domingo, 13 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte III

Estávamos saindo do auditório Lago Azul, no Centro de Convenções de Goiânia, após a fala de Ricardo Azevedo, quando notamos a presença dos escritores e ilustradores Marilda Castanha e Nelson Cruz que acabavam de chegar. Aproveitamos que as atenções estavam voltadas para os autógrafos de Ricardo Azevedo e fomos nos apresentar ao casal mineiro. Um amigo comum já havia falado sobre os Roedores de Livros e nós havíamos trocado mimos virtuais. Este seria nosso primeiro contato pessoal. Não poderia ser melhor. Marilda e eu descobrimos afinidades e uma nova amiga em comum. Imediatamente ligamos para Brasília para contar as novidades... sorrisos flagrados na foto acima. O papo foi interrompido para as apresentações formais ao público.
Nelson Cruz acaba de relançar pela Cosac & Naify e com novo projeto gráfico os livros Dirceu e Marília (na foto acima, a primeira edição, pela Formato), Bárbara e Alvarenga e Chica e João, todos centrados em personagens históricos de Minas Gerais. Eles fazem parte da coleção Histórias para Contar Histórias onde o autor e ilustrador passeia com talento pelos caminhos do tema que defenderia nesta noite: “Ilustração, história e ficção”. Nelson Cruz abordou seu tema com maestria explicando o trabalho minucioso de pesquisa que realizou para produzir o ótimo livro No Longe dos Gerais. Ficou nítida sua paixão pela obra literária de Guimarães Rosa, inspiração para seu livro e que o levou a percorrer o interior de seu estado natal refazendo a viagem original do autor de Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile. Mostrou fotos da viagem que serviram aos estudos iniciais para as ilustrações do livro. E pedindo atenção aos primeiros rabiscos, mostrou ao público todo o trabalho para chegar a um resultado final. O público - formado por educadores, ilustradores e curiosos - assistia a tudo com uma expressão de encanto. É muito fácil pousar os olhos e descansar a fantasia num livro pronto, mas, para chegar a um produto de qualidade, às vezes é preciso muito trabalho para que as idéias ganhem forma no papel. Só sentimos a falta do riacho que entrava pela sala e saía pela cozinha nas ilustrações de Nelson. Ele conta que se emocionou muito ao beber da água ali, agachado no chão da cozinha. Por causa da forma que tomou o projeto gráfico, a cena tão bem trabalhada e vivida emocionalmente pelo artista, foi cortada exatamente no ponto do riacho (fato que deixou Nelson em silêncio por uma semana enquanto analisava o boneco do livro deixando a editora à espera do seu “ok”). Nada não! O livro – mesmo sem o riacho correndo dentro da casa – ficou uma maravilha e ganhou o prêmio de Melhor Projeto Editorial de 2004 pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Fim da explanação: aplausos e olhos voltados para Marilda Castanha.
Marilda Castanha também teve os premiados livros Pindorama e Agbalá relançados com novos projetos gráficos e incorporados à coleção Histórias para Contar Histórias da editora Cosac e Naify. Nossa relação de amor com a obra de Marilda vem de alguns anos: O embrião dos Roedores de Livros começou a se formar depois que Ana Paula me apresentou o livro O Rei da Fome (Marilda Castanha, Ediouro, capa na foto acima). Adubei suas idéias, ela resolveu pôr a mão na massa e cá estamos. Temos uma paixão por este livro. Mas esta história fica para outra hora. Vale agora dizer que sua fala foi sobre “Ilustração, linguagem, processo de criação”. Centrada nos relançamentos e de forma descontraída, Marilda falou das minúcias que envolveram a criação de Pindorama, dos seus estudos para descobrir cores formas e texturas para os projetos, do trabalho para chegar à forma e cores do navio negreiro de Agbalá. Pindorama nasceu depois de um convite para expor seu trabalho num importante seminário de ilustração em Bratislava, na Europa. Em sua apresentação, vimos estudos que resultaram nas ilustrações maravilhosas destes livros, descobrimos alguns “segredos” escondidos em detalhes dos desenhos, as alegrias e angústias da criação e tantas outras confissões nos tornaram (Marilda e o público) quase íntimos. Depois daquele encontro, arregalamos o olhar para outras ilustrações dela e tentamos descobrir os segredos ali pintados. Fim da apresentação, o bate papo rolou solto até que a produção disse que seria impossível continuarmos. Bem, todos foram para suas casas.
Ana Paula, Eu, Marilda Castanha e Nelson Cruz seguimos para o hotel onde o papo se desenrolou até depois da meia-noite. Eu já estava virando abóbora e as histórias seguiam o curso normal. Que delícia. Nelson e Marilda são como nós: apaixonados pelo que fazem, de vida simples e de uma sinceridade que empata com o bom humor. O que falamos até depois da meia-noite? Nem te conto!!! Mas que renderam boas risadas, renderam!!! Aguardem nova edição do premiado Pula Gato e um novo livro - com um tema há muito esquecido - do Ernani Ssó ilustrado pelo Nelson Cruz. Tem mais novidades por aí, mas vamos deixar que os bons ventos as apresentem. Para encerrar, uma montagem com o carinho que os dois deixaram em nossos livros. Hatuna Matata.
Ainda temos mais para contar sobre o Salão do Livro de Goiás. Aguardem!!!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Doe um LIVRO USADO e ganhe um NOVO!!!

DOE SEU LIVRO USADO E GANHE UM NOVO!!!

O grupo FIRIMFIMFOCA participa de evento no TERRAÇO SHOPPING (HC/AOS Entrequadras 2/8 Lt 5 Octogonal - (61) 3223-1617) capitaneado por uma campanha de DOAÇÃO DE LIVROS INFANTIS para o projeto ROEDORES DE LIVROS.

O grupo FIRIMFIMFOCA apresenta histórias infantis de Sylvia Orthof no Terraço Shopping durante os sábados de abril, comemorando o mês do livro, participando da campanha DOE SEU LIVRO USADO E GANHE UM NOVO.

Nesta campanha, o doador leva um exemplar usado para a livraria LEITURA, no interior do Shopping e ganha um exemplar participante da promoção. São 50 livros por semana – o que não impede que o público possa também fazer uma simples doação. Vale ressaltar que a campanha visa arrecadar livros infantis, de literatura (não didáticos). Os livros arrecadados serão doados para a biblioteca do Projeto Roedores de Livros, que acontece nas manhãs de sábado, na Ceilândia.

O grupo FIRIMFIMFOCA preparou três sets diferentes para as apresentações do Terraço Shopping. A estréia acontece no próximo sábado, 12 de abril, às 18 horas, em espetáculo aberto ao público (gratuito) na Praça das Palmeiras. Em 40 minutos, o grupo apresenta as histórias A Fada lá de Parságada, A Bruxa Uxa e o elefantinhozinhozinhozinho, O Sapato que miava e Maria vai com as outras.

A Fada lá de Parságada é um belíssimo belo texto poético descrevendo a fada poesia, uma fada preta. A Bruxa Uxa e o elefantinhozinhozinhozinho conta sobre uma de suas personagens mais famosas de Sylvia: UXA, que era ora fada, ora bruxa, personagem gorda com dois peixes nos olhos e os cabelos melados de mel. Nessa história, ela encontra o elefantinhozinhozinhozinho que, como o nome já diz, é minúsculo. O Sapato que miava fala do gato Fedelho, tão boa vida que vivia enfiado no sapato de sua dona, uma velha, que calçava seus sapatos com o gato dentro, ele, a cada passo ia miando, miando, miando... Enfim, Maria vai com as outras é a história de uma ovelha que só entra em fria por fazer tudo que suas amigas fazem até que um dia descobre sua autonomia.

Apareçam por lá, levem suas crianças e participem da campanha de doação de livros!!!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte II

Nosso primeiro encontro literário em Goiânia foi no elevador do hotel. Ele saía com uma pasta na mão e nós entrávamos com malas, cuias e livros. “Professor”, disse o Tino, "vai devagar que já já a gente chega lá no auditório! É só o tempo de despejar a matula”. E foi mesmo. Pegamos um táxi e seguimos para o Centro de Convenções de Goiânia. Conseguimos chegar no início da palestra “Armadilhas para a formação de leitores : didatismo, sistema cultural dominante e políticas educacionais” proferida pelo escritor, ilustrador e pesquisador Ricardo Azevedo que, sem querer, havia atendido ao pedido do Tino e “esperou” a nossa presença para começar sua fala.

Começou afirmando que, de uma forma geral, as escolas não sabem bem o que fazer com os livros de ficção e de poesia em sala de aula. Para elas, o livro de literatura deve ser tratado como um livro didático, com suas soluções equacionadas e respostas exatas. Há uma necessidade de que o conteúdo destes livros não germinem a fantasia e sim, tenham serventia prática no mundo real. A escola quer uma resposta prática para a questão “para que serve a literatura?”. É necessário que a literatura caiba no didatismo, no utilitarismo. A literatura, para a maioria das escolas, não serve como mero instrumento da fantasia. Lembrei de uma palestra do professor Bartolomeu Campos de Queirós em que ele falava da necessidade da escola de medir o conhecimento. De repente ele saiu com a pérola: “- Quero ver a escola medir qual criança é mais feliz na hora do recreio”. Ricardo Azevedo criticou veementemente esta postura didática reforçando a idéia de que é preciso mudar esta situação.


Seguindo o roteiro do texto que escreveu para a palestra, o escritor fazia a sua leitura e, vez em quando, olhava discretamente para o visor do relógio que estava posicionado no lado inferior do pulso esquerdo. O tema era polêmico e o risco de ultrapassar os limites do tempo previsto era alto. Agora falava da cultura ocidental preocupada na formação do indivíduo em detrimento do coletivo. As pessoas estão cada vez mais sozinhas e a escola promove esta individualidade. Ricardo indagou: “- Como construir uma sociedade equilibrada formando centros do mundo?” E seguiu afirmando: “A solidariedade é uma questão de inteligência social”. “O homem não funciona sozinho. Ele passa a ser Homem quando se relaciona com outros homens, pois é um ser dialógico”. Por fim, falou sobre as diferentes formas de se estudar o mundo, lembrando que na ciência oriental, o cientista senta-se ao lado da flor para “conhece-la”. Por outro lado, o cientista ocidental precisa “destruir” a flor para que possa saber sobre ela.

Hora do público se manifestar. O papo seguiu mais como um desabafo dos ouvintes do que como um confronto das idéias apresentadas por Ricardo Azevedo. A maioria – senão, todos – concordava com o olhar crítico do pesquisador. Mas se falou também que em algumas escolas – poucas, ainda – esta visão didática estava perdendo sua força. Esperamos que contagie outros centros de ensino.

No final, depois dos autógrafos, eu e Tino conversamos muito com Ricardo Azevedo. Falamos sobre o projeto e da lista de reservas do ótimo “Contos de enganar a morte” que aconteceu assim que o livro chegou à biblioteca dos Roedores de Livros em 2007. Falei que utilizo o conto O Rei que virou vaca nos meus cursos há muitos anos. Ele me informou que este texto foi publicado recentemente no livro Papagaio come milho, Perquito leva a fama (Moderna). Ah... Falamos sobre tantas outras coisas que não caberiam neste post. Na verdade, seguimos aprendendo e Ricardo Azevedo tem muito a ensinar. Agradecemos pela sua simpatia e paciência (o Tino levou um horror de livros para ele autografar). Esperamos por novos encontros. Hatuna Matata.

terça-feira, 8 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte I

Queridos amigos... enfim, chegamos do 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás... a foto acima é o "Kit Roedores" que levamos para as apresentações e para as oficinas que fomos convidados (as malas não couberam na foto... hehehe)... Temos muito a dividir com vocês ao longo desta semana. Encontros e conversas com Ricardo Azevedo, Nelson Cruz e Marilda Castanha. Encontros com amigos virtuais. O monólogo de Lygia Bojunga. As oficinas e apresentações. Enfim, um Salão que teve seus sucessos e seus percalços - como tantos outros. Esperamos que possa crescer em sua segunda edição. Nós provamos das suas delícias e, aos poucos, compartilharemos com vocês. Abraços de letrinhas.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Saudades, guri. Saudades.

"Foi uma jornada e tanto. Daquele 23 de fevereiro de 2002, com uma apresentação sensacional da Elisa Lucinda, até hoje, 31 de março de 2008, a Esquina da Palavra valeu uma vida. Estou fechando a livraria com um tremendo orgulho por esse período todo. A alegria que encontrei aqui, os amigos que fiz, a pequena parcela na vida de cada um de vocês, os livros editados, os autores que aqui autografaram - não tenho como não falar da Valéria Grassi, das adrianas Falcão e Lisboa, do Marçal Aquino, do Bonassi, do John Gledson, do Ismail Xavier e tantos outros que é até injusto citar só alguns -, leram seus livros, beberam e curtiram esse canto de Brasília, até mesmo essa agonia financeira que muitos de vocês viram acontecer, tudo isso vai ficar para sempre comigo."

Com estas palavras, nosso querido Lourenço Flores inicia sua carta informando o enceramento das atividade da nossa livraria de estimação Esquina da Palavra. Todos sentimos muito. Ao mesmo tempo, conhecemos as dificuldades e torcemos para que o amigo siga seu caminho sem tantos obstáculos. Para não me demorar nas palavras, copiamos texto da jornalista Conceição Freitas publicado ontem no jornal Correio Braziliense. Assinamos embaixo. O resto é silêncio.

"Acabou um paraíso

Se o paraíso é uma espécie de livraria, como dizia Jorge Luis Borges, uma espécie de paraíso acabou de acabar, a livraria Esquina da Palavra, na 405 Norte. O mesmo Borges inventou uma biblioteca de Babel, muito gigante, onde caberiam todos os livros que foram escritos e os que ainda vão ser, todas as histórias de todas as pessoas, tudo o que cada uma viveu e o que cada uma poderia viver.

A biblioteca do Borges ocupa salas hexagonais, como uma colméia, cada uma delas com o mesmo número de prateleiras, que se repetem ao infinito. Livros sobre todos os temas que pertencem ao mundo, os que não pertencem, os que já pertenceram e os que ainda vão pertencer. Muitos totalmente aloprados, mistura de todas as combinações de letras, de tal modo que é impossível lê-los.

Claro que a biblioteca de Borges é uma metáfora. Do universo, dizem. Da complexidade e infinitude do cosmos e de todas as possibilidades imagináveis e inimagináveis de tudo que o contém. Hoje já tem gente aproveitando o conto para uma metáfora da internet , a rede de compartimentos infindáveis.

A biblioteca de Babel é aterrorizante. Ela existe para nos avisar de que o todo é inalcançável e maluco de quem imaginar que pode dominar o conhecimento completo de tudo o que existe no cosmos.

A Esquina da Palavra era uma livraria sem a ambição inexeqüível da completude. Fez escolha: literatura, com exceção para livros importantes de áreas do conhecimento. A Esquina da Palavra era teimosa: quis manter acesa a idéia de uma livraria que não despeja sobre a cabeça do leitor uma quilométrica oferta de títulos de interesses tão múltiplos quantos são os humanos sobre a Terra. Uma livraria que acolhe o leitor um a um, com o comedimento e a intimidade que ficam muito bem numa livraria.

As grandes redes de livraria são de uma comodidade difícil de escapar. Têm o título que eu procuro e se não têm, encontram, caso não esteja esgotado. Dão descontos que só as grandes redes podem oferecer. Mas são tão sufocantes quanto o Google com seus 4.330.000 resultados para a palavra livraria. A multidão de capas e títulos nas prateleiras e balcões me transformam numa formiguinha que perdeu o caminho de casa.

A Esquina da Palavra, paraíso que acabou nesta segunda-feira, era reconfortante como uma casa, estimulante como um mestre, e deixava cada um de nós do tamanho de nós mesmos — e com a ponte sempre aberta para o reencontro silencioso com a nossa própria humanidade, que é o que um bom livros nos dá, e até um ruim, tão bom é ler um livro.

Nos seis anos, um mês e oito dias de vida, a Esquina da Palavra fez encontros inesquecíveis de gente como Adriana Falcão, Adriana Lisboa, Marçal Aquino e shows igualmente marcantes, até mesmo o improvável encontro do senador Eduardo Suplicy com o também senador Marco Maciel, acompanhados pelo Supla e pelo João, os filhos. Mas acabou."


Por fim, se você estiver em Brasília no próximo final de semana, aceite o convite do Lourenço e apareça para a despedida:
"Nos próximos sábado e domingo, dias 5 e 6, a partir das 9h, estarei fazendo uma queima dos livros que ainda tenho aqui - todos com 50% de desconto. Quem quiser, por favor apareça".

P.S. Lourenço e sua Livraria foram citados algumas vezes aqui no blog. Uma dessas postagens você lê AQUI.

terça-feira, 25 de março de 2008

Slão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás

Queridos amigos Roedores, começa na próxima quarta, 02 de abril, o 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás com show do Palavra Cantada, as 10h da manhã, no Teatro Rio Vermelho (Centro de Convenções de Goiânia). A programação segue até domingo e traz convidados ilustres como Lygia Bojunga, Ricardo Azevedo, Ângela Lago, Marilda Castanha, Nelson Cruz, Marcelo Xavier, Marisa Lajolo entre tantos outros bambas falando sobre literatura infantil, ministrando oficinas de ilustração, fazendo shows (a Bia Bedran estará por lá na sexta feira). Os Roedores de Livros também foram convidados. Juliana e Tino apresentam o show Direto da estante pro alto-falante, zás-trás num instante tem gosto de bombom com músicas e histórias no ESPAÇO FADA, no sábado, 05/04 (14h) e domingo, 06/04 (15h). Eu ministrarei duas oficinas. A primeira, sobre Brinquedos Populares, será na Sala Pedras de Paraúna, sábado, 05/04 (14h). A segunda, Literatura Infantil - A fantasia a serviço da educação, será na Sala Serra Dourada, no domingo, 06/04 (9h30). As inscrições para as palestras, shows e oficinas podem ser feitas diretamente no SITE OFICIAL DO SALÃO. A gente se encontra por lá.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Um presente para os olhos

O cinema é a técnica de projetar fotogramas (quadros) de forma rápida e sucessiva para criar a impressão de movimento. Há outras técnicas para que a imagem ganhe vida e que também conquistam a criança. Lembro de ter comprado um LP do Balão Mágico que vinha com um cineminha de papel que a gente colocava no toca discos e ficava vendo as imagens em movimento. Dava uma impressão de cinema mudo. Aquele brinquedo visual mexeu comigo durante dias. Pouco a pouco os livros foram brincando de cinema. A editora Caramelo lançou o Flip Mania Turma da Mônica onde uma sucessão de imagens contam histórias como O Presente, O Gato e O Cowboy. De forma criativa, Dav Pilkey criou o Vire o Game, uma das atrações da incrível série Capitão Cueca. Mas, para mim, nada se compara a sensação de folhear o livro Galope (Rufus Butler Seder, editora Sextante). Cavalo, galo, cachorro, gato, águia, macaco, borboleta e tartaruga ganham movimentos incríveis, INCRÍVEIS MESMO, através de um sistema chamado Scanimation, desenvolvido pelo autor. A história entra em segundo plano. Por aqui, concordamos que o final não é dos melhores. Mas o livro vale cada centavo pela surpresa que causa aos olhos. E comparado aos custos de tantos livros brinquedos por aí, até que não é tão caro. Os pequenos vão adorar. Não tenha medo de deixá-los brincar com o livro. Ele é bem resistente. Dizem por aí que cada uma dos 50 mil exemplares da primeira edição brasileira foi montada manualmente por 600 trabalhadores chineses. Isso sim, uma grande história. Mas, se os chineses levaram a sério o fazer este livro, temos mais é que nos divertir. Procure na sua livraria ou peça pela internet. Você vai se impressionar. Seu filho também. Um presente para os olhos.



terça-feira, 18 de março de 2008

Roedores de Livros de casa nova!!!

No último dia 05 de março falamos do "namoro" com uma instituição na Ceilândia que provavelmente abrigaria o projeto Roedores de Livros a partir de abril. Agora é oficial: o Centro Comunitário da Criança, instituição com mais de 20 anos prestando assistência social a crianças e jovens da Ceilândia reuniu seu conselho e decidiu oferecer um espaço para que os Roedores de Livros possam receber as crianças do projeto. Devemos retomar as atividades a partir de 12 de abril próximo. O local fica a menos de 200 metros da nossa sede de 2007. Portanto, seguiremos com as crianças do ano passado em idade de participar do projeto e abriremos inscrições para novas crianças. Mas isto é assunto para outra hora. Desde já, nosso muito obrigado à Helen e Rita que abraçaram a idéia e a levaram ao conselho. Na "toca" dos roedores (como diria a Edna) estamos todos "mordendo as orelhas" de tanta felicidade. Em 2006 os Roedores de Livros convidaram o Centro Comunitário da Criança para uma visita ao projeto, quando acontecíamos ainda na Biblioteca Comunitária T-Bone (vejam a cobertura). Hoje o convite parte deles. Fica a lição que o "profeta Gentileza" deixou nas ruas do Rio de Janeiro: Gentileza gera gentileza. Ah, os Beatles cantaram também na música The End no final do LP Abbey Road: "And in the end / the love you take / is equal to / the love you make". Sem dúvida alguma, all we need is love!!!

A foto acima foi tirada em fevereiro último nas instalações do Centro Comunitário da Criança.

sábado, 15 de março de 2008

Os livros também cantam!!!

Queridos amigos... semana passada chegou pelo correio o Historiar nº 06, boletim bimestral da Associação Viva e Deixe Viver, uma OSCIP que conta com o apoio de voluntários que se dedicam a contar histórias para crianças e adolescentes hospitalizados. Nesta edição, foi publicado um texto do Tino sobre alguns livros-CD que gostamos muito. Aproveito para reproduzí-lo a seguir. Deixamos ainda um abraço de letrinhas para a Lígia Pin que nos visita sempre por aqui e que é o nosso elo de ligação com a associação. Enfim, música, literatura, solidariedade e amizade num campo fértil para uma vida melhor. Seguimos plantando.

"Os livros também cantam!!!

A música brasileira acompanha a literatura infantil desde tempos idos. Nos anos 60 a coleção Disquinho apresentava uma narrativa de histórias clássicas como Chapeuzinho Vermelho recheadas de músicas do compositor João de Barro, o Braguinha. São parte da nossa memória infantil os versos musicados daquele tempo como “pela estrada afora eu vou bem sozinha / levar esses doces para a vovozinha (...)”.

Depois, Vinícius de Moraes adaptou alguns versos do livro A Arca de Noé (1970) para um disco homônimo lançado no Brasil em 1980. A idéia já havia produzido um filhote italiano: o LP L`Arca, lançado na Itália em 1972. Ainda na seara de músicas inspiradas na literatura infantil, não podia faltar a trilha sonora do programa O Sítio do Pica Pau Amarelo exibido pela TV Globo nos anos 70 e que tinha canções de craques da MPB como Gilberto Gil, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Ivan Lins e Caetano, entre outros.

Em 1982 a Editora Abril lançou a coleção TABA. Vendida em bancas de revistas, a coleção trazia em cada edição uma história infantil, atividades para crianças e um compacto (mini LP) com as histórias e duas canções da MPB relacionadas ao tema. Fez um tremendo sucesso. Histórias de Ana Maria Machado, Joel Rufino dos Santos, Sylvia Orthof e Ruth Rocha conviviam harmoniosamente com músicas de Chico Buarque, Tom Zé, Secos & Molhados, Jorge Ben e tantos outros. Foram 40 edições atualmente disputadíssimas em sebos. Um marco!!!

No final dos anos 80 o CD conquista o mundo. Sua capacidade de armazenar até 74 minutos de música (a duração da Nona Sinfonia de Beethoven) e seu formato compacto, instigou novas possibilidades para quem desejava aliar música e literatura. Surgiram então os Livros-CD diversos em forma, inspiração e conteúdo.

Nestes termos, gostaria de falar sobre três títulos em especial. Não por serem meus preferidos – outros também o são. Mas por estarem ao alcance da mão, dos olhos e dos ouvidos nestes últimos dias. Aqui em casa é uma bagunça organizada – nem tanto – de livros, CDs, crianças e adultos. Periodicamente faço um montinho cultural na mesa de trabalho e leio, releio, escuto bem alto... Os três livros-CD estavam aqui ao lado. São queridos meus. Os adoro por inteiro: texto, ilustrações e canções. Aqui estão: A Mulher Gigante, O Cavalinho Azul e Amigos do Peito.

Encontrei A Mulher Gigante (Editora Projeto) na pequena e aconchegante livraria do Lourenço, um amigo gaúcho que mora aqui em Brasília. O livro-CD é escrito e musicado por Gustavo Finkler e Jackson Zambelli (do grupo Cuidado Que Mancha) com ilustrações-maravilhas da Laura Castilhos, que abusa do talento em colagens e pinturas. No livro, 12 pequenas histórias como a da tal mulher que usa dois ônibus em cada pé e tem elefantes de estimação. Há outros absurdos bacanas como um dragão bobalhão que foi raptado pela princesa. Do CD que acompanha o livro eu destaco as canções O Fantasma Desafinado; O Seqüestro do Dragão Bobalhão; Príncipe Herculano, o chato; Tião Zoreia escuta tudo e Cuidado que Mancha. São canções divertidas com refrões fáceis que grudam na cabeça já na primeira audição. Gosto de acompanhar o CD olhando o livro. Eles se completam.

O Cavalinho Azul é um clássico escrito por Maria Clara Machado nos anos 60. Em 2001 a Companhia das Letrinhas lançou uma edição especial com as ilustrações originais de Marie Louise Nery. Na história, o menino Vicente sai à procura do seu cavalinho azul. Da cor fantástica do animal até o calor no peito da gente quando a história termina, tudo é uma delícia só. A emoção também impera ao ouvimos o CD com a versão em forma de ópera infantil que o genial Tim Rescala fez para a obra. É um trabalho maravilhoso. Lembra os musicais americanos. Mas ópera não é música fácil para ouvidos desatentos. É preciso atenção. Convido o leitor curioso a primeiro ler o livro. Depois, feche os olhos, aumente o som e deixe a música colorir de azul toda a história. Talvez você estranhe no início, mas ao final, estará refém da emoção.

O texto de Amigos do Peito (Editora Formato) é de Cláudio Thebas que também assina a produção musical ao lado de Carlos Renoya e André Bedurê. O livro tem uma sonoridade gostosa de ler em voz alta. Um humor inteligente que alcança as crianças. O tema é um dia na vida de um garoto. O despertar, a casa, a escola, os vizinhos, o irmão, bichos de estimação. As ilustrações caprichadas de Eva Furnari. Alguns poemas são plenos de meninice como em O Médico é o Monstro: O médico nunca me disse: / Sorvete. Tome sorvete. / Picolé, três vezes por dia. O Cd tem muita música boa e conta com participações de Zeca Baleiro, Rita Ribeiro e outros bambas da MPB. Impossível ficar parado ouvindo Brinquedo novo e Jogo de Dados. Ali, sintonia total com o mundo infantil. O cão é uma brincadeira vocal muito bem feita. Aumente o som e prepare-se para estalar os dedos. A bossa de Carlos Careqa dá um charme ao poema do médico (dou-do). A Casa da Avó ficou balançante como neto solto no mimo e Chico César arrebenta na Hora do Banho, outra canção íntima das certezas infantis.

Espero que a sua curiosidade desperte a vontade de conhecer estas obras. Não tenha medo de discordar da minha modesta opinião. Eu também não concordo com muitas certezas que os especialistas pregam por aí. O importante é levar a literatura, a música e outras formas de cultura para casa. Fantasiar em família. Hatuna Matata.

Tino Freitas."

quinta-feira, 13 de março de 2008

Lágrimas com pontos e vírgulas

Queridos roedores,
Dia desses visitando o blog Ler pra Crescer capitaneado pela jornalista Cristiane Rogério, resolvi morder a isca que ela deixou, falando sobre um artigo publicado na revista em que trabalha. Fui à banca, comprei a revista e me identifiquei com o texto. A seguir, reproduzo com a autorização da Revista Crescer o artigo escrito pela atriz Denise Fraga e publicado na página 98 da citada revista, edição de fevereiro de 2008. Devo confessar que as questões levantadas no artigo não são de exclusividade da autora. Vivemos isto aqui em casa e quem sabe, também na casa de vocês. Me senti acolhida pelo texto de Denise Fraga. Espero que vocês também. O livro a que ela se refere é Peter Pan e Wendy e o livro que aparece na foto é a edição com texto integral publicada em 1999 pela Companhia das Letras com tradução de Hildegard Feist. Recentemente saiu uma edição pela editora Salamandra com tradução do texto integral feita por Ana Maria Machado. Acho que em qualquer uma das opções o leitor estará bem servido. Boa leitura. Hatuna Matata.

P.S. Os negritos e itálicos são por minha conta!!!

Lágrimas com pontos e vírgulas.

"Nós acreditamos que, formando bons leitores e bons escritores, formamos pessoas aptas a aprender o que quiserem." Foi com esta frase que a escola onde nossos filhos estu­dam ganhou a nossa matrícula. E, realmente, dão extremo valor à leitura. A maior par­te dos livros didáticos é de literatura e, na maioria das vezes, parte da lição de casa é ler algumas páginas do livro do momento. Nino não gosta de estudar, e declara isso a ple­nos pulmões. Desde a alfabetização, vive às turras com as impossíveis lições, os cader­nos de caligrafia, a necessidade absurda de letra maiúscula, ponto, vírgula e todas essas "coisas inúteis" que lhe parecem mais atrapalhar do que ajudar a comunicação humana. Bom malabarista, acaba de passar para o quinto ano. Para mim, a coisa mais difícil de ser mãe é perceber o limite em que ajudar atrapalha. O direito que nossos pequenos têm à vivência de frustrações, que muitas vezes lhes tiramos, na melhor das intenções. Tenho uma relação bem próxima com a orientadora da escola, e vínhamos conversando a respeito desse limite. Em casa, fazíamos pequenos tratos, tipo "as duas últimas pági­nas eu leio pra você", e, numa dessas, acabei lendo um pedaço de Peter Pan e Wendy, de J. M. Barrie, um dos livros trabalhados. Coloquei-o na cama e segui para o meu quarto, ansiosa por acabar o capítulo. "Meu Deus, que absurdo, coitadinho, é muito difícil!" O livro do J. M. Barrie é realmente sofisticado pra se ler aos 9 anos. Sensível, metafórico, psicológico. E, no meio de uma crise, em que não nos dávamos conta de pontos finais, letras maiúsculas e tabuada, foi a gota d'água. No dia seguinte, um pouco envergonha­da, mas cheia de intenção de proteção, liguei pra escola. "Tudo bem, estamos juntos na luta, mas Peter Pan original é demais!" Minha observação foi assimilada com delicade­za pela orientadora, mas as páginas restantes precisariam ser lidas no prazo. Que jeito? Dia após dia, depois de muito nhenhenhem e força de vontade, Nino foi chegando ao fim das aventuras do menino que não queria crescer. Como prêmio, e num justo trato, ganhou a leitura do último capítulo inteiro pela mamãe. Sentei na cama e, ainda meio ligada nas últimas coisas do dia, um telefonema aqui, um e-mail acolá, iniciei buro­craticamente a leitura. O título do capitulo era "E Wendy cresceu". No meio de uma linha, o silêncio. "Que foi, mamãe?" Eu já não podia mais segurar. As lágrimas me vieram aos cântaros. Peter Pan e Wendy deveria ser lido por todos os pais e todos os filhos. Quando exatamente perdemos a capacidade de voar? Quando nossos filhos nos devolvem as fadas? Quando simplesmente nos resta observá-Ios em seu cami­nho para a Terra do Nunca? Quando viu minhas lágrimas, Nino também desabou no choro. O choro daquele livro inteiro. Da vida, das metáforas, que ele quase en­tendia, da dificuldade de crescer. Entendeu também que palavras, pontos e vírgulas podem virar lágrimas de emoção. E, como Wendy conversa com sua filha, falei ao meu pequeno das vantagens de ser grande. "Mas tem que trabalhar!", me disse, aos soluços. "É, tem que trabalhar, mas você pode dar a sorte de trabalhar em algo que goste de fazer." Acabamos dormindo abraçados depois de uma longa conversa e, no dia seguinte, liguei pra escola pra agradecer à orientadora pelo livro difícil.

Denise Fraga é atriz, apresento quadros no Fantástico, casado com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 10 anos, e Pedro, 8.

Página 98 Revista CRESCER FEVEREIRO 2008