Para encerrar as postagens sobre a 1ª FLIPIRI (Festa Literária de Pirenópolis), que aconteceu entre os dias 12 e 14 de fevereiro, gostaria de escrever sobre um acontecimento e uma esperança.
O ACONTECIMENTO:
Entre as programações da 1ª FLIPIRI, estava a visita de escritores a algumas escolas da região. Numa destas visitas, o escritor Marco Miranda (autor dos ótimos livros O Paradeiro do Padeiro e A Menina que Queria ser Gambá) foi surpreendido com o poema escrito por Lucas Henrique, aluno da rede pública de ensino.
Rico em rimas e realidade, o poema – lido em sala de aula pelo aluno – revela a vida simples do menino e sua família: a casa humilde, as roupas sem nenhum luxo, as dificuldades da família regida pelo pai agricultor. Mas a vida do menino não é feita só de agruras. Superando todas as dificuldades, Lucas nos revela o que move sua esperança por dias melhores: a força da união familiar, o amor farto e incondicional que encontra em casa.
Marco Miranda, emocionado com o que ouviu, usou da sua sensibilidade para convidar o menino a participar das atividades da Festa Literária ao final da tarde do sábado, apresentando seu poema ao público presente à Casa de Câmara e Cadeia.
Ao chegar ao local, acompanhado do pai e do irmão, Lucas foi apresentado aos autores que queriam ouví-lo recitar antes da apresentação oficial. O pai, ficou no pátio externo – orgulhoso da notoriedade do filho, mas talvez envergonhado da sua condição simples. O irmão mais novo seguia Lucas por todos os corredores.
O escritor Hermes Bernardi Jr. – a exemplo do que aconteceu com Marco – ficou emocionadíssimo ao ver o menino poeta. Ouviu atentamente o poema, conversou com Lucas e depois ofereceu e autografou um dos seus livros para o garoto. Um pouco nervoso com a exposição pública, Lucas só relaxou quando o irmão mais novo – sem esconder o sorriso e o orgulho - bateu em suas costas e disse: “- Aê, Lucas. Ganhou um livro autografado. Massa, heim?!”
No final da tarde, o poema foi lido pelo autor para um público atento e igualmente emocionado. Aplausos ecoaram na sala e nos corações do todos. Lucas voltou para sua casa simples, para suas roupas sem nenhum luxo e para sua família repleta de amor. E é a partir deste ponto que destaco o outro tópico deste post: A ESPERANÇA.
Em nossa conversa com Lucas, o menino disse que gosta muito de ler, que já leu tudo o que podia na sua escola e que gostaria de ter mais livros ao alcance dos olhos. Nós e alguns escritores presentes prometemos enviar alguns livros para a sua casa, num sitio na periferia da cidade. Mas o que fazer com as outras crianças?
Uma Festa Literária numa cidade turística tem o poder de encher suas pousadas e movimentar o mercado local (Pirenópolis fica a pouco mais de 100Km de Brasília e Goiânia). Mas é de suma importância que as ações políticas do evento possam ultrapassar os limites dos três dias de festa.
Conversamos com o Secretário de Cultura da cidade, Gedson de Oliveira, e percebemos um interesse real de transformação. A integração com a distribuidora de livros Arco Íris (de Brasília) e as prefeitura de Pirenópolis, com a atuação da secretaria de Gedson, e as de Turismo e Educação ajudaram a fazer milagres neste primeiro evento. Tudo organizado com parcos recursos, alguns voluntários e muita boa vontade.
A próxima FLIPIRI está marcada para março de 2010. A esperança da qual escrevo aqui, é a de que possamos reencontrar Lucas Henrique e seus poemas por lá. Mas será ótimo encontrar também outros alunos apaixonados por livros, outras crianças embaladas por ótimas histórias, mais livros nas escolas, mais professores capacitados a lidar com literatura, mais pessoas da cidade participando da 2ª FLIPIRI.
Acreditamos que a prefeitura local e o Governo de Goiás possam trabalhar ainda mais lado a lado com pessoas que somam neste mundo do livro (como Íris Borges, que fez a mágica de brotar este primeiro evento) e desenvolver ações em torno do livro durante todo este ano para que a 2ª FLIPIRI seja mais rica também em participação popular.
Não podemos esquecer, como escreveu Ignácio de Loyola Brandão em sua coluna no Estadão, que o essencial destes eventos literários é “a tentativa de estabelecer o hábito da leitura, a formação do leitor que, uma vez capturado, jamais deixará de ler”. O povo de Pirenópolis está com a faca e o queijo nas mãos. Em terras goianas, isso pode significar um leque rico em sabores. Os Roedores de Livros já estão com água na boca para desfrutar do banquete do ano que vem. Hatuna Matata.
Legenda das fotos:
01 - Marco Miranda visita escola do município;
02 - O menino Lucas Henrique lê seu poema para Hermes Bernardi Jr.;
03 - Hermes presenteia o jovem poeta com seu livro Casa Botão;
04 - Lucas lê para público da 1ª FLIPIRI;
05 - Íris Borges e Ana Paula em papo informal na Casa de Câmara e Cadeia;
06 - Hermes e Ana Paula... o resto da legenda está na própria foto;
07 - Descontração no almoço: Lucília Garcez, Íris Borges, Jonas Ribeiro, Ana Paula, Hermes Bernardi Jr. e o pé de Marco Miranda;
08 - Autores e amigos presentes à 1ª FLIPIRI;
09 - Eu e Ana Paula tendo como fundo o acervo da I Maratona Fotográfica de Pirenópolis, exposta na sala de espera do CINE PIRENEUS.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Lilli, lilli, lilli... bzbzzzzzzzzzzz... LILLIPUTZ!!!
Não é novidade por aqui o fato de gostarmos MUITO dos livros de Hermes Bernardi Junior. O gaúcho escreve como se futricasse lá dentro do leitor. Acarinha, belisca, faz cócegas e a gente sai diferente das saus páginas. Mas, como já disse, gostar dos livros de Hermes não é novidade. Mas na 1ª Flipiri (Festa Literária de Pirenópolis) descobrimos o Hermes CONTADOR DE HISTÓRIAS, assim mesmo, em maiúsculas.
Sua apresentação na Casa de Câmara e Cadeia na tarde de sábado, 14 de fevereiro, coroou uma mini turnê que percorreu escolas e os saraus na pousada Casa Grande. O hit foi sua performance ao narrar LILLIPUT DE SORVETE E CHOCOLATE, livro que publicou em 2003, e que se encontra esgotado.
A história do menino que não conseguia se expressar e se apequenava - ou lilliputizava (termo que dominou as brincadeiras entre os participantes da feira) - diante de situações em que se sentia incomodado, lembra o livro Raul da Ferrugem Azul, clássico de Ana Maria Machado, mas recorre para ações feitas sob medida para uma contação de histórias rica em gestos e palavras mágicas. Hermes domina o olhar do público com sutis trocas de personagens, entonações diversas e bem colocadas, tudo com um estudado trabalho corporal. Encantador.
A frase "lilli, lilli, lilli, bzbzzzzzzzzz, lilliputzzzzzzzzz" colou na boca de quem assistiu às performances de Hermes naquele final de semana e os aplausos caíram sobre ele como a água cai das cachoeiras de Pirenópolis: abundantes e refrescantes. Depois, o ator-escritor apresentou seu livro mais recente E UM RINOCERONTE DOBRADO (ilustrações de Guto Lins, Projeto) e desdobrou o Rino (que havia sido desdobrado a primeira vez no salão da FNLIJ de 2008) para que os presentes pudessem deixar poemas e recados na sua "pele". Nosso recado está lá, ao lado de dois ratinhos desenhados pela Ana Paula (que diz que eu sou o mais gordinho).
Nós esperamos que Lilliput de Sorvete e Chocolate volte às livrarias em breve. Impacientes, eu e Ana Paula, procuramos a primeira edição nos sebos. Estamos certos de que nossos Roedores de Livros da Ceilândia vão adorar os sabores desta história. Delícias de Hermes Bernardi Junior, que se mostrou um gigante também na arte de contar histórias. Queremos mais. Hatuna Matata!
Sua apresentação na Casa de Câmara e Cadeia na tarde de sábado, 14 de fevereiro, coroou uma mini turnê que percorreu escolas e os saraus na pousada Casa Grande. O hit foi sua performance ao narrar LILLIPUT DE SORVETE E CHOCOLATE, livro que publicou em 2003, e que se encontra esgotado.
A história do menino que não conseguia se expressar e se apequenava - ou lilliputizava (termo que dominou as brincadeiras entre os participantes da feira) - diante de situações em que se sentia incomodado, lembra o livro Raul da Ferrugem Azul, clássico de Ana Maria Machado, mas recorre para ações feitas sob medida para uma contação de histórias rica em gestos e palavras mágicas. Hermes domina o olhar do público com sutis trocas de personagens, entonações diversas e bem colocadas, tudo com um estudado trabalho corporal. Encantador.
A frase "lilli, lilli, lilli, bzbzzzzzzzzz, lilliputzzzzzzzzz" colou na boca de quem assistiu às performances de Hermes naquele final de semana e os aplausos caíram sobre ele como a água cai das cachoeiras de Pirenópolis: abundantes e refrescantes. Depois, o ator-escritor apresentou seu livro mais recente E UM RINOCERONTE DOBRADO (ilustrações de Guto Lins, Projeto) e desdobrou o Rino (que havia sido desdobrado a primeira vez no salão da FNLIJ de 2008) para que os presentes pudessem deixar poemas e recados na sua "pele". Nosso recado está lá, ao lado de dois ratinhos desenhados pela Ana Paula (que diz que eu sou o mais gordinho).
Nós esperamos que Lilliput de Sorvete e Chocolate volte às livrarias em breve. Impacientes, eu e Ana Paula, procuramos a primeira edição nos sebos. Estamos certos de que nossos Roedores de Livros da Ceilândia vão adorar os sabores desta história. Delícias de Hermes Bernardi Junior, que se mostrou um gigante também na arte de contar histórias. Queremos mais. Hatuna Matata!
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Mais que as palavras.
Ontem fui à livraria escolher entre dois infantos estrangeiros para exercitar o meu inglês macarrônico e a curiosidade acerca de novos projetos. Voltei para casa com um nacional de primeira grandeza, que eu nem sabia da existência mas, que me fez esquecer o motivo pelo qual entrei tão determinado (?!) na loja. Confesso que fiquei refém das suas sutilezas. Primeiro, a capa me chamou a atenção. Me convidou para entrar. Depois, folheando suas 200 páginas, fui atraído por seu projeto gráfico singular. A história me pegou pelo pé e eu investi trinta dinheiros em Chuva de Letras (Luis Alberto Brandão, Scipione). Não me arrependi nem um pouquinho. Cheguei em casa e o deixei na mesa de centro esperando por mim. Tinha que sair para trabalhar e voltaria umas 10 da noite. Foi só isso que ele esperou. As escolas de samba desfilaram na TV por uns cinco minutos. Depois, desliguei o aparelho e me aconcheguei no sofá para conhecer a história de Nelson.
Não sei o que aconteceu no mundo naqueles poucos minutos. Digo poucos, por que nem vi o tempo passar. O tempo em Chuva de Letras deve ser medido em intensidade e não em minutos. As páginas passam rápidas e a história mexe com a gente. Nelson é um adolescente que vive, ou melhor, mora, digo, dorme num barraco de um cômodo, numa favela de um morro qualquer. Sai de casa ainda pela manhã para trabalhar e só volta – exausto – depois da aula, no período noturno. A solidão é sua companheira. Quase não encontra a sua mãe, com quem divide o barraco e as dificuldades. Ela chega do trabalho ao raiar do dia e geralmente se encontram apenas para uma conversa rápida enquanto tomam café.
Numa madrugada chuvosa, Nelson acorda com a TV ligada, num canal fora do ar. Chove fora e dentro do barraco. O chuvisco em preto e branco da TV ilumina o interior do barraco e intriga o rapaz: “Como é que pode esse chuvisco de luz, se a Televisão está estragada, e o morro, sem energia elétrica?”. De repente, surgem algumas letras na tela da tv, no meio do chuvisco. O que será isso? Pronto, a primeira mensagem foi escrita e percebida por Nelson. A partir daí começa uma comunicação entre o rapaz e o “ser” que escreve através da TV quebrada. Nelson também começa a escrever. Precisa desabafar. Contar para alguém sua experiência paranormal. A agenda é a sua companheira de confissão. O mistério continua. Quem é o interlocutor? De onde vem? O que quer? Nelson já não é o único a querer desvendar o mistério. O leitor já foi fisgado pelo enredo. E precisa urgentemente alcançar o final. Nelson nunca mais será o mesmo.
A história de Luis Alberto Brandão fica ainda melhor graças ao projeto gráfico assinado por Marisa Iniesta Martin. E não estou falando da maravilhosa capa em altorrelevo (nova ortografia) onde inicialmente se reconhece apenas uma gigantesca letra “L” e um “n” menor, alem do nome do autor e da editora. Um pouco mais de atenção e percebe-se o título e os “pingos da chuva”. Mas, como eu disse, não é a capa o principal trunfo do projeto gráfico. Para um bom roedor de livros, seu recheio é ainda mais saboroso. O conceito visual para a “chuva de letras” na tela da TV, apresentado sempre na folha à esquerda do leitor, ora aproximando ora distanciando as “barras” (/) que imitam os pingos da chuva, é excepcional. O diálogo se dá ao intercalar a chuva com um texto que é quase um desenho, ocupando página inteira às vezes apenas com uma frase no canto superior. Genial! Genial!! Genial!!!
Até a foto que estampa a guarda do livro é espetacular. Retrata uma favela no morro. Oferece beleza e incômodo ao leitor. Poesia visual? Literatura visual? Tudo junto? Não sei o que é. Deixo esta definição para os teóricos. O que sei é que a história é contada usando muito mais que os significados usuais que damos às palavras. É como um show de mímica onde sabemos tudo o que o ator quer dizer sem que o som chegue aos nossos ouvidos. As palavras já estão dentro da gente esperando outra forma de comunicação. Luis Alberto Brandão descobriu um jeito diferente de nos contar a sua ótima história. Muito mais que as palavras. Difícil sair impune depois de mergulhar na sua Chuva de Letras. Nelson não saiu. Eu não saí. Provavelmente, se aceitar meu convite para esta leitura, você não sairá. Hatuna Matata.
P.S. 01 – Quase ia me esquecendo: O livro foi vencedor do Prêmio Nacional de Literatura Infantil João-de-Barro 2007, por unanimidade, no júri formado por estudantes de escolas públicas mineiras.
P.S. 02 – As editoras brasileiras têm produzidos alguns livros em que o projeto gráfico inova na forma de apresentar o texto, como acontece em CHUVA DE LETRAS. Aqui no blog dos Roedores de Livros já citamos alguns exemplos desta safra como A ÚLTIMA GUERRA e TODOS CONTRA DANTE.
P.S. 03 – Ah… os livros estrangeiros que perderam a vez para Chuva de Letras? The Graveyard Book (Neil Gaiman) e The 39 Clues - The Maze of Bones, Book 01 (Rick Riordan). Você ainda vai ouvir falar deles.
Não sei o que aconteceu no mundo naqueles poucos minutos. Digo poucos, por que nem vi o tempo passar. O tempo em Chuva de Letras deve ser medido em intensidade e não em minutos. As páginas passam rápidas e a história mexe com a gente. Nelson é um adolescente que vive, ou melhor, mora, digo, dorme num barraco de um cômodo, numa favela de um morro qualquer. Sai de casa ainda pela manhã para trabalhar e só volta – exausto – depois da aula, no período noturno. A solidão é sua companheira. Quase não encontra a sua mãe, com quem divide o barraco e as dificuldades. Ela chega do trabalho ao raiar do dia e geralmente se encontram apenas para uma conversa rápida enquanto tomam café.
Numa madrugada chuvosa, Nelson acorda com a TV ligada, num canal fora do ar. Chove fora e dentro do barraco. O chuvisco em preto e branco da TV ilumina o interior do barraco e intriga o rapaz: “Como é que pode esse chuvisco de luz, se a Televisão está estragada, e o morro, sem energia elétrica?”. De repente, surgem algumas letras na tela da tv, no meio do chuvisco. O que será isso? Pronto, a primeira mensagem foi escrita e percebida por Nelson. A partir daí começa uma comunicação entre o rapaz e o “ser” que escreve através da TV quebrada. Nelson também começa a escrever. Precisa desabafar. Contar para alguém sua experiência paranormal. A agenda é a sua companheira de confissão. O mistério continua. Quem é o interlocutor? De onde vem? O que quer? Nelson já não é o único a querer desvendar o mistério. O leitor já foi fisgado pelo enredo. E precisa urgentemente alcançar o final. Nelson nunca mais será o mesmo.
A história de Luis Alberto Brandão fica ainda melhor graças ao projeto gráfico assinado por Marisa Iniesta Martin. E não estou falando da maravilhosa capa em altorrelevo (nova ortografia) onde inicialmente se reconhece apenas uma gigantesca letra “L” e um “n” menor, alem do nome do autor e da editora. Um pouco mais de atenção e percebe-se o título e os “pingos da chuva”. Mas, como eu disse, não é a capa o principal trunfo do projeto gráfico. Para um bom roedor de livros, seu recheio é ainda mais saboroso. O conceito visual para a “chuva de letras” na tela da TV, apresentado sempre na folha à esquerda do leitor, ora aproximando ora distanciando as “barras” (/) que imitam os pingos da chuva, é excepcional. O diálogo se dá ao intercalar a chuva com um texto que é quase um desenho, ocupando página inteira às vezes apenas com uma frase no canto superior. Genial! Genial!! Genial!!!
Até a foto que estampa a guarda do livro é espetacular. Retrata uma favela no morro. Oferece beleza e incômodo ao leitor. Poesia visual? Literatura visual? Tudo junto? Não sei o que é. Deixo esta definição para os teóricos. O que sei é que a história é contada usando muito mais que os significados usuais que damos às palavras. É como um show de mímica onde sabemos tudo o que o ator quer dizer sem que o som chegue aos nossos ouvidos. As palavras já estão dentro da gente esperando outra forma de comunicação. Luis Alberto Brandão descobriu um jeito diferente de nos contar a sua ótima história. Muito mais que as palavras. Difícil sair impune depois de mergulhar na sua Chuva de Letras. Nelson não saiu. Eu não saí. Provavelmente, se aceitar meu convite para esta leitura, você não sairá. Hatuna Matata.
P.S. 01 – Quase ia me esquecendo: O livro foi vencedor do Prêmio Nacional de Literatura Infantil João-de-Barro 2007, por unanimidade, no júri formado por estudantes de escolas públicas mineiras.
P.S. 02 – As editoras brasileiras têm produzidos alguns livros em que o projeto gráfico inova na forma de apresentar o texto, como acontece em CHUVA DE LETRAS. Aqui no blog dos Roedores de Livros já citamos alguns exemplos desta safra como A ÚLTIMA GUERRA e TODOS CONTRA DANTE.
P.S. 03 – Ah… os livros estrangeiros que perderam a vez para Chuva de Letras? The Graveyard Book (Neil Gaiman) e The 39 Clues - The Maze of Bones, Book 01 (Rick Riordan). Você ainda vai ouvir falar deles.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Conversas, canções e histórias!
O que acontece quando uma pousada inteira está cheia de escritores e a noite de uma sexta feira 13, com lua cheia, serve de inspiração? As histórias saltam do papel e ganham som e gestos. Foi assim na Pousada Casa Grande, no Centro histórico de Pirenópolis na semana passada. A programação da 1ª FLIPIRI (Festa Literária de Pirenópolis) havia se encerrado e a turma voltara do jantar e se aglomerava na pequena sala. Alessandra Roscoe embalava a turma com a bela canção inspirada no seu livro O Jacaré Bilé. Maria Célia leu uma história de Millôr Fernandes, do livro Fábulas Fabulosas. Outros participaram antes da nossa chegada.
O violão chegou às mãos de Tino que apresentou as suas músicas do Firimfimfoca entre outras canções. A platéia foi crescendo. Janelas e portas serviam de arquibancada para as apresentações. Jonas Ribeiro sacou a sua caixa de histórias e ao lado de Tino improvisou uma contação com efeitos sonoros. D-I-V-E-R-T-I-D-Í-S-S-I-M-O!!!
Clara Rosa (que ao lado de Alessandra e Célia participam do grupo Casa de Autores, de Brasília) contou a história que deu origem ao seu livro mais recente (O Sonho de Ser Grande) e, por fim, Hermes Bernardi Junior contou Lilliput de Sorvete e Chocolate encantando a todos com o seu enredo mágico (mas vamos escrever sobre isso em breve, noutro post).
Bateu a meia noite e ninguém virou abóbora. Alguns se recolheram mais cedo, pois tinham agenda na Festa Literária na manhã do dia seguinte. Outros, ficaram até mais tarde e as conversas, canções e histórias ganharam os ouvidos da noite encantada no interior de Goiás.
O violão chegou às mãos de Tino que apresentou as suas músicas do Firimfimfoca entre outras canções. A platéia foi crescendo. Janelas e portas serviam de arquibancada para as apresentações. Jonas Ribeiro sacou a sua caixa de histórias e ao lado de Tino improvisou uma contação com efeitos sonoros. D-I-V-E-R-T-I-D-Í-S-S-I-M-O!!!
Clara Rosa (que ao lado de Alessandra e Célia participam do grupo Casa de Autores, de Brasília) contou a história que deu origem ao seu livro mais recente (O Sonho de Ser Grande) e, por fim, Hermes Bernardi Junior contou Lilliput de Sorvete e Chocolate encantando a todos com o seu enredo mágico (mas vamos escrever sobre isso em breve, noutro post).
Bateu a meia noite e ninguém virou abóbora. Alguns se recolheram mais cedo, pois tinham agenda na Festa Literária na manhã do dia seguinte. Outros, ficaram até mais tarde e as conversas, canções e histórias ganharam os ouvidos da noite encantada no interior de Goiás.
Para encher os olhos de infância.
Associações, sociedades, grupamentos de artistas (em todas as áreas) não são fáceis de se administrar e muito menos de produzir algo relevante para o público em geral. Tudo costuma ficar recluso em discussões internas nas salas ou chats de reunião. Por isso é uma grata surpresa encontrar nas livrarias o catálogo ILUSTRADORES SIB - LITERATURA INFANTIL E JUVENIL (Vários autores, Editora 2AB), que oferece aos amantes e curiosos acerca do universo literário infantil um belo panorama do que tem sido o trabalho destes artistas em terras tupiniquins. SIB é a sigla para Sociedade dos Ilustradores do Brasil que possui no seu quadro cerca de 200 associados - não necessariamente trabalhando com a ilustração de livros para criança.
O presente catálogo engloba uma mostra da produção para o olhar infantil de 40 ilustradores. Cada um ganhou quatro páginas para apresentar uma coletânea dos seus trabalhos. Há sempre um texto bilíngue (português e inglês) apresentando o artista e algum contato virtual (site ou email). A apresentação do trabalho foi escrita por Odilon Moraes que - embora seja membro da SIB - não conta com seu trabalho ímpar exposto no livro. Ele ressalta a importância do trabalho de ilustradores na produção de livros infantis, seu crescimento em qualidade e identidade. Depois sai de cena para que o leitor seja brindado com aperitivos das obras de nomes já veteranos como Rui de Oliveira, outros não tão veteranos mas já com uma produção rica em números e prêmios como a divertidíssima (e talentosíssima) Suppa e outros tantos nomes.
Fiquei muito feliz de encontrar o trabalho de Daniel Diaz no catálogo. Ainda um "menino", ele é conterrâneo do Tino (cearenses) e desenvolve um trabalho belo e rico em cores e formas, desbravando o mercado a partir de terras alencarinas. Nos encontramos no Salão da FNLIJ de 2007 e desde então temos acompanhado sua evolução nos livros que alcançam a toca dos Reodores de Livros.
Outro talento que é muito querido por aqui e que não aparece com tanta frequência nos livros infantis é o Biry Sarkis. Seu trabalho está sempre encantando as páginas de revistas como a RECREIO. Ele tem um jeito particular de desenhar animais que ADORAMOS. VEJA AQUI os Roedores de Livros criados por ele.
Caso haja alguma dificuldade em encontrar o livro numa livraria perto da sua casa, você pode comprá-lo através do SITE DA SIB. Boa leitura a todos. That's all, folks.
O presente catálogo engloba uma mostra da produção para o olhar infantil de 40 ilustradores. Cada um ganhou quatro páginas para apresentar uma coletânea dos seus trabalhos. Há sempre um texto bilíngue (português e inglês) apresentando o artista e algum contato virtual (site ou email). A apresentação do trabalho foi escrita por Odilon Moraes que - embora seja membro da SIB - não conta com seu trabalho ímpar exposto no livro. Ele ressalta a importância do trabalho de ilustradores na produção de livros infantis, seu crescimento em qualidade e identidade. Depois sai de cena para que o leitor seja brindado com aperitivos das obras de nomes já veteranos como Rui de Oliveira, outros não tão veteranos mas já com uma produção rica em números e prêmios como a divertidíssima (e talentosíssima) Suppa e outros tantos nomes.
Fiquei muito feliz de encontrar o trabalho de Daniel Diaz no catálogo. Ainda um "menino", ele é conterrâneo do Tino (cearenses) e desenvolve um trabalho belo e rico em cores e formas, desbravando o mercado a partir de terras alencarinas. Nos encontramos no Salão da FNLIJ de 2007 e desde então temos acompanhado sua evolução nos livros que alcançam a toca dos Reodores de Livros.
Outro talento que é muito querido por aqui e que não aparece com tanta frequência nos livros infantis é o Biry Sarkis. Seu trabalho está sempre encantando as páginas de revistas como a RECREIO. Ele tem um jeito particular de desenhar animais que ADORAMOS. VEJA AQUI os Roedores de Livros criados por ele.
Caso haja alguma dificuldade em encontrar o livro numa livraria perto da sua casa, você pode comprá-lo através do SITE DA SIB. Boa leitura a todos. That's all, folks.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Um roedor foi o "culpado" de tudo...
Foi tudo “culpa” de um roedor. Explico:
Chegamos a Pirenópolis (GO) no início da noite de sexta passada. Sexta feira 13 (e nosso quarto na pousada também era o 13!!!). Tivemos sorte. A segunda palestra do escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão – marcada para as 18h – sofria de um atraso incomum: tinha público demais e cadeiras de menos. A produção correu para bem acomodar a todos e às 19h estávamos todos lá eu, Ana, Ignácio e outras 150 pessoas ocupando a saleta do prédio da Casa de Câmara e Cadeia da cidade. Todos presos, acorrentados às palavras do convidado especial da 1ª FLIPIRI (Festa Literária de Pirenópolis).
Ignácio de Loyola Brandão estava ali por sua relevante contribuição para a literatura brasileira (mais de 20 livros publicados, muitos deles premiados) e por ser o detentor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ficção 2008 conquistado por seu livro infantil O Menino Que Vendia Palavras. O autor relata que a história de um menino que se vê trocando os significados de vocábulos por bugigangas com seus colegas foi inspirada em suas memórias da infância.
Um dia, ao entrar na sala onde seu pai lia um jornal, os olhos do menino Ignácio encontraram os grossos volumes de uma enciclopédia na estante. Na lombada do terceiro volume estava impresso um nome estranho. O menino perguntou ao pai qual o significado daquela palavra e recebeu como resposta que ele mesmo deveria pesquisar no livro. A palavra (que agora me foge à memória) significava uma espécie de rato europeu com 30 dentes. Daí em diante, pesquisar o significado dos nomes passou a ser uma atividade prazerosa do menino Ignácio em Araraquara, no interior de São Paulo. Ele, que recebia elogios das professoras do primário por sua desenvoltura com os verbetes, dedicou a duas delas - ainda vivas - o prêmio recebido em outubro passado.
A sala se apequenava diante dos tantos curiosos, turistas, professores autores e amantes de livros que já ouviam atentamente as palavras do autor de O Homem que Odiava a Segunda Feira, que temperavam com um humor contagiante a noite quente de lua cheia. Lembrou dos tempos em que os meninos pobres do interior iam ao circo levando gatos como ingresso (para alimentar os leões), falou dos dias de aperto quando se viu perto da morte (o anestesista, na hora crítica da tão temida cirurgia, se aproximou e disse: - Seu Ignácio, sou seu fã, adoro o livro tal! Mas o tal livro não era de sua autoria. E agora? Confiar ou na palavra (e na ação) daquele profissinal tão relapso em literatura? Dizer a ele a verdade ou deixar que a cirurgia corresse tranquilamente? Tudo registrado no livro autobiográfico Veia Bailarina. Risos em todo o prédio.
Quando a palestra foi aberta a perguntas do público, o assunto mais “quente” foi o uso do politicamente correto na Literatura Infantil. Loyola disse – entre outras coisas – que o tema é delicado e ele mesmo está encontrando dificudades em escrever um final para outra história (Os Escorpiões no Círculo de Fogo), em que as crianças caçam os insetos para ver se é verdade a crença de que, quando expostos no centro de um círculo de fogo, os animais se suicidam com uma picada de seu próprio ferrão. Por falar em história infantil, vem aí o próximo livro do autor, escrito para este público: Os Olhos Loucos dos Cavalos Cegos. Achei o título muito bom e o enredo – também inspirado nas memórias da meninice do escritor paulista – é um pedido de desculpas ao seu querido avô.
Aquele nosso primeiro momento foi coroado com um bate papo informal com Ignácio de Loyola Brandão na mesa de autógrafo. Simpático, solícito, feliz em perceber num leitor a força do seu premiado livro, Ignácio, que já havia feito história na aconchegante cidade goiana na abertura da 1ª FLIPIRI, continuou o centro das atenções durante todo o final de semana. Ganhamos todos: turistas, cidadãos de Pirinópolis, professores, escritores, leitores. E pensar que toda esta paixão do convidado principal começou há mais de sessenta anos, num verbete que traduzia a forma incomum de um roedor europeu. Bem, nós também temos uma forma incomum de roer. Engraçado os caminhos da literatura. Hatuna Matata.
Chegamos a Pirenópolis (GO) no início da noite de sexta passada. Sexta feira 13 (e nosso quarto na pousada também era o 13!!!). Tivemos sorte. A segunda palestra do escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão – marcada para as 18h – sofria de um atraso incomum: tinha público demais e cadeiras de menos. A produção correu para bem acomodar a todos e às 19h estávamos todos lá eu, Ana, Ignácio e outras 150 pessoas ocupando a saleta do prédio da Casa de Câmara e Cadeia da cidade. Todos presos, acorrentados às palavras do convidado especial da 1ª FLIPIRI (Festa Literária de Pirenópolis).
Ignácio de Loyola Brandão estava ali por sua relevante contribuição para a literatura brasileira (mais de 20 livros publicados, muitos deles premiados) e por ser o detentor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ficção 2008 conquistado por seu livro infantil O Menino Que Vendia Palavras. O autor relata que a história de um menino que se vê trocando os significados de vocábulos por bugigangas com seus colegas foi inspirada em suas memórias da infância.
Um dia, ao entrar na sala onde seu pai lia um jornal, os olhos do menino Ignácio encontraram os grossos volumes de uma enciclopédia na estante. Na lombada do terceiro volume estava impresso um nome estranho. O menino perguntou ao pai qual o significado daquela palavra e recebeu como resposta que ele mesmo deveria pesquisar no livro. A palavra (que agora me foge à memória) significava uma espécie de rato europeu com 30 dentes. Daí em diante, pesquisar o significado dos nomes passou a ser uma atividade prazerosa do menino Ignácio em Araraquara, no interior de São Paulo. Ele, que recebia elogios das professoras do primário por sua desenvoltura com os verbetes, dedicou a duas delas - ainda vivas - o prêmio recebido em outubro passado.
A sala se apequenava diante dos tantos curiosos, turistas, professores autores e amantes de livros que já ouviam atentamente as palavras do autor de O Homem que Odiava a Segunda Feira, que temperavam com um humor contagiante a noite quente de lua cheia. Lembrou dos tempos em que os meninos pobres do interior iam ao circo levando gatos como ingresso (para alimentar os leões), falou dos dias de aperto quando se viu perto da morte (o anestesista, na hora crítica da tão temida cirurgia, se aproximou e disse: - Seu Ignácio, sou seu fã, adoro o livro tal! Mas o tal livro não era de sua autoria. E agora? Confiar ou na palavra (e na ação) daquele profissinal tão relapso em literatura? Dizer a ele a verdade ou deixar que a cirurgia corresse tranquilamente? Tudo registrado no livro autobiográfico Veia Bailarina. Risos em todo o prédio.
Quando a palestra foi aberta a perguntas do público, o assunto mais “quente” foi o uso do politicamente correto na Literatura Infantil. Loyola disse – entre outras coisas – que o tema é delicado e ele mesmo está encontrando dificudades em escrever um final para outra história (Os Escorpiões no Círculo de Fogo), em que as crianças caçam os insetos para ver se é verdade a crença de que, quando expostos no centro de um círculo de fogo, os animais se suicidam com uma picada de seu próprio ferrão. Por falar em história infantil, vem aí o próximo livro do autor, escrito para este público: Os Olhos Loucos dos Cavalos Cegos. Achei o título muito bom e o enredo – também inspirado nas memórias da meninice do escritor paulista – é um pedido de desculpas ao seu querido avô.
Aquele nosso primeiro momento foi coroado com um bate papo informal com Ignácio de Loyola Brandão na mesa de autógrafo. Simpático, solícito, feliz em perceber num leitor a força do seu premiado livro, Ignácio, que já havia feito história na aconchegante cidade goiana na abertura da 1ª FLIPIRI, continuou o centro das atenções durante todo o final de semana. Ganhamos todos: turistas, cidadãos de Pirinópolis, professores, escritores, leitores. E pensar que toda esta paixão do convidado principal começou há mais de sessenta anos, num verbete que traduzia a forma incomum de um roedor europeu. Bem, nós também temos uma forma incomum de roer. Engraçado os caminhos da literatura. Hatuna Matata.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Literatura não serve pra NADA!!!
Não é sempre que a Grande Mídia abre espaço para falar sobre o universo da Literatura Infantil. Normalmente vivemos às margens das notícias "importantes" e dos cadernos de "literatura adulta". Quer um exemplo? O Menino que Vendia Palavras, Melhor Livro de Ficção de 2007, segundo o Prêmio Jabuti 2008, mal ganhou resenhas em seções de revistas do segmento infantil. Passamos à margem dos acontecimentos para o leitor "comum", embora este segmento de livros para a infância e juventude seja o que mais cresce no mercado editorial. Por isso, não podem passar em branco quaisquer referências ao nosso universo quando ocupamos algum espaço nestes veículos. A revista Carta Capital mais uma vez surpreende ao estampar na última página da edição nº 532, desta semana, uma foto do nosso querido Bartolomeu Campos de Queiroz (reproduzida acima), clicado pelo fotógrafo Eugenio Savio, com a seguinte legenda: "ARTE E TALENTO PARA INICIAR PEQUENOS LEITORES". A seção RETRATOS CAPITAIS povoada de personalidades da política e das artes deve ter deixado muita gente pensando: "Ué? Arte e talento para pequenos leitores? ... Cadê o Ziraldo?". Aqui no blog já publicamos um artigo que discutiu a ausência da literatura infantil nas grandes mídias, escrito por Milu Leite (leia aqui), estampado nas páginas da mesma Carta Capital.
Bartolomeu Campos de Queirós é um dos gigantes da Literatura Brasileira. Sorte dos nossos pequenos leitores ter vários dos seus livros na seção de títulos infanto-juvenis. Em compensação, os adultos perdem ao passar à margem da sua literatura. Conheci o Professor Bartolomeu antes de ler seus livros. Adorei a sua companhia em torno de um cafezinho e das suas deliciosas ironias. Mas também amo a companhia das suas palavras quando mergulho a minha solidão em seus livros, que venho descobrindo aos poucos desde que me envolvi mais profundamente neste universo. Minha mais recente descoberta foi o livro Sem Palmeira ou Sabiá (Bartolomeu Campos de Queirós, com ilustrações de Elvira Vigna, Peirópolis). Em suas páginas as lembranças do escritor/personagem da sua cidade de três ruas, quando este tinha três anos e buscava tocar o céu, conhecer o mar. A viagem ao tempo distante passa por memórias poéticas, cirandas e cantigas de roda. O menino quer saber quem enche o coco de água. O menino vê o futuro multiplicar seus anos e as ruas da cidade. Chega o progresso. O menino e a cidade engordaram com o tempo. Os meninos que agora se vê nas ruas não brincam mais de roda. Catam lixo. Sinto um aperto no coraçào ao ler que "As pessoas já não lhe desejam bom dia. Apenas abaixam a cabeça quando se cruzam." Minha cidade é assim. Bartolomeu me encantou e me entristeceu com sua realidade pintada em palavras mágicas. Fechei os olhos e me vi menino, brincando na rua. Livre, solto, criança. Hoje, meus filhos brincam vez em quando na rua, quando posso colar meus olhos nas suas travessuras. A cidade gorda de perigos me obriga a limitar seus vôos. Tenho medo do medo que eles não têm. Sem Palmeira ou Sabiá me arranhou a alma ao mostrar no espelho dela um pai engordado pelo tempo, assim como a minha cidade. Ao mesmo tempo, senti uma felicidade ao perceber que minhas crianças ainda dizem "Bom Dia". E eu também!!!
Não posso deixar de falar do projeto gráfico. As ilustrações de Elvira Vigna são montagens fotográficas de nuvens e cenas rurais. Um tremendo bom gosto que ajuda o leitor a visualizar o universo mágico das palavras do autor. O livro é uma viagem de ida e volta a um longínquo mundo. De difícil acesso às crianças e jovens de hoje, encerradas em seus muros, videogames, celulares e internet. Já ouvi o professor dizer que "Literatura não serve pra nada". Uma frase curta, cheia de metáforas e ironias para um uvinte mais atento. Mas, uma vez embarcados no trem das palavras de Bartolomeu Campos de Queirós, o leitor volta para casa diferente. Modificado pelo nada literário. Um nada cheio de sensações. Obrigado, professor. Quero mais!!! Hatuna Matata!
Bartolomeu Campos de Queirós é um dos gigantes da Literatura Brasileira. Sorte dos nossos pequenos leitores ter vários dos seus livros na seção de títulos infanto-juvenis. Em compensação, os adultos perdem ao passar à margem da sua literatura. Conheci o Professor Bartolomeu antes de ler seus livros. Adorei a sua companhia em torno de um cafezinho e das suas deliciosas ironias. Mas também amo a companhia das suas palavras quando mergulho a minha solidão em seus livros, que venho descobrindo aos poucos desde que me envolvi mais profundamente neste universo. Minha mais recente descoberta foi o livro Sem Palmeira ou Sabiá (Bartolomeu Campos de Queirós, com ilustrações de Elvira Vigna, Peirópolis). Em suas páginas as lembranças do escritor/personagem da sua cidade de três ruas, quando este tinha três anos e buscava tocar o céu, conhecer o mar. A viagem ao tempo distante passa por memórias poéticas, cirandas e cantigas de roda. O menino quer saber quem enche o coco de água. O menino vê o futuro multiplicar seus anos e as ruas da cidade. Chega o progresso. O menino e a cidade engordaram com o tempo. Os meninos que agora se vê nas ruas não brincam mais de roda. Catam lixo. Sinto um aperto no coraçào ao ler que "As pessoas já não lhe desejam bom dia. Apenas abaixam a cabeça quando se cruzam." Minha cidade é assim. Bartolomeu me encantou e me entristeceu com sua realidade pintada em palavras mágicas. Fechei os olhos e me vi menino, brincando na rua. Livre, solto, criança. Hoje, meus filhos brincam vez em quando na rua, quando posso colar meus olhos nas suas travessuras. A cidade gorda de perigos me obriga a limitar seus vôos. Tenho medo do medo que eles não têm. Sem Palmeira ou Sabiá me arranhou a alma ao mostrar no espelho dela um pai engordado pelo tempo, assim como a minha cidade. Ao mesmo tempo, senti uma felicidade ao perceber que minhas crianças ainda dizem "Bom Dia". E eu também!!!
Não posso deixar de falar do projeto gráfico. As ilustrações de Elvira Vigna são montagens fotográficas de nuvens e cenas rurais. Um tremendo bom gosto que ajuda o leitor a visualizar o universo mágico das palavras do autor. O livro é uma viagem de ida e volta a um longínquo mundo. De difícil acesso às crianças e jovens de hoje, encerradas em seus muros, videogames, celulares e internet. Já ouvi o professor dizer que "Literatura não serve pra nada". Uma frase curta, cheia de metáforas e ironias para um uvinte mais atento. Mas, uma vez embarcados no trem das palavras de Bartolomeu Campos de Queirós, o leitor volta para casa diferente. Modificado pelo nada literário. Um nada cheio de sensações. Obrigado, professor. Quero mais!!! Hatuna Matata!
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
FLIPIRI - Pirenópolis (GO).
Pirenópolis (GO) entra no circuito das charmosas cidades interioranas do Brasil - como Ouro Preto (MG) e Parati (RJ). Sua primeira FESTA LITERÁRIA, a FLIPIRI, acontecerá de 12 a 15 de fevereiro próximos no Centro Histórico do lugar. A programação contará com a presença de Ignácio de Loyola Brandão, vencedor do Jabuti 2008 (Melhor Livro de Ficção com o livro O Menino que Vendia Palavras) e de outros nomes nacionais da Literatura Infantil como Jonas Ribeiro e Hermes Bernardi Junior. Mas apresentará também o time de escritores da Casa de Autores, formado por nomes da emergente Literatura Infantil produzida aqui no Distrito Federal como Marco Miranda e João Bosco Bezerra Bomfim, que tanto admiramos. Abaixo, reproduzo uma nota publicada nesta segunda, 09/02, no jornal Correio Braziliense, falando mais sobre o evento.
Pirenópolis está cercada de cachoeiras deliciosas e seu centro histórico apresenta casas originais construídas em adobe e um calçamento ímpar feito com as famosas pedras do lugar. Tradição e cultura impressas nas cores fortes das máscaras das Cavalhadas, no trabalho de artistas locais como a ceramista Cristina Galeão e nas bolsas, roupas e acessórios incríveis feitos em lona da loja Capitão Sujeira. Para os amantes da gastronomia, em Pirinópolis a culinária goiana impera com seus perfumes e sabores típicos. Licores feitos com a castanha do Barú, Galinhada com Pequi, sobremesas de frutos do cerrado e outros petiscos. Com certeza, num local tão inspirador, a literatura será bem acolhida. Esperamos que os responsáveis pelo evento consigam colher bons frutos para que possamos desfrutar da FLIPIRI nos anos vindouros. Os Roedores de Livros estarão por lá, apreciando e informando a vocês as delícias deste novo encontro literário.
Acima, eu e Tino, numa das tantas visitas que fizemos a Pirenópolis. Clique AQUI e aprecie mais fotos desta belíssima cidade histórica.
Pirenópolis está cercada de cachoeiras deliciosas e seu centro histórico apresenta casas originais construídas em adobe e um calçamento ímpar feito com as famosas pedras do lugar. Tradição e cultura impressas nas cores fortes das máscaras das Cavalhadas, no trabalho de artistas locais como a ceramista Cristina Galeão e nas bolsas, roupas e acessórios incríveis feitos em lona da loja Capitão Sujeira. Para os amantes da gastronomia, em Pirinópolis a culinária goiana impera com seus perfumes e sabores típicos. Licores feitos com a castanha do Barú, Galinhada com Pequi, sobremesas de frutos do cerrado e outros petiscos. Com certeza, num local tão inspirador, a literatura será bem acolhida. Esperamos que os responsáveis pelo evento consigam colher bons frutos para que possamos desfrutar da FLIPIRI nos anos vindouros. Os Roedores de Livros estarão por lá, apreciando e informando a vocês as delícias deste novo encontro literário.
Acima, eu e Tino, numa das tantas visitas que fizemos a Pirenópolis. Clique AQUI e aprecie mais fotos desta belíssima cidade histórica.
Adeus ano velho - Feliz ano novo!!!
O encerramento das atividades em 2008 foi no sábado, 13 de dezembro. Preparamos um kit de "natal/férias" para as crianças com cadernos, lápis de cor, estojos e outros badulaques. Coisas de brilhar olho e esticar sorriso de menino tanto quanto uma boa história.
Por falar em boa história, a mediação foi seguida de muita atenção e descontração com a leitura dos livros 365 Pinguins (Jean Luc Fromental, com ilustrações de Joelle Jolivet, Cia das Letrinhas) e Até as Princesas Soltam Pum (Ilan Brenmann com iluatrações de Ionit Zilberman, Brinque Book).
Nossos monitores (Wesley, Samantha e Daniel) ajudaram na organização do espaço e também - para a nossa surpresa - trouxeram seus "presentes" para a garotada.
Nossa "Dona Benta", Emília (sentada, na foto acima), avó de Ana Letícia - que a acompanha por mais de 10Km de casa até o projeto, percorrendo longos trechos de ônibus e a pé - recebeu a companhia da Tia Bia (em pé, na foto acima), que contou a história do Natal e entoou cantigas natalinas com as crianças.
Nossa turma ficou uma graça com os tradicionais gorros natalinos. Uma das crianças hesitou bastante em usar o seu. Conversou comigo e explicou seus motivos mas, nem precisava explicar. Logo depois, estava com com ele na cabeça, brincando com todos.
Felizes, Tino, Edna, eu e Célio brindávamos com refrigerante a conquista de mais um ano de projeto, passando por cima das adversidades e conquistando mais leitores e novos amigos. 2009 chega com boas notícias para nossas crianças, mas só vamos anunciá-las em breve. Por enquanto, deixo a foto abaixo, com os votos de um ano bom, cheio de saúde e de ótimas histórias para contar.
O projeto Roedores de Livros agradece a todos que de forma direta ou indireta contribuiu para que o nosso trabalho semanal de levar a literatura além dos portões das nossas casas fosse feito com o mínimo necessário de material físico, porém, com o melhor de nossos corações. Hatuna Matata.
Por falar em boa história, a mediação foi seguida de muita atenção e descontração com a leitura dos livros 365 Pinguins (Jean Luc Fromental, com ilustrações de Joelle Jolivet, Cia das Letrinhas) e Até as Princesas Soltam Pum (Ilan Brenmann com iluatrações de Ionit Zilberman, Brinque Book).
Nossos monitores (Wesley, Samantha e Daniel) ajudaram na organização do espaço e também - para a nossa surpresa - trouxeram seus "presentes" para a garotada.
Nossa "Dona Benta", Emília (sentada, na foto acima), avó de Ana Letícia - que a acompanha por mais de 10Km de casa até o projeto, percorrendo longos trechos de ônibus e a pé - recebeu a companhia da Tia Bia (em pé, na foto acima), que contou a história do Natal e entoou cantigas natalinas com as crianças.
Nossa turma ficou uma graça com os tradicionais gorros natalinos. Uma das crianças hesitou bastante em usar o seu. Conversou comigo e explicou seus motivos mas, nem precisava explicar. Logo depois, estava com com ele na cabeça, brincando com todos.
Felizes, Tino, Edna, eu e Célio brindávamos com refrigerante a conquista de mais um ano de projeto, passando por cima das adversidades e conquistando mais leitores e novos amigos. 2009 chega com boas notícias para nossas crianças, mas só vamos anunciá-las em breve. Por enquanto, deixo a foto abaixo, com os votos de um ano bom, cheio de saúde e de ótimas histórias para contar.
O projeto Roedores de Livros agradece a todos que de forma direta ou indireta contribuiu para que o nosso trabalho semanal de levar a literatura além dos portões das nossas casas fosse feito com o mínimo necessário de material físico, porém, com o melhor de nossos corações. Hatuna Matata.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Roda Gigante, Carrossel e Bate-Bate...
No interior do Ceará, ao pé da Serra de Bautrité, ainda hoje, há um local chamado Boa Vista, com acesso de mais de uma légua por terra batida depois que acaba o asfalto, margeado pelo rio Candéia. Ali eu fui batizado, fiz minha primeira comunhão e passei quase todas as férias da minha infância e juventude. A casa dos meus avós ficava lá. Aliás, fica ainda hoje. Com algumas modificações, é claro. O rio, antes robusto e farto de peixes e sapos e camarões e pitús perdeu a força às custas da modernidade que foi trazendo a luz elétrica, o saneamento básico, a televisão e o telefone e mais gente.
Naquele tempo de menino – e põe tempo nisso – o banheiro era uma pequena construção que ficava separada da casa frincipal. Na entrada para o mato. Tinha uma “casa de abelhas” pendurada em uma das paredes. Era uma pequena caixa de madeira onde abelhas Jandaíra fizeram uma colméia. Nunca soube o porquê de se criar mel em um local tão incomum. Mas, sempre que ia me demorar por lá, ficava um pouco apreensivo.
Entre os fundos da casa e o banheiro, galinhas, patos, pintos, cavalos, jumentos e o meu inesquecível pé de ciriguela. Meu, porque passava horas montado em seus galhos tortuosos colhendo e devorando seus frutos coloridos e saborosos. Uma trilha passava rente ao banheiro externo e seguia para o rio atravessando o bananal e mangueiras imensas que davam sombra e espaço para uma boa pelada com meus primos. O som da água correndo ainda hoje me chega aos ouvidos.
Enquanto o futebol rolava solto por sobre as folhas caídas das mangueiras, minhas tias e primas passavam por nós carregando bacias de alumínio repletas de roupas para lavar. A gente brincava e elas davam um duro danado. O barulho das roupas estalando na pedra grande à margem do rio, o sabão de coco arrancando a sujeira num frenético vai-e-vem, a conversa solta sobre a vida que corria mansa, tudo isso mais os gritos que anunciavam o fim da partida e o início do banho de rio que quase sempre levava a uma pescaria com landuá, construíram a trilha sonora das minhas férias.
Trilha sonora que estava há muito silenciosa em minha memória como um CD que a gente gosta muito mais que foi ficando embaixo da pilha de novos discos, novas músicas até que, finalmente, num dia de faxina, é redescoberto e a sua música invade as caixas de som e a sala e os ouvidos como se nunca tivesse deixado de soar. Pois foi assim. Quando deitei os olhos em O Vento (Elma, Global), foi como se apertasse o play daqueles momentos empoeirados e agora, eles estão aqui comigo, novinhos em folha.
Há tempos não lia um livro imagem que mexesse tanto comigo. A ausência de texto oferece mais possibilidades para a história e fortalece a nossa imaginação pois outras leituras e sensações podem ser vividas pelo leitor, seja ele criança ou adulto. Elma sopra no papel suas cores vivas e seu traço original que – aos poucos – ganha mais contornos ímpares, para contar um passeio entre uma mulher, um balaio de roupas e três crianças. O passeio se transforma numa grande brincadeira para as crianças. O vento faz daquele enorme quintal um grande parque de diversões em que roda gigante, carrossel e bate-bate dão lugar a árvores, passarinhos e elefantes.
A mulher trabalha com um sorriso nos lábios enquanto as crianças se divertem. Parecia assim no meu tempo de menino. Sorrisos para todos os lados. O vento a soprar roupas no varal, folhas da mangueira e a voz de minha mãe chamando a todos para um lanche ao final da tarde. O Vento de Elma despertou em mim a lembrança de uma infância rica em sensações. Talvez não consiga tanto numa criança com memórias tão frescas. Mas os sorrisos de um brincar despreocupado com a vida certamente serão soprados das páginas do livro e farão cócegas nas bochechas dos pequenos mais sensíveis. Então, voaremos todos com a brisa, os pássaros, os traços e a imaginação de Elma para um lugar sem tempo nem distância onde o pensamento voa, voa, voa sem pressa de pousar. Hatuna Matata.
Naquele tempo de menino – e põe tempo nisso – o banheiro era uma pequena construção que ficava separada da casa frincipal. Na entrada para o mato. Tinha uma “casa de abelhas” pendurada em uma das paredes. Era uma pequena caixa de madeira onde abelhas Jandaíra fizeram uma colméia. Nunca soube o porquê de se criar mel em um local tão incomum. Mas, sempre que ia me demorar por lá, ficava um pouco apreensivo.
Entre os fundos da casa e o banheiro, galinhas, patos, pintos, cavalos, jumentos e o meu inesquecível pé de ciriguela. Meu, porque passava horas montado em seus galhos tortuosos colhendo e devorando seus frutos coloridos e saborosos. Uma trilha passava rente ao banheiro externo e seguia para o rio atravessando o bananal e mangueiras imensas que davam sombra e espaço para uma boa pelada com meus primos. O som da água correndo ainda hoje me chega aos ouvidos.
Enquanto o futebol rolava solto por sobre as folhas caídas das mangueiras, minhas tias e primas passavam por nós carregando bacias de alumínio repletas de roupas para lavar. A gente brincava e elas davam um duro danado. O barulho das roupas estalando na pedra grande à margem do rio, o sabão de coco arrancando a sujeira num frenético vai-e-vem, a conversa solta sobre a vida que corria mansa, tudo isso mais os gritos que anunciavam o fim da partida e o início do banho de rio que quase sempre levava a uma pescaria com landuá, construíram a trilha sonora das minhas férias.
Trilha sonora que estava há muito silenciosa em minha memória como um CD que a gente gosta muito mais que foi ficando embaixo da pilha de novos discos, novas músicas até que, finalmente, num dia de faxina, é redescoberto e a sua música invade as caixas de som e a sala e os ouvidos como se nunca tivesse deixado de soar. Pois foi assim. Quando deitei os olhos em O Vento (Elma, Global), foi como se apertasse o play daqueles momentos empoeirados e agora, eles estão aqui comigo, novinhos em folha.
Há tempos não lia um livro imagem que mexesse tanto comigo. A ausência de texto oferece mais possibilidades para a história e fortalece a nossa imaginação pois outras leituras e sensações podem ser vividas pelo leitor, seja ele criança ou adulto. Elma sopra no papel suas cores vivas e seu traço original que – aos poucos – ganha mais contornos ímpares, para contar um passeio entre uma mulher, um balaio de roupas e três crianças. O passeio se transforma numa grande brincadeira para as crianças. O vento faz daquele enorme quintal um grande parque de diversões em que roda gigante, carrossel e bate-bate dão lugar a árvores, passarinhos e elefantes.
A mulher trabalha com um sorriso nos lábios enquanto as crianças se divertem. Parecia assim no meu tempo de menino. Sorrisos para todos os lados. O vento a soprar roupas no varal, folhas da mangueira e a voz de minha mãe chamando a todos para um lanche ao final da tarde. O Vento de Elma despertou em mim a lembrança de uma infância rica em sensações. Talvez não consiga tanto numa criança com memórias tão frescas. Mas os sorrisos de um brincar despreocupado com a vida certamente serão soprados das páginas do livro e farão cócegas nas bochechas dos pequenos mais sensíveis. Então, voaremos todos com a brisa, os pássaros, os traços e a imaginação de Elma para um lugar sem tempo nem distância onde o pensamento voa, voa, voa sem pressa de pousar. Hatuna Matata.
Assinar:
Postagens (Atom)