sexta-feira, 25 de março de 2011
Há vagas...
A proposta era pescar leitores pelo olhar. Para tanto, nos cercamos de saborosas iscas: livros pop up como A Girafa que Cacarejava, O Porco Narigudo, O Pinguim Preocupado, O Ursinho Apavorado e O Sapo Bocarrão (todos do Keith Faulkner e Jonathan Lambert, publicados pela Cia das Letras). A cada figura que "saltava do livro" um feirante espiava lá de longe, uma criança sentava no tapete e a gente seguia com a pescaria.
No meio de tanta criança que frequentou o projetono ano passado encontramos novos leitores. Então, depois das histórias ali no pátio do primeiro andar, subimos para a torre A para apresentarmos a sede para quem ainda não conhecia. Como cicerones, Ana Paula, Celio, Clara e Edna (além das visitas ilustres da Marcela, Jaqueline e meu pai, Francisco, que veio passar uns dias por essas terras).
Entre os novatos, um garoto com um entusiasmo que eu não via há muito. Quando a gente encontra uma "peça rara" dessas, percebemos que há um terreno fértil para que a literatura plante sua semente modificadora do homem. Foi unânime. Nos apaixonamos pelo garoto. E ele, nitidamente, ficou louco pelo universo que descobriu naquela manhã. Aí vem a parte incrível da história.
Quem trabalha com crianças sabe que precisa ter tudo documentado, autorização dos pais, permissão para uso da imagem, uma regra aqui, outra ali, pois é preciso muita responsabilidade. Para participar do Roedores de Livros, efetivamente, é preciso que os pais ou responsáveis preencham e assinem uma ficha. Ao saber disso, nosso garoto de ouro saltitou, pegou o panfleto de divulgação (com tudo explicado) disse - Vou Chamar a minha mãe - e desceu quatro lances de escada para convidá-la, no térreo. Queria que ela assinasse tudo ainda naquela manhã.
A partir daí, o que se sucedeu foi um embate entre a vontade de um e a preguiça do outro.
Na primeira vez, o garoto retornou com a resposta da mãe: - Ela disse que não dá porque é longe! (2 andares subindo de escada).
Depois, subiu triste, dizendo: - Ela disse que não dá porque astá ocupada!
Ana Paula enviou o formulário por ele e disse: - Entregue a ela, peça para preencher e trazer aqui os documentos na semana que vem. Diga ainda que é de graça. Esperamos você no próximo sábado, heim?
Por fim, radiante ao saber que era de graça e que ainda havia como participar, o menino desceu a escada saltitante prometendo voltar na semana seguinte.
Ainda esperamos por ele. E por novos participantes.
Há vagas.
À tarde, os marmanjos da foto acima se reuniram para o primeiro encontro na oficina proposta por Clara Etiene. Uma saborosa degustação literária que culminou com uma produção de mini-contos a partir da leitura de trechos do livro ESTORIAS MÍNIMAS, maravilhosa seleção de mini-contos de José Rezende Jr. Em breve, mais, muito mais para vocês. Hatuna Matata!!!
Recomeçando - Roedores de Livros 2011
sexta-feira, 18 de março de 2011
Acordei Roedora de Livros
No início do ano passado, quando os Roedores de Livros vieram para o Shopping Popular de Ceilândia, o espaço que seria ocupado por eles na manhã de sábado, à tarde ficaria livre para que eu iniciasse uma nova experiência. Sou professora de literatura e há dois anos deixei as salas de aula para trabalhar em um órgão de pesquisas, portanto, sentia falta de um espaço para dialogar sobre literatura e acima de tudo, sentia falta dos leitores.
Durante alguns anos na Universidade de Brasília participei de um Grupo de Pesquisa cujo principal foco era a Formação de Leitores, e a leitura, que sempre teve um lugar especial na minha vida, tornou-se foco de muitos estudos e tema do meu doutorado. Mas, foi no ano passado, aos sábados à tarde que vivenciei uma experiência cheia de boas surpresas. Já que os Roedores de Livros recebiam as crianças pela manhã, me atrevi a abrir as portas para receber os adolescentes, jovens e adultos no período da tarde.
Levei revistas, Best Sellers, Gibis, Postais e tudo que pudesse fazer parte do universo de interesse dos adultos para começar minha estratégia de sedução leitora. O objetivo era atraí-los para o texto e incentivá-los a escrever a partir dessa leitura. Logo percebi que as pessoas vão se distanciando do mundo da palavra ao longo dos anos e quando adultos entendem, equivocadamente, que o mundo dos livros e da leitura não faz parte de suas vidas. Então, as pessoas apareciam e sumiam com a desculpa “Isso não é para mim...”.
Um grupo de quatro adolescentes frequentou mais os encontros, mas foi uma mulher de aproximadamente 35 anos que um dia chegou ao local dos encontros me dizendo que adorava escrever e que precisava de ajuda. Deu-se o implacável destino. Ao longo de vários meses a Hosana, feirante do Shopping Popular, veio ao me encontrar aos sábados à tarde para aprender a compor histórias e o único empurrãozinho que eu precisei dar foi mostrar que só quem lê bem consegue melhorar sua produção escrita. Ela aprendeu rápido, reescreveu toda a história que ainda está sendo gestada, de forma mais organizada e apropriando-se de vários recursos narrativos. O método que eu apresentava sempre era a leitura de algumas obras, como contos, fábulas e romances. Líamos e relíamos, sobretudo, o que a Hosana escrevia e ela melhorava os seus textos a cada sábado.
No último encontro de 2010, Hosana foi uma das estrelas que brilhou. Na nossa programação de encerramento lemos para as crianças uma história escrita por ela: “Meu primeiro beijo”. Fizemos o lançamento do "livro" com direito a pose para fotos, autógrafos e abraço dos amigos. Depois daquele ano de trabalho aos sábado à tarde, a alegria da Hosana foi apenas um dos presentes que eu recebi, porque foi nesse mesmo evento que a Ana Paula, Edna, Celio e Tino me intimaram e eu logo aceitei a compor oficialmente o grupo dos Roedores de Livros.
A Hosana é para nós dos Roedores a prova de que sempre há alguém sedento esperando por algo que temos guardado misteriosamente.
Parece sonho...
sexta-feira, 11 de março de 2011
Uma pausa, uma festa, vários sonhos
Enquanto Ana Paula, Edna e Célio organizavam as coisas na Torre A (nossa Toca), eu entretia a garotada no pátio central do shopping, com um punhado de canções que, juntos, fizemos soar pelos corredores. A cantoria seguiu até que foi dado o "ok" para subirmos à sede. Ao chegarmos, encontramos a escritora Alessandra Roscoe a postos para oferecer suas histórias ao nosso grupo. Alessandra é uma amiga querida e parceira dos Roedores de Livros. Sempre que precisamos (e até quando não precisamos) ela se coloca à disposição. No repertório daquela manhã, Alessandra apresentou seus livros O Jardim Encantado, O Jacaré Bilé e A Fada Emburrada (que fez um sucessão por lá). Depois de tanta história, ela ainda presenteou o grupo com alguns de seus livros e difícil foi organizar a fila dos autógrafos. A garotada adorou!!!
Durante a programação, fizemos o lançamento do Meu Primeiro Beijo, livro artesanal a partir de uma história escrita por Hosana da Paz Santos, a partir da sua vivência no curso de produção de textos ministrado por Clara Etiene, ali mesmo na Toca, nas tardes de sábado.
Difícil saber quem estava mais feliz. Professora e pupila estampavam nos sorrisos o orgulho de uma conquista ímpar. Essa história merece um post exclusivo que a Clara escreverá em breve, compartilhando conosco a transformação que a literatura promoveu na vida de Hosana - e de Clara também, é claro. O fato é que naquela manhã de sábado, Clara leu a história de Hosana para todos, crianças e adultos que, ao final, responderam com aplausos. Ora, vivas. Hosana!
Pausa para o lanche. E que lanche. Bolo e salgados e refris. Todo mundo se esbaldou. Mas a festa ainda reservava uma surpresa para todos.
Descemos as escadas de volta ao pátio central do shopping ao som de músicas natalinas cantadas pelo CORAL ANTÔNIO SARAZATE que gentilmente aceitou nosso convite e nos presenteou com seu repertório que soltou a emoção de todos que ali passavam - e não só das crianças. O espírito do Natal pairou sobre nós e nos encheu de esperança. Foi emocionante.
Depois de muitas canções, aplausos e sorrisos, chegou a hora de agradecer aos administradores do Shopping Popular da Ceilândia pelo espaço cedido ao projeto. Na foto abaixo, retratamos parte das pessoas que fizeram a história do Roedores de Livros naquela manhã e durante todo o ano de 2010. A vocês, mais uma vez, nosso MUITO OBRIGADO.
De volta à Toca, findada a festa, já sem as crianças e os convidados, nós ainda tínhamos uma última surpresa para findar o ano: Ana Paula, Célio, Edna e eu fizemos o convite oficial - aceito de pronto - para que Clara Etiene passasse a integrar, de fato, o nosso grupo.
E com a foto acima, tirada ao meio-dia do dia 11 de dezembro, ao lado da placa recém instalada na porta da sede do projeto Roedores de Livros, encerramos as atividades em 2010. Uma pausa para renovarmos as forças e para que, em 2011, possamos continuar a semear novos leitores. Hatuna Matata!!!
Livro é sempre bem-vindo por aqui...
quinta-feira, 10 de março de 2011
Foi assim em novembro de 2010.
Dia 20, Ana Paula trouxe folhetos de Cordel para as crianças conhecerem. E eles não se fizeram de rogados. Beberam da fonte para depois conhecer como a literatura de Cordel revive, agora, em livros muito bem produzidos.
Dia 27 foi reservado para a leitura de livros sem texto. Conversamos antes sobre as formas diferentes de leitura até que todos não sentissem falta das palavras impressas. Foi muito bacana ver as imagens ganhando o verbo da garotada, incitadas a contarem a história, como aconteceu na leitura de MUNDO CÃO (Silvana de Menezes, Abacatte), um dos escolhidos para a mediação daquela manhã. E assim, novembro passou quase num sopro. Hatuna Matata!!!
Foi assim em outubro de 2010.
- Olha só, eu gostei demais desse poema!
E leu um. Depois outro. Mais outro.
Foi lindo de ver a menina descobrindo a poesia. Depois, clicamos a mesma Isabela, num cantinho da sala de leitura, concentrada na leitura de MARGARIDA (Abacatte), mais um livro do André Neves. Naquele dia, saímos com a certeza de que o escritor e ilustrador pernambucano ganhou uma fã e a Poesia, mais uma leitora. Voltamos para casa mais que felizes!
09 de outrubro, outra bela surpresa. Recebemos a visita do Jaderson (blusa vermelha) e do Wendel. Dois integrantes do projeto quando esse acontecia na Pró-Gente e na Creche Comunitária da Criança, entre 2007-2009. Eles souberam da nova sede e - apesar da distância - apareceram por lá para matar a saudade (nossa, também). Brincaram com as crianças, lembraram de velhas leituras e compartilharam do nosso lanche e da companhia. Aprendemos muito com eles. Bom saber que também ficamos impressos em seus corações. Aqui, não buscamos apenas conquistar leitores. Fazemos amigos. Ah, foi demais!!!
Dia 16, a toca recebeu a visita da professora Marlúcia, que soube do projeto e resolveu descobrir um pouco mais do que estava escrito no blog. Ana Paula leu PARA ONDE PULOU A PULGA (Hebe Coimbra, il. Graça Lima, Manati) e a brincadeira com palavras com a letra "P" conquista sorrisos e olhares atentos da garotada, acompanhados bem de perto pela professora.
Quantas histórias tem dentro de uma história? Esse foi o tema do dia 23. Para a leitura, Ana Paula escolheu CHAMUSCOU NÃO QUEIMOU (Angela Carneiro, Lia Neiva e Sylvia Orthof, il. Roger Mello, Elisabeth Teixeira e Mariana Massarani, Ediouro). E o Vitor correu para dentro do livro de tão gostoso que ele estava.
Por fim, no dia 30, Ana Paula mediou a leitura de um dos sucessos dessa temporada: o livro DIA DE SOL (Jujuba) do querido Renato Moriconi. Uma união perfeita entre texto e ilustrações ao alcance do olhar infantil. Durante sua leitura, as crianças foram se aproximando e participando da leitura. Interatividade com felicidade. Tudo combinando para o ótimo dia de sol que fazia lá fora. Hatuna Matata!!!
Foi assim em setembro de 2010.
Dia 11 de setembro, a toca recebeu a visita do querido escritor (de chapéu, destacando João Bosco Bezerra BomfimO SOLDADINHO DE CHUMBO EM CORDEL, de sua autoria (il. Laerte Silvino, Editora Prumo). Ali, apresentamos o espaço, explicamos o funcionamento do projeto e conversamos bastante sobre os caminhos da literatura infantil no Distrito Federal. Obrigado, querido. Venha sempre que quiser. A toca também é sua casa.
Por fim, às vésperas do lançamento do CONTROLE REMOTO (il. Mariana Massarani, Editora Manati) apresentamos o livro para as crianças do projeto. Foi divertidíssimo. E cada criança quis dar seu pitaco sobre o que faria se tivesse um controle daquele em suas mãos. Hatuna Matata!!!
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
A criança tratada como um ser pensante!
sábado, 19 de fevereiro de 2011
O Baile do Jonas
Na sexta passada, dancei com caveiras no meio da tarde em pleno shopping center. E, se o tema parece assustador, garanto que me diverti bastante com a “performance” dos Djs – oops, autores – responsáveis pelo meu par: o livro O BAILE DAS CAVEIRAS: Jonas Ribeiro e Cris Alhadeff (Franco Editora). É certo que já dancei bastante – literalmente - ao lado dessa turma animada da Literatura Infantil. Mas uma das performances literais e inesquecíveis (há várias, acredite) foi a de Jonas, como cover de Sidney Magal num certo sarau, anos atrás.
Se você ainda não viu Jonas Ribeiro contando histórias (em que, por vezes, ele também dança) não sabe o que perdeu. Mas perdeu. Ele é um verdadeiro menestrel. Essa sua principal natureza, entre outras que carrega consigo. Ritmo, gestos, entonação, a pausa na hora certa para esperar o riso ou provocar o suspense, para arrancar o susto do fundo do peito do espectador. E não é só das crianças. Já o vi encantar uma centena de adultos ao interpretar, de cara limpa, O BORDADO ENCANTADO de Edmir Perrotti (ilustrado por Helena Alexandrino, Paulinas) – aliás, um livraço!!!
Jonas é, além de tudo, um homem generoso. Espelha isso em seus abraços e em suas ações: em nosso encontro mais recente, participando do projeto Grava Livro Aêh, em Porto Alegre (foto acima), ainda de mochila nas costas, Jonas não resistiu às crianças sentadas em frente ao ônibus-estúdio e tagarelou alguns travalínguas impossíveis que deixaram todos ainda mais felizes.
Em O BAILE DAS CAVEIRAS, Jonas escreve como quem conta uma boa históra. Labareda – o cão da família de Thiago (o menino-narrador da história) – não largou o osso, e eu não larguei o livro até chegar ao final. Nele encontrei os elementos para uma divertida história de terror: uma avó à beira da morte, a própria Morte, um cemitério, esqueletos, uma caixa misteriosa, gritos e Sidney Magal (???). A narrativa parece, mas não é linear. E esse jogo (em que o autor conta a mesma história por ângulos diferentes) dá um sabor especial ao texto.
Apesar do tema sombrio, as ilustrações de Cris Alhadeff mostram, já na capa, que há mais que suspense no livro de Jonas. Há sorrisos aqui e ali. Despertos pelo repertório de truques do contador de histórias. Gostei muito das ilustrações e gostaria até de dizer mais. Mas prefiro deixar o leitor brincar com elas sem saber aonde vai dar a viagem. Se não o fizer assim, posso ficar como o Zé Fuxico, desacreditado por toda a cidade, mesmo depois de ver o que viu. Só posso dizer que estou feliz com mais um livro de Jonas que não vai descansar na estante. Só peço a ele que avise quando for contar essa história por aqui, pois gostaria de vê-lo sacudindo os ossos, os juízos (poucos) e os sorrisos (muitos) das crianças. Hatuna Matata!!!
P.S. O livro saiu agorinha do forno e, talvez por isso, não o encontrei disponível nas livrarias virtuais para linká-lo nesse post. Mas vale a pena cobrar e/ou esperar um pouquinho para bailar com Jonas, Cris e suas caveiras.