Na manhã daquele 08 de novembro, Tino e eu estávamos em Porto Alegre, levando as idéias por trás dos Roedores de Livros para terras distantes e apurando a cabeça com as idéias de lá. Enquanto isso, Edna e Ilse, na compania dos nossos meninos "mais velhos", agora monitores, tocavam o projeto na Ceilândia. Antes da viagem, resolvemos deixar a programação livre, por conta dos Monitores e sob o olhar atento de Edna e Ilse. O grupo de monitores - informalmente formado por Samanta, Wesley e Layane, tendo o Daniel à frente - pensou numa manhã de recreações e jogos. Uma folga na mediação, embora a turma também fosse conviver com o livro. Da distante Porto Alegre, seguimos ansiosos por notícias. A seguir, transcrevemos o que a Edna relatou sobre aquele encontro.
A paisagem indicava que aquele seria mesmo um dia muito especial. Nosso projeto conta com 5 voluntários efetivos. Temos outros simpatizantes que, vez em quando, nos honram com suas presenças e colaborações. Neste sábado, 08 de novembro, nosso projeto funcionou com menos de cinqüenta por cento de seu efetivo (apenas Ilse e eu). Tino e Ana Paula estão fora, representando os Roedores de Livro na Feira do Livro de Porto Alegre (RS) e o Célio cumpria obrigações do seu trabalho. Enquanto isso, nosso pátio estava lindamente florido. com a presença de nossas crianças e com os pequeninos da creche
Na semana anterior havíamos combinado com o Daniel, nosso monitor, para dirigir as atividades do projeto nesta semana. Ilse e eu acompanhamos tudo meio que à distância, mas sempre atentas para intervir no caso de qualquer eventualidade pois lidar com crianças requer atenção. Muita atenção. Qualquer movimento "fora do planejado" pode ser o indício de algo importante.
Já foi dito neste blog que, a cada semana, lidamos também com o imprevisto, o inesperado. Por vezes, a surpresa é agradável (quando acompanhamos o desenvolvimento da turma na leitura, nos sentidos atentos que adivinham o desenrolar da história, por exemplo).
E o inesperado, naquela manhã linda, aconteceu. Numas das brincadeiras escolhidas pelos monitores, precisamos, em estado de emergência, lidar com as emoções de uma criança que não soube perder. Ao final da "dança das cadeiras", ao ser vencido, a criança explodiu em emoções: gritou, chorou e esperneou. Todo mundo parou e ficou olhando aquela reação. Deixei Ilse e Daniel tocando o projeto e levei a criança à biblioteca para uma conversa.
No iníco, quanto mais eu conversava, mais a criança chorava alto e gritava. Gritos e choros que chegaram até a sala da psicopedagoga da Creche que, naquele dia, excepcionalmente, estava de plantão. Prontamente, ela veio em nosso socorro. Dali em diante, ficamos os três num longo bate papo até que a criança se acalmou e teve condições de voltar para casa em paz. Além de lidar com as ferramentas para que as crianças possam descobrir o prazer da leitura, por vezes, temos que oferecer o ombro, os ouvidos, a paciência e um amor - que às vezes nem sabemos de onde tiramos - para que "nossas" crianças percebam que além de um ambiente de livros e leituras, ali, a cada manhã de sábado, elas se encontram com um ambiente repleto de amigos.
Pois, é... Depois do que a Edna nos relatou, pensamos que talvez a tal criança desistisse do projeto. Esta é sempre a opção mais fácil: ou a gente desiste da criança ou a criança desiste da gente. Mas no encontro seguinte lá estava ela. Como se nada tivesse acontecido. Para a felicidade de todos.
Nunca é fácil ou simples. Não se trata de somente reunir um grupo de crianças, escolher histórias e fazer a mediação. É preciso, antes de tudo, amor pelas crianças. Com esse amor, a gente segue aprendendo - como uma mãe de primeira viagem - a cuidar melhor dos nossos "filhos". Pelo menos, por aqui, a gente TENTA!!! Hatuna Matata!!!
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