quinta-feira, 10 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte II

Nosso primeiro encontro literário em Goiânia foi no elevador do hotel. Ele saía com uma pasta na mão e nós entrávamos com malas, cuias e livros. “Professor”, disse o Tino, "vai devagar que já já a gente chega lá no auditório! É só o tempo de despejar a matula”. E foi mesmo. Pegamos um táxi e seguimos para o Centro de Convenções de Goiânia. Conseguimos chegar no início da palestra “Armadilhas para a formação de leitores : didatismo, sistema cultural dominante e políticas educacionais” proferida pelo escritor, ilustrador e pesquisador Ricardo Azevedo que, sem querer, havia atendido ao pedido do Tino e “esperou” a nossa presença para começar sua fala.

Começou afirmando que, de uma forma geral, as escolas não sabem bem o que fazer com os livros de ficção e de poesia em sala de aula. Para elas, o livro de literatura deve ser tratado como um livro didático, com suas soluções equacionadas e respostas exatas. Há uma necessidade de que o conteúdo destes livros não germinem a fantasia e sim, tenham serventia prática no mundo real. A escola quer uma resposta prática para a questão “para que serve a literatura?”. É necessário que a literatura caiba no didatismo, no utilitarismo. A literatura, para a maioria das escolas, não serve como mero instrumento da fantasia. Lembrei de uma palestra do professor Bartolomeu Campos de Queirós em que ele falava da necessidade da escola de medir o conhecimento. De repente ele saiu com a pérola: “- Quero ver a escola medir qual criança é mais feliz na hora do recreio”. Ricardo Azevedo criticou veementemente esta postura didática reforçando a idéia de que é preciso mudar esta situação.


Seguindo o roteiro do texto que escreveu para a palestra, o escritor fazia a sua leitura e, vez em quando, olhava discretamente para o visor do relógio que estava posicionado no lado inferior do pulso esquerdo. O tema era polêmico e o risco de ultrapassar os limites do tempo previsto era alto. Agora falava da cultura ocidental preocupada na formação do indivíduo em detrimento do coletivo. As pessoas estão cada vez mais sozinhas e a escola promove esta individualidade. Ricardo indagou: “- Como construir uma sociedade equilibrada formando centros do mundo?” E seguiu afirmando: “A solidariedade é uma questão de inteligência social”. “O homem não funciona sozinho. Ele passa a ser Homem quando se relaciona com outros homens, pois é um ser dialógico”. Por fim, falou sobre as diferentes formas de se estudar o mundo, lembrando que na ciência oriental, o cientista senta-se ao lado da flor para “conhece-la”. Por outro lado, o cientista ocidental precisa “destruir” a flor para que possa saber sobre ela.

Hora do público se manifestar. O papo seguiu mais como um desabafo dos ouvintes do que como um confronto das idéias apresentadas por Ricardo Azevedo. A maioria – senão, todos – concordava com o olhar crítico do pesquisador. Mas se falou também que em algumas escolas – poucas, ainda – esta visão didática estava perdendo sua força. Esperamos que contagie outros centros de ensino.

No final, depois dos autógrafos, eu e Tino conversamos muito com Ricardo Azevedo. Falamos sobre o projeto e da lista de reservas do ótimo “Contos de enganar a morte” que aconteceu assim que o livro chegou à biblioteca dos Roedores de Livros em 2007. Falei que utilizo o conto O Rei que virou vaca nos meus cursos há muitos anos. Ele me informou que este texto foi publicado recentemente no livro Papagaio come milho, Perquito leva a fama (Moderna). Ah... Falamos sobre tantas outras coisas que não caberiam neste post. Na verdade, seguimos aprendendo e Ricardo Azevedo tem muito a ensinar. Agradecemos pela sua simpatia e paciência (o Tino levou um horror de livros para ele autografar). Esperamos por novos encontros. Hatuna Matata.

terça-feira, 8 de abril de 2008

1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás - Parte I

Queridos amigos... enfim, chegamos do 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás... a foto acima é o "Kit Roedores" que levamos para as apresentações e para as oficinas que fomos convidados (as malas não couberam na foto... hehehe)... Temos muito a dividir com vocês ao longo desta semana. Encontros e conversas com Ricardo Azevedo, Nelson Cruz e Marilda Castanha. Encontros com amigos virtuais. O monólogo de Lygia Bojunga. As oficinas e apresentações. Enfim, um Salão que teve seus sucessos e seus percalços - como tantos outros. Esperamos que possa crescer em sua segunda edição. Nós provamos das suas delícias e, aos poucos, compartilharemos com vocês. Abraços de letrinhas.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Saudades, guri. Saudades.

"Foi uma jornada e tanto. Daquele 23 de fevereiro de 2002, com uma apresentação sensacional da Elisa Lucinda, até hoje, 31 de março de 2008, a Esquina da Palavra valeu uma vida. Estou fechando a livraria com um tremendo orgulho por esse período todo. A alegria que encontrei aqui, os amigos que fiz, a pequena parcela na vida de cada um de vocês, os livros editados, os autores que aqui autografaram - não tenho como não falar da Valéria Grassi, das adrianas Falcão e Lisboa, do Marçal Aquino, do Bonassi, do John Gledson, do Ismail Xavier e tantos outros que é até injusto citar só alguns -, leram seus livros, beberam e curtiram esse canto de Brasília, até mesmo essa agonia financeira que muitos de vocês viram acontecer, tudo isso vai ficar para sempre comigo."

Com estas palavras, nosso querido Lourenço Flores inicia sua carta informando o enceramento das atividade da nossa livraria de estimação Esquina da Palavra. Todos sentimos muito. Ao mesmo tempo, conhecemos as dificuldades e torcemos para que o amigo siga seu caminho sem tantos obstáculos. Para não me demorar nas palavras, copiamos texto da jornalista Conceição Freitas publicado ontem no jornal Correio Braziliense. Assinamos embaixo. O resto é silêncio.

"Acabou um paraíso

Se o paraíso é uma espécie de livraria, como dizia Jorge Luis Borges, uma espécie de paraíso acabou de acabar, a livraria Esquina da Palavra, na 405 Norte. O mesmo Borges inventou uma biblioteca de Babel, muito gigante, onde caberiam todos os livros que foram escritos e os que ainda vão ser, todas as histórias de todas as pessoas, tudo o que cada uma viveu e o que cada uma poderia viver.

A biblioteca do Borges ocupa salas hexagonais, como uma colméia, cada uma delas com o mesmo número de prateleiras, que se repetem ao infinito. Livros sobre todos os temas que pertencem ao mundo, os que não pertencem, os que já pertenceram e os que ainda vão pertencer. Muitos totalmente aloprados, mistura de todas as combinações de letras, de tal modo que é impossível lê-los.

Claro que a biblioteca de Borges é uma metáfora. Do universo, dizem. Da complexidade e infinitude do cosmos e de todas as possibilidades imagináveis e inimagináveis de tudo que o contém. Hoje já tem gente aproveitando o conto para uma metáfora da internet , a rede de compartimentos infindáveis.

A biblioteca de Babel é aterrorizante. Ela existe para nos avisar de que o todo é inalcançável e maluco de quem imaginar que pode dominar o conhecimento completo de tudo o que existe no cosmos.

A Esquina da Palavra era uma livraria sem a ambição inexeqüível da completude. Fez escolha: literatura, com exceção para livros importantes de áreas do conhecimento. A Esquina da Palavra era teimosa: quis manter acesa a idéia de uma livraria que não despeja sobre a cabeça do leitor uma quilométrica oferta de títulos de interesses tão múltiplos quantos são os humanos sobre a Terra. Uma livraria que acolhe o leitor um a um, com o comedimento e a intimidade que ficam muito bem numa livraria.

As grandes redes de livraria são de uma comodidade difícil de escapar. Têm o título que eu procuro e se não têm, encontram, caso não esteja esgotado. Dão descontos que só as grandes redes podem oferecer. Mas são tão sufocantes quanto o Google com seus 4.330.000 resultados para a palavra livraria. A multidão de capas e títulos nas prateleiras e balcões me transformam numa formiguinha que perdeu o caminho de casa.

A Esquina da Palavra, paraíso que acabou nesta segunda-feira, era reconfortante como uma casa, estimulante como um mestre, e deixava cada um de nós do tamanho de nós mesmos — e com a ponte sempre aberta para o reencontro silencioso com a nossa própria humanidade, que é o que um bom livros nos dá, e até um ruim, tão bom é ler um livro.

Nos seis anos, um mês e oito dias de vida, a Esquina da Palavra fez encontros inesquecíveis de gente como Adriana Falcão, Adriana Lisboa, Marçal Aquino e shows igualmente marcantes, até mesmo o improvável encontro do senador Eduardo Suplicy com o também senador Marco Maciel, acompanhados pelo Supla e pelo João, os filhos. Mas acabou."


Por fim, se você estiver em Brasília no próximo final de semana, aceite o convite do Lourenço e apareça para a despedida:
"Nos próximos sábado e domingo, dias 5 e 6, a partir das 9h, estarei fazendo uma queima dos livros que ainda tenho aqui - todos com 50% de desconto. Quem quiser, por favor apareça".

P.S. Lourenço e sua Livraria foram citados algumas vezes aqui no blog. Uma dessas postagens você lê AQUI.

terça-feira, 25 de março de 2008

Slão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás

Queridos amigos Roedores, começa na próxima quarta, 02 de abril, o 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás com show do Palavra Cantada, as 10h da manhã, no Teatro Rio Vermelho (Centro de Convenções de Goiânia). A programação segue até domingo e traz convidados ilustres como Lygia Bojunga, Ricardo Azevedo, Ângela Lago, Marilda Castanha, Nelson Cruz, Marcelo Xavier, Marisa Lajolo entre tantos outros bambas falando sobre literatura infantil, ministrando oficinas de ilustração, fazendo shows (a Bia Bedran estará por lá na sexta feira). Os Roedores de Livros também foram convidados. Juliana e Tino apresentam o show Direto da estante pro alto-falante, zás-trás num instante tem gosto de bombom com músicas e histórias no ESPAÇO FADA, no sábado, 05/04 (14h) e domingo, 06/04 (15h). Eu ministrarei duas oficinas. A primeira, sobre Brinquedos Populares, será na Sala Pedras de Paraúna, sábado, 05/04 (14h). A segunda, Literatura Infantil - A fantasia a serviço da educação, será na Sala Serra Dourada, no domingo, 06/04 (9h30). As inscrições para as palestras, shows e oficinas podem ser feitas diretamente no SITE OFICIAL DO SALÃO. A gente se encontra por lá.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Um presente para os olhos

O cinema é a técnica de projetar fotogramas (quadros) de forma rápida e sucessiva para criar a impressão de movimento. Há outras técnicas para que a imagem ganhe vida e que também conquistam a criança. Lembro de ter comprado um LP do Balão Mágico que vinha com um cineminha de papel que a gente colocava no toca discos e ficava vendo as imagens em movimento. Dava uma impressão de cinema mudo. Aquele brinquedo visual mexeu comigo durante dias. Pouco a pouco os livros foram brincando de cinema. A editora Caramelo lançou o Flip Mania Turma da Mônica onde uma sucessão de imagens contam histórias como O Presente, O Gato e O Cowboy. De forma criativa, Dav Pilkey criou o Vire o Game, uma das atrações da incrível série Capitão Cueca. Mas, para mim, nada se compara a sensação de folhear o livro Galope (Rufus Butler Seder, editora Sextante). Cavalo, galo, cachorro, gato, águia, macaco, borboleta e tartaruga ganham movimentos incríveis, INCRÍVEIS MESMO, através de um sistema chamado Scanimation, desenvolvido pelo autor. A história entra em segundo plano. Por aqui, concordamos que o final não é dos melhores. Mas o livro vale cada centavo pela surpresa que causa aos olhos. E comparado aos custos de tantos livros brinquedos por aí, até que não é tão caro. Os pequenos vão adorar. Não tenha medo de deixá-los brincar com o livro. Ele é bem resistente. Dizem por aí que cada uma dos 50 mil exemplares da primeira edição brasileira foi montada manualmente por 600 trabalhadores chineses. Isso sim, uma grande história. Mas, se os chineses levaram a sério o fazer este livro, temos mais é que nos divertir. Procure na sua livraria ou peça pela internet. Você vai se impressionar. Seu filho também. Um presente para os olhos.



terça-feira, 18 de março de 2008

Roedores de Livros de casa nova!!!

No último dia 05 de março falamos do "namoro" com uma instituição na Ceilândia que provavelmente abrigaria o projeto Roedores de Livros a partir de abril. Agora é oficial: o Centro Comunitário da Criança, instituição com mais de 20 anos prestando assistência social a crianças e jovens da Ceilândia reuniu seu conselho e decidiu oferecer um espaço para que os Roedores de Livros possam receber as crianças do projeto. Devemos retomar as atividades a partir de 12 de abril próximo. O local fica a menos de 200 metros da nossa sede de 2007. Portanto, seguiremos com as crianças do ano passado em idade de participar do projeto e abriremos inscrições para novas crianças. Mas isto é assunto para outra hora. Desde já, nosso muito obrigado à Helen e Rita que abraçaram a idéia e a levaram ao conselho. Na "toca" dos roedores (como diria a Edna) estamos todos "mordendo as orelhas" de tanta felicidade. Em 2006 os Roedores de Livros convidaram o Centro Comunitário da Criança para uma visita ao projeto, quando acontecíamos ainda na Biblioteca Comunitária T-Bone (vejam a cobertura). Hoje o convite parte deles. Fica a lição que o "profeta Gentileza" deixou nas ruas do Rio de Janeiro: Gentileza gera gentileza. Ah, os Beatles cantaram também na música The End no final do LP Abbey Road: "And in the end / the love you take / is equal to / the love you make". Sem dúvida alguma, all we need is love!!!

A foto acima foi tirada em fevereiro último nas instalações do Centro Comunitário da Criança.

sábado, 15 de março de 2008

Os livros também cantam!!!

Queridos amigos... semana passada chegou pelo correio o Historiar nº 06, boletim bimestral da Associação Viva e Deixe Viver, uma OSCIP que conta com o apoio de voluntários que se dedicam a contar histórias para crianças e adolescentes hospitalizados. Nesta edição, foi publicado um texto do Tino sobre alguns livros-CD que gostamos muito. Aproveito para reproduzí-lo a seguir. Deixamos ainda um abraço de letrinhas para a Lígia Pin que nos visita sempre por aqui e que é o nosso elo de ligação com a associação. Enfim, música, literatura, solidariedade e amizade num campo fértil para uma vida melhor. Seguimos plantando.

"Os livros também cantam!!!

A música brasileira acompanha a literatura infantil desde tempos idos. Nos anos 60 a coleção Disquinho apresentava uma narrativa de histórias clássicas como Chapeuzinho Vermelho recheadas de músicas do compositor João de Barro, o Braguinha. São parte da nossa memória infantil os versos musicados daquele tempo como “pela estrada afora eu vou bem sozinha / levar esses doces para a vovozinha (...)”.

Depois, Vinícius de Moraes adaptou alguns versos do livro A Arca de Noé (1970) para um disco homônimo lançado no Brasil em 1980. A idéia já havia produzido um filhote italiano: o LP L`Arca, lançado na Itália em 1972. Ainda na seara de músicas inspiradas na literatura infantil, não podia faltar a trilha sonora do programa O Sítio do Pica Pau Amarelo exibido pela TV Globo nos anos 70 e que tinha canções de craques da MPB como Gilberto Gil, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Ivan Lins e Caetano, entre outros.

Em 1982 a Editora Abril lançou a coleção TABA. Vendida em bancas de revistas, a coleção trazia em cada edição uma história infantil, atividades para crianças e um compacto (mini LP) com as histórias e duas canções da MPB relacionadas ao tema. Fez um tremendo sucesso. Histórias de Ana Maria Machado, Joel Rufino dos Santos, Sylvia Orthof e Ruth Rocha conviviam harmoniosamente com músicas de Chico Buarque, Tom Zé, Secos & Molhados, Jorge Ben e tantos outros. Foram 40 edições atualmente disputadíssimas em sebos. Um marco!!!

No final dos anos 80 o CD conquista o mundo. Sua capacidade de armazenar até 74 minutos de música (a duração da Nona Sinfonia de Beethoven) e seu formato compacto, instigou novas possibilidades para quem desejava aliar música e literatura. Surgiram então os Livros-CD diversos em forma, inspiração e conteúdo.

Nestes termos, gostaria de falar sobre três títulos em especial. Não por serem meus preferidos – outros também o são. Mas por estarem ao alcance da mão, dos olhos e dos ouvidos nestes últimos dias. Aqui em casa é uma bagunça organizada – nem tanto – de livros, CDs, crianças e adultos. Periodicamente faço um montinho cultural na mesa de trabalho e leio, releio, escuto bem alto... Os três livros-CD estavam aqui ao lado. São queridos meus. Os adoro por inteiro: texto, ilustrações e canções. Aqui estão: A Mulher Gigante, O Cavalinho Azul e Amigos do Peito.

Encontrei A Mulher Gigante (Editora Projeto) na pequena e aconchegante livraria do Lourenço, um amigo gaúcho que mora aqui em Brasília. O livro-CD é escrito e musicado por Gustavo Finkler e Jackson Zambelli (do grupo Cuidado Que Mancha) com ilustrações-maravilhas da Laura Castilhos, que abusa do talento em colagens e pinturas. No livro, 12 pequenas histórias como a da tal mulher que usa dois ônibus em cada pé e tem elefantes de estimação. Há outros absurdos bacanas como um dragão bobalhão que foi raptado pela princesa. Do CD que acompanha o livro eu destaco as canções O Fantasma Desafinado; O Seqüestro do Dragão Bobalhão; Príncipe Herculano, o chato; Tião Zoreia escuta tudo e Cuidado que Mancha. São canções divertidas com refrões fáceis que grudam na cabeça já na primeira audição. Gosto de acompanhar o CD olhando o livro. Eles se completam.

O Cavalinho Azul é um clássico escrito por Maria Clara Machado nos anos 60. Em 2001 a Companhia das Letrinhas lançou uma edição especial com as ilustrações originais de Marie Louise Nery. Na história, o menino Vicente sai à procura do seu cavalinho azul. Da cor fantástica do animal até o calor no peito da gente quando a história termina, tudo é uma delícia só. A emoção também impera ao ouvimos o CD com a versão em forma de ópera infantil que o genial Tim Rescala fez para a obra. É um trabalho maravilhoso. Lembra os musicais americanos. Mas ópera não é música fácil para ouvidos desatentos. É preciso atenção. Convido o leitor curioso a primeiro ler o livro. Depois, feche os olhos, aumente o som e deixe a música colorir de azul toda a história. Talvez você estranhe no início, mas ao final, estará refém da emoção.

O texto de Amigos do Peito (Editora Formato) é de Cláudio Thebas que também assina a produção musical ao lado de Carlos Renoya e André Bedurê. O livro tem uma sonoridade gostosa de ler em voz alta. Um humor inteligente que alcança as crianças. O tema é um dia na vida de um garoto. O despertar, a casa, a escola, os vizinhos, o irmão, bichos de estimação. As ilustrações caprichadas de Eva Furnari. Alguns poemas são plenos de meninice como em O Médico é o Monstro: O médico nunca me disse: / Sorvete. Tome sorvete. / Picolé, três vezes por dia. O Cd tem muita música boa e conta com participações de Zeca Baleiro, Rita Ribeiro e outros bambas da MPB. Impossível ficar parado ouvindo Brinquedo novo e Jogo de Dados. Ali, sintonia total com o mundo infantil. O cão é uma brincadeira vocal muito bem feita. Aumente o som e prepare-se para estalar os dedos. A bossa de Carlos Careqa dá um charme ao poema do médico (dou-do). A Casa da Avó ficou balançante como neto solto no mimo e Chico César arrebenta na Hora do Banho, outra canção íntima das certezas infantis.

Espero que a sua curiosidade desperte a vontade de conhecer estas obras. Não tenha medo de discordar da minha modesta opinião. Eu também não concordo com muitas certezas que os especialistas pregam por aí. O importante é levar a literatura, a música e outras formas de cultura para casa. Fantasiar em família. Hatuna Matata.

Tino Freitas."

quinta-feira, 13 de março de 2008

Lágrimas com pontos e vírgulas

Queridos roedores,
Dia desses visitando o blog Ler pra Crescer capitaneado pela jornalista Cristiane Rogério, resolvi morder a isca que ela deixou, falando sobre um artigo publicado na revista em que trabalha. Fui à banca, comprei a revista e me identifiquei com o texto. A seguir, reproduzo com a autorização da Revista Crescer o artigo escrito pela atriz Denise Fraga e publicado na página 98 da citada revista, edição de fevereiro de 2008. Devo confessar que as questões levantadas no artigo não são de exclusividade da autora. Vivemos isto aqui em casa e quem sabe, também na casa de vocês. Me senti acolhida pelo texto de Denise Fraga. Espero que vocês também. O livro a que ela se refere é Peter Pan e Wendy e o livro que aparece na foto é a edição com texto integral publicada em 1999 pela Companhia das Letras com tradução de Hildegard Feist. Recentemente saiu uma edição pela editora Salamandra com tradução do texto integral feita por Ana Maria Machado. Acho que em qualquer uma das opções o leitor estará bem servido. Boa leitura. Hatuna Matata.

P.S. Os negritos e itálicos são por minha conta!!!

Lágrimas com pontos e vírgulas.

"Nós acreditamos que, formando bons leitores e bons escritores, formamos pessoas aptas a aprender o que quiserem." Foi com esta frase que a escola onde nossos filhos estu­dam ganhou a nossa matrícula. E, realmente, dão extremo valor à leitura. A maior par­te dos livros didáticos é de literatura e, na maioria das vezes, parte da lição de casa é ler algumas páginas do livro do momento. Nino não gosta de estudar, e declara isso a ple­nos pulmões. Desde a alfabetização, vive às turras com as impossíveis lições, os cader­nos de caligrafia, a necessidade absurda de letra maiúscula, ponto, vírgula e todas essas "coisas inúteis" que lhe parecem mais atrapalhar do que ajudar a comunicação humana. Bom malabarista, acaba de passar para o quinto ano. Para mim, a coisa mais difícil de ser mãe é perceber o limite em que ajudar atrapalha. O direito que nossos pequenos têm à vivência de frustrações, que muitas vezes lhes tiramos, na melhor das intenções. Tenho uma relação bem próxima com a orientadora da escola, e vínhamos conversando a respeito desse limite. Em casa, fazíamos pequenos tratos, tipo "as duas últimas pági­nas eu leio pra você", e, numa dessas, acabei lendo um pedaço de Peter Pan e Wendy, de J. M. Barrie, um dos livros trabalhados. Coloquei-o na cama e segui para o meu quarto, ansiosa por acabar o capítulo. "Meu Deus, que absurdo, coitadinho, é muito difícil!" O livro do J. M. Barrie é realmente sofisticado pra se ler aos 9 anos. Sensível, metafórico, psicológico. E, no meio de uma crise, em que não nos dávamos conta de pontos finais, letras maiúsculas e tabuada, foi a gota d'água. No dia seguinte, um pouco envergonha­da, mas cheia de intenção de proteção, liguei pra escola. "Tudo bem, estamos juntos na luta, mas Peter Pan original é demais!" Minha observação foi assimilada com delicade­za pela orientadora, mas as páginas restantes precisariam ser lidas no prazo. Que jeito? Dia após dia, depois de muito nhenhenhem e força de vontade, Nino foi chegando ao fim das aventuras do menino que não queria crescer. Como prêmio, e num justo trato, ganhou a leitura do último capítulo inteiro pela mamãe. Sentei na cama e, ainda meio ligada nas últimas coisas do dia, um telefonema aqui, um e-mail acolá, iniciei buro­craticamente a leitura. O título do capitulo era "E Wendy cresceu". No meio de uma linha, o silêncio. "Que foi, mamãe?" Eu já não podia mais segurar. As lágrimas me vieram aos cântaros. Peter Pan e Wendy deveria ser lido por todos os pais e todos os filhos. Quando exatamente perdemos a capacidade de voar? Quando nossos filhos nos devolvem as fadas? Quando simplesmente nos resta observá-Ios em seu cami­nho para a Terra do Nunca? Quando viu minhas lágrimas, Nino também desabou no choro. O choro daquele livro inteiro. Da vida, das metáforas, que ele quase en­tendia, da dificuldade de crescer. Entendeu também que palavras, pontos e vírgulas podem virar lágrimas de emoção. E, como Wendy conversa com sua filha, falei ao meu pequeno das vantagens de ser grande. "Mas tem que trabalhar!", me disse, aos soluços. "É, tem que trabalhar, mas você pode dar a sorte de trabalhar em algo que goste de fazer." Acabamos dormindo abraçados depois de uma longa conversa e, no dia seguinte, liguei pra escola pra agradecer à orientadora pelo livro difícil.

Denise Fraga é atriz, apresento quadros no Fantástico, casado com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 10 anos, e Pedro, 8.

Página 98 Revista CRESCER FEVEREIRO 2008



quarta-feira, 12 de março de 2008

Histórias pra gente grande.

A arena improvisada no Átrio dos Vitrais da Caixa Econômica Federal em está lotada. Acredito que umas 70 pessoas estão ali. São 19h do domingo, 09 de março. Depois dos avisos de praxe (desliguem seus telefones, etc) uma música instrumental, delicada, embala as expectativas de todos. Warley Goulart entra em cena e começa a tecer no tabuleiro. Os olhares diversos do público percorrem cada movimento dos fios. Tecem juntos com o balé das mãos de Warley. Pausa na música. Um silêncio delicioso se apodera da sala. É a terceira vez que assisto a este espetáculo e ainda me emociono. O contador de histórias convida-nos a uma pausa. Pausa para fiar. A música Debaixo D’ Água, de Arnaldo Antunes, chega na voz suave e encantada de Maria Bethânia. O olhar do público continua seu ir e vir no tabuleiro. Ainda sem palavras a história ganha em beleza. Somos reféns do agora e do que há por vir. Chegam mais pessoas. É o último dia. Já teve sessão extra para o público infantil. Este espetáculo é só para maiores de 12 anos. Cabe todo mundo. Finda a música no poema Agora dos velhos Titãs. Volta o silêncio. Warley tece o sol e lança as primeiras palavras do conto A Moça Tecelã que Marina Colasanti publicou no livro Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento (global). Lança os fios de algodão no ritmo ditado pela autora. Respeita o texto (eu o conheço bem). Entre gestos suaves e olhares certeiros ele surpreende e conquista o público que sentou ali curioso. Alguém tosse. Pede desculpas. Mas não incomoda. Os ouvidos estão surdos para tudo que não seja a voz de Warley que, enfim, tece a lua. Fim da história. Olhares atônitos ante tanta beleza que envolveu aquele início de noite, fim de domingo, fim de temporada. É hora de recolher as lãs coloridas. Bethânia volta a cantar. Uma moça passa a mão no cabelo. Outra tenta manter a boca fechada mas o queixo pesa e precisa ser apoiado com as duas mãos. Eu escrevo. Ainda não é hora para aplausos, diria o manual de etiqueta. É apenas o primeiro movimento. O concerto continua. Mas o aplauso é espontâneo. A emoção falou mais alto. E isso é ótimo!
De repente outra música instrumental surge entre as palmas. Pouco a pouco domina a cena. É a deixa para que Helena Contente comece a contar A Princesa de Bambuluá, história que Ricardo Azevedo adaptou e publicou no livro Contos de Espanto e Alumbramento (Scipione). O silêncio da arena ganha o som de passos que se aproximam. São os guardas do Átrio que chegam para assistir a performance. Helena está coberta por uma roupa negra da cabeça aos pés e os funcionários parecem saber o que virá a seguir. Buscam um lugar para manter a guarda. A Princesa de Bambuluá está viva nos olhos da contadora. Todos estamos focados na aventura de João em busca do seu amor. Desajuizados assim como o pobre rapaz, aceitaríamos os suplício e provações de João só para conhecer o fim da história. Mas não temos pressa. Helena é Iara, embora a personagem não faça parte desta história. Mas a sua voz traz um encanto que não conquista apenas os guardas. O público está entregue ao talento e à beleza da moça diante da história. Sensualidade. Mais bocas abertas. Olhos colados no corpo, ferramenta que movimenta a engrenagem do conto. Enquanto a narrativa segue, Helena joga com as caixas do cenário. Troca de roupa, brinca com peças de vestuário e aguça a curiosidade da platéia. Ricardo Azevedo ficaria surpreso ao ver que seu texto encontrou uma porta-voz. Como uma torcida organizada, rimos na hora certa. Um riso rápido na medida certa para seguirmos ouvindo. João segue vencendo suas provações e chega a Bambuluá. É hora do show. Mais uma vez a música toma conta e convida Helena para dançar. Uma dança que contagia, provoca risos, provoca os guardas. Mas, assim que acaba a música, a história pede silêncio. Ainda me arrepio. Volta a música e provoca mais risos. Cadu e Warley também riem da cena. Eles trabalham se divertindo. Não é ótimo?! Enfim, a história termina. Os guardas procuram outra coisa para fazer. Nós continuamos lá. Mais aplausos e alguns Iuhús naquele começo de noite, fim de domingo, fim de temporada. O público está mais à vontade. Eu escrevo.
Uma música andina cresce no ar e o grupo apresenta o último cenário da noite. Carlos Eduardo Cinelli, o Cadu, senta-se ao lado de um painel negro e começa a contar A Terra é Redonda do livro O Homem que não Queria Saber Mais Nada e Outras Histórias (ática) de Peter Bichsel. O texto é precioso, diferente, inteligente, criativo. As soluções que Cadu encontrou para contá-lo também são. Compartilhamos os absurdos ao lado de Monalisa, Almodóvar, Björk, Egberto Gismontti, Walter Salles, Beatles, Michelangelo, Papa Léguas e Coyote. Do painel saem soluções absurdas para o personagem pôr em prática seu grande desejo: dar uma volta perfeita no planeta. Na verdade, as soluções absurdas nascem de problemas mais absurdos ainda... mas que no fundo, no fundo, têm uma lógica!!! Caramba como este texto é bom. Cadu também. Ele segue pescando soluções no painel até que chega a primeira carreta. O público se mostra cúmplice num riso coletivo. Riso que vai se descontrolando na boca enquanto o texto se desenrola. Começa um jogo de advinhas. O público acha que já sabe o que há por vir, mas há sempre uma surpresa. Os risos seguem. Cadu tem o público na mão. Há um momento em que ele dispara o verbo. Fala, fala, fala e a gente fica sem fôlego. Tem o domínio do texto, parece que foi ele quem escreveu. Com um talento para proteger mochilas, o contador segue sua sina. Hã... será que a história me dominou e passei a escrever absurdos? A história chega ao seu final. Na verdade, o texto foi dito, mas nosso contador ainda surpreende numa performance de rodopios impressionante. Sou eu quem fica tonto. Tonto com tanta criatividade e encantamento. Estou feliz, entregue aos braços imaginários das palavras de Marina, Ricardo, Peter, Warley, Helena e Cadu. Ouço os aplausos. Público em pé. Um minuto. O grupo apresenta os livros. Mais aplausos e iuhús intensos. Lágrimas nos olhos dos três. A noite de domingo já ganha o breu e algumas gotas de chuva. Na minha mente, Cadu ainda rodopia enquanto escrevo. Fim de temporada. Hora dos meninos voltarem para a Cidade Maravilhosa. Já sinto saudades. Voltem logo. That’s all, folks.
Este texto é o relato da última apresentação de O mundo de fora pertence ao mundo de dentro, espetáculo integrante da temporada 2008 dos Tapetes Contadores de Histórias em Brasília (DF). Na foto acima, Warley, Cadu e Helena.

terça-feira, 11 de março de 2008

Ex-Libris dos Roedores de Livros

Chegou ontem!!! Primeiro, o do nosso acervo particular. Queríamos ver se ficava bom. Gostamos. Agora, pedimos para fazer o do acervo do Projeto. Chegará em breve!!! Para inaugurar, escolhemos o clássico Where the wild thing are, do genial Maurice Sendak.

Para os que não estão familiarizados com a expressão latina, "ex-libris" ou "ex-bibliotheca" significa "dos livros de..." ou "da biblioteca de...", ou ainda "livros dentre aqueles" pertencentes a determinada pessoa ou instituição. A denominação ex-libris não é apenas dada a etiquetas fixadas em livros, também são chamados de ex-libris toda a marca de posse feita em uma obra, quer seja o nome do possuidor por escrito, um sinal convencional, um símbolo, um brasão de armas, um monogramas ou uma sequência de iniciais, carimbos diversos e por fim, esta etiqueta isolada, que o possuidor da obra cola, em geral, à capa interna do livro encadernado ou numa das suas folhas de guarda. (para saber mais, clique AQUI).