A copa era na Argentina e, apesar da nossa torcida, a seleção peruana entregou o jogo perdendo por 6 x 0. O barulhão foi se aquietando a cada gol portenho. Uma tristeza gigante que eu ainda não entendia de onde vinha. Depois, o Brasil – que tinha em Rivelino o seu camisa 10 - ganhou da Itália por 2 x 1 e ficou com o terceiro lugar sem ter perdido uma partida sequer. Fomos campeões morais. Coisas do futebol. E eu estava com a camisa rubro-negra do meu time de coração.
Quatro anos depois, o Flamengo – meu time, depois do Fortaleza - já era campeão fluminense, brasileiro e mundial. Zico era o craque e dono da camisa 10 da Seleção brasileira – e eu vestia a mítica segunda camisa do mengão, branca. Ao lado de Sócrates, Falcão e companhia, o galinho de Quintino embalava o povo brasileiro num sonho repleto de futebol arte. Aquele sim foi o meu escrete favorito. E ainda hoje lembro como foi difícil descobrir de onde vinha aquela tristeza tão grande que dominara os amigos da família naquele 1978. O Brasil perdeu da Itália por 3 x 2, massacrado pelo camisa 20, Paolo Rossi. O segundo gol deles – num erro de passe infeliz de Toninho Cerezo ainda hoje me dá pesadelos.
Míope, dependendo dos óculos desde os 6 anos – daqueles “fundo de garrafa” – nunca fui um atleta fenomenal, embora tenha medalhas escolares em natação e handball - eu era goleiro!!! Lá pelos 12 anos ainda cultivava o sonho infantil de marcar um gol de cabeça. Naquele tempo eu era craque mesmo no violão - e em redação. Mas numa pelada no Clube Santana (em Sobradinho, BA) estava na área quando vi a bola chegar de um cruzamento. Parado estava, parado fiquei. Apenas fechei os olhos e inclinei a cabeça para receber a bolada. Aquilo doeu, mas foi bom. Fiz o gol da vitória e desde então, acho que nunca mais joguei uma partida. Virei torcedor profissional.
E é como torcedor que escolhi o meu craque da Copa do Mundo de 2010. Chama-se Odilon Moraes. Não sei se ele jogou futebol quando menino no interior paulista. Mas ele bate um bolão danado quando assume o ataque com um lápis na mão. Assim, ele resolveu contar uma história sobre o amor de um menino pela Seleção. Uma história em verde, amarelo, azul e branco. Uma m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a história com texto invisível.
Digo isso porque o texto - invisível no livro - está escrito na cabeça do leitor. Na sua, na minha, na de Odilon. Somos nós que colocamos as palavras, as vírgulas, as pausas. Somos nós que pasamos a história para a página seguinte e escolhemos a data e as personagens. O PRESENTE (Cosac Naify) é o gol de mão e cabeça (ao mesmo tempo) que Odilon nos oferece. E eu – que nunca tive uma camisa 10 autografada - vou levar a que ele desenhou para ganhar a sua assinatura no nosso próximo encontro. E será com ela que vou torcer para o Brasil ser campeão mais uma vez. Hatuna Matata.P.S. As ilustrações acima (exceto a reprodução da capa do livro) são recortes das páginas do livro O PRESENTE. É preciso ler cada página por inteiro para que a arte de Odilon seja percebida em seu contexto original. Não as reproduzo por inteiro aqui para não estragar as surpresas do livro.