terça-feira, 3 de junho de 2008

Um balanço do Salão FNLIJ do livro.

O Salão do Livro da FNLIJ é, antes de tudo, o melhor e mais organizado evento da Literatura Infantil. É um grande encontro entre escritores, ilustradores, editores, pais e filhos. No interior do MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio de Janeiro, durante 12 dias, aconteceram performances de ilustradores, lançamentos de livros, mediações de leitura, exposição de livros e imagens de outros países... Enfim, foi impossível ficar parado em meio a tantas atividades. Foram 66 editoras presentes em estandes onde o livro foi a atração principal. Nada de brinquedos ou brindes chamativos que distraiam a atenção do leitor.
Para se ter acesso a este mundo de livros, pagava-se apenas R$ 3,00 (gratuidade para maiores de 65 anos, portadores de deficiência e professores da rede municipal). Um valor ínfimo se você imaginar que na maioria das editoras participantes a gente conseguiu um desconto de 20% na compra de livros. Em algumas, foi mais difícil. A Cia das Letras, por exemplo, dificultou o tal desconto em nossas aquisições. No final, deu tudo certo, mas poderiam evitar a burocracia que não tivemos, por exemplo, na Editora SM e na Girafinha. Lá os descontos já estavam na lista, independente de o comprador ser ou não professor. Por falar na categoria, professores da rede pública que trabalham nas salas de leitura receberam da prefeitura um cartão com cerca de R$ 500,00 em créditos para investirem no acervo. Fica a dica para que em 2009 façam como em 2007 onde todos os estandes ofereciam descontos para qualquer visitante.
As atividades especiais aconteceram no Espaço FNLIJ de Leitura, a Biblioteca FNLIJ e o Espaço Petrobras. O estande do INBRAPI (Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual) também promovia encontros em que os indígenas faziam pintura no corpo das crianças, ilustravam ao vivo e contavam histórias. Havia ainda um espaço dedicado à Itália, país homenageado neste Salão. Lá, uma exposição com livros e ilustrações de publicações infanto-juvenis italianas. Tudo muito bonito de se ver.
Durante os finais de semana, os dois mil metros quadrados dedicados à literatura eram ocupados principalmente por pais e filhos. Um público surpreendente. Durante a semana, os corredores ficam repletos de crianças. MESMO!!! Muita gente. Segundo o site oficial do Salão, o público presente superou em 10 mil o índice de 2007. Em alguns momentos ficava difícil percorrer os corredores. Mas a estrutura com banheiros, água de graça e praça de alimentação deu conta do recado. Parabéns à organização.
Por fim, não cansamos – eu e Ana Paula – de exultar a FNLIJ por conseguir distribuir UM LIVRO PARA CADA CRIANÇA VISITANTE na hora da saída. Grátis!!! No Salão do Livro da FNLIJ, crianças e Jovens tiveram o direito a levar para casa um livro próprio para sua idade. E não foram títulos vagabundos, não. A cada instante, bons livros, de ótimas editoras, transformavam a surpresa em sorrisos e ganhavam o olhar de todos na saída do Salão. Que estas ações, misto de competência, organização, planejamento e respeito para com o livro, seus agentes, professores, pais e crianças se multipliquem por todo o país. Nossas crianças e jovens merecem a devida atenção. O 10º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens é, de fato, o melhor evento do gênero. Voltaremos no ano que vem. That’s all, folks!!!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Chileno, o Roedor e o Sanduíche de Pernil...

Sempre que eu lia numa orelha de livro "Gonzalo Cárcamo" a primeira sensação era a de admiração. Não é pra menos. As aquarelas com que ele embeleza os livros são um presente para os olhos. Ano passado, o livro Viagem pelo Brasil em 52 histórias, com ilustrações de Cárcamo, ganhou o prêmio de O Melhor para Criança da FNLIJ na categoria Reconto. Este ano, o livro Thapa Kunturi: ninho do condor, com texto e ilustrações dele, recebeu o prêmio de Melhor Ilustração, também pela FNLIJ. Outros livros deliciosos de Cárcamo são Modelo Vivo, Natureza Morta e O Amigo Fiel, reconto do texto de Oscar Wilde, ambientado na fauna brasileira.
Apesar de tanta admiração, tanto eu como o Tino achávamos que ele seria um senhor sisudo, fechado, de difícil aproximação. Talvez pelas fotos nas orelhas dos livros. Talvez fosse uma impressão sem motivo. Gente, já no sábado à tarde, encontramos Cárcamo esbanjando simpatia pelos corredores do Salão. Primeiro foi se chegando, descobrindo outros ilustradores, abraçando velhos amigos, trocando idéias. Nos apresentamos. Gostou do nome do projeto. Achou importante a iniciativa. Marcamos o encontro da noite no Cervantes. Reduto da boêmia informal carioca. Lá, num encontro memorável com mais de 20 pessoas, Cárcamo, Tino e Marcelo desfilaram um repertório incrível de piadas e aquela impressão do ilustrador sisudo foi para o espaço.
Depois de alguns sanduíches de pernil e muito papo, Cárcamo nos presenteou com um pouquinho do seu enorme talento. Inspirado no tema do projeto, o ilustrador criou ali, no papel que cobria nossa mesa no Cervantes, uma caricatura que brincava com o Tino assumindo a forma de um roedor. Criatividade e talento que trouxemos na mala. Obrigado querido. Daqui, do Planalto Central, aguardamos a concretização daquele novo livro. Pois é... além de simpatia, o homem é cheio de ótimas idéias. Hatuna matata.

Foto 01 - Cárcamo, Tino e Marcelo no Salão do Livro.
Foto 02 - Eu, com o chapéu de Ivan Zigg, e Cárcamo.
Foto 03 - A ilustração de Cárcamo para o Tino.

De volta à toca dos roedores de livros

Retornamos à toca dos roedores. Foram oito dias mergulhados no mundo da literatura infantil e juvenil. Descobrimos livros que ainda não chegaram às livrarias; projetos que serão transformados em livros até o próximo salão; os bastidores de algumas criações; a política por trás deste universo, nada infantil; novos amigos; emoções compartilhadas... tudo vivido intensamente por mim e pelo Tino, enquanto Edna e Célio tocavam o barco do projeto por aqui. Acompanhem, a partir de hoje, o que de melhor o 10º Salão FNLIJ do Livro Infantil e Juvenil ofereceu a nós, Roedores de Livros. Hatuna Matata.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Marina e Maurício no Salão...

Marina Colasanti, ao receber o prêmio (Hors Concours) de melhor livro de poesia, tirou da "manga" uma carta que recebeu (?) de Maurício Leite e a leu em público. Ele é um arte-educador, contador de histórias ENCANTADOR, que já vi em ação e que deu aulas (um mini-curso) para Ana Paula há muitos anos, quando ainda morava em Brasília. Atualmente ministra oficinas e conta histórias pela Europa, África e outroa continentes. Ele, sempre munido do livro, trabalha de forma genial, inclusive usando livros "só" de imagens, arrancando beijos, interjeições e aplausos da garotada. Depois, deixa sua mala - repleta de livros, brinquedos populares e outros badulaques - aberta para o deleite da garotada. Na carta, ele fala das dificuldades que encontrou numa viagem para contar histórias em Angola, e exulta a alegria das crianças admiradas com as histórias e os livros. Agradece aos escritores pelas histórias publicadas, instrumento de seu trabalho, importantes (as histórias e sua contação) para o despertar do gosto pela leitura em crianças mundo afora.

Naquela sala, indiretamente, Marina Colasanti - sem querer, querendo - disse à todos que um bom contador de histórias pode sim, incentivar a leitura. Maurício Leite usa de objetos em suas apresentações, assim como usa o livro. Os Tapetes Contadores de Histórias, usam objetos em seu excepcional trabalho, assim como usam o livro. Outros tantos também assim o fazem. A FNLIJ - Fundação NAcional do Livro Infantil e Juvenil, condena qualquer ação que não se prenda exclusivamente à leitura dos livros. Diz que o "resto" não incentiva a leitura. É mero entretenimento. Mergulhado na minha insignificância teórica, mas na força da prática que exerço, e sem as amarras políticas que envolvem tudo em torno da FNLIJ, digo que as palavras de Maurício Leite, repetidas por Marina Colasanti naquela sala na noite de segunda feira, soaram como música em meus ouvidos. Ao final de cada Firimfimfoca, por exemplo, os pais saem em busca dos livros da Sylvia Orthof atendendo ao pedido dos filhos.

O salão da FNLIJ é sim, o grande momento da litratura infantil e juvenil brasileira, como escreveu Socorro Acioli num comentário neste blog. É mais: um grande encontro de artistas do livro. É também um balcão de negócios. A mais organizada feira de livros que já vi. Porém, exitem muitos arte-educadores que usam o livro e suas histórias - e outros elementos - com talento e sucesso, despertando o gosto pela leitura, que não têm seu trabalho valorizado por esta instituição que tanto preza o livro e a criança. A FNLIJ merece todos os aplausos, mas - assim como qualquer mortal - não está imune a críticas. De um lado e de outro, todos queremos despertar nas crianças o gosto, o prazer pela leitura seja através de programas governamentais e projetos de incentivo à leitura ou práticas individuais. Queremos o mesmo: mais bibliotecas, mais mediadores, mais arte-educadores, mais leitores com prazer em ler. Hatuna Matata.

Premiando...

Cá estamos, mais uma vez, num cyber café carioca, postando algumas impressões sobre o que acontece no 10º Salão FNLIJ do Livro Infantil e Juvenil. No cyber, não consegui baixar as fotos (tantas) que entopem o cartão de memória da nossa máquia, por isso copio acima foto tirada no site oficial. Pouco tempo depois que esta foi tirada, as paredes naquele espaço estavam lotadas de outros autores, ilustradores, editores e participantes do salão. Receberam as láureas em mãos a divertidíssima Mighian Nunes (ganhou outro prêmio no ano passado), Jaqueline Soares (ambas do concurso Leia Comigo), Rosilene Pereira(concurso Tamoios), Graziela Hetzel e Elisbeth Teixeira (que me deu uma bronca por ter colocado o ex-libres no "lugar errado" do livro), Nilson Moulin, Cárcamo, Roger Melo (com uma camiseta MARAVILHOSA), Lucia Hiratsuka, Karen Acioly, André Mendes e Marina Colasanti. Quebrando o "protocolo", a sala foi sonorizada por "wuhús" calorosos e barulhentos quando foi anunciada a premiação de Lúcia Hiratsuka por seu livro Histórias Tecidas em Seda. Segundo os organizadores, foi a primeira premiação dela e da editora Cortez. O próprio sr Cortez, emocionadíssimo, subiu para receber o prêmio ao lado da doce Hiratsuka. Muita emoção, mesmo. Graziela Hetzel chorou no palco, emocionadíssima com a premiação de seu maravilhoso livro O Jogo de Amarelinha, enquanto Bia Hetzel, sua filha, fotógrafa, escritora, editora e gente boa, registrava tudo. Depois de uma belíssima apresentação musical, o 2º andar do Instituto Italiano de Cultura foi o palco de uma deliciosa recepção. Novos amigos, velhos amigos e muita conversa fiada e afiada nesta confraternização. Parabéns a todos. Autores, ilustradores, editores, Instituto Italiano de Cultura, patrocinadores e FNLIJ. A Literatura Infantil e Juvenil - que ainda está às margens da grande mídia, mas conquista a passos fortes um espaço melhor - merece toda esta atenção e reconhecimento. Nós, Roedores de Livros, ávidos consumidores de histórias e aprendizes na arte de conquistar novos leitores, aplaudimos e agradecemos. Wuhúúúúúúú!!!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Primeiras impressões do Salão da FNLIJ 2008

No último sábado, enquanto Edna, Célio, Aline e Juliana davam seqüência ao projeto na Ceilândia, eu e Ana Paula desembarcávamos no Rio de Janeiro para participarmos do 10º Salão FNLIJ di Livro para Crinaças e Jovens. A primeira impressão ao entrar no MAM, sede do salão, é a de nos sentirmos em casa. Livros. Autores. Ilustradores. Tantos que guardamos em casa nas estantes, nos emails, nos telefonemas... e agora, ali, ao alcance do olhar, do abraço, do reencontro, do muito prazer. Muito prazer. Esta é a palavra. Estou num Cyber-café no Flamengo e tenho que correr para o lançamento do novo e belíssimo livro de Ana Terra, Sai pra lá. Por isso, deixo mais impressões para depois. O que posso dizer é que os encontros após o salão são deliciosos. Segunda, uma mesa gigantesca no Cervantes reuniu editores, André neves, Elma, Marcelo, Ivan Zigg, Ana Terra, Cárcamo, Roger Melo, Hermes Bernardi Jr., Anna Claudia Ramos, Sandra Pina entre tantos outros. Ontem, no salão, o grande momento foi o lançamento do MARAVILHOSO livro Pelos Jardins Boboli - Reflexões dobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens, do genial Rui de Oliveira. Além de fãs, curiosos e alunos, Rui concentrou na platéia mais da metade dos melhores autores e ilustradores para crianças do Brasil, todos na fila de autógrafos. Um momento inesquecível. Talvez Rui ainda estivesse lá agora autografando (a fila era imensa) se a Beth Serra (a comandante em chefe do Salão) não aparecesse por lá com o microfone na mão expulsando todos da sala pois o horário havia estourado. À noite, num restaurante do Horto, Eva Furnari, Ricardo Azevedo, Diléa Frate e boa parte do "time" da primeira noite. Nesta segunda acontece a entrega dos prêmios da fundação. A noite também promete. Sigo informando aos poucos. Aguardem fotos e relatos de cada encontro.

Mais informações no SITE DO SALÃO.

sábado, 24 de maio de 2008

Visitas na toca dos roedores de livros.

Queridos amigos, no último sábado, 17 de maio, nosso encontro - como diria a Edna - foi SHOW!!! Quer dizer, todos os percalços do sábado anterior ficaram para trás. A turma veio disposta a participar ouvindo e contando histórias. Pra começo de conversa, tivemos três visitas: Lysiane (que sempre dá uma força para o projeto), Aline e Daila. Essas duas últimas foram conhecer nosso trabalho. A Vanessa grudou na Aline, contou histórias para ela e ajudou a tornar aquela manhã ainda mais gostosa. Na mediação, contamos o Monstro, não me coma!, Dá um sorriso pra titia! e A divisão dos gansos do livro O homem que contava histórias. Depois que alguns conaram sobre o livro que levaram para casa na semana anterior, pausa para o lanche e hora de escolher novos livros. Ao final, antes de irmos para casa, brincamos de ciranda e "andamos de trem". Um final de manhã divertidíssimo. Para exemplificar tudo isso, resolvi que as fotos falarão por si. Darei título a elas só para reforçar a idéia. Portanto, a primeira foto, chama-se "sala de leitura - esperando os roedores";
"O apetite que arregala os olhos";
"Visitas ganham histórias de boas vindas"... voltem sempre!;
"Mergulhando nos livros";
"Andando de trem, antes de ir para casa".

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Palavra de criança

Semana passada descobrimos que um livro do acervo do projeto não havia descansado na prateleira desde o recomeço das atividades em 2008. Seis semanas depois, seis crianças diferentes pegaram o tal livro para ler. Tempos atrás, a Júlia leu este livro e me disse que tinha gostado muito. Baseada nesta informação, resolvi apresentá-lo à turma assim que ele chegou ao acervo. No mesmo dia aconteceu o primeiro empréstimo e, desde então, está passando de mão em mão numa disputa acirrada sempre que ele retorna à casa. Estou falando do livro Tem um cabelo na minha terra (texto e ilustrações de Gary Larson, Cia das Letrinhas). Curiosa, no último sábado perguntei para algumas crianças sobre o que elas acharam da leitura:

- É muito engraçado! – disse uma.

- A gente não consegue parar de ler! – disse outra.

- É um livro muito bom! – Finalizou uma terceira leitora.

Com argumentos tão fortes e sinceros, fui descobrir as delícias desta história de minhoca e me surpreendi com as sutilezas que o autor colocou no texto e nas ilustrações.
Tem um cabelo na minha terra é, antes de tudo, um livro muito engraçado. Uma família de minhocas (pai, mãe e filho) jantam em casa quando o pequeno minhoco encontra um cabelo na terra que comia. Ele acha tudo aquilo o fim da picada: “Estamos debaixo de todo o mundo! Somos o último escalão da cadeia alimentar! Comida de passarinho! Isca para pescaria! Que vida é essa, me digam! Nunca saímos para nadar, para acampar, para uma caminhada, nada! (...) E além do mais, eu já ia esquecendo, comemos terra! Terra no café da manhã, terra no almoço, terra no jantar! Terra, terra, terra! E agora, ainda por cima, vejam só! Aparece um cabelo na minha terra! O insulto final – não agüento mais! Detesto ser minhoca!”. Papai minhoco resolve, então, contar a história de Benedita, uma linda donzela que vivia numa floresta e que se encantava com a magia da natureza. Durante um passeio, a moça vai se encantando com a natureza ao redor, enquanto o senhor minhoco, narra todos os equívocos daquele encanto superficial, oferecendo ao seu filho – e ao leitor - um choque de realidade. Tudo com muito humor. Ao final, o pequeno minhoco percebe que amar a natureza não é o mesmo que entender a natureza, que o mundo natural é feito de conexões e que as minhocas também têm sua importância para o bom funcionamento do todo. As ilustrações brincam o tempo todo lado a lado com o bom humor do texto. Por exemplo, na sala de jantar das minhocas, a terra está servida em pratos, acompanhados de talheres. Não preciso lembrar que minhocas não têm braços (dããããã). Gary Larson conta uma história divertida, inusitada, que oferece caminhos para ensinar ao leitor sobre preservação do meio ambiente.

Analisando as respostas das crianças que fizeram a leitura de Tem um cabelo na minha terra por puro impulso, estimuladas pela propaganda de um leitor anterior, da mesma idade, do seu círculo de amigos, a gente percebe que o livro de Gary Larson encanta porque – antes de tudo - tem um texto inusitado que contagia, que provoca risos e que é, por fim, muito bom. Palavra de criança. Quem somos nós para duvidar. Hatuna Matata.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

As caixas de Hermes

A primeira vez que encontrei o Planeta Caiqueria (Hermes Bernardi Jr., ilustrações de André Neves, Projeto) foi numa livraria em Brasília numa tarde onde só tinha a grana para o café e muita curiosidade por novos livros. Fiquei numa convulsão para levá-lo para casa. Primeiro pela criação primorosa das ilustrações do André Neves – que me fez tirá-lo da estante num primeiro momento. Depois, pela força da história-quase-fábula de Hermes. O livro, com sua força de recortes, texturas e cores, é um presente para os olhos... coisas de André. O texto, por sua vez, acarinha o coração. Fala da solidão, da responsabilidade, do amor e das surpresas que a vida apronta. Sei lá... Acho até que fala de um tempo remoto e gostoso quando a vida era só ouvir histórias... depois vieram as contas a pagar, os filhos a educar, horas de trabalho mais que horas livres... Abrindo o Caiqueria, volto àqueles tempos de descompromissos com a realidade. Então, no meu mundo só resta a fantasia. É maravilhoso recordar estes momentos ao simples despetalar de folhas deste livro.
Passaram-se alguns dias e o livro finalmente veio morar aqui em casa. Vez em quando, como agora, vou correndo até a estante fazer companhia à estranha Criatura – este é o seu nome - que tem por ofício guardar e manter fechadas as caixas que guardam as histórias que guardam as palavras. Nas minhas andanças por aí, descobri que o nome Caiqueria surgiu da mistura de CAIxa, brinQUEdo e HistóRIA. Uma colagem criativa para descrever o que acontecia naquele planeta. Criatura cultivava frases num jardim, colhia e as guardava em caixas diversas, aprisionadas em histórias distintas. Cada história em sua caixa e Criatura com tudo aquilo para si. Um dia, durante um cochilo de Criatura, um Big Bang abriu as caixas e espalhou as histórias pelo mundo. Ao acordar, Criatura descobre a liberdade. Sua e das histórias. Eu fiquei assim, mais livre e mais encantado com a literatura infantil.
A primeira vez que encontrei o E um rinoceronte dobrado (Hermes Bernardi Jr., com imagens de Guto Lins, Projeto) foi inusitada. Ele chegou em casa sem nem eu saber. Além de dobrado, veio espremido com outros livros num “lote” de “cortesia da editora”. Era um time de ótimos livros e eu saí roendo pra todo lado. De repente, já empanturrado do “lanche”, pesquei o tal rinoceronte da sacola e comecei a ler, sem dar muita atenção ao autor ou ao ilustrador. Na terceira página eu já estava apaixonado pelo texto. Na quarta, quando o autor resolve colocar numa caixa de sapatos dois quilos de quando ele era contente eu parei a leitura. Voltei à capa e descobri o autor. Caixas... Hermes... é claro que ali estava uma ligação com o Planeta Caiqueria. Arrepiei com a descoberta. Para os mais atentos, a ligação nem precisava estar escrita no final do livro como, de fato, está.
O texto nasce da resposta do autor à pergunta: O que eu colocaria numa caixa de sapatos? Daí surge a fantasia que passa por todos os sabores de picolé, um momento de chuva, um saquinho de beleza, meias fedidas, pensamentos embalados em mel, rimas, absurdos e outros sabores. O projeto gráfico de Guto e Adriana Lins dá vida aos “objetos” que vão compondo a tal caixa como os quindins (sim, eu os vi), uma zebra fantasiada de cacho de uva, um jacaré de paletó, entre outras criações poéticas. Tudo com muita criatividade embora, às vezes, deixe a impressão de que tantas imagens na página ocupem o espaço que o texto oferece para a imaginação do leitor voar ainda mais alto. O livro encerra com a mesma pergunta do início. Desta vez, dirigida ao leitor que, inserido na brincadeira poética de Hermes, se vê apto a colocar suas mais loucas criações e memórias eletivas na caixa de sapatos. Talvez um balanço de rede, ou uma camiseta amarelo-petróleo... quem sabe o arco-íris que eu vi na voz da Maria Bethânia ou a risada do Pedro, o calor da Ana... De uma coisa estou certo: ficarei mais atento ao que sair da caixola de Hermes. Espero que ele continue a me surpreender com ótimas histórias.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Pouco, às vezes, é muito.

Sábado passado, 10 de maio, véspera do dia das mães, a turma estava muito dispersa. Não foi um dia dos mais tranquilos. Talvez por estarem todos ansiosos para fazer os cartões e descobrir qual a surpresa que levariam como presente para suas mães. Talvez pela presença de um ou outro novo menino que trouxe uma eletricidade diferente. Mas a garotada estava ligada na tomada. Elétrica. Atenção mesmo só na primeira história, contada pela Hilariana. Ela escolheu o livro Ensinei meu gato a falar francês (Sérgio Vieira Brandão, ilustrado por , Paulinas). Depois, seguiram as leituras das crianças, mas não aconteceu com a atenção das semanas anteriores. Peguei uma história para ler. Não funcionou. Estavam dispersos mesmo.
Calma e concentração para a hora de cada um fazer um cartão para a mãe. Nossos meninos e meninas encontram na figura da mãe toda a força para seguir em frente. Muitas trabalham, não têm marido, mas, com todas as dificuldades, conseguem oferecer um mínimo de carinho para seus filhos. Pouco, às vezes, é muito diante de tanta adversidade. Por isso acredito que a vontade de oferecer algo para as mães trouxe uma carga de realidade que a fantasia dos nossos livros não conseguiu romper.
Conseguimos a doação de livros para que cada criança levasse de presentepara sua mãe histórias de mulheres vencedoras. Num embrulho simples, reencontramos o sorriso sincero e o orgulho de todos em voltar para casa com este mimo. Agora, sim, com o presente na mão, de volta ao projeto, era a hora de escolher os livros para empréstimo.
Sentada na relva (pense!!!) a Edna finalizou os trabalhos daquela manhã, anotando os livros que cada criança escolheu. Enquanto aguardam a sua vez na fila, uns lêem, outros trocam informações sobre suas escolhas, e outros ainda só esperam a hora de ir para casa.

Hatuna Matata!!!