quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Lata vazia é a que faz mais barulho...

Há 10 anos, o 5 de dezembro pasou a ser uma data muito importante para mim: é o aniversário do meu filho Pedro. Normalmente nos encontramos em Fortaleza, como fizemos neste ano. Os dias que antecedem são cercados da vontade de acertar no presente. E o brinquedo sempre chega acompanhado de um livro. Pedro Tino adora ver o tempo passar na fantasia de uma boa leitura. Geramente demoro a escolher um livro para ele. Este ano a escolha foi rápida e certeira: O LIVRO PEDRIGOSO PARA GAROTOS (Con e Hal Iggulden, tradução de Maria Beatriz de Medina, publicado pelo selo Galera, da editora Record).
Me apaixonei pelo livro desde o primeiro contato. Me lembrou o exemplar do Manual do Escoteiro Mirim de capa azul e cadeado - em volume único - que eu tinha quando na flor dos meus 10 anos. Me encantou desde o título. Logo nas primeiras páginas fala sobre canivetes e caixas de fósforos. Depois, ensina a fazer estilingue (baladeira) e arco e flecha. Pedro avançou o olhar curioso nas páginas do livro. Ficou ali uns bons minutos. Gostou do presente.
O livro surpreende pelo conteúdo. De forma sutil e inteligente convida o leitor a abandonar o controle remoto da TV e o Joystick do videogame. Mistura a fórmula para escrever com tinta invisível e dicas sobre gramática, geografia e história. Ah, tem ainda turbinados aviões de papel, ensina como fazer uma pilha, um carrinho de rolimã e outras coisas que vão mexer com a curiosidade das crianças. Acho que você também vai gostar.
Os autores são dois irmãos ingleses com pouco mais de 30 anos. Por isso, acho improvável que els tenham indicado os livros do Pedro Bandeira como o segundo ítem da seção LIVROS QUE TODO GAROTO DEVERIA LER. Certamente, a tradutora interferiu na obra, dando ares tupiniquins a algumas seções. Na maioria das vezes, acerta na medida. Apresenta frases de Machado de Assis, convida para uma leitura de um trecho de Os Sertões (Euclides de Cunha) e cita Amyr Klink como um dos grandes aventureiros. O livro fala ainda sobre piratas, jogos e outras curiosidades que fazem a imaginação do leitor dar pulos de alegrias.
Nesta manhã do dia 05 de dezembro, eu e meu filho, deitados na rede, nos entregamos as delícias ofertadas pelos irmãos Iggulden. Logo no início, pausa para falarmos sobre a expressão Lata vazia faz mais barulho que consta na carta de introdução ao livro. Depois, seguimos enchendo nossa lata com nós, longitudes, dinossauros e silêncios. O único som que nos embalou foi o canto de um bem-te-vi que pousou curioso na varanda. Ah, vez em quando o armador rangia na parede e eu esticava o sorriso por sobre os cabelos de Pedro. A vida é boa!!! Hatuna Matata.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Na praça, no ônibus, no avião...

Não sei se vocês já passaram por situação parecida, mas as pessoas acham estranho ver um adulto lendo livros ou revistas infantis. Leio sempre que posso. Gosto muito. No ônibus, na praça, no avião... Pois esta manhã aconteceu de novo... Havia encontrado o Rogério de Andrade Barbosa no saguão do aeroporto... conversamos sobre o ABC do Continente Africano e outras mumunhas. Depois, cada um seguiu seu caminho. Eu seguia para Fortaleza - de onde escrevo agora. No avião, fui terminando de ler um livro surpreendente do angolano Ondjaki - que postarei em breve por aqui - quando a aeromoça passou distribuindo uma revista para crianças. Interrompi minha leitura e pedi a revista. A moça sequer me olhou nos olhos e seguiu em frente dizendo que era uma revista PARA CRIANÇAS e que se eu estivesse a fim de uma leitura ela traria a revista PARA ADULTOS da companhia. A aeromoça desapareceu no corredor. Pelo que pude ver as crianças que receberam a revista não conseguiram sequer folheá-la e já os pais a esqueciam no guarda volumes. Não posso afirmar o conteúdo da revista, mas imagino... E certamente a aeromoça tem como cultura o fato de que um adulto não pode ler nada para crianças. Talvez porque o que se escreve para elas são bobices e uma pessoa adulta não pode desfrutar deste desprazer. Ponto para mim, que terminei o livro do Ondjaki. Ademais, continuo lendo Eva Furnari, Roger Mello, André Neves, Bia Hetzel, Sylvia Orthof... na praça, no ônibus, no avião...

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Da natureza do amor...

Estes dias eu flanava num sebo quando encontrei uma edição do livro UM AMOR SEM PALAVRAS de Marina Colasanti publicado pela Melhoramentos, publicada em 1995, que pertenceu ao menino João Paulo que, na época, cursava a 4 “A”. O livro estava abandonado à procura de uma paixão, de algum amigo, de alguém que deitasse os olhos em seus escritos e o levasse para uma casa nova. Dei sorte. Meu olhar se encantou mais uma vez com as belas palavras de Marina Colasanti. Me apaixonei à primeira vista. Li, reli e ainda me encanto com ele. Aqui em casa não tenho problemas em declarar estas paixões literárias. Ana Paula não sente ciúmes. Se apaixona por eles também. Conversamos sobre os livros, nossos filhos, nossos planos, nossas dificuldades... enfim: conversamos. Mas, será possível o amor sobreviver ao silêncio? Pois esta é a grande questão levantada por Marina neste livro que tem a sombra de uma árvore como personagem principal.
Sua relação apaixonada com a árvore começava nos primeiros raios de sol. Viviam juntas, apesar de origens diferentes. “A semente trazida por vento ou bico de pássaro que havia originado a árvore não era responsável pela sombra. A semente da sombra era o sol”. No seu ofício de sombra, acolhia o gado, insetos, mantinha a terra fresca para as minhocas e dava guarida a um sapo. “Ela era o lençol escuro sobre o qual os camponeses vinham se deitar quando o sol estava alto, e onde comiam seu pão, espalhando as migalhas que as formigas viriam buscar mais tarde”. Num início de primavera nasceu uma desconfiança: a árvore não gostava dela. Senão, porquê tanto silêncio? A partir daí foi deixando seu ofício de lado até decidir abandonar a árvore e procurar outro local para sombrear. Fugiu numa noite “que é quando as sombras ficam invisíveis e se movimentam livremente”. Ganhou nova morada. Após um tempo teve notícias de sua antiga árvore. Um pássaro ali, uma brisa aqui, um grilo acolá... todos contavam como sua antiga morada estava passando sem a sombra. Não estava sendo fácil a vida daquela árvore silenciosa. As notícias fizeram renascer o amor e a vontade de estar ao lado da sua primeira grande amiga. E assim fez. Sem deixar no ar nenhuma palavra, árvore e sombra se reencontraram. “Nada parecia ter mudado. A árvore ondulou seu galhos. E, se olhou para a sombra, o fez apenas como se olhasse sua própria imagem, como se visse sua silhueta refletida num espelho. Nem por isso pesou mais o manto da sombra. (...) Era da natureza da árvore voltar-se mais para o céu do que para a terra. Era da natureza da sombra estar colada no chão e ocupar-se de pequenos seres. Era da natureza de ambas viverem assim lado a lado sem trocar uma palavra. E talvez, fosse da natureza do amor existir mesmo sem palavra alguma”.

Faz quatro dias que minha querida sombra foi dar uma volta rápida por São Paulo. Não, não brigamos. Nem pense nisso. Está lá aprendendo mais sobre o mundo dos livros. Neste período, nenhuma outra sombra ocupou seu lugar. E eu espero ansioso seu breve retorno. Nosso amor não é tão silencioso quanto o dos personagens de Marina Colasanti. Não é essa a nossa natureza. Mas, mesmo quando o silêncio impera, nosso olhar pousa um no do outro como se fosse um beijo. E eu sinto o seu amor. Da mesma forma como sinto um estrondoso amor silencioso por amigos que não vejo há tempos. Mas é um amor que sobrevive ao silêncio. Ainda bem!!!

Quanto àquele pequeno leitor, o João Paulo, já deve estar com uns 20 anos. Espero que lembre da árvore e sua sombra que um dia entraram na sua sala de aula e que fugiram para um sebo em Brasília. Hoje, pertencem ao nosso jardim, onde descansam roedores, leitores, amigos e amores. A obra também mudou de casa. Agora é publicada pela editora Global, e é facilmente encontrada na internet. As ilustrações também são da autora. Deite os olhos e aprecie sua sombra, ouça o barulho das folhas brincando nos galhos. Apaixone-se por Marina Colasanti. Hatuna Matata.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Um até logo repleto de saudade...

Deixei passar quase um mês para postar nosso último encontro em 2007 com a turma do projeto. Não queria escrever tudo o que passou na minha cabeça naquele sábado, 03 de novembro, pois tornaria essa despedida mais dolorosa do que foi. Em virtude da venda da sede da OnG Pró Gente que acolhia os Roedores de Livros e as crianças nas manhãs de sábado, tivemos que adiantar o encerramento das nossas atividades em três semanas. Quando chegamos ao local, um vazio sem tamanho. Faltavam os móveis e o clima de saudade era visível em todos. A grande ausência foi a da estante da sala de leitura. Vocês que acompanharam nossas atividades durante este ano viram aquela estante ficar repleta de livros. O projeto arecadou amis de 400 livros infantis e juvenis. Livros que estão conosco, aguardando um novo local para pousar suas aventuras. No lugar da estante descobrimos uma porta. Na foto acima, uma montagem com dois momentos extremos: a imagem da esquerda é de fevereiro quando fechamos a parceria com a Pró Gente. A estante escondia a porta que agora "enfeita" a parede da sala.
Juliana levou alguns livros para contar. Os meninos adoraram Sete Histórias para Sacudir o Esqueleto (Angela Lago, Cia das Letrinhas). Sacudiram o esqueleto e as risadas. A manhã ficou mais alegre. Alegrou ainda mais com a leitura de Uma Girafa e Tanto (Shel Silverstein, Cosac & Naify). Todo mundo em cima do livro. Ainda bem!!! Depois, cada um com seu livro, escolhidos do nosso baú. No flagrante acima, as Facécias (Câmara Cascudo, Global) acordaram nos braços dos meninos.
Na oficina de artes, montamos um mosaico surpresa. Cada criança coloriu um quadrado da forma que imaginava ser melhor. Depois, juntamos as peças e formamos figuras coloridíssimas. Uma delas, foi nosso roedor mais famoso.
Ainda tivemos que aplicar o questionário final para posterior avaliação das crianças. E assim, foi nosso último dia de atividades este ano. Estamos trabalhando para conquistar um novo espaço - inicialmente na Ceilândia - que possa acolher nossas crianças, nossos livros e a nossa fantasia cada vez mais real de levar a literatura, o prazer da leitura a todas as crianças.

Por fim, o Tino teve a árdua tarefa de dispersar o clima de nostalgia daquela manhã com muita música. No vídeo abaixo, gravado em baixa resolução, um pouquinho dos nossos meninos e meninas espantando a preguiça. Que em 2008 possamos espantar muitas outras coisas. Hatuna Matata.



terça-feira, 27 de novembro de 2007

Firimfimfocando na mídia - parte II


Queridos amigos Roedores de Livros. O Firimfimfoca recebeu o fotógrafo Carlos Vieira lá no Teatro Caleidoscópio para uma seção de fotos. O motivo foi a reportagem publicada no SUPER, caderno infantil do jornal Correio Braziliense, publicada no último sábado, 24 de novembro. A foto escolhida é esta aí de cima. A reportagem está reproduzida abaixo:
Fada carioca
Espetáculo Firimfimfoca , do grupo Roedores de Livros, mostra que histórias de Sylvia Orthof são pura diversão
Você já ouviu falar sobre Sylvia Orthof ou já leu algum de seus livros? Ela é considerada uma das mais importantes escritoras infantis brasileiras, apesar de não ser tão conhecida. A autora carioca, que morou em Brasília entre 1960 e 1968, escreveu mais de 100 livros e não eram só histórias para crianças. Sylvia foi autora de peças teatrais, deu aulas no curso de artes cênicas da UnB e dirigiu programas de teatro de bonecos para TV. Mas são os livros infantis seus mais importantes troféus. Em 2007, faz dez anos que Sylvia faleceu. Em setembro, ela faria 75 anos.
Para quem não conhece e quer se encantar com essa escritora, e para quem já leu seus livros e se apaixonou, o grupo Roedores de Livros apresenta, hoje e amanhã e no fim de semana que vem, a peça Firimfimfoca — histórias de uma fada carioca, no Teatro Caleidoscópio (Comercial da 102 do Sudoeste, bloco C, subsolo), sempre às 18h.
O espetáculo é uma contação diferente das histórias de Sylvia A fada lá de Parságada, A bruxa Uxa e o elefantinhozinhozinhozinho, Foi o ovo? Uma ova!, Sua avó, meu basssê, Maria vai com as outras, O sapato que miava, O bisavô e a dentadura, Fraca Fracola e Galinha D’Angola. Antes de cada conto, o músico Tino Freitas, integrante do Roedores de Livros, vai cantar uma música feita por ele mesmo, introduzindo o tema da história, sem entregrar o ouro, é claro.
A primeira vez do pum
O grupo Roedores de Livros, formado por Aldanei Andrade, Juliana Maria, Míriam Rocha, Simone Carneiro, Ana Paula Bernardes e Tino Freitas, conta história e realiza oficina de artes plásticas desde 2006. Tino lembra que, todas as vezes que eles contam uma história de Sylvia, a reação da meninada é diferente:
— Ela escreve muito bem para crianças.
E o motivo de tanto sucesso: escrevia na linguagem da garotada, colocava no papel o que vinha na cabeça, sem se controlar. Não teve medo de colocar em seus livros palavras que toda criança fala, mas que nunca aparecia nos livros infantis, como “pum” e “bumbum”. Brincar com as palavras e inventar outras, era sua maior diversão. Ela mesma quem criou a palavra que dá nome ao espetáculo, e deve ser usada assim: “Que Firimfimfoca!”. Sylvia também não gostava de fazer personagens somente bonzinhos ou super- do- mal. Uxa, de A bruxa Uxa e o elefantinhozinhozinhozinho, por exemplo, ora era fada, ora bruxa.
No final de Firimfimfoca, Tino apresenta o principal motivo para a criançada conhecer as história de Sylvia Orthof:
— O livro da Sylvia é como a hora do recreio. A gente nunca cansa de brincar, a gente nunca pára no meio.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Firimfimfocando na mídia - parte I

Neste final de semana, a estréia do Firimfimfoca fez um barulho gostoso na mídia brasiliense começando com a reportagem acima, de página nteira, publicada no jornal Correio Braziliense da última sexta, 23 de novembro.
Para ler a reportagem na íntegra, é só clicar sobre a imagem.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Firimfimfoca no ar... estréia no Teatro!!!

A Sylvia Orthof escreveu,
A Mariana Massarani ilustrou,
A Elvira Matilde vestiu
E o Tino musicou

Aldanei leva o gato no sapato
Juliana leva Sua Avó pra pescar
Miriam leva Maria ao churrasco
Simone leva o bisavô pra almoçar

Tem mais história no meio
E o riso solto no ar
Parece a hora do recreio
A gente gosta é de brincar

Estréia neste fim de semana
O nosso FIRIMFIMFOCA
Convidamos você para ouvir

Histórias de uma fada carioca!

Pois é... gente, o FIRIMFIMFOCA - Histórias de uma fada carioca estréia em TEATRO neste sábado em curtíssima temporada de dois finais de semana. Será aqui em Brasília no Teatro Caleidoscópio. Unimos a contação de histórias com elementos teatrais e música. Tudo em torno de OITO histórias infantis escritas por Sylvia Orthof. A apresentação conta com a direção de Joana Abreu. No elenco, Aldanei Andrade, Juliana Maria, Míriam Rocha e Simone Carneiro, além do Tino Freitas, que escreveu a trilha sonora e toca no espetáculo. Eu assumi a parte burocrática da coisa. Enfim, aquilo que o pessoal chama de Produção Executiva. O cartaz, os marcadores e o programa contam com ilustrações da Mariana Massarani e no figurino, elementos da Elvira Matilde. Está tudo muito lindo. Visualmente, emocionalmente e firimfimfocamente. As histórias são ótimas e o Teatro é aconchegante. Viva Sylvia Orthof!!! Vida longa para suas histórias!!! Seguimos aprendendo. Hatuna Matata!!!
Outras informações no Blog do Firimfimfoca.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

André Neves em Brasília

O ilustrador e escritor André Neves passou 03 dias em Brasília divulgando seus livros e falando sobre a importância da ilustração para o olhar da criança. Na quinta feira, 08 de novembro, convidado pela Editora Projeto, André esteve presente na comemoração dos 21 anos da Oficina Pedagógica da Secretaria de Estado de Educação do Governo do Distrito Federal, onde foi recebido carinhosamente pelos professores dos cursos e por professores-alunos concludentes do curso A Arte de Contar Histórias. A maioria foi ao encontro fantasiada de personagens da literatura, o que deu um colorido especial ao local. Alguns professores contaram histórias e encantaram os espectadores. Mímica, música, fantasias, objetos... vários recursos desfilaram pelo palco do auditório da Escola Normal. Havia no ar toda uma espectativa sobre como seria André Neves e sua palestra. Enfim, chegou o momento. Sônia preparou uma belíssima apresentação crcada de poesias e referências ao trabalho do nosso querido convidado que - como podem conferir na foto acima - recebeu as merecidas loas meio sem graça. Ao assumir o microfone André começou dizendo: "- Bem que me disseram que Sônia é exagerada nas palavras..." Que nada, André. Você é merecedor de todas elas.
Bem, a casa estava cheia de bruxas, vovós, mosqueteiros, esqueletos, fantasmas e outras sortes de personagens. André passou a falar sobre sua origem pernambucana, seus primeiros passos como ilustrador, o momento em que passou a escrever seus livros e a força que a ilustração tem sobre o olhar infantil (e dos adultos também). De início, recitou o poema As Flô de Puxinanã do genial poeta paraibano Zé da Luz. Ali ele começou a mostra uma face até então desconhecida para a maioria: a de contador de histórias. André esbanjava simpatia e já conquistara os sorrisos e a atenção do público. Note ao fundo da foto acima que há uma esposição na parede. São as ilustrações do Ler é Pra Cima em que a editora Projeto comemora seus 15 anos de atividades.
Em seguida, nosso convidado propôs uma adivinhação. Mostrou que uma história pode ser contada sem texto, "apenas" com a força da imagem. Mostrou uma adaptação feita por ele para um livro de imagens francês: Le Pettit Chaperon Rouge. Incrível a concepção. Toda desenhada por pontos coloridos, aos poucos identificamos chapeuzinho vermelho, o lobo, a vovó, a floresta, a acabana e o caçador. Houve ainda a leitura do ótimo Um Pé de Vento, escrito e ilustrado por André Neves, que mostrou ainda uma faceta até então desconhecida pelos Roedores de Livros: a de Contador de Histórias. Usando como fundo as ilustrações dos livros-imagem Quando os tan-tans fazem tum tum (Ivan Zigg, Paulinas) e Sai da Lama, Jacaré (Graça Lima, Paulus) André fez uma leitura repleta de onomatopéias, efeitos sonoros vocais e frases curtas. Os livros pareciam sair da cabeça de um menino elétrico. Virou um livro animado. E põe animado nisso. Um show de interpretação. Ficou explícito que um bom livro de imagens oferece leituras diversas. Cada leitor descobre elementos particulares - distintos, até - que seguem até o desfecho de uma mesma história.

Ao final deste dia SUPER, nosso convidado ainda teve paciência e simpatia para atender aos vários pedidos de fotos e autógrafos que se estendia por uma longa fila. Ainda hoje, duas semanas após o encontro, a turma comenta do prazer que foi dividir aquele dia com André Neves. Que não demore a se repetir. Hatuna Matata.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A invenção dos sonhos em papel...

Foi nas férias de 1982. Eu estava com 10 anos e guardo até hoje as sensações daquele domingo. Meus pais me levaram ao Cine São Luiz no centro de Fortaleza para assistir ao filme E.T. O Extraterrestre, de Steven Spielberg. Meu olhar era todo sentimento. Ainda hoje não consigo descrever as sensações. O local carregado de pompa, exibia um lustre gigantesco (pelo menos para meus pequenos olhos arregalados), paredes e pisos revestidos com mármore Carrara e a capacidade para impressionantes 1.500 espectadores. Mas meu olhar-menino não prestou muita atenção nestes detalhes. Estava grudado na tela e se enchia de cores, sons e fantasia que se derramaram em lágrimas e arrepios na hora em que a bicicleta levitou com o ET e Elliot cruzando o céu iluminado pela lua cheia. Acho que levitei também. Esta é, de fato, a seqüência cinematográfica que marcou a minha infância.

Para o pai de Hugo, a cena mais impressionante que havia visto no cinema foi a de um foguete voando para dentro de um olho desenhado na cara da lua. Ele disse que nunca havia experimentado sensação parecida. Era como ver seus sonhos em pleno dia. O filme em questão era Viagem à Lua (1902) de Georges Méliès. Este filme marcou a estrréia da ficção científica no cinema (veja o filme nos links PARTE 01 e PARTE 02).


Mas... quem é Hugo? E o que as minhas impressões e as do pai dele têm a ver com este espaço dedicado à literatura? Estas reminiscências cinematográficas brotaram depois que consegui largar o livro A INVENÇÃO DE HUGO CABRET (Texto e ilustrações de Brian Selznick, Edições SM) nesta madrugada. O pai de Hugo está em suas páginas. O Cine São Luiz e o E.T. de Spielberg também. Com certeza, seu filme preferido estará lá. Não explicitamente. Mas a leitura vai resgatar suas melhores lembranças do escurinho do cinema. Confesso que há tempos não devorava um livro de 500 páginas em pouco mais de 24 horas. Não o fiz em menos tempo, pois tinha outros afazeres.
O autor inova utilizando seqüências de imagens e textos de uma agilidade ímpar para contar a história do menino Hugo Cabret, um órfão que vive nos subterrâneos de uma estação de trem em Paris no início dos anos 30. Suas habilidades com a mecânica, sua busca por uma mensagem secreta – possivelmente deixada por seu pai –, suas aflições e descobertas me transformaram naquela criança que saiu do cinema anos atrás encantado com a fantasia vivida no interior daquela invenção dos sonhos.
Para se ter uma idéia do impacto desta leitura inovadora, em poucos minutos é possível chegar até a página 100. Aí, você já foi fisgado pela agilidade da trama. As belíssimas ilustrações feitas a lápis remetem a um storyboard. O projeto gráfico lembra o preto e branco dos filmes daquela época. Deixa as páginas com bordas escuras e por vezes – de tão mergulhado na história - imaginei meus dedos com manchas de grafite. Ainda estou sob o impacto de suas páginas. Já havia lido que este livro recebeu vários prêmios pelo mundo afora. Dizem que é o sucessor de Harry Potter como fenômeno de vendas para jovens. Esqueça isso! A INVENÇÃO DE HUGO CABRET é, antes de tudo, uma grande aventura, um sacolejo na fantasia. Um empurrão na imaginação no topo de uma montanha russa. Feche os olhos, abra os braços e sinta o vento bater no rosto. Mergulhe sem medo nas suas 534 páginas. Você vai descobrir um livro com cheiro, cores e sons. Um livro feito sob medida para encantar gerações de leitores.
Meu filho completará 10 anos em breve. É provável que o cinema já não apresente tantas surpresas para ele quanto já apresentou para mim e para o pai de Hugo Cabret. Mas, sem dúvida alguma, este livro pode ser inesquecível para ele que, assim como o personagem principal do livro, está cheio de segredos na cabeça, com o futuro entrando perfeitamente nos eixos.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Um jardim no asfalto

O que você faria se, de uma hora para outra, precisasse viajar e levar apenas o necessário? A menina Zolfe pensava em levar seu livro preferido, um caderno de desenho, lápis de cor, um vestido vermelho, uma capa de chuva, uma muda de roupa íntima e uma escova de dentes. Mas, na hora em que os homens mascarados invadiram sua casa e forçaram uma saída imediata, a menina levou o essencial: Émil, seu peixe de estimação.
A visão de Zolfe para as implicações pessoais acarretadas por acontecimentos políticos que forçaram sua família e outras pessoas da sua cidade a um êxodo tocado a fuzil é o tema central do ótimo livro Nenhum Peixe Aonde Ir (Marie-Francine Hébert, com ilustrações de Janice Nadeau, traduzido por Maria Luíza Borges, SM). O tema parece difícil, não é mesmo? Mas, de tão belos, texto e ilustração fazem deste livro um jardim florido e perfumado que brota no asfalto.
No meio de tanta angústia, muita prosa poética. Muita. Um estilo próximo ao de Bartolomeu Campos de Queirós. De não em não, a menina segue carregando seu peixe no aquário. A cada passo ele ganha peso. Tudo exige cuidado, pois está cercada de “gente grande brincando de guerra”. Zolfe “carrega o universo nos braços”. E assim, “quando se tem o mundo nos braços deve-se andar a passos lentos”. A leitura pede cuidado. Atenção. Passos lentos para que se possa apreciar a tradução que emociona, conquista. As ilustrações em aquarela ora encantam, ora assustam. Cores vivas dialogam com tons de cinza. Metáforas em forma de aves, gaiolas, máscaras... Árvores secas com raízes cobertas de folhas. Escadas prontas para levar a algum lugar. Um presente para os olhos.
Nenhum peixe aonde ir oferece surpresas. Em suas páginas, a amizade cresce verde e forte. Como uma trepadeira, embeleza o livro ocupando espaços impensáveis. Dentro do livro, outro. Aquele que a menina colocou como o primeiro ítem necessário, mas que deixou para trás: seu livro preferido. O Pote dos Sonhos. Presente de sua melhor amiga. Essencial para exercitar a fantasia em sua difícil jornada para lugar nenhum. Não precisou levar, pois o guarda na memória. O leitor é convidado a conhecer este outro livro na íntegra. Trechos dele se enlaçam com a vida que anda a passos lentos no mundo de Zolfe.
Você pode perguntar qual o destino do peixinho Émil. Eu não vou responder. Só posso dizer que a menina quer ser ceramista quando crescer. Quer construir um pote bem grande onde possa caber inteira. No ar, ficam outras perguntas: Qual universo carregaríamos nos braços? O que levaríamos na memória? Com quem compartilharíamos tudo isso? Vale pensar no que seria necessário e essencial para cada um de nós. Existe uma diferença sutil. E isso não é uma resposta. É um ponto final.