quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Prêmio Jabuti 2008.

Queridos amigos. Saiu o resultado do PRÊMIO JABUTI 2008, a maior e mais prestigiada premiação literária brasileira. Nas categorias que envolvem diretamente o público infantil e juvenil os resultados foram os seguintes:


MELHOR ILUSTRAÇÃO DE LIVRO INFANTIL OU JUVENIL:

1o Lugar - TODA CRIANÇA GOSTA... (Texto de Bia Hetzel com ilustrações de Mariana Massarani e projeto gráfico de Silvia Negreiros, editora Manati). Este livro é um dos preferidos dos Roedores de Livros. A criançada ADORA (e nós também)!!!

2o Lugar - JOÃO FELIZARDO O REI DOS NEGÓCIOS (Reconto escrito e ilustrado por Ângela Lago, Cosac & Naify).

3o Lugar - O belíssimo POEMINHA EM LÍNGUA DE BRINCAR (escrito pelo genial Manoel de Barros e ilustrado com uma sensibilidade genética por Martha Barros (a filha do poeta), editora Record).


MELHOR LIVRO INFANTIL

1o Lugar - SEI POR OUVIR DIZER (escrito pelo Mestre Bartolomeu Campos de Queirós e ilustrado por Suppa, editora Edelbra. Que este merecido prêmio sopre uma brisa de saúde e felicidade nos caminhos do querido "professor").

2o Lugar - O MENINO QUE VENDIA PALAVRAS (gostamos muito deste livro escrito por Ignácio de Loyola Brandão e ilustrado por Mariana Newlands, que também assina o projeto gráfico, editora objetiva).

3o Lugar - ZUBAIR E OS LABIRINTOS (escrito e ilustrado por Roger Mello, este livro - e não o prêmio - é mais uma prova de que o menino que mora na cabeça do artista/escritor brasiliense continua a passos largos na vanguarda da Literatura Infantil. Editora Companhia das Letras).
MELHOR LIVRO JUVENIL

1o Lugar - O BARBEIRO E O JUDEU DA PRESTAÇÃO CONTRA O SARGENTO DA MOTOCICLETA (Dizem por aí que este livro, escrito por Joel Rufino dos Santos é maravilhoso, porém ainda não chegou aos olhos dos Roedores de Livros. No entanto, já estamos com um apetite voraz. Editora Moderna).

2o Lugar - TÃO LONGE... TÃO PERTO (Escrito e ilustrado por Silvana de Menezes, editora ).

3o Lugar - MESTRES DA PAIXÃO - APRENDENDO COM QUEM AMA O QUE FAZ (escrito por Domingos Pellegrini, editora Moderna).

Outras premiações você pode conferir no SITE DO PRÊMIO JABUTI.

O Pinheirinho dos Roedores de Livros

Sumiram... desapareceram... escafederam-se... as fotos da manhã do sábado 30 de agosto não está em nossos arquivos. Se perdeu. E foi um dia tão significativo. A Feira do Livro de Brasília começava suas atividades no shopping Pátio Brasil no coração de Brasília enquanto nós seguíamos as atividades dos Roedores de Livros a cerca de 30 Km de lá. O Célio apareceu para uma visita surpresa: por causa da Feira ele só iria trabalhar à tarde. As crianças abriram um sorriso largo para nosso roedor que andava meio sumido. Mas essa foi só uma das boas histórias daquela manhã. Há algumas semanas Eu, Edna e Tino trabalhamos com os autores clássicos e a principal história da semana passada (O Patinho Feio) foi escolhida pelas crianças. Resolvemos levar outros livros com histórias de Andersen e o Samuel, novo na nossa "toca", lembrou que ele fora o autor lido na semana passada. O livro escolhido por todos nesta semana foi o ótimo Histórias do Cisne e a história escolhida foi O Pinheirinho. A mediação foi ótima e rendeu uma conversa com a turma sobre as nossas escolhas. Na história de Andersen, um pinheirinho quer logo se tornar grande e seguir o destino incerto dos seus pares mais velhos, levados pelos homens a cada prenúncio do outono. Preocupado em se tornar um grande e belo pinheiro, a árvore não aproveita sua infância e juventude e acaba tendo uma única noite especial na véspera de natal quando, entre outras coisas, ouve e aprende a única história que ouviu na vida: a do Kumpla Dumpa. Depois, fica esquecido no sótão, contanto a tal história para os ratos e lembrando de quanto menosprezou os dias maravilhosos do passado.
Coincidentemente, ali no tapete vermelho, sobre uma grama rala, nós, Roedores de Livros, contamos histórias à sombra de um belo pinheiro. Este já ouviu muitas histórias e, pacientemente, segue por todas as estações nos oferecendo o seu carinho e atenção. Não quer saber de conhecer outras paragens. Quem sabe até conta as histórias aprendidas na semana para outros animais. Mas isso nós ainda não presenciamos. Nossos meninos também aproveitam sua infância e saltam e gritam e correm nas gramas da fantasia a cada manhã de sábado. Talvez, sem a oportunidade de ouvir histórias e conhecer novos livros a cada semana, estivessem pensando em se tornar adultos antes do tempo. E nós, os "adultos", recordamos nossos dias passados e fazemos do presente, através das histórias de Andersen, Perrault, Grimm, Furnari, Azevedo, Belinky e tantos outros mestres, dias mais fantásticos. Hatuna Matata.
As fotos sumiram, mas nos deu a oportunidade de brincar com a fotomontagem acima, feita com ilustrações de Chris Riddell pescadas do livro Histórias do Cisne.

domingo, 21 de setembro de 2008

Alimentando a curiosidade.

Sempre fui uma curiosa de marca maior. Acho que ainda hoje sofro daquele “mal” da infância: quero saber o por quê de tudo. Me sinto o próprio Gabriel, inspiração da Paula Toller para a música “Oito anos”, gravada também por Adriana Calcanhotto no seu magistral disco Adriana Partimpim em que o pequeno tem mania de explicação. Os Guias dos Curiosos de Marcelo Duarte vivem ao alcance da minha curiosidade e fico pescando utilidades e futilidades por aí. Sabendo desta minha queda por aprender um pouquinho mais, o Tino me presenteou com o livro OS 10 + HORRIPILANTES CONTOS DE FADAS (texto e ilustrações de Michael Coleman, Cia das Letras). De início torci o nariz para a capa e para o título, mas fui em frente e descobri que, além de novas versões para velhas histórias, estavam lá muitas informações que contextualizam diversas situações curiosas dos tais contos de fadas. E são esses dados – mais que as histórias – que fazem deste livro um ítem obrigatório para a estante de quem gosta de histórias e tem um pouquinho de curiosidade.

Numa primeira – e rápida – leitura, o livro parece não passar de mais uma releitura de histórias clássicas como A Bela e a Fera e o Pequeno Polegar. O autor procura aproximar as histórias do universo do leitor do século XXI. Por exemplo: João e Maria é contada por um âncora de programa de TV estilo AQUI AGORA ou BARRA PESADA ou qualquer outro desses policiais que dominam a programação das TVs abertas. João e o Pé de Feijão é relatado através das anotações que a professora faz numa provável agenda do aluno com comentários dele e da mãe. Pode até funcionar e conquistar novos leitores, mas eu prefiro os clássicos. Sempre! Eles me encantaram e ajudaram a me tornar a leitora apaixonada por livros que sou.

Entre uma história e outra aparecem as delícias deste banquete fabuloso. O autor apresenta informações como Os 10 maiores contadores de histórias (você já ouviu falar de Giambattista Basile ou Gabrielle-Suzanne Villeneuve?), Os 10 maiores ingredientes dos contos de fadas (para você aprender dicas além dos tradicionais “Era uma vez…” e “Felizes para sempre”), sinais, símbolos e superstições dos tempos em que as histórias foram escritas (Por que as bruxas transformavam os príncipes em sapos?... a resposta está lá), um relato sobre a difícil vida das crianças naqueles tempos (por isso, tanta madrasta nas histórias…), e mais: curiosidades sobre bruxas, animais falantes e aberrações da natureza. O leitor ainda descobrirá que, em bom português a famosa Cinderela deveria se chamar Cinzerela, pois seu nome original deriva das cinzas que passava em seu corpo em razão do luto que prestava em memória da mãe. E por falar em Cinderela, o seu sapatinho não era de cristal. Quando Charles Perrault escreveu a história ele provavelmente confundiu as palavras francesas vair (pelica) e verre (vidro), mas convenhamos, é muito mais fantástico um sapato de cristal!!!

Quando falamos sobre curiosidades no campo das clássicas histórias infantis não podemos esquecer que existem livros mais robustos, com os textos originais e com informações preciosas acerca do tema como o CONTOS DE FADAS e FADAS NO DIVÃ, porém eles assustam o leitor mediano com o volume de informações e o texto por vezes técnico demais para olhos menos eruditos. O livro de Michael Coleman oferece em menos de 200 páginas ricamente ilustradas informação na medida certa para quem gosta de histórias, seja este leitor um pai, mãe, avó ou avô, aluno ou professor. Eu adorei meu presente. Estou certa de que você vai gostar. Hatuna Matata.

As imagens aparecem maiores se você clicar sobre elas!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Clássicos!!!

Aquele dia 23 de agosto nos ofereceu uma manhã com o céu de Brasília azul, azul, azul da cor do mar, sem photoshop, que nos encantou os olhos. Faltaram as cores fortes dos flamboyants, mas elas estão a caminho. É só esperar mais um pouco. Eu, Edna e Tino fizemos um suspense para apresentarmos uma caixa repleta de "novos" livros usados. As crianças ficaram loucas para conhecer o conteúdo da caixa e um a um fomos apresentando os novos inquilinos da nossa estante no Centro Comunitário da Criança.
Depois que apresentamos os livros, deixamos a caixa aberta para as novidades ganharem os olhos e os desejos das crianças com suas capas, ilustrações e fantasias. Enquanto isso, Edna conferia as devoluções dos empréstimos da semana anterior. Nosso livro de registros já está precisando de uma nova edição.
Naquela manhã, o tapete vermelho serviu de sala de visita para novos roedores. O projeto parece sofrer uma renovação. As crianças mais velhas estão faltando, mas há um quórum novo formado por meninos e meninas de seis, sete anos. Para este público, nada melhor que apresentar os clássicos!!!
Foi assim que escolhemos juntos o livro para a mediação daquela semana: O Patinho Feio na edição da Companhia das Letras com tradução integral do texto original de Hans Christian Andersen. Esta é uma edição muito bonita que, ao final, apresenta algumas informações adicionais sobre a força que esta história exerce mundo afora.
Para encerrar, a foto abaixo retrata bem a força de uma história que pode parecer batida, conhecida, desinteressante após tanta exposição em livros, revistas, filmes, etc. Não devemos menosprezar os clássicos. Ao ouvir a saga do pequeno animal em busca de um lugar ao sol, nossas crianças foram se chegando como se aquelas palavras carregassem consigo um ímã fantástico capaz de arrastar olhares, braços, pernas, desejos.
O céu, era aquele que é tão cantado aos quatro ventos: um clássico! A história escolhida para a mediação, outro clássico. Nossas crianças também oferecem os encantos azuis do céu de Brasília e as delícias que um ótimo conto oferece ao leitor. Para nós, elas também são clássicas. Hatuna Matata.

O gênio da lâmpada passou por aqui...

Dia desses o gênio da lâmpada apareceu por aqui e disse que os Roedores de Livros tinham direito a um pedido. Aí eu bati o pé, esfreguei a mão bem forte e disse: - Mas como? Você não conhece a história? São 03 pedidos!!! E assim foi. Pedidos atendidos, roedores em festa!!! Uma das graças foi a ilustração acima, feita com muito talento e carinho por Alexandre Rampazo, que acaba de lançar o belo A Menina que Procurava. Procurem por aí ou POR AQUI. Querido Alexandre, obrigado pelo carinho e pelas palavras de incentivo. Vida longa aos seus sonhos. Fique também com o nosso apertado abraço de letrinhas. Hatuna Matata.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Nós nos transformamos em muitos!!!

Resolvi começar este post com uma imagem do final da manhã do sábado, 16 de agosto. Estávamos numa roda animadíssima pipocando e cantando a plenos pulmões a música da pipoca: "Uma pipoca estourando na panela, outra pipoca começa a responder...". Foi um final pra cima, supimpa, completamente extrovertido, numa manhã que começou cheia de dúvidas sobre como seria o nosso encontro semanal.
Ana Paula estava em São Paulo representando o projeto no Fórum do PNLL e o Célio avisou que também não viria. Restaram apenas eu e a Edna. Será que daríamos conta da turma, afinal, não é só chegar e contar histórias. Há uma série de coisinhas que um resolve enquanto outro descasca um abacaxi e outro sai para comprar e preparar o lanche e outro leva a turma para beber água e/ou fazer xixi, e outro ajuda a atravessar a rua, e outro recebe os livros emprestados e outro cadastra os livros emprestados e outro descobre os problemas de uma ou outra criança... Nós nos transformamos em muitos, sempre!!!
Mas, ao chegar à Creche Comunitária da Criança naquela ensolarada manhã, tive a grata surpresa de encontrar a Lisianny e o Evanildo dando uma força para que o projeto ocorresse dentro da sua normalidade. UFA!!!
Sob a sombra do nosso pinheirinho saquei do baú o livro Avó Maluca, lelé da cuca e Avó Pirada da pá virada, do querido Jonas Ribeiro e ganhamos logo a atenção e os sorrisos de todos. A história tem tudo a ver com o universo infantil e a turma sempre imaginava quais presentes o menino iria ganhar das suas queridas e desastradas avós. Sucesso total!!!
Outro livro que levamos para a mediação foi O caso da lagarta que tomou chá de sumiço, de Milton Célio de Oliveira Filho. O texto ganhou mais força ainda com as belíssimas ilstrações de André Neves. O livro é belo. Os animais criados por André ganham formas e cores ricas em fantasia. Show!!! Depois da mediação, o livro continuou passeando nas mãos das crianças. Olho de menino gosta de André Neves.
Lisianny (acima, à esquerda, conversando com a Edna) ajudou a organizar nossa estante e o Evanildo deu aquela força na organização do lanche. Sem eles, o dia seria corrido demais e não poderíamos dar toda a atenção que nossas crianças merecem. Enfim, a manhã foi ótima, encerrada com muita música e livros nas sacolas indo para novas casas, novos olhos. A fantasia solta pela Ceilândia.

Roedores de Livros no II Fórum do PNLL, em Sampa.

No começo de agosto representei o projeto ROEDORES DE LIVROS no II Fórum do PNLL em São Paulo. Tivemos a oportunidade de apresentar um resumo das nossas atividades, além de esclarecer dúvidas diretamente junto ao público.
Além de divulgar nossas conquistas e dificuldades, aprendemos muito com o relato de outras experiências (ao todo, 50 projetos foram selecionados para o Fórum). O evento também serviu para reencontrar grandes amigos/parceiros desta vida dedicada a incentivar a leitura, como Léo do Peixe (O simpático Leonardo Diniz, pescador, idealizador do projeto Clube da Leitura em Pirapora, MG, na foto acima), Tânia Piacentini (Biblioteca Barca dos Livros) e Renata Nakano (Dobras da Leitura), além de toda a equipe de coordenadoras do projeto Prazer em Ler, do Instituto C&A.
Como não poderia deixar de acontecer, acrescentamos alguns nomes na nossa agenda de amigos do livro, como a Helena Castello Branco do BookCrossing. Esse intercâmbio é fundamental para que boas idéias sejam semeadas por todo o Brasil e esperamos que a equipe do PNLL possa, em breve, disponibilizar em seu site os arquivos sobre as ações convidadas, além do conteúdo discutido naquele encontro. Hatuna Matata.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Roedores no Educar para Crescer

Num passeio pela internet, encontrei neste sítio da Editora Abril a reportagem que a jornalista Débora Menezes escreveu sobre o nosso projeto na revista Nova Escola, Edição Especial sobre LEITURA. No site da Abril, eles colocam Ceilândia como cidade de Goiás (o que está incorreto e difere da informação da fonte impressa original). No mais, se vocês não tiveram acesso a revista, podem conhecer parte do seu conteúdo e se inteirar um pouco mais sobre o nosso projeto. Boa leitura a todos! Hatuna Matata!!!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Tradição da Hora ou O Peru foi aos Roedores.

Depois de merecidas férias. retomamos as atividades no sábado, 09 de agosto. Edna havia ido ao Peru, eu fui com as crianças para Sampa e o Tino foi encontrar nosso outro Pedro em Fortaleza. Nada melhor que uma viagem para descansar a cuca e renovar as idéias. Chegamos com muita saudade de tudo: das crianças, de estarmos juntos e do Célio. Sim, nosso quarto Roedor não poderá nos acompanhar durante os próximos sábados, mas está sempre presente. Voltará em breve. Sem ele, começamos as atividades rompendo as fronteiras da língua. A Edna presenteou-nos com um livro peruano chamado El Hombre, El Tigre y La Luna. A turma ficou curiosa para conhecer e história. Então, improvisamos um espanhol instrumental em que a Edna lia a história e as crianças faziam a tradução. Foi uma experiência MARAVILHOSA. Através da sonoridade próxima do português e das ilustrações, nossos roedores mirins foram se apossando da história estrangeira onde o tigre tem pele de onça e a esperteza do homem supera a força do animal.
Todo mundo participou da "leitura". Interação total. Repetiremos a brincadeira em breve. O tal livro ainda passou de mão em mão pois a turma queria ver como as palavras eram escritas... enfim, uma reencontro diferente e muito gostoso.
Quando planejamos a volta das férias, resolvi tirar do nosso baú particular dois livros peruanos que resolveram ficar lá em casa depois da última temporada dos Tapetes Contadores de Histórias aqui em Brasília: El Zorro e El Cuy e As Ilhas de Pachacamaca. O livro inusitado (de pano, repleto de bordados e personagens que se escondem e aparecem à medida que a história avança) foi feito pelas mulheres do projeto peruano MANOS QUE CUENTAN e é LINDO, LINDO, LINDO e parece que foi feito com ímãs que atraem os olhos das crianças.
Contei as duas histórias mas, antes, contamos um pouco das curiosidades peruanas como, por exemplo, por que os povos das montanhas são de baixa estatura (o corpo se adaptou à altitude). Falei que tanto a história do livro que a Edna havia importado quanto a dos livros de pano carregavam consigo a TRADIÇÃO ORAL. Perguntei a todos o que seria tal tradição. Um garoto respondeu na hora: - É A TRADIÇÃO DA HORA!!! Rimos muito, mas aproveitamos para abordar a origem das histórias, desde sempre, antes dos livros, passadas de geração em geração através da tradição oral até ganhar as cores e tintas no papel. Foi um papo SUPER!!!
A manhã que começou preguiçosa terminou quase que num segundo. O tempo passou rápido na Ceilândia naquele sábado. Tempo, tempo, tempo, tempo. Aquele senhor tão bonito da canção de Caetano deixou-nos famintos por mais meninos, mais histórias, mais VIDA EM COMUM. Que a vida seja longa para que possamos aprender sempre com nossas crianças. Hatuna Matata.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O importante é SER, feliz!!!

A música me acompanha desde menino. Não por acaso. A família sempre esteve por perto dando uma força nos momentos mais inesperados. Lembro agora o quão foram importantes a atenção musical que recebi (entre outros familiares) de dois primos entre a infância e a juventude. Tive um professor de violão que me ensinou os primeiros acordes e canções do paraibano Zé Ramalho. Ali, a música que ouvia dos acalantos da minha mãe com a sua voz doce ganhou outros ares. Eu descobria que poderia reproduzir aquilo que fazia o meu peito bater mais forte. Passei a ter curiosidade sobre tudo que cercava o universo musical. Foi ali, naqueles tempos de menino, que ganhei dois LPs de um primo mais velho: o OUTRAS PALAVRAS, de Caetano Veloso e uma coletânea com músicas de CHOPIN. Eu não tinha maturidade para tudo aquilo, mas adorava ouvir Lua e Estrela, Rapte-me Camaleoa, Outras Palavras e Dans mon ilê – que eu não entendia nada da letra em francês, mas gostava do som. Perto de casa, tinha um bar chamado Badauê – coisa de baianos – e uma canção de caetano (Sim / Não, que balançava o meu juízo com seus vocais e violões) falava de Badauê, Zanzibar e Ilêayê. Eu me esmerava para - menino - aprender os acordes e a batida. O Chopin me incomodava um pouco com aquela tristeza toda, mas foi com ele que aprendi que as canções podiam ser belas e tristes. Foi minha primeira incursão no mundo da música clássica. Nascia ali um fã deste estilo e um admirador e colecionador da obra de Caetano Veloso. Anos depois, num dos meus aniversários, o funcionário dos correios entregou uma encomenda inusitada enviada por uma prima querida: embrulhada em papel pardo uma caixa azul guardava 13 LPs. Simplesmente, a coleção dos Beatles. Ouvir aquele som foi algo assustador, revolucionário, instigante mesmo quase 20 anos após o fim da banda. Definitivamente moveu minha vida para os caminhos da música. Eu só tenho a agradecer estes dois primos por perceberem minha vocação e com seu carinho e atenção me ajudaram – mesmo sem querer – a escolher este caminho.

Foi também com a ajuda da família que o garoto Jimmy Jibbett encontrou sua vocação. O pequeno Jimmy sonhava em ser um grande cartunista. Desde cedo, criava seus próprios quadrinhos, com personagens e histórias próprias. Mas tinha uma frustração enorme: não conseguia desenhar mãos perfeitas. Tinha dificuldades em criar dedos próximos do real. E isso era um obstáculo para o sucesso dos seus quadrinhos. A família de Jimmy não era bem um exemplo e inspiração para o menino: o pai era uma figura ausente mesmo quando estava em casa. Sua mãe, vivia enfurnada no estúdio da casa, criando figurinos. A irmã mais velha tinha uma personalidade que dominava a cena – mandando em todos - e a mais nova adorava tudo que o irmão fazia. Este, por fim, sofria com estas “distâncias” e, conseqüência disso, fugia o quanto podia do carinho da caçula. O talento do menino para contar e desenhar histórias também era admirado secretamente pela irmã mais velha, mas ignorado pelos demais.


O único incentivador e espelho para a vida de Jimmy, de fato, era o tio Lester, um compositor brilhante, mas sem reconhecimento – o que o transformava num tipo perdedor para a família (menos para Jimmy). Foi exatamente este tio que incentivou o sobrinho a seguir em frente com o seu talento. A vida do pequeno Jimmy, seus problemas familiares, escolares, seus questionamentos pessoais sobre a sua vocação “precoce”, a busca da sua auto-afirmação e um monte de histórias curtas bem legais são os ingredientes que fazem o sucesso de O HOMEM NO TETO (Jules Feiffer, Cia das Letras) um livro pra lá de especial. Estão lá personagens como o MiniMan, o Cabeça de Bala e o Urso Sabido, este último, personagem de um enredo simples, criativo e genial. Não sei se foi por tratar das dificuldades que a vida oferece para quem quer se tornar um artista – acho que há dificuldades em todas as profissões – ou pela idéia de que o sucesso é a soma de muitos fracassos (acabo de ver a Maurren Maggi saltar para a medalha de ouro nas olimpíadas de Pequim). A verdade é que eu devorei as 200 páginas do livro com a rapidez e felicidade de quem saboreia um pedaço de pudim. Saborosa do início ao fim, a história de Jules Feiffer fala direto ao coração do leitor – seja adulto ou criança.

O texto, repleto de surpresas e metáforas, por vezes dá espaço para as ilustrações de Jules e para os desenhos do personagem (ilustrados pelo autor) e é assim – com uma imagem do pequeno Jimmy - que o livro termina. Vale por mil palavras. Me arrepiou os pêlos. Me fez lembrar sensações que tive ao ouvir pela primeira vez GOLDEN SLUMBERS dos Beatles, o NOTURNO op. 9 n 2 de Chopin e NU COM A MINHA MÚSICA de Caetano. Ah, quantas vezes “Penso em ficar quieto um pouquinho / Lá no meio do som / Peço salamaleikum, carinho, bênção, axé, shalom / Passo devagarinho o caminho / Que vai de tom a tom / Posso ficar pensando no que é bom”. Estou certo de que - no seu mundo fantástico - Jimmy Jibbet é um cartunista feliz. Como sou feliz com a minha música. Hatuna Matata.


P.S. Nesta última imagem, Jules Feiffer desenha Jimmy e o tio Lester (observando os desenhos do sobrinho).