhar em seus minicontos fantásticos. Apaixone-se pelos desencantos, surpresas e felicidades da adolescência.

Pra descontrair (in Adeus Contos de Fadas).

No banheiro da casa dele, os dois olham fixamente para o teste de gravidez.

- Mas tem que ficar rosa ou azul?

- Calma, ainda não deu o tempo.

Passa um minuto. Passam dois. E nada. Ela começa a chorar, e gagueja:

- Ainda não aconteceu nada.

Ele pega a “caneta”, trêmulo que mal consegue segurá-la:

- Será que não funciona?

- Tu comprou onde essa porcaria?

Ele também já chora, e rindo ao mesmo tempo:

- Na mesma farmácia da camisinha.

Hatuna Matata!!!

P.S. Sobre as imagens.

A primeira – Capa da Segunda Edição;

A segunda – Capa da Primeira Edição;

A terceira – Troféu do Prêmio Jabuti.

sábado, 10 de maio de 2008

Como funcionam as coisas

Ainda no sábado passado, 03 de maio, Samanta arrancou gargalhadas ao ler a história do filho que dizia ao pai que não queria ir à escola. Mais uma pérola do livro Papagaio come milho, periquito leva a fama!.
Eu simplesmente adorei esta foto do Jardesson contando história!!!
Aqui, Tiago e Guilherme curtindo a sombra, o tapete e uma leitura descompromissada. As coisas funcionam e nem precisa saber como (veja a capa do livro). Hatuna Matata.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Livros, sombra e cuca fresca...

Sábado passado, 03 de maio, o dia se fez belo e construiu uma sombra generosa para que o projeto acontecesse mais uma vez ao ar livre. Teoricamente, isso acontece porque ainda estamos em processo de ajustes na "sala da fantasia". Na prática, adoramos o improviso. Mesmo. Recebemos a visita do Evanilton, irmão da Edna, que deu uma passadinha para conhecer a turma. Presentes ainda a Hilariana, o Célio, Ana Paula, as crianças e eu.
Começamos as atividades com a Ana Paula lendo O rei que virou vaca, texto de Ricardo Azevedo que finalmente ganhou as páginas de um livro. Está no novíssimo Papagaio come milho, periquito leva a fama! (moderna), um livro repleto de histórias divertidas, quadras e adivinhas. A turma ficou curiosa para saber que fim teria aquela trama sobre um rei que acordou achando que era vaca e queria que seu corpo fosse fatiado e distribuído entre o povo.
Depois eu contei O Diabinho Bom, um conto mais longo, porém contagiante, escrito por Pierre Gripari, no ótimo livro Contos da Rua Brocá. É a história de um diabinho que na escola lá no inferno fazia tudo o que não devia. Ou seja, sabia a lição, fazia o dever, estudava história, geografia... ah, e não fazia guerra de papel na classe! Uma vergonha para a família. O pai, o diabo, ficava zangado com a falta de traquinagem do filho. Um dia, o pequeno encontrou um padre e pediu um conselho. Queria ser bom. O religioso disse: - É simples: obedeça aos seus pais!!! Risos à sombra da árvore.
O Livro das Árvores, que havia feito um sucesso danado há duas semanas, foi pinçado do baú por uma das crianças. A Edna, então, leu sobre o Mapinguari. Mais uma vez, todo mundo de olho. Depois, a sombra resolveu acolher as leituras das crianças. Mas isso eu conto no próximo post.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Força, agilidade e paciência.

Alguns livros têm uma embalagem que encanta. Ficam expostos na entrada das livrarias, têm a assinatura de um grande ilustrador e o autor, às vezes, já escreveu algo interessante que nos faz acreditar que qualquer coisa que escrever será muito boa. Ledo engano. Já fui pego por estas armadilhas e bravamente segui em frente até a última página. Mas, como já ouvi dizer por aí, devemos também ler livros ruins assim como assistimos a filmes ruins. Assim, apuramos o gosto. Digo isso porque gosto de fuçar as estantes das livrarias. E se você – como eu – tem paixão por livros infantis, sabe que fuçar naquelas estantes não é nada fácil. É preciso força, agilidade e paciência. Força para abrir espaço entre os livros, pois eles insistem em ficar espremidos uns nos outros. Agilidade para manter o equilíbrio em espaços geralmente minúsculos. Paciência para perdoar a ignorância dos vendedores (há exceções). Por fim, vez em quando encontro um tesouro.
Foi assim que descobri A História de Despereaux (Kate DiCamillo, ilustrações de Timothy Basil Ering, Martins Fontes). Primeiro, simpatizei com o ratinho da capa. Achei o título difícil – até agora, não sei pronunciar direito. Ignorei o ícone que revelava uma premiação importante. Ao folhear, me apaixonei pelas ilustrações. Trouxe-o para casa. Agora, depois de devorar suas 260 páginas, escrevo este texto feliz e surpreso por minha conquista no garimpo.
Despereaux Tilling é um pequeno camundongo diferente dos demais da sua espécie. Gosta de música e – como os Roedores de Livros – prefere ler a roer os livros de verdade (Juliana diria poeticamente que nós roemos com os olhos). Por causa destas preferências ele entra em contato com a princesa Ervilha e se apaixona por ela. Seus companheiros camundongos o condenam ao calabouço do castelo onde provavelmente morrerá devorado pelos ratos. Pois é. Ratos não gostam de camundongos. No calabouço há o terrível Chiaroscuro, um rato que quer viver na superfície pois detesta a escuridão. Em seu primeiro passeio por lá, encantado com as luzes de um candelabro, acabou matando a rainha, o que acarretou medidas drásticas impostas pelo Rei. Longe dali, uma menina chamada Migalha Sementeira vivia triste. E quase surda pois suas orelhas viviam doloridas e amassadas como uma folha de repolho de tantos puxões que sofia do homem que a comprara de seu pai. Ela fora vendida por uma toalha de mesa vermelha, uma galinha e um punhado de cigarros. E isso a deixava profundamente triste. Queria ser uma princesa.
Estes três personagens são apresentados em capítulos separados, depois a história vai se encaixando como se fosse um quebra-cabeças. O narrador segue dialogando com o leitor como se alguém estivesse ali sussurrando as ações em nossos ouvidos numa narrativa contagiante. Uma história que fala de amor, ódio, esperança, perdão, tudo misturado com muita aventura. Dá pra sentir o cheiro da sopa na cozinha do castelo. Dá pra sentir a escuridão do calabouço. A cada página seguimos torcendo pelo pequeno Despereaux. Por fim, o camundongo, o rato e a menina das orelhas de repolho se encontram e a história ganha o seu desfecho. Encantado, como um menino guloso, eu ainda queria mais daquela iguaria deliciosa!!!
Agora, fuçando na internet em busca de links e outras informações sobre o livro, descobri que A História de Despereaux será lançada nos cinemas em dezembro de 2008. Os atores Matthew Broderick, Sigourney Weaver, Dustin Roffman fazem parte do elenco estelar que dará voz aos personagens animados. Mas não espere tanto para conhecer este camundongo. Ele vai conquistar você e as crianças simplesmente nas páginas do livro de Kate DiCamillo. Eu me rendi aos encantos desta história que pesquei numa estante espremida de livros numa loja de Brasília. Torço para que vocês desenvolvam a força, agilidade, paciência e façam boas pescarias também. Hatuna Matata.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Meu encontro com Os Três Ladrões

Um dia, tinha que ser um dia azul, com nuvens brancas, vento suave, sol quase cor-de-rosa, tinha que ser num dia assim (*)” para que eu reencontrasse OS TRÊS LADRÕES. Não foi num seqüestro relâmpago, muito menos num assalto a banco ou no calçadão de uma praia carioca. Os ladrões aos quais me refiro eu poderia ter encontrado se morasse distante daqui, nos tempos em que as carruagens eram movidas a cavalos de verdade e rodas de madeira. Nos encontramos pela primeira vez há muitos anos, quando tive acesso aos vídeos da coleção Crianças Criativas. A única coisa que eles conseguiram roubar de mim foi a atenção. E agora, me vejo com o olhar e o coração presos ao encanto não do vídeo, mas, finalmente, do livro OS TRÊS LADRÕES (Tomi Ungerer, Global) em novíssima edição.


Publicada originalmente em 1963 e vencedora de diversos prêmios, incluindo o Hans Cristian Andersen (2000) esta história teve sua primeira edição traduzida para a Língua Portuguesa em 1997. Três ladrões se ocupam em assaltar carruagens com uma estratégia infalível acumulando uma riqueza de fazer inveja aos mais ricos. Um dia, ao encontrarem uma pequena órfã, os três malvados são tocados pelo amor e passam a dar um novo sentido a suas vidas.

Surpreendente por tratar de temas opostos e conflitantes de forma simples e direta, o livro conquista desde o leitor iniciante até seus pais e avós. Todos concedem o perdão aos malvados ladrões. Todos se encantam com as belíssimas ilustrações, que dialogam com o leitor, às vezes mais do que as palavras. Emoção pura! O clima soturno, reforçado pelo uso intenso das cores azul e preto, de repente ganha outras matizes. Os ladrões não têm rosto visível. Muitas ações são sugeridas através de um jogo de sombras. Fica a cargo da nossa imaginação.

Tomi Ungerer, nasceu em 1931 na Alsácia, região administrativa da França. No final dos anos 50 foi morar nos Estados Unidos da América onde trabalhou como ilustrador em publicações famosas como a revista Life e o diário The New York Times, onde ficou conhecido por seu traço criativo e cheio de humor. No Brasil, infelizmente, tem poucos livros disponíveis. Entre eles, O Homem-Lua e O Chapéu.

Em Os Três Ladrões, desde o início, há um clima de suspense e a gente fica esperando o que vai acontecer com desafortunada órfã. Torcemos por ela. E a história, de repente, acolhe o nosso desejo. Se você quer se deliciar com uma outra “leitura” desta história, veja abaixo o filme feito em 1972 com base nas ilustrações e textos originais. Mas não se acomode. Não tenha medo de encontrar Os Três Ladrões. E, se tiver oportunidade, leve-os para casa. O livro consegue ser bem melhor que o filme. E nem você nem as crianças precisarão de um computador para entrar no mundo da fantasia. That’s all, folks.

(*) Trecho da história Um elefante incomoda muita gente, de Sylvia Orthof, publicada no livro Os Bichos que tive (Salamandra).


sexta-feira, 2 de maio de 2008

Roedores de Livros na Revista Nova Escola!!!

Queridos amigos. O Roedores de Livros foi um dos 29 projetos selecionados para a Edição Especial Leitura da revista Nova Escola, referência nacional quando o assunto é educação. Uma honra para nós dividirmos o espaço com tanta gente boa de todo o Brasil.
A revista ficou um primor. Na introdução, um panorama sobre a situação do livro e dos leitores no Brasil. Depois, apresenta projetos a partir de uma escala de idades (até 3 anos; de 4 a 6 anos; de 7 a 9 anos; de 10 a 12 anos e de 13 a 15 anos). No rodapé da edição, mais de 150 sugestões de livros!!! E ainda tem entrevistas com Tatiana Belinky, Heloísa Prieto, Fanny Abramovich, Ruth Rocha e Ivana Arruda Leite.
Nosso projeto aparece na faixa entre 7 e 9 anos. Da página 30 até a 39 dividimos as experiências e conquistas com os projetos Borrachalioteca (Sabará, MG), Casulo (São Paulo, SP), Expedição Vaga Lume Portel e o Jegue Livro, do Comunidade de Leitores (Alto Alegre do Pindaré, MA). Já trocamos figurinhas rápidas com a Elza Maria dos Santos (Jegue Livro) e com o Marcos Túlio Damascena (Borrachalioteca) vencedores do Prêmio Viva Leitura de 2006 e 2007 (respectivamente) e somos solidários nas dificuldades e nas conquistas.
Aproveitamos para agradecer o trabalho da repórter Débora Menezes, em particular, que soube transformar em palavras o trabalho de tantos em prol do gosto pela leitura. Nosso obrigado também por toda atenção recebida por Carol Salles. Mas deixamos um parabéns a toda a equipe desta edição. A revista encontra-se nas bancas. Acho que vocês podem comprá-la também pelo site da Nova Escola. Enfim, vale à pena investir e conhecer um pouco do que se faz neste universo.

Esperamos, por fim, que a revista sirva menos para divulgar estas ações e mais para provocar novos parceiros, voluntários, educadores, empresários. Provocar, no sentido de, juntos, arregaçarmos as mangas para mudar com consistência o panorama do livro e dos leitores brasileiros. Hatuna Matata.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Tapete Vermelho para as crianças

Dizem por aí que a origem do costume de se estender um tapete vermelho para que pessoas importantes possam passar por ele vem de muitos anos. Séculos. E a questão não era exatamente O tapete e sim a sua cor. Segundo descobri por aí, na Antiguidade (cerca de 1000 a.C.), a cor púrpura, avermelhada, só era obtida em uma concha chamada porphura, que liberava esse pigmento quando atacada. Assim, mobilizavam-se centenas de empregados só para abrir as conchas e retirar a bolsa com tinta, o que a tornava extremamente cara. Por isso, só os nobres tinham condições de usá-las para tingir tecidos. O tapete vermelho era ainda mais caro porque, além do pigmento ser muito valioso, a feitura também era trabalhosa. Por indicar tanta riqueza, era a peça ornamental mais importante de um palácio.

Sem precisar gastar tantos tostões com a tal da concha e sem explorar a mais valia, Ana Paula e Edna compraram o material e encomendaram a uma costureira a confecção de um tapete vermelho para que nossas ilustres crianças ficassem mais a vontade. A sombra da árvore no jardim do Centro Comunitário da Criança ficou ainda mais acolhedora. Enquanto isso, nossa sala vai ganhando a estrutura necessária.

Foi assim, estendendo o tapete vermelho, que começamos as atividades no último sábado, 26 de abril. Ceilândia tinha um céu digno da fama do céu de Brasília. Azul, azulzinho com poucas nuvens. Este é só o terceiro reencontro. Ana Paula não pode ir. Edna, Célio e eu comandamos as atividades.

Para a mediação, pensei em comentar sobre a cobertura da imprensa sobre o caso Isabella Nardoni. Todas as crianças estavam por dentro do assunto. Algumas tinham até feito algum trabalho a respeito na escola. Ali, no mundinho deles, o caso é só mais um. Dia desses, dois deles me contaram uma história depois de uma canção:

Menina: - Eu tinha um tio que gostava de tocar violão.

Menino: - Ele era assim, gordinho, parecido com o senhor.

Menina: - Ele morreu num acidente de carro semana passada.

Menino: - Foi. Depois do acidente, deram seis tiros nele, dentro do carro.

Menina e Menino: - A gente sente uma saudade dele. Era um cara bem divertido.

E saíram para brincar enquanto eu fiquei com as músicas engasgadas na garganta.

Voltando para a mediação, escolhi A Verdadeira História dos Três Porquinhos para falar que tudo pode ter duas ou mais versões. E a gente acredita no que está mais próximo do que acreditamos e isso pode estar no grupo que veicula o fato (polícia, família, líderes religiosos, uma mídia mais confiável que outra, etc). A leitura e o papo foram um SUCESSO!!! As crianças foram se chegando... se chegando... se aconchegaram!!! Todos acompanharam de perto o “depoimento” do lobo Alex que justificava o acontecido com os três porquinhos como um mal entendido, pois o que ele queria mesmo era uma xícara de açúcar. Difícil foi acreditar na conversa de um lobo. O livro é ótimo. Um clássico. As crianças adoraram. Acho que qualquer dia vou arriscar ler O Livro dos Pontos de Vista (Ricardo Azevedo, Ática).
Empolgado com o sucesso do texto anterior, não resisti e li uma aquisição recente: Os três ladrões. O livro, originalmente lançado nos anos 70, havia sumido das prateleiras. Retornou às prateleiras este mês numa reedição da Global. Conta sobre três famigerados ladrões de carruagem que numa noite, durante um assalto, encontram na carruagem apenas uma menina, órfã, que iria para a casa de uma tia malvada. O trio resolve adotar a criança e outras mais que aparecem em seu caminho. Nossos meninos e meninas ficaram ligados na história, tentavam adivinhar o que aconteceria na página seguinte, corriam com os olhos em busca de guardar cada ilustração. Tensão na hora do encontro com a pequena órfã. Surpresa no desenrolar da história. Por fim, o alívio pelo final da história.
Algumas crianças resolveram ler para todos um dos livros que levaram para casa na semana passada. Jardson leu A Galinha Xadrez e deu início à leitura compartilhada. Depois, escolheram novos livros para o empréstimo. Foi neste momento que eu deixei florescer um sorriso. É que no final do ano passado um dos meninos não poderia mais participar do projeto como ouvinte. Era o Daniel. A idade já ultrapassava o limite. Mas ele não quis deixar os Roedores de Livros. Daí o meu riso florido. Daniel está novamente conosco, desta vez, ajudando na organização das crianças e na conferência dos livros emprestados e devolvidos. É mais um voluntário a serviço dos Roedores de Livros. Naquela manhã, sentado no tapete vermelho junto com tantas crianças e livros, vi que não apenas ajudamos a despertar o gosto pela leitura. Estamos também formando cidadãos. Hatuna Matata.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Os Melhores de 2007 - Segundo a FNLIJ

Queridos amigos. Saiu hoje a premiação da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) para os melhores livros publicados em 2007. Muita coisa nós ainda não conhecemos. Alguns já resenhamos por aqui como A Invenção de Hugo Cabret, Histórias Tecidas em Seda e Zubair e os labirintos. Outros, como O jogo de amarelinha, A pequena marionete, As mais belas histórias das Mil e uma noites, Minha Ilha Maravilha, Poeminha em língua de brincar e João Felizardo o rei dos negócios nós já levamos para tomar um café e alguns vieram para nossa toca.
O que surpreendeu por aqui foi a inclusão do ótimo O amor e o diabo em Angela Lago: a complexidade do objeto artístico (André Mendes, UFMG), vencedor na categoria O Melhor Livro Teórico. Apesar de não contar com a força de divulgação de uma grande editora, o seu texto falou mais alto e se impôs, merecidamente. Sua visão sobre o Cântico dos Cânticos - livro de imagem na lista dos meus preferidos - é surpreendente.
A grande vencedora foi a Companhia das Letras com três indicações, seguida da Cosac & Naify, Edições SM, Cortez e Ática com duas, cada. Ou seja, um resultado bem mais equilibrado que o do ano passado. Devo confessar que senti falta de alguns livros, mas toda premiação nos deixa com essa sensação, não é mesmo? Receber uma láurea da FNLIJ é muito importante e ajuda a movimentar o mercado editorial infanto-juvenil. Isso é ótimo. 2007 foi um ano de grandes publicações. E este ano também começa promissor. Aproveito e convido todos a comparecerem ao Salão do Livro da FNLIJ que acontecerá no final de maio, no Rio de Janeiro. É um exemplo de como se deve tratar a Literatura Infantil desde seus autores até o público que freqüenta. Mais informações no SITE DA FNLIJ.
Parabéns aos vencedores! Parabéns à FNLIJ. No final, ganha sempre a nossa Literatura Infantil.