sexta-feira, 4 de julho de 2008

Heranças da Leitura

Na última terça, 01 de julho, assisti a palestra HERANÇAS DA LEITURA, em que o escritor Léo Cunha e sua mãe – também escritora, teórica da literatura infantil - Maria Antonieta Antunes Cunha contaram sobre os alicerces familiares e educacionais que os aproximaram dos livros. O encontro, promovido pela Distribuidora de Livros Arco-Íris, Editora Dimensão e EAPE (Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação), aconteceu em Brasília, no auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e foi direcionado aos cursistas do BIA (Bloco Inicial de Alfabetização). Eu fui de metido e curioso. Com isso, ganhei uma tarde ótima na companhia das palavras de Léo e Antonieta e de outros queridos amigos como Aldanei Andrade (Firimfimfoca) e João Bosco Bezerra Bomfim (autor do Romance do Vaqueiro Voador).

Léo Cunha contou que a primeira lembrança que brota quando fala sobre livros e leitura é a da figura do seu avô. Ele o via sempre na companhia de um livro grosso e de capa azul nas mãos, quase como uma extensão do corpo. O menino Léo, curioso, um dia perguntou ao avô: - O senhor nunca termina de ler este livro? O avô, respondeu que sim, mas a leitura era tão prazerosa que ele recomeçava a ler sempre que chegava ao fim. O livro era Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa e foi lido e relido mais de 20 vezes pelo velho senhor. Quando o avô de Léo faleceu, em 1994, a avó queria que o livro fosse enterrado com seu leitor mais querido. O neto, amante dos livros e do avô, escondeu a relíquia até ser descoberto, ao que argumentou: - Vó, eu não quero nada de herança que não seja O LIVRO DO MEU AVÔ. A mãe dele também ofereceu a sua parcela de CULPA por ter um filho tão afeiçoado ao universo da literatura. Foi Maria Antonieta quem abriu a primeira livraria exclusivamente infanto-juvenil em Belo Horizonte. Léo, depois da aula, batia ponto na loja, devorava todo o acervo e ainda dava dicas aos clientes. Lia tanto que quando perguntavam a sua irmã – outra apaixonada por livros – se ela gostava de ler, ela respondia: - Eu não. Quem gosta MESMO de ler é o Léo.

Hoje, o menino leitor é escritor premiado que sofre a influência inusitada da sua filha Sofia, que o ajudou, por exemplo, a formatar o texto do livro Contos de Grin Golados. Outra herança afetiva de Léo foi a escritora Sylvia Orthof. Durante a palestra, Léo Cunha brindou o público com trechos de seus livros Pela Estrada Afora (influência da personalidade do avô), o já citado Contos De Grin Golados, Profissonhos e Cantigamente – este, infelizmente, esgotado. Eu e Ana Paula gostamos muito das suas histórias e poemas. Léo, talvez por ter sido contaminado com tanta herança, sabe alcançar a imaginação dos pequenos. Ah, quase esqueci: o cara é super simpático.

Já sua mãe, Maria Antonieta, também simpática, falou emocionada da forte herança literária que recebeu não do seu pai (avô de Léo), mas de sua mãe. A pequena Antonieta sofria de um problema nos olhos que a impedia de ler os livros da escola e os de histórias. Esta tarefa era feita com paciência e amor por sua mãe. Assim, fábulas, contos de fadas e outras maravilhas eram colhidas pelos olhos da mãe e depositadas nos ouvidos da pequena Antonieta. Tal como uma mãe-passarinho, sua mãe a alimentou com histórias saborosas que tornaram a mulher Maria Antonieta, curada do problema ocular, uma estudiosa da Literatura Infantil. Em sua palestra, falou das delícias de ler O Gênio do Crime de João Carlos Marinho. Reforçou a idéia de que há 02 pilares quando se fala de heranças da leitura: um, da família, outro, do educador. Os pais, são importantes enquanto formadores de leitores quando são vistos lendo por seus filhos, quando lêem para eles e quando oferecem livros para os pequenos. Já o educador deve ser, antes de tudo, um leitor. Depois, precisa colocar sua criatividade e ousadia a serviço das oportunidades de encantamento literário do aluno. Por fim, a autora do livro Literatura Infantil – Teoria e Prática, encerrou a fala, dizendo que a Literatura Literária é capaz de suprir o imaginário, o coração e inclusive, o inconsciente do cidadão. Embora, dentro da concepção escolar, esta Literatura não sirva para “nada”, pode “apenas” aquecer a alma e o coração. “Abrir” a cabeça do leitor.

Saí de lá certo de os Roedores de Livros – como aconteceu naquela tarde - encontrarão ainda muitos parceiros nesta lida de mostrar que a literatura, por si só, é importante para a formação do cidadão. Uma herança das mais ricas que podemos deixar aos nossos filhos, a todas as crianças. Hatuna Matata.

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