




A história segue: Cheio de razões, O Rei Ajuizado tenta por a ordem nas coisas, mas isso é para as suas terras, não muito distantes. Por ali, quem manda mesmo é o Rei Maluco. E ele quer dar uma festa em homenagem a Heloísa, pois ela é uma menina que existe!!! Heloísa, que havia saído de casa só de camisola precisa encontrar um vestido para a festa e, bem... nesta busca ela encontra outros tantos personagens como o a moça do poço, o palhaço, a viúva, a princesa, as costureiras... até que acontece o baile e Heloísa finalmente volta para casa, porém, sem encontrar o tal estafilágrio! - Ou não! Como diria Caetano.
A grande pegadinha é a impressão de que estamos sempre em busca de um estafilágrio e recebemos vez em quando a visita da nossa formiga que pode nos orientar nessa jornada.
Aí, você deve estar se perguntando: - O que quer dizer esta palavra tão estranha?... Bem, pelo jeito você também sofre de Dicionário. Liberte-se nas páginas de O REI MALUCO E A RAINHA MAIS AINDA. Depois, brinque com as crianças. Dê novos significados as palavras ou crie novas palavras para as coisas. Uma boa dose de MARCELO, MARMELO, MARTELO fará bem à família!!! Uma boa lambuzada com o mel da loucura não faz mal a ninguém!!!
P.S. O precinho também é bem legal, se compararmos com outros livros infantis!!!
A história da menina Raquel e suas vontades de ser menino, de crescer de uma vez e ser logo adulta e de escrever, nos emociona e conquista a cada parágrafo. Lygia escreve como se estivesse emagrecendo sua própria vontade de falar da menina que foi. Raquel passa a guardar suas vontades no interior de uma bolsa amarela desprezada pela família numa partilha de presentes deixados por uma tia. A menina faz da bolsa uma espécie de quintal à tiracolo. Esconde na bolsa, além das vontades, os nomes que ela criava, um alfinete de fralda, uns retratos, uns desenhos, umas idéias... Depois veio um galo (o Rei, que virou Afonso), um guarda-chuva e mais outro galo (o Terrível). Tudo guardado-escondido na bolsa para que ninguém mais visse ou ficasse sabendo. É emocionante a história que “Raquel” cria para justificar o sumiço do Terrível, o galo de briga, que só era assim, por que seus donos “tiraram o pensamento dele lá de dentro, costuraram ele todo com a Linha Forte, só deixaram descosturado o pedaço que pensava “tenho que brigar! Tenho que ganhar de todo o mundo!”. Lembro que o texto foi publicado originalmente em 1976. Ditadura militar. Não era fácil falar, muito menos escrever sobre pensamentos costurados. À medida que as invencionices da menina Raquel vão se resolvendo, sua bolsa fica mais leve e suas vontades ganham o mundo, libertam-se. A menina Raquel e a mulher Lygia soltaram pipas pelo ar e letras no papel. Trinta anos depois, ainda carregam consigo a vontade de escrever. Descobri que Raquel também poderia ter sido Ana Paula, Ana Cecília, outras tantas Anas.
Por fim, acho que vou comprar uma mochila amarela para a Júlia: ela tem engordado uma vontade de ser artista plástica e morar na África... Se você estiver com aquela vontade de descobrir uma história que vai descosturar seus pensamentos, este é o momento. Procure a BOLSA AMARELA (Lygia Bojunga, com ilustrações de Marie Louise Nery, Editora Casa Lygia Bojunga). Liberte-se. Quanto a mim, assim como Raquel, também estou me sentindo um bocado leve.
Ah, e quanto ao que me disse o guarda chuva citado lá no título... ele falou: Htydeeeloiiiicbxzertaaaadpolrrtt... (Agora, só encontrando o Afonso pra saber!!!)
- Obrigada Lygia. Nosso eterno e carinhoso abraço de letrinhas!!!