sábado, 18 de outubro de 2008

Dobrando o frio e multiplicando amigos...

No sábado, 20 de setembro, os Roedores de Livros acolheram mais uma parceira. Convidada por Edna, Ilse deu o ar da sua graça naquela manhã fria e agora soma-se a Ana Paula, Celio, Edna e a mim no staff semanal da nossa equipe. Trouxe, além da disposição para ajudar e a curiosidade em torno da literatura infantil, a serenidade desenhada em seus traços orientais. Serenidade sempre necessária por aqui.
Por falar em manhã fria, a sombra do pinheiro não conseguiu conter o arrepio. O jeito foi achar um canto de parede no pátio interno do Centro Comunitário da Criança. Nada nao. Foi ótimo e acolhedor. Para esquentar, abri os "trabalhos" com uma seção musical para esquentar o juízo e espantar a preguiça. Entre as canções, a Minhoca foi seguida do beijo de minhoca (não pergunte o que é... nào dá para explicar... só vendo). Beijo congelado na foto acima onde o Jaderson faz pose, com a Ana Letícia e a Beatriz ao fundo.
Naquela manhã escolhemos dois livros em que o texto vem carregado de humor e rimas. Comecei lendo O Menino que Chovia e depois contei a versão em cordel ilustrado para O Bicho Folharal. Foi uma leitura repleta de sorrisos. Ana Paula aproveitou a deixa da versão da história do nosso folclore e ministrou uma oficina de origami, onde nossos pequenos leitores criaram seus macacos e onças em dobraduras de papel. Em casa, com os dois personagens na mão, nossa turma poderia recontar a história ouvida naquela manhã.
Foi mais um dia em que o livro e a arte se uniram para deixar mais gostosa a fantasia das nossas crianças. A manhã foi fria, mas as histórias, as dobraduras e a chegada da Ilse como nova parceira deram um gás em tudo o mais e continuamos em frente.
Hatuna Matata.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dia das Crianças.

Na semana passada, fizemos uma campanha entre alguns amigos para que o Dia das Crianças da turma dos Roedores de Livros fosse inesquecível para nossas crianças. Lembro sempre que nosso projeto é voluntário, conta com poucos - porém sérios - integrantes e, por isso, algumas ações se tornam pesadas para o nosso orçamento. A campanha foi um sucesso e nossos meninos e meninas tiveram uma manhã repleta de ótimas surpresas. Falaremos sobre todas em breve, mas queríamos agradecer a todos que ajudaram e mostrar na foto acima que o projeto conta com novas sacolas para as crianças (UFA!!!). No último sábado, o Célio chegou quase no final (pois tinha outros compromissos) mas a tempo de sair na foto. A Edna estava viajando (reparem no avião) mas não podia ficar de fora deste registro. Eu, Tino e Ilse, mais Cecília, Pedro e Júlia também estivemos por lá e aqui, mais uma vez, agradecemos o apoio de todos. Deixamos aqui o nosso fraternal abraço de letrinhas. Lá nos Roedores de Livros, todo dia é DIA DAS CRIANÇAS. Hatuna Matata!!!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A primeira vez da Julia contando histórias...

Foi na Feira do Livro de Brasília que reencontrei a Juliana depois de um tempo sem fazermos um show juntos (a Ju teve que abandonar um pouco os "palcos" por motivos particulares). Mas é meio parecido com andar de bicicleta: a gente nunca esquece o "modus operantis". Apesar de seguirmos um roteiro, cada encontro é recheado de ótimas surpresas e cacos que fazem da nossa apresentação uma diversão só. Pelo menos para nós. Brincadeirinha... a turma (crianças e adultos se divertem com a apresentação em que misturamos contação de histórias e músicas durante quase uma hora. Da mitológica Pandora, até a perfumada A Menina que queria ser gambá , passando pela ponte d'Os Três Carneirinhos entre outras aventuras literárias, Ju segue desfilando suas habilidades Sherazadísticas. Neste encontro na Feira do Livro, na primeira semana de setembro, o que foi mais legal foi que ela levou a Julia na barriga. Foi a primeira vez da futura roedora de livros. Ali, éramos três em um. Três: eu, Juliana e Júlia. Um: Roedores de Livros. Hatuna Matata.

P.S. Vejam o tamanho do barrigão de sete meses.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Triste, mas bonita. Muito bonita!!!

Foi assim, naquela manhã de sábado, 13 de setembro de 2008. Queríamos contar uma história diferente, mas antes, brincamos com as possibilidades várias de leitura. Primeiro, numa homenagem a tantas semanas em que lemos Grimm, Andersen e Perroult, convidamos para nosso tapete vermelho o livro SÓ MAIS UMA HISTÓRIA (Texto de Douglad Steer, Ilustrações de Elisabeth Moseng, tradução de Gilda de Aquino, Brinque Book) que traz várias histórias dentro da história, e ainda outras mais pois, o enredo mostra uma mamãe porca tentando adormecer seu casal de filhos contando clássicos do mundo do Faz de Conta em "adaptações suínas". A cada história, os pequenos querem só mais uma história e a mãe segue atendendo o desejo dos seus rebentos. Entre as páginas, 04 pequenos livros aparecem revelando os recontos e encantando os leitores.
Leitores diversos como o desta seqüência de fotos. Durante nossas mediações, vez em quando aparece uma mamãe com um pequeno "roedor de livros". Naquela manhã, mais uma vez, a mágica se fez.
Enquanto o Tino fazia a mediação com o livro SÓ MAIS UMA HISTÓRIA, a criança foi se chegando, abraçou o livro com os olhos...
...e devolveu um carinho gostoso.
Depois fizemos um jogo de repetição de trava-línguas com o livro EMBOLA ENROLA E ROLA (Texto de Maurício Veneza, Atual). Conseguimos muitos risos, ops, eitas e caracas. Muito bom.
Foi então que aquela idéia lá do início do texto entrou em ação. Era a hora da tal história diferente. Perguntei a todos se ali tinha alguém que gostava de história triste. Samuel foi o primeiro a dizer enfaticamente que DETESTAVA história triste. Outros seguiram a mesma opinião. Aí, anunciei que iria contar uma história triste. Caras e bocas de desaprovação. Fui em frente. Apresentei o livro: DOZE REIS E A MOÇA NO LABIRINTO DO VENTO (Textos e ilustrações de Marina Colasanti, Global). ADORO, ADORO, ADORO este livro. Queria muito contar suas histórias para a turma. Foi naquele dia que comecei. Apresentei a história escolhida no meio dos 13 contos de fadas que habitam aquele livro encantado: ENTRE LEÃO E UNICÓRNIO. E foi assim, a turma foi se chegando, embalada pelas palavras de Marina que embalavam a fantasia de todos com um leão que guardava os sonhos da rainha ao pé da cama e um rei encantado pela beleza de um unicórnio azul (quase que saído da canção de Silvio Rodriguez). De repente eu estava cercada pelas crianças. Não há como negar. O final da história não é feliz. Mas o menino Samuel, o primeiro a rejeitar a possibilidade de ouvir uma história triste, deixou claro logo após o ponto final: - Mas é uma história bonita!!! Gostei!!! Ah... para falar a verdade, acho que quem mais gostou (da história do livro e da história que conto aqui) fui eu. Hatuna Matata!!!

sábado, 4 de outubro de 2008

Unidos na guerra, falando de paz!!!

Dia desses estava saindo de casa para acompanhar Ana Paula numa seção de fisioterapia quando lembrei de pegar um livro para ser minha companhia na sala de espera. Eu já estava lendo uma história muito boa, mas o tal livro descansava na minha maleta, distante daquele momento em que o carro e Ana esperavam na porta de casa. O mais fácil foi pescar o primeiro livro numa pilha de leituras que fica cada vez mais íngreme ao lado da nossa cama. Era o livro A ÚLTIMA GUERRA (Luiz Bras e Tereza Yamashita, Biruta). Seria uma ótima oportunidade para conhecer a coleção Leituras Descoladas cujo projeto gráfico havia conquistado o meu olhar. Este livro pertence a tal coleção junto com outros cinco títulos. Foi uma surpresa e tanto. O livro não é só bonito, como oferece um texto ágil e conquistador em que o personagem principal segue conversando com o leitor numa gostosa provocação que nos leva sempre à página seguinte. Li numa sentada, na sala de espera da clínica de fisioterapia.
A história nos fala do menino Miguel e sua família, sua casa, sua cidade, sua vida. Todos afetados por uma guerra e suas bombas, soldados e tiros de metralhadora. O leitor vive a angústia de uma criança que sequer sabe quantos anos tem. Algo em torno de 11, 12 ou 13 anos. A guerra o fez perder a noção do tempo. A vida escondida pelos escombros da cidade, a angústia em não saber qual é o exército aliado, a falta de comida, de amigos. O MEDO. A LOUCURA. Enfim, a GUERRA. Um dia, o pequeno sobrevivente encontra um velho misterioso que tem o poder para acabar com o conflito destruindo tudo e criando um mundo novo. Você apertaria o botão? Sim ou não? Miguel precisa decidir em poucos segundos.
Luiz Bras e Tereza Yamashita criaram uma história que trata com muita inteligência de um tema delicado, oferecendo um bocado de realidade dura e crua além de uma clara percepção de quanto é àrdua a vida de quem está sob o fogo cerrado. O texto ganha ainda mais força com o rico projeto gráfico do REX DESIGN que - repleto de fotomontagens com caixas de papelão, usando de forma criativa o preto e o vermelho em contrase com o branco do papel e, principalmente destacando as primeiras frases de cada página com uma tipologia colorida e maior do que a “normal” - não deixa o leitor fechar o livro antes do fim. Muito pelo contrário. É um convite à página seguinte. Casamento perfeito entre texto e imagem. Me passou uma sensação parecida a de quando li A Invenção de Hugo Cabret, outra história em que o projeto gráfico arrasa!!!

Eu só gosaria que o livro terminasse na página 96. Seria algo assim como o final do filme A Bruxa de Blair. Fim e pronto. Sem epílogo. Na verdade, o livro termina na página 112. São mais cinco minutos muito gostosos de ler. Mas eu já estava satisfeito ali, na pagina 96. Provocar o leitor a usar mais a imaginação, incomodá-lo um pouco ao não oferecer tudo de bandeja também seria uma ótima solução. Os autores escolheram outro caminho e o livro é muito bom e ponto final.
Não, ainda não é ponto final pois lembrei de outro livro excepcional que aborda a GUERRA com beleza, sutileza e criatividade é O INIMIGO (texto de Davide Cali, ilustrações de Serge Bloch, tradução de Paulo Neves, Cosac & Naify). Comprei este livro por indicação do André Neves, fã do italiano Davide Cali, autor dos maravilhosos Um Papai sob medida e Fico à Espera, também em parceria com Serge Bloch.

O livro vem com um maravilhoso prólogo apresentando os elementos principais da história: um deserto indefinido e dois buracos habitados por dois soldados inimigos que aparentemente nada têm em comum a não ser o desejo de vencer a guerra. O outro é sempre um monstro. Afinal, foi isso que cada um aprendeu no manual de instruções produzido pelos senhores da guerra. Lá está escrito que o inimigo é mau, mata mulheres e crianças sem razão, é cruel e impiedoso. Por isso deve ser aniquilado. Mas, de fato… qual dos dois soldados é o inimigo? O conflito, que teve seu início há muito tempo, parece ter esquecido os soldados no meio do nada, naqueles buracos, expostos a sol, chuva, noites estreladas e, é claro, ao tiro diário disparado por cada um dos opositores. A história, toda contada em frases curtas, revela muito da natureza humana, das nossas semelhanças. Ora rica em virtudes, ora pobre em tanta mesquinhez.
O projeto gráfico une ilustrações e fotografias em pretos, vermelhos e um verde exército sempre dialogando agradavelmente com o branco. Complementam o texto com traços leves, irônicos, às vezes, divertidos, na medida certa, mas sérios, na busca de revelar ao leitor quem é o inimigo. Um exagero de sensibilidade e talento.
Há ainda outro trunfo desta edição: o livro acaba no meio de uma ação. O fim fica por conta da imaginação do leitor. Não podia ser diferente. Genial até o final. Um livro para todas as idades. Cada um pode dar a sua solução para o combate. Haverá um vencedor? A guerra continua ou acaba? Quem, de fato, é o inimigo? O fato é que, desde aquele encontro com André Neves na livraria, eu, corajosamente, trouxe O Inimigo para casa. Mas a certeza que tenho é de que nos tornamos mais amigos a cada leitura. Eu, André, Davide, Serge e os soldados. Hatuna Matata. Agora, sim, ponto final.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Atenção para a chamada...

Ana Letícia, Daniel, Bruno, Tiago, Felipe, Rafael, Vítor, Layane, Samara, Alessandra, Sarah, Vitória, Beatriz, Wesley, Marcos, Mateus, Taila, Samuel, Ismael, Dona Emília, Edna, Tino, Eu e outros que foram se chegando depois da foto fizeram como sempre: deixaram seus calçados na entrada do nosso tapete vermelho e se aconchegaram à sombra do nosso pinheiro na manhã do sábado, 06 de setembro, para mais um encontro dos Roedores de Livros.
Naquele dia, como atividade inicial propus um jogo de apresentação para a turma pois, desde a volta das férias, passamos a receber novas crianças e é sempre bom quando conseguimos chamar o outro pelo nome. Desta forma, nos sentimos mais integrados. Foi muito divertido e acho que no fim, deu certo: saímos com os nomes da turma na cabeça. Sem crachás no pescoço!!! Se a memória não falhar, a gente segue se aproximando, se apaixonando e conquistando mais crianças.
Para a mediação escolhemos três histórias de batráquios: A clássica O Príncipe Sapo (que pesquei do livro VOLTA AO MUNDO EM 52 HISTÓRIAS), a genial O SAPO QUE VIROU PRÍNCIPE (CONTINUAÇÃO) e a surpreendente O PRÍNCIPE SAPO de Alix Berenzy. Não é um erro. O nome é o mesmo da primeira história mas o enredo dá outras voltas.
Enquanto os sapos viravam príncipes que viravam sapos, a Edna conferia a devolução dos livros da semana passada. A turma ia se chegando perto dos livros, dando palpites nos desenlaces de cada história. Nossos meninos e meninas com a fantasia fervendo arriscavam possíveis lances para cada aventura. Muito bom vê-los assim tão criativos.
Outra coisa que chamou a atenção foi minha camiseta. Tive que tirar a borboleta do casulo. Encomendei a blusa a uma amiga para contar O caso da lagarta que tomou chá de sumiço, mas o Tino contou quando eu estava em Sampa... enfim... usei assim mesmo!!!
Por fim, novas fichas de inscrição naquela manhã, mais livros descobrindo novos olhares e mais uma vez a gente voltando para casa feliz. Hatuna Matata.

Na contramão do pelo contrário...

Para passar um tempão descobrindo com é gostoso brincar com as palavras, CLIQUE AQUI no blog da Maria Amália Camargo e divirta-se!!! Bão demais!!!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Literatura de Cordel de cara e roupa nova!!!

A Literatura de Cordel, que durante muito tempo ficou presa às amarras gráficas e geográficas em produções baratas distribuídas em feiras do interior do nordeste brasileiro, onde o português era escrito muitas vezes num linguajar próprio do sertão - nem por isso menos rico que o nosso português -, ultrapassa fronteiras e ganha uma nova roupagem ao ser adotada por editoras mais conhecidas, que oferecem cores às ilustrações, novas possibilidades aos projetos gráficos, novas histórias e releituras de clássicos do nosso folclore e da literatura mundial, conquistando o olhar de crianças, jovens e adultos, atraídos para o livro também através do som das rimas do cordel. Esse movimento todo tem alguns desbravadores mais conhecidos como o poeta Arievaldo Viana e o ilustrador Jô Oliveira mas o olhar da indústria do livro se abriu para este nicho em 2007, após a conquista de diversos prêmios literários pelo belíssimo e ousado projeto de Fernando Vilela, bancado pela Cosac & Naify, intitulado LAMPIÃO & LANCELOTE: um livro maravilhoso tanto no texto, quanto no projeto gráfico. O "novo" Cordel agradece tal façanha e já oferece aos leitores alguns títulos interessantes como os citados a seguir e que são queridos dos Roedores de Livros.
História recolhida do nosso folclore, O BICHO FOLHARAL ganha o status de Cordel Ilustrado, numa edição em cores, formato 23cm x 23cm, com os versos do cearense Arievaldo Viana e o traço fantástico do pernambucano Jô Oliveira. Aliás, a rica ilustração ganha merecidos três quartos da paginação num projeto gráfico que só pecou na capa do livro onde ousou acrescentar folhas que nada têm a ver com o desenho de Jô.
O texto de Arievaldo, escrito em sextilhas (com o segundo, o quarto e o sexto versos rimando entre si, deixando órfãos o primeiro, terceiro e quinto versos), vem carregado de regionalismo como os termos quixó, quengada e mangando, por exemplo. Mas em nada atrapalha o entendimento do leitor. Para os mais curiosos há um glossário no final do livro. A história sobre a esperteza do macaco sobre a onça fala também da infância da criança sertaneja:

Brinquei de gado-de-osso
De carrapeta e pião,
Em cavalinhos de pau
Corria pelo sertão...
Com prego, lata e madeira
Fazia o meu caminhão.

A exemplo da adaptação feita pela dupla para O PAVÃO MISTERIOSO, O Bicho Folharal usa da força da poesia e da imagem para conquistar leitores mirins do Brasil. A editora IMEPH ainda peca um pouco na questão da distribuição. Numa busca rápida pela internet não encontrei o exemplar do Bicho Folharal em nenhum dos grandes sites de comercialização de livros. Fica aqui um puxão de orelha para a editora. Quem quiser adquirir o livro recomendo que visite o blog de ARIEVALDO VIANA e veja diretamente com ele como fazer.
A dupla Arievaldo Viana e Jô Oliveira aparece também numa produção da editora Cortez intitulada A AMBIÇÃO DE MACBETH E A MALDADE FEMININA. O texto é uma adaptação da obra MACBETH, de William Sheakespeare fato explicado já nos primeiros versos:

Essa história se passou
Na Escócia, antigamente,
Foi William Shakespeare
Que a legou ao presente
Numa peça de teatro
Com desfecho comovente.

Se em O Bicho Folharal, Arievaldo Viana escreve um texto mais próximo da linguagem do leitor nordestino, aqui, mostra sua versatilidade em sextilhas que versam em bom português, sem a necessidade de glossário. Porém, não se distancia daquele leitor. Usa da clássica história da mulher que instiga o marido a cometer crimes e se tornar rei para levar o Cordel para um público mais universal. E isso é ótimo. São 36 páginas no formato 21 x 28 cm, com ilustrações caprichosamente coloridas que ocupam metade da paginação. Jô Oliveira é um mestre neste tipo de trabalho. Seu traço é a cara do nordeste e dos tempos medievais. Não por acaso é a sua ilustração que aparece com freqüência nestes novos caminhos que a literatura de Cordel atravessa. Eu gostaria de ver mais os desenhos de Jô em outras produções além destas temáticas. Por exemplo, adoro seu trabalho na maravilhosa versão de Ana Maria Machado para Alice no País das Maravilhas. Mas isso é assunto para outra hora. Voltemos ao "novo" Cordel.
Há poucos dias, não resisti à tentação e me entreguei aos encantos do livro A ESPANHOLA INGLESA (Scipione) em que o poeta pernambucano Manoel Monteiro, considerado o mais importante cordelista brasileiro em atividade, faz a adaptação da clássica história escrita originalmente por Miguel de Cervantes e publicada no livro Novelas Exemplares. A adaptação também conta com a originalidade e beleza das ilustrações de Jô Oliveira, desta vez, em preto e branco. Dos livros citados anteriormente, é o que mais se aproxima do formato original do folheto de cordel sendo apenas um pouco maior (12 x 18 cm). O projeto gráfico foi certeiro ao escolher o papel reciclado para o miolo. Eu não senti falta das cores presentes nos livros citados anteriormente.
Na verdade, gostei e muito do resultado final desta edição. Porém o que mais chama a atenção é o texto. O autor escolheu a septilha (estrofe em sete versos em que o segundo, quarto e sétimo rimam entre si e com rimas também entre o quinto e sexto verso) como ferramenta de trabalho para compor a adaptação. Esta forma exige mais apuro e o veterano poeta começa assim o seu trabalho:

Nesta hora imploro à Musa
Descer dos céus, por instantes,
Para ajudar-me a contar
Um dos dramas mais tocantes
Que ocorreu além-mares
Nas Novelas exemplares
Do grande escritor Cervantes.

A leitura é de fácil absorção, sem regionalismos. A história da menina espanhola raptada por ingleses que nutre um amor quase impossível pelo filho do seu algoz, conquista o leitor desde o início e a forma poética dos versos de Manoel Monteiro ganhou a minha atenção para uma segunda leitura e já, uma terceira, onde me vejo pescando as sutilezas ali depositadas. A edição inicia com uma apresentação sobre o "novo" Cordel conquistando espaço nas escolas e termina com informações sobre a adaptação, uma breve biografia de Miguel de Cervantes, além de resenhas sobre os artistas das letras e das imagens envolvidos no projeto. Se fosse um filme, eu diria que a edição em DVD conta com extras imperdíveis. Parabéns à Scipione por investir na idéia e conseguir oferecer ao público um produto tão interesante. Que possam vir outros.
Pensando em escrever sobre estes livros, em que o cordel ganha uma nova roupagem, não poderia esquecer de um livro que me encantou há tempos, muito antes de LAMPIÃO & LANCELOTE se encontrarem no livro de Fernando Vilela. Falo do ROMANCE DO VAQUEIRO VOADOR (João Bosco Bezerra Bonfim, Editora LGE). Publicado originalmente em 2003, a primeira edição já ousava no formato (30 x 40 cm). Eu só alcancei o vaqueiro quando ele já voava numa edição de formato menor (20 x 27), porém ainda com toda a ousadia do premiado projeto gráfico de Wagner Alves. Por falar em ousadia, esta é a marca do projeto. As duas xilogravuras que o Mestre cearense Abraão Batista produziu para o livro durante uma rápida passagem por Brasília numa Feira do Livro se multiplicaram e ganharam mais força em conjunto com imagens dos documentários de Vladimir Carvalho. Wagner Alves criou a liga que honrou o texto inédito de João Bosco.
A história não tem conotação infantil, mas é rica em poesia e em originalidade aptas a conquistar jovens leitores. Fala da vida de um nordestino candango (trabalhador que veio para ajudar na construção de Brasília) de nome incerto que saltou para a morte entre os edifícios da Esplanada dos Ministérios lá pelo fim dos anos 50 e ainda hoje vive a assombrar quem passa por lá em noites de lua com seu aboio misterioso. Escrito em sextilhas, o texto não apresenta um equilíbrio de rimas, instigando o leitor mais acostumado à linguagem do Cordel a estranhar a falta. Mas elas estão lá pousadas em desalinho ao olhar viciado. João Bosco é bom de verso e sua história tem um refrão que ecoa nas páginas do livro tal qual o aboio do tal vaqueiro voador:

Ei-lo caído de bruços
Para o campo paramentado
Peitoral, perneira, gibão
Chapéu passado o barbicacho
Voou no rabo da rês
Mas só chão havia embaixo.

O livro, semente de tantos outros que vieram e que virão, já produz frutos enxertados com outras culturas. Circula por todo o mundo o documentário homônimo, em longa metragem, do diretor Manfredo Caldas. Já foi vencedor do prêmio Signis de Melhor Documentário no Festival de Toulouse - 2008 e segue seu caminho nas salas de exibição. Clicando AQUI você pode assistir ao trailler do filme. O vôo do vaqueiro de João Bosco busca novas paisagens muito além da Esplanada.
Fico no desejo de encontrar num cordel paramentado de livro o poeta cearense João Bosco Bezerra Bonfim ao lado do ilustrador pernambucano Jô Oliveira recontando algumas dessas histórias clássicas da nossa literatura nordestina. Os dois trazem nas suas origens o calor, as dores, humores e amores do sertão brasileiro. Os dois, moram no coração do Brasil, e convivem com tantos outros imigrantes de lá. Os dois, têm uma história viva em busca de levar a Literatura de Cordel ao alcance de um público maior. E, enfim, os dois têm um talento imenso para conquistar tal feito. Enquanto este desejo fica ainda no campo das idéias, minhas, estejam certos de que os livros citados aqui são, antes de tudo, ótima leitura. O cordel veste novas roupas e sai por aí namorando outros tantos novos leitores. Que o mercado do livro continue redescobrindo caminhos para que novas aventuras ganhem versos, rimas e traços capazes de alcançar não só a Feira de Juazeiro do Norte, mas as livrarias do planeta. Êita literatura porreta!!! Ufa, eu também sei fazer rimas. Hatuna Matata.

P.S. Para saber mais sobre Literatura de Cordel CLIQUE AQUI.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Prêmio Jabuti 2008.

Queridos amigos. Saiu o resultado do PRÊMIO JABUTI 2008, a maior e mais prestigiada premiação literária brasileira. Nas categorias que envolvem diretamente o público infantil e juvenil os resultados foram os seguintes:


MELHOR ILUSTRAÇÃO DE LIVRO INFANTIL OU JUVENIL:

1o Lugar - TODA CRIANÇA GOSTA... (Texto de Bia Hetzel com ilustrações de Mariana Massarani e projeto gráfico de Silvia Negreiros, editora Manati). Este livro é um dos preferidos dos Roedores de Livros. A criançada ADORA (e nós também)!!!

2o Lugar - JOÃO FELIZARDO O REI DOS NEGÓCIOS (Reconto escrito e ilustrado por Ângela Lago, Cosac & Naify).

3o Lugar - O belíssimo POEMINHA EM LÍNGUA DE BRINCAR (escrito pelo genial Manoel de Barros e ilustrado com uma sensibilidade genética por Martha Barros (a filha do poeta), editora Record).


MELHOR LIVRO INFANTIL

1o Lugar - SEI POR OUVIR DIZER (escrito pelo Mestre Bartolomeu Campos de Queirós e ilustrado por Suppa, editora Edelbra. Que este merecido prêmio sopre uma brisa de saúde e felicidade nos caminhos do querido "professor").

2o Lugar - O MENINO QUE VENDIA PALAVRAS (gostamos muito deste livro escrito por Ignácio de Loyola Brandão e ilustrado por Mariana Newlands, que também assina o projeto gráfico, editora objetiva).

3o Lugar - ZUBAIR E OS LABIRINTOS (escrito e ilustrado por Roger Mello, este livro - e não o prêmio - é mais uma prova de que o menino que mora na cabeça do artista/escritor brasiliense continua a passos largos na vanguarda da Literatura Infantil. Editora Companhia das Letras).
MELHOR LIVRO JUVENIL

1o Lugar - O BARBEIRO E O JUDEU DA PRESTAÇÃO CONTRA O SARGENTO DA MOTOCICLETA (Dizem por aí que este livro, escrito por Joel Rufino dos Santos é maravilhoso, porém ainda não chegou aos olhos dos Roedores de Livros. No entanto, já estamos com um apetite voraz. Editora Moderna).

2o Lugar - TÃO LONGE... TÃO PERTO (Escrito e ilustrado por Silvana de Menezes, editora ).

3o Lugar - MESTRES DA PAIXÃO - APRENDENDO COM QUEM AMA O QUE FAZ (escrito por Domingos Pellegrini, editora Moderna).

Outras premiações você pode conferir no SITE DO PRÊMIO JABUTI.

O Pinheirinho dos Roedores de Livros

Sumiram... desapareceram... escafederam-se... as fotos da manhã do sábado 30 de agosto não está em nossos arquivos. Se perdeu. E foi um dia tão significativo. A Feira do Livro de Brasília começava suas atividades no shopping Pátio Brasil no coração de Brasília enquanto nós seguíamos as atividades dos Roedores de Livros a cerca de 30 Km de lá. O Célio apareceu para uma visita surpresa: por causa da Feira ele só iria trabalhar à tarde. As crianças abriram um sorriso largo para nosso roedor que andava meio sumido. Mas essa foi só uma das boas histórias daquela manhã. Há algumas semanas Eu, Edna e Tino trabalhamos com os autores clássicos e a principal história da semana passada (O Patinho Feio) foi escolhida pelas crianças. Resolvemos levar outros livros com histórias de Andersen e o Samuel, novo na nossa "toca", lembrou que ele fora o autor lido na semana passada. O livro escolhido por todos nesta semana foi o ótimo Histórias do Cisne e a história escolhida foi O Pinheirinho. A mediação foi ótima e rendeu uma conversa com a turma sobre as nossas escolhas. Na história de Andersen, um pinheirinho quer logo se tornar grande e seguir o destino incerto dos seus pares mais velhos, levados pelos homens a cada prenúncio do outono. Preocupado em se tornar um grande e belo pinheiro, a árvore não aproveita sua infância e juventude e acaba tendo uma única noite especial na véspera de natal quando, entre outras coisas, ouve e aprende a única história que ouviu na vida: a do Kumpla Dumpa. Depois, fica esquecido no sótão, contanto a tal história para os ratos e lembrando de quanto menosprezou os dias maravilhosos do passado.
Coincidentemente, ali no tapete vermelho, sobre uma grama rala, nós, Roedores de Livros, contamos histórias à sombra de um belo pinheiro. Este já ouviu muitas histórias e, pacientemente, segue por todas as estações nos oferecendo o seu carinho e atenção. Não quer saber de conhecer outras paragens. Quem sabe até conta as histórias aprendidas na semana para outros animais. Mas isso nós ainda não presenciamos. Nossos meninos também aproveitam sua infância e saltam e gritam e correm nas gramas da fantasia a cada manhã de sábado. Talvez, sem a oportunidade de ouvir histórias e conhecer novos livros a cada semana, estivessem pensando em se tornar adultos antes do tempo. E nós, os "adultos", recordamos nossos dias passados e fazemos do presente, através das histórias de Andersen, Perrault, Grimm, Furnari, Azevedo, Belinky e tantos outros mestres, dias mais fantásticos. Hatuna Matata.
As fotos sumiram, mas nos deu a oportunidade de brincar com a fotomontagem acima, feita com ilustrações de Chris Riddell pescadas do livro Histórias do Cisne.

domingo, 21 de setembro de 2008

Alimentando a curiosidade.

Sempre fui uma curiosa de marca maior. Acho que ainda hoje sofro daquele “mal” da infância: quero saber o por quê de tudo. Me sinto o próprio Gabriel, inspiração da Paula Toller para a música “Oito anos”, gravada também por Adriana Calcanhotto no seu magistral disco Adriana Partimpim em que o pequeno tem mania de explicação. Os Guias dos Curiosos de Marcelo Duarte vivem ao alcance da minha curiosidade e fico pescando utilidades e futilidades por aí. Sabendo desta minha queda por aprender um pouquinho mais, o Tino me presenteou com o livro OS 10 + HORRIPILANTES CONTOS DE FADAS (texto e ilustrações de Michael Coleman, Cia das Letras). De início torci o nariz para a capa e para o título, mas fui em frente e descobri que, além de novas versões para velhas histórias, estavam lá muitas informações que contextualizam diversas situações curiosas dos tais contos de fadas. E são esses dados – mais que as histórias – que fazem deste livro um ítem obrigatório para a estante de quem gosta de histórias e tem um pouquinho de curiosidade.

Numa primeira – e rápida – leitura, o livro parece não passar de mais uma releitura de histórias clássicas como A Bela e a Fera e o Pequeno Polegar. O autor procura aproximar as histórias do universo do leitor do século XXI. Por exemplo: João e Maria é contada por um âncora de programa de TV estilo AQUI AGORA ou BARRA PESADA ou qualquer outro desses policiais que dominam a programação das TVs abertas. João e o Pé de Feijão é relatado através das anotações que a professora faz numa provável agenda do aluno com comentários dele e da mãe. Pode até funcionar e conquistar novos leitores, mas eu prefiro os clássicos. Sempre! Eles me encantaram e ajudaram a me tornar a leitora apaixonada por livros que sou.

Entre uma história e outra aparecem as delícias deste banquete fabuloso. O autor apresenta informações como Os 10 maiores contadores de histórias (você já ouviu falar de Giambattista Basile ou Gabrielle-Suzanne Villeneuve?), Os 10 maiores ingredientes dos contos de fadas (para você aprender dicas além dos tradicionais “Era uma vez…” e “Felizes para sempre”), sinais, símbolos e superstições dos tempos em que as histórias foram escritas (Por que as bruxas transformavam os príncipes em sapos?... a resposta está lá), um relato sobre a difícil vida das crianças naqueles tempos (por isso, tanta madrasta nas histórias…), e mais: curiosidades sobre bruxas, animais falantes e aberrações da natureza. O leitor ainda descobrirá que, em bom português a famosa Cinderela deveria se chamar Cinzerela, pois seu nome original deriva das cinzas que passava em seu corpo em razão do luto que prestava em memória da mãe. E por falar em Cinderela, o seu sapatinho não era de cristal. Quando Charles Perrault escreveu a história ele provavelmente confundiu as palavras francesas vair (pelica) e verre (vidro), mas convenhamos, é muito mais fantástico um sapato de cristal!!!

Quando falamos sobre curiosidades no campo das clássicas histórias infantis não podemos esquecer que existem livros mais robustos, com os textos originais e com informações preciosas acerca do tema como o CONTOS DE FADAS e FADAS NO DIVÃ, porém eles assustam o leitor mediano com o volume de informações e o texto por vezes técnico demais para olhos menos eruditos. O livro de Michael Coleman oferece em menos de 200 páginas ricamente ilustradas informação na medida certa para quem gosta de histórias, seja este leitor um pai, mãe, avó ou avô, aluno ou professor. Eu adorei meu presente. Estou certa de que você vai gostar. Hatuna Matata.

As imagens aparecem maiores se você clicar sobre elas!