Oficina: BRINQUEDOS CANTADOS.
QUINTA, 31/07 - 16h30 - FNAC BRASÍLIA (PARKSHOPPING) - Entrada Franca.
Oficina: BRINQUEDOS CANTADOS.
QUINTA, 31/07 - 16h30 - FNAC BRASÍLIA (PARKSHOPPING) - Entrada Franca.
Muito se escreve para crianças “ensinando” as boas maneiras, as “delícias” de ser bem comportado, a “importância” de sempre obedecer aos pais além das “benesses” de dormir cedo, não sem antes escovar os dentes, é claro. Não sei até que ponto estes temas podem ser chamados de “literatura” e como tal ser apresentados aos alunos nas escolas. Não sei se já observaram o interesse das crianças quando lêem estes livros. O que eu percebo é que tais assuntos parecem “quadrados” para o olhar poligonal infantil. É por isso que vez em quando me descabelo de felicidade ao roer as delícias de livros como O Pequeno Nicolau, A Maldição da Moleira, Na Beira da Estrada e Declaração Universal do Moleque Invocado.
Dia desses encontrei dois tesouros literários prontos a conquistar minha alma infantil: Mamãe já foi pequena antes de ser grande e Dicionário, o pequeno rebelde. Antes de prosseguir quero alertar aos mais conservadores: Se lidos por adultos, estes livros podem levar à reflexão, ao riso e a uma regressão cronológica quase como o elixir da fonte da juventude. Já se o leitor for uma criança, ela simplesmente vai se enxergar nos personagens e – provavelmente – verá o papai e a mamãe também. Estão na minha lista de “Altamente Recomendáveis”. Mas chega de tro-lo-ló e vamos aos livros.
Assim que Ana Paula e eu chegamos ao Rio de Janeiro, em maio passado, largamos as malas no hotel e fomos ao Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens. Era um sábado à tarde e estávamos ansiosos para encontrar – entre outros tantos amigos - o André Neves (que no começo da semana iria a Brasília, enquanto nós acompanharíamos o Salão em terras cariocas). Numa primeira volta pelos corredores, novos e velhos amigos, mas nada de André. Fomos nos encontrar só no final da tarde no espaço externo do Salão. Estavam com ele Ivan Zigg, Ana Terra, Elma e Hermes Bernardi Jr. Depois de um afetuoso abraço de letrinhas, André nos olhou com um sorriso maroto e sacou da mochila mais uma de suas pedras preciosas e disse: - Trouxe para vocês. Cuidem com carinho.
O livro conta a história de Mara, uma menina com orelhas de abano que aprende com a mãe a usa-las para “voar” sobre as palavras sujas de um grupo de crianças zombeteiras. Estas, falam mal das meias, sapatos, roupas e orelhas de Mara que a tudo responde com muita poesia e sabedoria. Com frases curtas e bem lapidadas, a história nos mostra uma menina que conhece suas limitações, seus defeitos, e vive bem consigo, sobrevivendo aos “ataques” do grupo falastrão.
Se você pensa que esta edição é restrita e não pode ser acolhida na sua casa, pode tirar o cavalinho da chuva. Depois que o livro foi lançado na Europa (em março deste ano), ele ganhou tradução e edição portuguesa (Orelhas de Mariposa) através da Callis e pode ser encontrado nas boas lojas do ramo. Como foi impresso no exterior, a edição nacional oferece os mesmos caprichos da edição importada. Um tesouro à disposição da nossa fantasia.
Na última terça, 01 de julho, assisti a palestra HERANÇAS DA LEITURA, em que o escritor Léo Cunha e sua mãe – também escritora, teórica da literatura infantil - Maria Antonieta Antunes Cunha contaram sobre os alicerces familiares e educacionais que os aproximaram dos livros. O encontro, promovido pela Distribuidora de Livros Arco-Íris, Editora Dimensão e EAPE (Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação), aconteceu em Brasília, no auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e foi direcionado aos cursistas do BIA (Bloco Inicial de Alfabetização). Eu fui de metido e curioso. Com isso, ganhei uma tarde ótima na companhia das palavras de Léo e Antonieta e de outros queridos amigos como Aldanei Andrade (Firimfimfoca) e João Bosco Bezerra Bomfim (autor do Romance do Vaqueiro Voador).
Hoje, o menino leitor é escritor premiado que sofre a influência inusitada da sua filha Sofia, que o ajudou, por exemplo, a formatar o texto do livro Contos de Grin Golados. Outra herança afetiva de Léo foi a escritora Sylvia Orthof. Durante a palestra, Léo Cunha brindou o público com trechos de seus livros Pela Estrada Afora (influência da personalidade do avô), o já citado Contos De Grin Golados, Profissonhos e Cantigamente – este, infelizmente, esgotado. Eu e Ana Paula gostamos muito das suas histórias e poemas. Léo, talvez por ter sido contaminado com tanta herança, sabe alcançar a imaginação dos pequenos. Ah, quase esqueci: o cara é super simpático.
Já sua mãe, Maria Antonieta, também simpática, falou emocionada da forte herança literária que recebeu não do seu pai (avô de Léo), mas de sua mãe. A pequena Antonieta sofria de um problema nos olhos que a impedia de ler os livros da escola e os de histórias. Esta tarefa era feita com paciência e amor por sua mãe. Assim, fábulas, contos de fadas e outras maravilhas eram colhidas pelos olhos da mãe e depositadas nos ouvidos da pequena Antonieta. Tal como uma mãe-passarinho, sua mãe a alimentou com histórias saborosas que tornaram a mulher Maria Antonieta, curada do problema ocular, uma estudiosa da Literatura Infantil. Em sua palestra, falou das delícias de ler O Gênio do Crime de João Carlos Marinho. Reforçou a idéia de que há 02 pilares quando se fala de heranças da leitura: um, da família, outro, do educador. Os pais, são importantes enquanto formadores de leitores quando são vistos lendo por seus filhos, quando lêem para eles e quando oferecem livros para os pequenos. Já o educador deve ser, antes de tudo, um leitor. Depois, precisa colocar sua criatividade e ousadia a serviço das oportunidades de encantamento literário do aluno. Por fim, a autora do livro Literatura Infantil – Teoria e Prática, encerrou a fala, dizendo que a Literatura Literária é capaz de suprir o imaginário, o coração e inclusive, o inconsciente do cidadão. Embora, dentro da concepção escolar, esta Literatura não sirva para “nada”, pode “apenas” aquecer a alma e o coração. “Abrir” a cabeça do leitor.
Saí de lá certo de os Roedores de Livros – como aconteceu naquela tarde - encontrarão ainda muitos parceiros nesta lida de mostrar que a literatura, por si só, é importante para a formação do cidadão. Uma herança das mais ricas que podemos deixar aos nossos filhos, a todas as crianças. Hatuna Matata.