quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Milu Leite pergunta: E AS OBRAS INFANTO-JUVENIS?

Estes dias, mais precisamente numa manhã de domingo tomando café na padaria com as crianças e folheando revistas e jornais (domingo é nosso dia reservado para uma farra nas bancas) deparei com um artigo excepcional da Jornalista e escritora, Milú Leite, publicado na edição 414 da revista Carta Capital. O "grito" de Milú é o de todos nós, reféns das poucas publicações "especializadas" e reféns dos releases das editoras e algumas vezes salvos por dicas excepcionais de Peter O'Sagae no site Dobras da Leitura. A seguir, com a devida autorização da Milu e da Carta Capital, copio o texto em sua íntegra. Devia servir como manifesto na frente de cada redação do nosso Brasil!!! Boa leitura a todos!!!

E AS OBRAS INFANTO-JUVENIS?
TRATADOS COM TOTALDESCASO, OS LIVROS PARA CRIANÇAS E JOVENS NÃO SÃO TIDOS PELA MÍDIA COMO MERECEDORES DE REFLEXÃO E CRÍTICA SÉRIA.

Por MILU LEITE.

“Veja ao lado os vencedores das categorias mais importantes”. A frase resume de maneira emblemática o modo como boa parcela da imprensa encara a literatura infanto-juvenil, uma vez que o quadro publicado na Folha de São Paulo (Ilustrada, 9/8/2006) não fazia nenhuma menção aos autores de livros nas categorias infantil e juvenil que também venceram a 48ª edição do Prêmio Jabuti em 2006.
O fato certamente causou a indignação de muitos escritores. Afinal, é o atestado, passado pr um dos jornais mais importantes do País, do total descaso com que as obras infanto-juvenis são tratadas por grande parte dos cadernos culturais.
Não há espaço para a crítica literária séria e a razão para isso talvez seja: a literatura infanto-juvenil não é vista como literatura. Melhor seria dizer: a literatura infanto-juvenil brasileira, uma vez que Madonna e J.K. Rowling, autora de Harry Potter, recheiam os jornaiscom seus lançamentos. Nem por isso a crítica a essas obras é séria, deve-se admitir, mas o espaço concedido a estes autores costuma ser generoso.
E por que a literatura infanto-juvenil é relegada ao segundo plano? Uma resposta intuitiva pode estar ancorada na idéia de que não adianta escrever coisas sérias sobre um livro infantil se as crianças, que são o público alvo, não vão entendê-las.
Refletir a respeito disso parece relevante.
Quando cia suas histórias para crianças e jovens, um autor não deixa de ser um escritor, com tudo de bom e de ruim que pode haver na literatura que ele produz. Haverá em sua obra dedicação, engenhosidade e muita reflexão. E ele, além de esperar um retorno do seu leitor (um leitor tão valoroso quanto o leitor adulto), espera também um retorno daquele que lida com a literatura de maneira mais refinada: o crítico literário.
É por meio dessa figura tão polêmica que se constrói a imagem do escritor para o mundo, incluindo aí pais, escolas e crianças. Se essas últimas, por razões óbvias, ainda não têm acesso aos conceitos da crítica, sofrerão com certeza os efeitos dela por intermédio dos que lhes indicam livros. E livros infantis são indicados nas escolas anualmente e são adquiridos por tios, avós, padrinhos todos os dias.
Em um recente encontro promovido pelo Itaú Cultural em São Paulo (num debate chamado Literatura com L Minúsculo), a escritora Eva Furnari mediou os debates nos quais a queixa mais freqüente foi a ausência de crítica sobre obras infanto-juvenis. Falou-se da enxurrada de livros editados e da total falta de critérios para a edição, gerando um mecanismo de crescimento totalmente apartado da qualidade. Como escolher algo entre essa montanha de títulos? (Foram 5 mil novos títulos no ano pasado, segundo reportagem publicada em Carta Capital). Nesse contexto o papel da crítica como mediadora é vital.
A declaração de uma dedicada professora de português exemplifica muito bem a necessidade dessa mediação. De acordo com ela, a enorme dificuldade em encontrar textos que avaliem os livros lançados obriga o educador a fazer um extenuante trabalho de “garimpagem” em sites e revistas especializadas. Os resultados nem sempre são animadores.
Por que é preciso entrar na Internet para ler críticas de obras infanto-juvenis? Por que a maioria dos jornais se nega a me prestar esse “serviço”?
É sabido que a crítica literária voltada para os livros de “adultos” também não é muito valorizada pela imprensa. O espaço para resenhas é continuamente deixado em segundo plano. Não bastando isso, já são do conhecimento de boa parte dos leitores as escaramuças entre críticos e escritores, com esses últimos questionando a qualidade dos textos publicados nos jornais.
Mas veja o descompasso entre as coisas. Enquanto a literatura “adulta” suscita debates a respeito da sua qualidade nos grandes cadernos culturais, discutem-se mundo afora a literatura e os seus caminhos na era da Internet e a imprensa divulga matérias sobre o boom editorial do mercado infantil, a crítica séria de literatura infanto-juvenil praticamente não existe para a maior parte dos jornais do País.Este artigo teve como ponto de partida um quadro com as indicações de premiados do Jabuti. Pois bem, nem ali, onde tudo é resumido em classificações, foi possível colocar a literatura infanto-juvenil em seu lugar merecido. Reivindicar uma crítica especializada para ela com certeza está fora de questão.
Milu Leite é jornalista e escritora, autora de O Dia em Que Felipe Sumiu (Editora Cosac Naify), ilustrado por Jan Limpens e terceiro colocado na categoria infanto-juvenil do 48º Prêmio Jabuti. Ainda não lemos o livro da Milu - tudo anda muito corrido por aqui - mas vamos dar uma pausa nas férias para atualizarmos as leituras. Abaixo, resenha publicada no site da Cosac Naify.
"A estreante Milu Leite narra a história de um grupo de jovens unidos pelas brincadeiras ao redor da lagoa de sua cidade. Se no clássico Os meninos da rua Paulo, do húngaro Ferenc Molnár, a luta dos garotos é para preservar o campo onde jogam péla, Felipe e sua turma farão de tudo para descobrir quem poluiu a lagoa. Munido de seu kit para medição de água, Felipe descobre que a lagoa, onde ele e sua turma se refrescam após as partidas de futebol, está contaminada. O menino inicia, então, uma campanha de alerta nos arredores da lagoa, com a ajuda de seus amigos, o Farelo, o Hipotenusa, a Dora e o Tobias, o cachorro do Felipe, todos interessados em "saber por que a água da lagoa tinha virado uma privada". Certa noite, Felipe não voltará para o jantar. Com o mesmo sentimento de cumplicidade de Os meninos da rua Paulo, os amigos do garoto sairão à sua procura.Além de sua preocupação com o meio ambiente, o livro incorpora elementos dos romances policiais, criando uma história de suspense, equilibrada com uma narrativa bem-humorada."

Um comentário:

Sidiney Macedo Júnior disse...

eu fui em uma biblioteca achar um livro bom, e a moça da boblioteca falou que o livro: "o dia em que felipe sumiu" era muito bom, dai eu comprei. Ela tambem falou que iria lançar o segundo livro daqui a dois meses, dai eu queria saber o dia o local e o horário certinho...
poderias me dar?
muito obrigado