terça-feira, 8 de julho de 2008

De Pernambucho para a Espanha.

Assim que Ana Paula e eu chegamos ao Rio de Janeiro, em maio passado, largamos as malas no hotel e fomos ao Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens. Era um sábado à tarde e estávamos ansiosos para encontrar – entre outros tantos amigos - o André Neves (que no começo da semana iria a Brasília, enquanto nós acompanharíamos o Salão em terras cariocas). Numa primeira volta pelos corredores, novos e velhos amigos, mas nada de André. Fomos nos encontrar só no final da tarde no espaço externo do Salão. Estavam com ele Ivan Zigg, Ana Terra, Elma e Hermes Bernardi Jr. Depois de um afetuoso abraço de letrinhas, André nos olhou com um sorriso maroto e sacou da mochila mais uma de suas pedras preciosas e disse: - Trouxe para vocês. Cuidem com carinho.

Preciso abrir um parêntesis aqui para dizer que a literatura infantil brasileira tem exportado seus livros para todos os cantos do planeta. É notório que há um grande número de títulos importantes que são importados e publicados por nossas editoras. O que é incomum neste processo é um ilustrador ou escritor brasileiro ser convidado a produzir algo inédito para alguma editora estrangeira com lançamento – em primeiro lugar – fora do nosso país. André Neves rompeu esta fronteira. Fruto de suas viagens à Europa para apresentar seu rico portfólio em feiras do livro importantes como a de Bolonha (Itália), o premiado escritor e ilustrador pernambucho (pernambucano residente em Porto Alegre), foi convidado pela editora espanhola Kalandraka para ilustrar o livro Orejas de Mariposa de Luisa Aguilar. As imagens de André serviram de fundo para a decoração do estande da editora na Feira de Bolonha deste ano (2008) e, é claro, enriqueceram a história com cores, texturas e muita imaginação. André Neves, na contramão do mercado, fez com que o talento do ilustrador brasileiro encontrasse a qualidade dos livros europeus. Fecho o parêntesis.
Nem acreditei quando recebemos a tal preciosidade: o livro Orejas de Mariposa, primeira edição espanhola, com os frutos tão saborosos semeados por André Neves e agora colhidos por nossos olhos. Fizemos uma roda e ficamos a descobrir a história e as nuances das ilustrações de cada página daquele livro ímpar. A produção gráfica, começando pela capa dura – comum em livros infantis europeus e ainda raro por aqui – até o colorido fiel às ilustrações de André (meus olhos não se acostumaram ainda a tantas matizes perfeitas) tudo encanta. Há vermelhos e azuis difíceis de se ver em livros impressos no Brasil. Numa página em especial, há uma explosão de cores sobre um fundo cinza. Parei ali e deixei o braço arrepiar seus pêlos. Lindo, lindo, lindo.

O livro conta a história de Mara, uma menina com orelhas de abano que aprende com a mãe a usa-las para “voar” sobre as palavras sujas de um grupo de crianças zombeteiras. Estas, falam mal das meias, sapatos, roupas e orelhas de Mara que a tudo responde com muita poesia e sabedoria. Com frases curtas e bem lapidadas, a história nos mostra uma menina que conhece suas limitações, seus defeitos, e vive bem consigo, sobrevivendo aos “ataques” do grupo falastrão.

A Mara de André Neves carrega consigo uma beleza que se molda ao texto. Rosto angelical, orelhuda – como deveria ser – vestindo uma saia xadrez que salta aos olhos. O destaque fica para os cabelos (e não para as orelhas!!! – genial!!!), misto de pintura e linhas coloridas. As crianças zombeteiras são igualmente geniais. André as deixou com um riso cheio de dentes, que reforça a idéia do sarcasmo de suas frases. Eu adorei o carequinha de óculos. Me identifiquei com a figura – não com suas atitudes, é claro. Casamento perfeito, texto e ilustrações formam um conjunto que prendem a atenção do pequeno leitor. Literatura Infantil de primeira. Para todas as idades. Para um lugar de destaque na estante.

Se você pensa que esta edição é restrita e não pode ser acolhida na sua casa, pode tirar o cavalinho da chuva. Depois que o livro foi lançado na Europa (em março deste ano), ele ganhou tradução e edição portuguesa (Orelhas de Mariposa) através da Callis e pode ser encontrado nas boas lojas do ramo. Como foi impresso no exterior, a edição nacional oferece os mesmos caprichos da edição importada. Um tesouro à disposição da nossa fantasia.

Aproveitamos este espaço para agradecer o carinho com que André Neves trata os livros que ilustra. Assim como em outros livros seus, dá para sentir de longe toda a sua dedicação e cuidado no trato que deu a Orejas de Mariposa. Hoje, mesmo guardando o livro na estante, as orelhas de abano de Mara insistem em sair do esquadro e se mostram salientes, belas e prontas a alçar vôo em nossa casa, em nossa imaginação. Hatuna Matata.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Heranças da Leitura

Na última terça, 01 de julho, assisti a palestra HERANÇAS DA LEITURA, em que o escritor Léo Cunha e sua mãe – também escritora, teórica da literatura infantil - Maria Antonieta Antunes Cunha contaram sobre os alicerces familiares e educacionais que os aproximaram dos livros. O encontro, promovido pela Distribuidora de Livros Arco-Íris, Editora Dimensão e EAPE (Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação), aconteceu em Brasília, no auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e foi direcionado aos cursistas do BIA (Bloco Inicial de Alfabetização). Eu fui de metido e curioso. Com isso, ganhei uma tarde ótima na companhia das palavras de Léo e Antonieta e de outros queridos amigos como Aldanei Andrade (Firimfimfoca) e João Bosco Bezerra Bomfim (autor do Romance do Vaqueiro Voador).

Léo Cunha contou que a primeira lembrança que brota quando fala sobre livros e leitura é a da figura do seu avô. Ele o via sempre na companhia de um livro grosso e de capa azul nas mãos, quase como uma extensão do corpo. O menino Léo, curioso, um dia perguntou ao avô: - O senhor nunca termina de ler este livro? O avô, respondeu que sim, mas a leitura era tão prazerosa que ele recomeçava a ler sempre que chegava ao fim. O livro era Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa e foi lido e relido mais de 20 vezes pelo velho senhor. Quando o avô de Léo faleceu, em 1994, a avó queria que o livro fosse enterrado com seu leitor mais querido. O neto, amante dos livros e do avô, escondeu a relíquia até ser descoberto, ao que argumentou: - Vó, eu não quero nada de herança que não seja O LIVRO DO MEU AVÔ. A mãe dele também ofereceu a sua parcela de CULPA por ter um filho tão afeiçoado ao universo da literatura. Foi Maria Antonieta quem abriu a primeira livraria exclusivamente infanto-juvenil em Belo Horizonte. Léo, depois da aula, batia ponto na loja, devorava todo o acervo e ainda dava dicas aos clientes. Lia tanto que quando perguntavam a sua irmã – outra apaixonada por livros – se ela gostava de ler, ela respondia: - Eu não. Quem gosta MESMO de ler é o Léo.

Hoje, o menino leitor é escritor premiado que sofre a influência inusitada da sua filha Sofia, que o ajudou, por exemplo, a formatar o texto do livro Contos de Grin Golados. Outra herança afetiva de Léo foi a escritora Sylvia Orthof. Durante a palestra, Léo Cunha brindou o público com trechos de seus livros Pela Estrada Afora (influência da personalidade do avô), o já citado Contos De Grin Golados, Profissonhos e Cantigamente – este, infelizmente, esgotado. Eu e Ana Paula gostamos muito das suas histórias e poemas. Léo, talvez por ter sido contaminado com tanta herança, sabe alcançar a imaginação dos pequenos. Ah, quase esqueci: o cara é super simpático.

Já sua mãe, Maria Antonieta, também simpática, falou emocionada da forte herança literária que recebeu não do seu pai (avô de Léo), mas de sua mãe. A pequena Antonieta sofria de um problema nos olhos que a impedia de ler os livros da escola e os de histórias. Esta tarefa era feita com paciência e amor por sua mãe. Assim, fábulas, contos de fadas e outras maravilhas eram colhidas pelos olhos da mãe e depositadas nos ouvidos da pequena Antonieta. Tal como uma mãe-passarinho, sua mãe a alimentou com histórias saborosas que tornaram a mulher Maria Antonieta, curada do problema ocular, uma estudiosa da Literatura Infantil. Em sua palestra, falou das delícias de ler O Gênio do Crime de João Carlos Marinho. Reforçou a idéia de que há 02 pilares quando se fala de heranças da leitura: um, da família, outro, do educador. Os pais, são importantes enquanto formadores de leitores quando são vistos lendo por seus filhos, quando lêem para eles e quando oferecem livros para os pequenos. Já o educador deve ser, antes de tudo, um leitor. Depois, precisa colocar sua criatividade e ousadia a serviço das oportunidades de encantamento literário do aluno. Por fim, a autora do livro Literatura Infantil – Teoria e Prática, encerrou a fala, dizendo que a Literatura Literária é capaz de suprir o imaginário, o coração e inclusive, o inconsciente do cidadão. Embora, dentro da concepção escolar, esta Literatura não sirva para “nada”, pode “apenas” aquecer a alma e o coração. “Abrir” a cabeça do leitor.

Saí de lá certo de os Roedores de Livros – como aconteceu naquela tarde - encontrarão ainda muitos parceiros nesta lida de mostrar que a literatura, por si só, é importante para a formação do cidadão. Uma herança das mais ricas que podemos deixar aos nossos filhos, a todas as crianças. Hatuna Matata.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

sábado, 28 de junho de 2008

A Cultura pesa...

Pois é, gente. A Cultura pesa no bolso e nos ombros. Pelo menos foi esta a nossa constatação na manhã do último sábado, 21 de junho, diante de mais um encontro do projeto. É que enfim compramos as duas primeiras estantes oficialmente nossas!!! Êba. Bem, apesar do desconto do marceneiro, pesou no bolso. Como diria um conhecido nosso, ser voluntário significa alguns reais a menos na conta todo mês. Fazemos o possível e, às vezes, o impossível, para mantermos o projeto com o carinho e a qualidade que acreditamos merecer. Desde que saímos da Pró gente, os livros ficaram guardados em maravilhosas caixas de papelão de uma conhecida marca de cosméticos. Os caras capricham no papelão e no perfume (hehehe). Mas desde a semana passada, nossa sala no Centro Comunitário da Criança ganhou duas estantes de madeira de demolição. E é aí que a cultura também pesa. Pesou nos ombros do Tino e do Célio que buscaram nossos objetos do desejo na marcenaria, colocaram no carro, transportaram até a sede do projeto e desembarcaram-nas na sala de leitura. Ufa!!! Eu e Edna cansamos só de ver aquela ação. Enquanto isso...
... as crianças recebiam com alegria exuberante uma penca de livros que a Mariana Massarani doou para o projeto. O colorido contagiante de suas ilustrações e as histórias sempre maravilhosas que elas contam não paravam nos olhos dos nossos meninos e meninas. Foram todos para as tocas dos pequenos roedores. Valeu, Mariana. Muito obrigada!!! Quando quiser e puder, dê uma volta por aqui. A turma aguarda a sua visita.
Eu aproveitei a deixa e li para as crianças O CASO DAS BANANAS. Foi um furdunço. Todo mundo ligado nos links que ligavam uma página à outra, tanto na rima do texto do Milton Celio quanto na dica que a Mariana Massarani deixava em suas ilustrações. Fiquei cercada de meninos curiosos. Nota 10 para o livro. Fez cócegas na imaginação dos Roedores de Livros. Por fim, tive que atender à Edna (foto abaixo), estudante universitária que veio conhecer o projeto e nos entrevistar para um trabalho da faculdade.
Depois de ver nossos machos roedores esbaforidos, limpamos os livros e ocupamos as estantes com o que temos de mais precioso: livros. Foi mais um sonho realizado. Queremos mais. Mais livros e a possibilidade de abrirmos a biblioteca durante a semana com atividades para as crianças das escolas da redondeza e seus familiares. Por enquanto, os livros encontram a fantasia das crianças do projeto e do Centro Comunitário da Criança. Enfim, a Cultura pesa, mas temos ombros largos e uma força maior que músculos: a solidariedade e o amor pelas crianças. Este foi um sábado ainda mais feliz. Voltamos para casa com um sorriso estampado no rosto, ordendo as orelhas. Hatuna Matata!!!

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Palavras, batatas, ilustrações e coca zero.

Nas poucas vezes que consigo escapar das asas de Brasília e pousar noutra cidade dedico um tempo para visitar os sebos. ADORO SEBOS. Sou capaz de passar um dia inteiro entre pilhas de livros, traças e troças. Não foi diferente na viagem que fizemos ao Rio de Janeiro em maio último. O centro da Cidade Maravilhosa (na região próxima ao Real Gabinete Português de Leitura) é um paraíso para quem deseja se perder nos sebos. Registrei por aqui a deliciosa incursão num sebo do Flamengo em 2007. Este ano, o destaque ficou por conta do magistral achado que fiz na Academia do Saber. O tesouro chama-se O Livro para Crianças no Brasil. Publicado pela Câmara Brasileira do Livros em 1994 (!!!) serviu de portifólio para a 46ª Feira do Livro de Frankfurt (que naquela ocasião homenageava o Brasil). Tem um formato (30cm x 23cm) e conteúdo que enchem os olhos de qualquer apaixonado por Literatura Infantil. Exibe uma capa dura com o título em relevo, coberta por uma sobrecapa com um recorte de ilustração do Cântico dos Cânticos de Ângela Lago e com outra ilustração de Eliardo França. Mas o forte ainda é o conteúdo.
Com a organização de Elizabeth Serra, Luiz Raul Machado e Claudia de Miranda, a edição é trilíngue (inglês, alemão e português) e exibe 130 páginas com textos de Laura Sandroni, Nelly Novaes Coelho, Maria Antonieta Cunha, Edmir Perrotti, Ezequiel Teodoro da Silva. Depois dessa viagem na história da nossa literatura, entram os personagens principais: 36 escritores e 24 ilustradores são reverenciados nas páginas seguintes. Uma página para cada, e duas obras citadas de cada homenageado com imagens da primeira edição de clássicos da nossa literatura, muitos, esgotados nas editoras. Há ainda uma reverência justa à obra de Monteiro Lobato. No final, outra preciosidade: nomes e endereços desta seleção de autores e ilustradores. São justamente homenageados todos aqueles que você certamente lembra agora e alguns que eu - reconhecidamente - ignorava até então e, por causa do livro, passei a conhecer como Lino de Albergaria, Eliane Ganem e Werner Zotz. Lembro que este livro foi publicado em 1994 e talentos mais recentes não aparecem. Mas dá para se lambuzar com tanta informação útil tratada com extremo carinho. Imagino que a produção deve ter se exaurido num esforço hercúleo para chegar ao produto final.
Eu nem acreditei quando o livros saltou aos meus olhos no meio de um punhado de gibis na sobeloja da Academia do Saber. Naquela hora, pareceu agradecer por ter encontrado tão apaixonado leitor. Ah, ele ainda não conhecia a Ana Paula. Os dois se apaixonaram no primeiro encontro, horas depois. Este livro é um verdadeiro e imprescindível suporte à memória da nossa Literatura Infantil, assim como o Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira. Deveria sofrer uma atualização pelo menos a cada década e servir de suporte para que os mais jovens pudessem ter a curiosidade em descobrir tantos bons livros nos sebos deste Brasil. Para isso, contamos com o excelente site Estante Virtual.
Coroei aquela descoberta com um almoço delicioso nas proximidades da rua do ouvidor. Foi difícil almoçar pois o livro não saía da mesa. Enfim, degustei palavras, batatas, ilustrações e coca zero. Inesquecível. A estante dos Roedores de Livros ganhou mais um morador ilustre. Hatuna Matata.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Programa Leitura em Debate

No final da tarde de 29 de maio, uma quinta feira, no Auditório Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, assisti a um encontro ímpar e de muita valia para os que, como eu, têm um vínculo com a Literatura Infantil e Juvenil. Foi a estréia do programa Leitura em Debate: a Literatura Infantil e Juvenil que apresentará 08 edições com periodicidade mensal até dezembro de 2008 sempre com a curadoria e mediação de Anna Claudia Ramos (Veja a programação completa no flyer abaixo).

Naquela ocasião o tema debatido foi “Discutindo a qualidade na Literatura Infantil e Juvenil” e contou com as palestrantes Emília Galego (Cuba), Elizabeth Serra (Brasil) e Silvia Castrillón (Colômbia) todas representantes do IBBY em seus países e com um histórico invejável de atividades em prol da Leitura.

Planejado para as 16h00, começou com um pequeno atraso, coisas da estréia. Mas tudo estava impecável: desde a seleção dos palestrantes até a estrutura do auditório que ofereceu aos simples mortais (eu incluso) um sistema de tradução simultânea. O que destoou do conjunto foi o pequeno público presente (cerca de 20 pessoas), mas justifica-se pela concorrência com o Salão FNLIJ do Livro que acontecia ali próximo. Espera-se que os próximos encontros – com temática igualmente interessante – atraia um público maior.
Anna Cláudia Ramos abriu a palestra falando sobre a importância da criação daquele programa, do aval da Fundação Biblioteca Nacional e do time de convidados selecionados para aquela estréia. Depois, passou a palavra para Elisabeth Serra que lembrou prontamente que há cerca de 10 anos não se falava (ou questionava) a qualidade em educação. Discorreu sobre a importância do IBBY (que com quase 60 anos de fundação está presente em 70 países) no empenho em promover a qualidade nos livros e na Leitura para crianças e jovens. Explicou que, com a criação da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) e a conseqüente parceria com o IBBY, começou a mudar a qualidade nos livros brasileiros para crianças e jovens. Mudanças que começaram pra valer nos anos 70 com o início das premiações da FNLIJ e a criação do selo Altamente Recomendável que forçou às editoras a terem um cuidado maior nas traduções de livros importados e a oferecerem uma produção mais caprichada dos livros para crianças. Falou de uma evolução que se deu em três momentos: primero, nos anos 80 com o que chamou de BOOM do TEXTO (a consolidação do trabalho de grandes autores com Ruth Rocha e Ana Maria Machado); em segundo lugar, o BOOM da ILUSTRAÇÃO nos anos 90 (Roger Mello ,Mariana Massarani, Graça Lima, etc) e, finalmente, nesta década, o BOOM do PROJETO GRÁFICO. Completou o raciocínio, junto com Anna Cláudia Ramos, sugerindo que está chegando de renovar o ciclo voltando a atenção novamente para o texto (que anda meio esquecido por estas bandas).

Depois, falou a Emília Galego – que eu não conhecia e que fiquei fã. Ela falou sobre o conceito de MERCADO (oferta e demanda) pedindo a atenção do nosso olhar para a entrada das editoras internacionais no mercado latino americano (notadamente, no Brasil, a compra da Editora Moderna, Salamandra e Objetiva pela Santillana e a entrada da Edições SM com um forte trabalho de divulgação). Em resumo, ela afirma a lógica capitalista de que o livro que mais se publica é o mais vendido e vice versa e que tudo isso nem sempre tem a ver com qualidade. Um ciclo vicioso que mina as atividades das editoras de pequeno porte e conseqüentemente faz com que a literatura infantil entre no mundo da globalização. As idéias mais originais correm o risco de se perderem em meio a publicação e venda dos blockbusters internacionais. Eu, que estou timidamente escrevendo algumas idéias, me senti intimidado diante de tanta realidade. Silvia Castrillón falou da dura realidade das bibliotecas do seu país e comentou acerca das observações de Emília e Elisabeth que, por fim, se mostrou em busca de um texto contestador. Disse que encontra pouco texto com um “quê” de original e reclamou que há muito livro politicamente correto na Literatura Infantil. Suas últimas palavras naquela tarde ecoaram no auditório da Biblioteca Nacional: “É muito importante que todos percebam que os livros de qualidade não vão fazer a revolução. O caminho é muito mais longo. A grande missão que devemos abraçar é a de levar os livros a todas as classes pois todos têm direito a Arte”. Assim seja!

Nesta quinta, 26 de junho, as 16h00 acontece o segundo encontro do programa debatendo sobre “Os programas de incentivo à leitura do Brasil”. Participam da mesa, além de Anna Claudia Ramos, Eliane Pszczol, José Castilho Marques Neto e Célia Regina Delácio Fernandes. O encontro também acontece no Auditório Machado de Assis e a Biblioteca Nacional informa que haverá transmissão simultânea para todo o Brasil via internet através do site do Instituto Embratel. Vale a pena acessar.

domingo, 22 de junho de 2008

Comida, Diversão e arte.

Durante o ano de 2007 nosso projeto, Roedores de Livros, aconteceu nas dependências da OnG Pró Gente, na Ceilândia. O local oferecia uma excelente infra-estrutura, mas os coordenadores – pressionados pelos custos de manutenção e a falta de apoio – tiveram que vender o local. O comprador foi o IESB, uma instituição de ensino superior que, com isso, ampliava a sua área de atuação, abraçando uma fatia da população que também necessita de oportunidades no campo do terceiro grau e – principalmente - no de cursos profissionalizantes. Ficamos à deriva até março quando mudamos de mala, cuia e livros para o Centro Comunitário da Criança onde acontecemos desde então com empenho, competência e muitas histórias pra contar. No penúltimo sábado, 14 de junho, fomos convidados a um encontro na antiga sede da Pró Gente. O IESB oferecia uma manhã de pura diversão para as crianças da redondeza e depois, um almoço com “líderes comunitários” para esclarecerem suas ações e possíveis parcerias. Ah, e um lanchinho supimpa, também. Não deu para concorrer.

As crianças – mostrando um caráter de “fidelidade à leitura” como diria a Edna – apareceram para informar que não ficariam para o projeto, pois foram convidadas para um evento. Ah... e levaram quatro convites para nós. Foi uma demonstração de carinho e respeito emocionante e inesperada.

Enquanto a turma se divertia com as brincadeiras dos estudantes de turismo do IESB, alunos da disciplina ANIMAÇÃO E LAZER, nós aproveitávamos a “folga” e assistíamos a tudo curiosos com o que viria a partir dali. No almoço, os responsáveis pela instituição falaram sobre o que pretendem desenvolver no local a curto, médio e longo prazo. Parece que a comunidade ganha um novo parceiro. Esperamos que sim. Esperamos ainda que as ações ultrapassem os muros da diversão pura. Ela por si já é muito bem vinda. Mas “nossas” crianças precisam de comida, diversão e arte. Quem estiver disposto a somar será sempre bem vindo. Hatuna Matata.

A seguir, um resumo daquele sábado nas palavras da roedora Edna Freitass.

Fidelidade à leitura.

Foi gratificante chegar ao Centro Comunitário da Criança no último
sábado, 14 de junho. Sabíamos que nossas crianças foram convidadas a participar de um evento na antiga Pró-Gente, hoje, IESB. Dessa forma, já esperávamos que poucas crianças aparecessem no projeto. Agradável surpresa! Numa demonstração de compromisso e fidelidade às nossas manhãs de leituras prazerosas, antes de seguirem para o IESB, foram até o Centro Comunitário nos dizer que iriam participar daquela manhã e das brincadeiras que aconteceriam por lá. Valeu, crianças! Com este gesto, nossas crianças nos brindaram com mais um sinal de que vale a pena sairmos todos os sábados de nossas casas e viajarmos até a Ceilândia para, simplesmente, na companhia dessas crianças, descobrirmos, juntos, o prazer de ler.
Fomos todos ao evento. Foi maravilhoso ver "nossas" crianças, anonimamente, animando a festa dos novos moradores (iesB e equipe) da Ceilândia. Que o IESB seja mais um agente formador de novos leitores. Nós, os Roedores, seguimos fazendo a nossa parte.

P.S. Enquanto a turma se divertia, eu, Célio, Edna, Tino e Hilariana (foto acima) assistíamos a tudo e planejávamos ações futuras.

P.S.2. Para saber o que o IESB achou do encontro, clique aqui.

sábado, 21 de junho de 2008

Mil novecentos e lá vai pedrinha...

Foi na quarta passada, numa livraria da cidade. Entre tantos livros pescados na estante descobri este dinossauro vivo!!! Gente, eu fui alfabetizado em mil novecentos e lá vai pedrinha por este livro no interior do Piauí. Outras duas pessoas que estavam comigo nesta redescoberta disseram que em Minas e Pernambuco também aprenderam com Caminho Suave de Branca Alves de Lima. Fiquei surpreso mas, embora meu tino jornalístico me impelisse a romper a película que envolvia a obra, preferi que ela ficasse lacrada. Talvez minha memória pifasse com tantas recordações. Quase 30 anos depois este livro estava perdido na seção de literatura infantil. Uma viagem no tempo. Êita. Bufo!!! Aff.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Iguaizinhas, parecidas, diferentes.

Ana Terra é uma menina curiosa. E há muito aprendi que sem o motor da curiosidade não teríamos chegado à lua, criado a lâmpada elétrica incandescente nem descoberto que no interior de um coco verde há um líquido delicioso, refrescante e nutritivo. Numa visita recente a Brasília, a escritora e ilustradora gaúcha separou um tempo para um passeio diferente, fruto da sua curiosidade. Além do Congresso Nacional, da Torre de TV e da Ponte JK, ela queria visitar papelarias. Buscava por papéis com texturas e imagens diferentes para suas colagens. Descobrimos uma lojinha de produtos japoneses no final da Asa Sul e foi difícil escolher o que levar entre tantos e belos achados. Passou um tempinho e dia desses fomos premiados com o novo fruto da curiosidade de Ana Terra: o livro Sai pra lá (Texto e ilustrações de Ana Terra, Larousse) que surpreende nas ilustrações, no projeto gráfico e, é claro, na história.

Branca, Albina, Neve e Clara são ovelhas e amigas que se vangloriam da bela lã que cobre seus corpos. Parecem iguais. Lindas. Um dia Clara desaparece. Quando volta, tosada, rosada e magrela, é excluída do grupo com um suntuoso “sai pra lá”, pois agora não pertence à classe das mais bonitas. A solidão de Clara dura até que suas amigas também perdem a preciosa lã. Antes iguais, agora parecidas, as ovelhas percebem suas diferenças. Uma tem uma mancha na pele, outra tem as pernas finas, uma terceira usa roupa de baixo e a última canta como ninguém. Enfim, amigas novamente, apesar das diferenças. Simples assim. Simples? Olha, não é bem assim.
Escrever para os pequenos sem parecer bobo não é fácil. Em Sai pra lá, Ana Terra valoriza a inteligência do pequeno leitor e desenvolve o enredo em frases curtas, enxutas, cadenciadas e com um humor que dialoga com as ilustrações. Ah, as ilustrações. A moça que dorme ouvindo as estrelas pegou tinta acrílica, papéis, tecidos, fotografias, selos, linhas, rendas bateu tudo no liquidificador da sua imaginação e serviu 32 páginas saborosas para olhos de todas as idades. De primeira, eu fiquei fã das ovelhas vestidas de linha. As personagens andam de patins, jogam xadrez, fazem piquenique. Há sempre uma sutileza a observar. Lá pelas tantas, um gato está sob a mira do olhar desconfiado de dois pássaros... Por que será?
O projeto gráfico apresenta dois momentos em que o livro também vira brinquedo. O leitor precisa sair da rotina posicionando-o de um jeito diferente. No final, Ana Terra brinca com os outros bichos que passeiam pela história. A gente se diverte mais um pouco, como naqueles filmes em que o diretor coloca imagens extras enquanto passam os créditos.
As ovelhas de Sai pra lá, definitivamente, entram para o nosso seleto rebanho onde estão Ofélia, Maria e as Outras. Ana Terra teve sua curiosidade premiada com este livro, um marco na sua produção literária. Mas não fique pensando, caro leitor, que os Roedores de Livros também não são curiosos. Uma ovelha nos contou (méééééééé...) que a escritora e ilustradora gaúcha está trabalhando em projetos novos e interessantes. Daqui, deixo as barbas de molho e espero curioso e paciente. Hatuna Matata.

P.S. Nesta última foto, Ana Terra (à esquerda) mata a curiosidade e troca figurinhas com
Eva Furnari.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Livros e educação ambiental

Queridos amigos. A Débora Menezes do Educom Verde, blog sobre educação ambiental, nos convidou a escrever um texto resenhando livros que abordem este tema. O texto foi publicado nesta semana e vocês podem acompanhar clicando AQUI. Boa leitura a todos. That´s all, folks!!!