terça-feira, 26 de junho de 2007

Em busca do estafilágrio, curei-me do Dicionário!!!

Na introdução do livro ELOGIO DA LOUCURA, de Erasmo de Roterdam, publicada na coleção Clássicos de Bolso da Ediouro, Antônio Olinto escreve: “... nenhuma convivência, nenhuma sociedade, nada, enfim, pode ser agradável e duradouro sem loucura, e que ninguém toleraria ninguém se não se untassem as coisas e os atos com um pouco do mel da loucura”. Os habitantes do reino onde imperam “O REI MALUCO E A RAINHA MAIS AINDA” (Fernanda Lopes de Almeida, com ilustrações de Luiz Maia, Ática) se lambuzaram neste mel. Os roedores de livros também. É doce, gostoso e louco, muito louco, o novo livro da autora de A FADA QUE TINHA IDÉIAS. Recomendadíssimo para pessoas normais, anormais e de outros planetas. Pessoas como Heloísa, uma criança que, na hora de dormir, recebe a visita de uma formiga. Ao perceber que a menina sofre de Dicionário (uma enfermidade cujo sintoma maior é o apego incondicional ao sentido das palavras) o inseto resolve levá-la ao castelo do Rei Maluco para curá-la desta grave doença e, quem sabe, ver um estafilágrio.

Naquele reino, repleto de personagens estranhos, o Rei trabalha como engraxate e faxineiro com a maior competência e a Rainha se mete a fazer o que não sabe, sempre com as melhores intenções e os piores resultados. As ilustrações de Luiz Maia estão coladinhas com o texto, quase nos soprando a história. Dá vontade de parar a leitura e viajar nos seus personagens e situações. Deve ter dado um trabalho danado. Mas valeu a pena cada traço. Adoçou o mel da loucura do texto. Os contos de fadas tradicionais são citados na obra de Fernanada Lopes de Almeida. Seja na criação da Torre do Sono (Bela Adormecida), ou, no final, quando se tem a idéia de que tudo não passou de um sonho (Alice no País das Maravilhas)... Passou? A autora sempre prega uma surpresa e brinca com o absurdo.

As palavras são livres dos seus significados formais. Fernanda usa e abusa da criatividade em diálogos excepcionais como quando, após uma aula desastrada da Rainha, chegam cartas dos pais das crianças informando que, depois daquelas aulas, “algumas tinham feito progressos tão grandes que haviam pulado dois ou três anos para a frente.
- Mas como os pais podem saber disso? – indagou Heloísa.
- Ora, minha menina! Pois se eles moram com as crianças na mesma casa! – respondeu o Rei.
- Então aqui basta o pai dizer que o filho passou de ano, que o filho passa?
- Claro que não! Que adianta o pai dizer?
Heloísa impacientou-se:
- Afinal de contas, quem é que diz, aqui, se uma criança passou de ano?
- A própria criança, naturalmente. Quem pode saber disso melhor que ela?

A história segue: Cheio de razões, O Rei Ajuizado tenta por a ordem nas coisas, mas isso é para as suas terras, não muito distantes. Por ali, quem manda mesmo é o Rei Maluco. E ele quer dar uma festa em homenagem a Heloísa, pois ela é uma menina que existe!!! Heloísa, que havia saído de casa só de camisola precisa encontrar um vestido para a festa e, bem... nesta busca ela encontra outros tantos personagens como o a moça do poço, o palhaço, a viúva, a princesa, as costureiras... até que acontece o baile e Heloísa finalmente volta para casa, porém, sem encontrar o tal estafilágrio! - Ou não! Como diria Caetano.

A grande pegadinha é a impressão de que estamos sempre em busca de um estafilágrio e recebemos vez em quando a visita da nossa formiga que pode nos orientar nessa jornada.

Aí, você deve estar se perguntando: - O que quer dizer esta palavra tão estranha?... Bem, pelo jeito você também sofre de Dicionário. Liberte-se nas páginas de O REI MALUCO E A RAINHA MAIS AINDA. Depois, brinque com as crianças. Dê novos significados as palavras ou crie novas palavras para as coisas. Uma boa dose de MARCELO, MARMELO, MARTELO fará bem à família!!! Uma boa lambuzada com o mel da loucura não faz mal a ninguém!!!

P.S. O precinho também é bem legal, se compararmos com outros livros infantis!!!

Um comentário:

Unknown disse...

Por gentileza, alguem pode me dar um Help e me dizer o q é um "ESTAFILÁGRIO"??? Não encontro no dicionário... Obrigada!!