quarta-feira, 7 de maio de 2008

Meu encontro com Os Três Ladrões

Um dia, tinha que ser um dia azul, com nuvens brancas, vento suave, sol quase cor-de-rosa, tinha que ser num dia assim (*)” para que eu reencontrasse OS TRÊS LADRÕES. Não foi num seqüestro relâmpago, muito menos num assalto a banco ou no calçadão de uma praia carioca. Os ladrões aos quais me refiro eu poderia ter encontrado se morasse distante daqui, nos tempos em que as carruagens eram movidas a cavalos de verdade e rodas de madeira. Nos encontramos pela primeira vez há muitos anos, quando tive acesso aos vídeos da coleção Crianças Criativas. A única coisa que eles conseguiram roubar de mim foi a atenção. E agora, me vejo com o olhar e o coração presos ao encanto não do vídeo, mas, finalmente, do livro OS TRÊS LADRÕES (Tomi Ungerer, Global) em novíssima edição.


Publicada originalmente em 1963 e vencedora de diversos prêmios, incluindo o Hans Cristian Andersen (2000) esta história teve sua primeira edição traduzida para a Língua Portuguesa em 1997. Três ladrões se ocupam em assaltar carruagens com uma estratégia infalível acumulando uma riqueza de fazer inveja aos mais ricos. Um dia, ao encontrarem uma pequena órfã, os três malvados são tocados pelo amor e passam a dar um novo sentido a suas vidas.

Surpreendente por tratar de temas opostos e conflitantes de forma simples e direta, o livro conquista desde o leitor iniciante até seus pais e avós. Todos concedem o perdão aos malvados ladrões. Todos se encantam com as belíssimas ilustrações, que dialogam com o leitor, às vezes mais do que as palavras. Emoção pura! O clima soturno, reforçado pelo uso intenso das cores azul e preto, de repente ganha outras matizes. Os ladrões não têm rosto visível. Muitas ações são sugeridas através de um jogo de sombras. Fica a cargo da nossa imaginação.

Tomi Ungerer, nasceu em 1931 na Alsácia, região administrativa da França. No final dos anos 50 foi morar nos Estados Unidos da América onde trabalhou como ilustrador em publicações famosas como a revista Life e o diário The New York Times, onde ficou conhecido por seu traço criativo e cheio de humor. No Brasil, infelizmente, tem poucos livros disponíveis. Entre eles, O Homem-Lua e O Chapéu.

Em Os Três Ladrões, desde o início, há um clima de suspense e a gente fica esperando o que vai acontecer com desafortunada órfã. Torcemos por ela. E a história, de repente, acolhe o nosso desejo. Se você quer se deliciar com uma outra “leitura” desta história, veja abaixo o filme feito em 1972 com base nas ilustrações e textos originais. Mas não se acomode. Não tenha medo de encontrar Os Três Ladrões. E, se tiver oportunidade, leve-os para casa. O livro consegue ser bem melhor que o filme. E nem você nem as crianças precisarão de um computador para entrar no mundo da fantasia. That’s all, folks.

(*) Trecho da história Um elefante incomoda muita gente, de Sylvia Orthof, publicada no livro Os Bichos que tive (Salamandra).


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