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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Primeiras impressões do Salão da FNLIJ 2008

No último sábado, enquanto Edna, Célio, Aline e Juliana davam seqüência ao projeto na Ceilândia, eu e Ana Paula desembarcávamos no Rio de Janeiro para participarmos do 10º Salão FNLIJ di Livro para Crinaças e Jovens. A primeira impressão ao entrar no MAM, sede do salão, é a de nos sentirmos em casa. Livros. Autores. Ilustradores. Tantos que guardamos em casa nas estantes, nos emails, nos telefonemas... e agora, ali, ao alcance do olhar, do abraço, do reencontro, do muito prazer. Muito prazer. Esta é a palavra. Estou num Cyber-café no Flamengo e tenho que correr para o lançamento do novo e belíssimo livro de Ana Terra, Sai pra lá. Por isso, deixo mais impressões para depois. O que posso dizer é que os encontros após o salão são deliciosos. Segunda, uma mesa gigantesca no Cervantes reuniu editores, André neves, Elma, Marcelo, Ivan Zigg, Ana Terra, Cárcamo, Roger Melo, Hermes Bernardi Jr., Anna Claudia Ramos, Sandra Pina entre tantos outros. Ontem, no salão, o grande momento foi o lançamento do MARAVILHOSO livro Pelos Jardins Boboli - Reflexões dobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens, do genial Rui de Oliveira. Além de fãs, curiosos e alunos, Rui concentrou na platéia mais da metade dos melhores autores e ilustradores para crianças do Brasil, todos na fila de autógrafos. Um momento inesquecível. Talvez Rui ainda estivesse lá agora autografando (a fila era imensa) se a Beth Serra (a comandante em chefe do Salão) não aparecesse por lá com o microfone na mão expulsando todos da sala pois o horário havia estourado. À noite, num restaurante do Horto, Eva Furnari, Ricardo Azevedo, Diléa Frate e boa parte do "time" da primeira noite. Nesta segunda acontece a entrega dos prêmios da fundação. A noite também promete. Sigo informando aos poucos. Aguardem fotos e relatos de cada encontro.

Mais informações no SITE DO SALÃO.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

24 horas de histórias para contar...

Depois de São Paulo, parada obrigatória no Rio de Janeiro para conferir a Maratona de Contos: 24 horas de contação de histórias!!! Das 18h de sábado às 18h de domingo, no Espaço SESC (Copacabana). Entrada franca, só era preciso paciência para entrar. Depois de lotado o auditório, só entra um quando outro sai. Foi assim que, lá pela meia noite adentramos naquele Tetaro de Arena. Gente com travesseiros, outros ligados no café... olhos sempre atentos. Brasília estava lá: Miriam, Aldanei e Teresa. A Carleusa também estava, mas tinha saído na hora da foto acima. Nós, só bicando um lugar na platéia para apreciar um número incrível de contadores de histórias de várias partes do planeta. Alguns excelentes atores, outros, enfadonhos. Mas, nos interessava mais os contadores que usavam a palavra como principal instrumento, refletindo textos da literatura infantil, mesmo que encantasse também aos adultos.
Neste perfil, da meia noite de domingo até as quatro da manhã, o destaque foi Regina Machado. Autora dos livros O Violino Cigano e outros contos de mulheres sábias, A formiga aurélia e outros jeitos de ver o mundo e o genial Nasrudim, Regina encantou a todos com três histórias do tempo das mil e uma noites. Foi aplaudida de pé, as duas da manhã, sob pedidos de bis. Naquela madrugada, encontramos nossa querida Lenice Gomes (na foto abaixo) que, devido a um acidente impensável, não pode desfilar seu talento contando suas sacadas folclóricas. Passavam das quatro da manhã quando cruzamos as ruas iluminadas de Copacabana, exaustos, felizes. Um pouco de sono para dar espaço para os sonhos contarem novas histórias.
Onze da manhã... dormimos demais!!! Engolimos o café de uma vez e corremos para o SESC. Todo mundo lá. Aldanei só descansara 60 minutos. Devorou 23 horas de histórias. Tinha a força dos jovens apaixonados. Grande Alda. Mas eu queria falar de uma dupla genial, os mestres de cerimônia da maratona: os atores Álvaro Assad e Marcio Moura (integrantes do Centro Teatral e Etc e tal) dominaram a cena com entradas hilárias plenas de interação com o público. De pijamas, de toalhas, de mestres cuca... impecáveis na arte de entreter com inteligência.
O domingo carioca apresentava suas cores quentes, mas nós não víamos o tempo passar naquela arena. Principalmente quando fomos surpreendidos com a apresentação de Ana Luisa Lacombe. Numa homenagem à Sylvia Orthof, contou a trilogia da galinha: “Foi o ovo, uma ova”, “Galo, galo, não me calo” e “Mudanças no galinheiro mudam as coisas por inteiro”. As crianças tiveram crises de riso que contagiaram a todos. Lacombe mostrou que o bom contador, estuda sua história e encanta, mesmo respeitando o texto literário. Que show!!! De lambuja, contou "Se as coisas fossem mães". Após cada história, sempre apresentava o livro de origem.
Boa parte do Firimfimfoca (nosso espetáculo-surpresa que está quase saindo do ovo) estava presente naquela arena. Adoramos. Depois daquela apresentação, feita sob medida para nós, fãs de Sylvia Orthof (agora, fãs da contadora carioca radicada em São Paulo), não perdemos tempo: convidamos Ana Luisa Lacombe para uma canja em breve na Capital Federal. Assim, deixamos a maratona felizes e ansiosos para retornar em 2008 para a Cidade Maravilhosa que, mesmo no interior de um teatro arena nos presenteou com maravilhas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

As balas de hortelã de Marina Colasanti

Depois que o professor Bartolomeu emocionou a todos, o almoço teve sabor de resfriado (parodiando Graziela Hetzel no genial A Cristaleira). Não sentia gosto de nada. Até por que depois do professor, chegaram as palavras de Marina Colasanti feito chantilly por sobre o chocolate quente numa noite de inverno. Antes da formação da mesa, encontrei Marina e não resisti, levei o Penélope Manda Lembranças para um autógrafo. Ela abriu um riso acolhedor e eu, naquele momento, poderia desfazer trezentas e sessenta e cinco quinas do meu labirinto fantástico. Ela procurou um cantinho espremido para deitar sua dedicatória e alfinetou: - Um dia os editores vão descobrir que as crianças merecem uma página de rosto. Sorri também.

Na palestra, brincou com sua origem e sua acolhida no Brasil: "Italiano é a língua da minha alma. Português é a língua da minha vida". Marina nasceu em Asmara (cidade localizada em território etíope que na época do seu nascimento era colônia italiana). Confessou que a morte prematura de sua mãe – quando Marina tinha apenas 14 anos – acelerou a intensidade da sua vida. Sempre leu muito. Foi a leitura a razão que a fez escrever. A outra coisa foi o diário. Mania de guardar segredos. Marina escreve diários – aqueles com chave e tudo mais - desde os 9 anos. Guarda-os todos em casa até hoje. “é de uma inutilidade”, ri de si mesma. Rimos juntos.
Chegou ao Brasil em 1948. Desejou ser atriz. Não deu certo. Decidiu ser artista plástica. Não conseguiu ganhar dinheiro com isso. Resolveu escrever. Deu no que deu.
Marina diz fugir dos rótulos: “Meu projeto é plural. Sou muito metida. Gosto do diferente. Prefiro o complicado. Corto grama com tesoura de unha”. Confessou ainda que precisa ser surpreendida pelo seu trabalho. E encerrou o porre de poesia com a frase: “Quero ser bala de hortelã pelo resto do dia na boca do meu leitor”.
Huummma delícia, não é mesmo? Pela foto abaixo, veja o treme-treme da minha emoção. Pois foi assim. Inté!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

O Porre de Poesia!!!

Engraçado esse lance de ser escritor. É bem diferente de ser artista de tv. A pessoa pode até conhecer a alma do autor através dos seus textos, mas sua imagem passa livre pelos corredores. Digo isso porque vi o professor Bartolomeu Campos de Queirós circular quase invisível pela sala onde ficava a livraria Martins Fontes – na minha opinião, o único equívoco daquele seminário – brincando com as palavras. Cercado do anonimato, o professor dizia ao lado das pessoas no stand: - Ler faz mal pra vista! Após a frase, olhares atônitos de professoras não entendiam o que aquele senhor pretendia ali, enfadonho, num universo de livros. Eu sorria com a brincadeira. E aguardava, desde a quarta feira o momento de ouvir as palavras doces e sérias de quem aprendi a amar à distância, em silêncio, em respeito. As palavras do professor Bartolomeu Campos de Queirós, escritas em seus livros, em emails, ou proferidas em público têm a força de um beijo paterno. Não de beijo de mãe. Mãe normalmente beija a toda hora. O beijo do pai traz a força da surpresa, do amor escondido sob a capa da seriedade. Na manhã daquela sexta, 24 de agosto, último dia de seminário, pegamos uma carona com Renata Nakano e perguntei a ela se era sua primeira vez. Era. Ouvir o professor Bartolomeu pela primeira vez requer um preparo especial. A alma, virgem daquelas palavras, pode sofrer de tamanha paixão. Por volta das 10 da manhã o encanto se fez. Luiz Raul Machado – a quem aprendi a gostar “assim”, de longe, de graça – presidia a mesa, que contava ainda com a presença da contagiante e igualmente genial Marina Colassanti. Perdoem tantos adjetivos, mas é impossível resgatar este momento na minha memória sem me mostrar apaixonado. Luiz Raul fez as honras e apresentou os dois num texto emocionado. Era visível o magnetismo naquele salão. Depois de acarinhar Bartolomeu e ao falar de Marina Colassanti, afirmar estarmos diante de um Andersen de saias, da Rainha dos contos de fadas da Língua Portuguesa, o presidente da mesa encerou dizendo: Este encontro será UM PORRE DE POESIA. E foi!!!


Bartolmeu Campos de Queirós contou da sua infância em Papagaio, interior de Minas. “Nascer é ganhar o abandono, perder o paraíso, viver por conta própria. Em troca, a vida nos oferece a capacidade de fantasiar. A fantasia atropela o passado e vislumbra o futuro que não tenho”. Aí contou uma historinha que levarei comigo embalada na saudade que guardo do meu pai: “Quando era menino sentia muita sede à noite. E lá em casa, era meu pai quem acordava para matar minha sede. Mas ele não trazia água. Ia até ao lado da cama, levantava carinhosamente minha cabeça com uma mão e com a outra fazia um gesto que imitava o copo indo em direção à minha boca. Com a voz, fazia GUT, GUT, GUT. E eu bebia a mentira dele que matava a minha sede. Meu pai sabia LER que eu não queria água: queria ELE!!!”. Quanto a sua mãe, Bartolomeu conta que “lia na vasilha de arroz doce o carinho dela”. Falando do inexplicável deixou no ar a pergunta: - Quem colocou o desejo do açúcar no coração da formiga? Confessou: - Sou movido pelo afeto. Disse mais: - Reler comprova a minha desatenção e me rejuvenesce. Sobre o ato de escrever sussurrou: - Quando eu escrevo faço carinho em mim. Mas o melhor de mim não serve pra todo mundo. A gente só fantasia o que não tem. Eu só escrevo a minha falta!
Aí o assunto enveredou pela escola: Bartolomeu afirmou: “A Escola é servil. A Arte não é. Por isso é tão difícil levar a Literatura para a escola, visto que esta quer ter o poder de medir tudo, quer transformar tudo num instrumento pedagógico. Agora quero ver a escola conseguir medir QUAL CRIANÇA É MAIS FELIZ NO RECREIO”.Ao final, aplaudido de pé por minutos, Bartolomeu Campos de Queirós foi surpreendido por um parabéns a você público, puxado por Luiz Raul. Querido Poeta, que a vida lhe seja generosa em fantasias. Ainda estamos plenos daquele porre poético! Hatuna Matata.

Monteiro Lobato responde carta de leitora...

Depois da visita ao Museu da Língua Portuguesa, chegamos ao AMCHAM por volta das 13h30. O almoço foi completamente esquecido em prol da vontade de ouvir Regina Zilberman, Laura Sandroni e Marisa Lajolo, as mestras em Literatura daquela tarde. Confesso que o panorama histórico da nossa Literatura Infantil a partir dos anos 70 traçado por Laura Sandroni e a fala de Regina Zilberman – que em virtude do atraso de seu vôo, chegou e saiu como num “susto” – sobre o ensino médio e a formação do leitor pareceram menores diante do impacto da apresentação que Marisa Lajolo fez de uma carta-resposta de Monteiro Lobato a uma pequena leitora. A missiva apresentada ganhou aplausos já no início. É fruto da pesquisa que Lajolo desenvolve na UNICAMP, examinando cartas entre crianças e autores desde Monteiro Lobato até Pedro Bandeira. A pesquisadora afirmou que Lobato – assim como Lewis Carroll - respondia cartas de seus leitores e ia a escolas, mostrando que esta era uma prática antiga para conquistar leitores. Ela não havia presenciado a fala de Ana Maria Machado no dia anterior. Foi preciso explicar a ela o motivo de tal manifestação de apoio do público, que viu na atenção prestada por Lobato o carinho que pareceu não mais existir entre a imortal e seus fãs com pouca erudição. Marisa Lajolo e Monteiro Lobato foram aplaudidos entusiasticamente.
A pesquisadora apontou vários detalhes da carta (clique sobre a imagem acima para uma melhor visualização): desde a forma como se escrevia o ano (com três algarismos), passando pelo detalhe da data em si, mostrando que o autor, mesmo ocupadíssimo com a questão do petróleo, arranjou tempo e atenção para responder a missiva de uma criança encantada com o seu Sítio. Numa leitura mais atenta, percebe-se que Lobato entra na fantasia do seu universo. Fala da língua alemã referindo-se a um título germânico que ele havia traduzido (Barão de Munchausen) e ainda dá um pito nos editores, reclamando do atraso na publicação do novo livro. Ainda dá dicas sobre os bastidores da criação. Tudo isso – e mais – nas entrelinhas daquele datiloscrito (datilografia corrigida à mão). Uma aula de história e de respeito ao leitor. Ao final, mais aplausos. O espectro negativo que baixou na tarde anterior se dissipou por completo na carta de Lobato, nas palavras de Lajolo. Almocei deliciosos bolinhos fantasiosos de Tia Anastácia. Pausa para o cafezinho. Suspiros. That’s all, folks!

Roedores no Museu da Língua Portuguesa

Na manhã da última quinta, 23 de agosto, ainda estávamos em Sampa. A agenda do seminário apresentava naquela manhã a palavra do premiado autor espanhol Xosé Antonio Neira Cruz, o indígena Daniel Munduruku e o professor Luiz Percival Leme Brito. Deste encontro podemos dizer o que os amigos falaram: Xosé emocionou a todos falando sobre os prazeres da intimidade com o livro. Clique nos nomes para ler a cobertura oficial sobre a presença de cada um.
Desculpe aos que esperavam nossas palavras sobre esta manhã imperdível no seminário, mas havia um sonho a ser realizado: conhecer o Museu da Língua Portuguesa. Dizem que todo mulçumano deve ir à cidade de Meca pelo menos uma vez na vida. Depois da nossa visita acho que todo brasileiro deveria ter o direito (e meios para isso) de visitar o Museu da Língua Portuguesa uma vez na vida. Impossível sair de lá sem ter no peito a chama da paixão queimando de tanto orgulho e felicidade de pertencer a esta língua. Sim, pertencer. Penso em português, falo, sinto nesta língua!!!

O museu fica na Estação da Luz (se você estiver de bobeira, pode dar uma esticadinha cultural na Pinacoteca do Estado se São Paulo, que fica ao lado) e abre a partir das 10 da manhã. Eu, por ser professora, entrei de graça. O Tino, por ser músico e jornalista pagou R$ 4,00. Precinho especial para tamanho prazer (aos sábados a visitação é gratuita). Rapidamente subimos para o terceiro piso com um grupo de estudantes do interior de Minas Gerais. Num auditório com um super telão foi projetado um curta falando sobre a importância cultural da Língua para a humanidade. Depois, a parede onde o curta é projetado abre-se convidando-nos a entrar na Praça da Língua, o espaço mais emocionante. Repleto de projeções por todos os cantos (pisos, paredes, tetos) vozes conhecidas declamam os mais belos poemas. A silêncio de uma turma de 100 adolescentes é de impressionar. A escuridão da sala nos deixa mais atento as palavras. Da definição da boneca Emília (leia-se Monteiro Lobato) sobre a vida ser pisca-pisca, passando por Guimarães Rosa dizendo que “Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura” até o mais emocionante: ouvir Maria Bethânia sussurrar Fernando Pessoa em nossos atentos ouvidos: “Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma”. A produção de José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski emociona do início ao fim. Já pagou o ingresso (incluso as passagens de avião Brasília – São Paulo, o ônibus de Guarulhos ao Itaim e tudo o mais).
Mas não pára por aí: descemos ao segundo piso. Lá, o genial Beco das Palavras (onde brincamos de criar palavras num grande, divertido e interativo jogo virtual), a Grande Galeria (projetando num imenso corredor vários filmes simultaneamente), os pilares com as línguas que deram origem ao nosso português (africanas, indígenas, espanhola, inglesa, francesa...), a linha do tempo... por falar em tempo, não adianta ir com pressa.

Devore tudo d e v a g a r.

Por fim, no primeiro piso, a exposição temporária sobre Clarice Lispector. Podemos ler as palavras da escritora no fundo dos seus olhos. Vários ambientes distintos lembram seus livros, momentos biográficos, trechos de uma entrevista televisiva e a leitura do livro A Hora da Estrela feita por transeuntes exibida em vídeo. Mas o que causa impacto é a sala das gavetas. Segundo a organização, são duas mil delas. Sessenta podem ser abertas e guardam “segredos” sobre Clarice. Correspondências, as várias identidades com datas de nascimento diversas, primeiras edições de livros e outras raridades são um prato cheio para quem tiver tempo de sobra para esmiuçar a vida da escritora. Tem até bancos à disposição dos mais exaustos. Não tínhamos tanto tempo assim. Mas o que vimos foi o suficiente para garantir forças para outra visita, quem sabe, em breve. De lá, metrô até a Paulista e táxi até o Morumbi. A língua Portuguesa nos reservava outras emoções. Vastas. Intensas. Que viagem!!!

domingo, 2 de setembro de 2007

Não escrevam para Ana Maria Machado...

A última palestra do primeiro dia do Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura foi, pra dizer o mínimo, POLÊMICA!!! Quem nos falava era a imortal e premiadíssima Ana Maria Machado. A autora de livros imperdíveis e maravilhosos como Menina Bonita do Laço de Fita, Bisa Bia, Bisa Bel e Raul da Ferrugem Azul, além de traduções primorosas como a de Alice no País das Maravilhas, parece estar cansada do seu público. Munida de um texto muito bem escrito cuja temática era “alguns equívocos sobre leitura”, ela começa falando do menino Carlos Drummond de Andrade sozinho em seu quarto numa casa em Itabira, interior de Minas Gerais, lendo sob a luz do lampião. Lá não tinha autor indo à escola, não tinha Feira do Livro nem outras ações de incentivo à leitura. Mas o menino Drummond se viu encantado pelos livros e se tornou um dos maiores poetas desta terra.
Depois, Ana Maria Machado enveredou pelas dificuldades das ações (???) governamentais de incentivo à leitura. Recomendou a inclusão da disciplina LITERATURA INFANTIL na formação de professores. Denunciou que a BUROCRACIA INSTITUCIONAL tem pavor da Literatura, pois não tem a menor intimidade com a matéria e prefere manter o magistério longe da Literatura como forma de permanecer no “poder”. Dissertou muito bem sobre o que chama de ELOGIO DA IGNORÂNCIA da parte dos Governos (e aí não fala só do Brasil) que se munem de discursos entusiasmados e vazios sobre incentivo à leitura.

Foi a partir daí que entrou num assunto delicado: a relação entre editoras, escolas, autores e alunos. Apresentou falhas como a troca servil entre escola e editora: “Eu levo meu autor à sua escola e vocês adotam o meu livro”. Reforçou a idéia dizendo que uma boa performance ao vivo não é sinônimo de um bom escritor, de um bom livro. Disse ainda que é salutar levar a criança a encontros com o livro como numa visita à biblioteca ou a uma feira do livro. Mas, segundo ela, NADA DISSO PRECISA DE UM AUTOR AO VIVO. Citou Freud: “o texto literário faz do jogo poético uma arte da sedução”. Citou Paul Auster, Mark Twain e Eça de Queiroz como ótimos sedutores literários. O prazer da leitura, concluiu, vem com muito trabalho e não precisa estar aliado à diversão.

Numa sala repleta de educadores, a imortal se mostrou impaciente com os professores ignorantes que nada sabem sobre literatura e pedem às crianças para escreveram cartas ao autor e aí este recebe pilhas e pilhas e pilhas e pilhas de missivas dizendo que adorou tal livro, que ama o autor e por fim, pedindo um livro autografado. Ana Maria Machado parecia estar tomada da ferrugem azul do seu personagem Raul. Desenferrujou mostrando garras de lobo. Detesta receber cartas de crianças ignorantes instruídas por professores ignorantes e que, apesar de ter uma equipe para responder a tais cartas e selecionar outras para uma possível e erudita carta-resposta do punho da própria autora, não acha que esta relação seja importante. Aí, eu enferrujei. Confesso que manchas azuis tomaram meu corpo. Decidi fuçar por aí para saber qual a relação que alguns autores com livros igualmente imperdíveis como os de Ana Maria Machado têm com as cartas que recebem das crianças. Descobri que existem sim, poucos, que detestam receber essas cartas que dizem “eu te amo”, “adoro seu livro”, “me dá um autógrafo”, etc (acham perda de tempo e sequer respondem). Mas uma maioria adora manter o contato com seus leitores, independente do grau de erudição (???). Realmente, não é obrigação de Ana Maria Machado responder cartas. Nem dar autógrafos em folhas de papel que não estejam permeadas com seus textos. Afinal, ela não é dona de fábrica de papel. Recomendamos a todos que leiam os livros de Ana Maria Machado. São ótimos. Mas – independente da sua erudição – não escreva para ela. Pode estar atrapalhando seu momento de inspiração. Ela não tem tempo para responder suas cartas. É uma imortal. Seu tempo deve ser restrito ao trabalho de escrever. E ela escreve muito bem. Ah, não esqueçam: Se encontrá-la por aí na rua só peça um autógrafo se estiver munido de um livro dela, numa edição bem cuidada. Cuidado para não dizer nenhuma besteira. Ana Maria Machado pode não gostar.

Curioso é que naquela noite, quando chegamos a casa onde estávamos hospedados, nosso anfitrião contou que, quando criança, estudando em Rondônia, ficou marcado pela visita de Ana Maria Machado à sua escola quando ela autografou o melhor livro da sua infância: Raul da Ferrugem Azul. Lembra de detalhes da visita da autora. Fala de trechos do livro. Lembra da felicidade de compartilhar aquele espaço tão interiorano quanto Itabira, com a imortal. Entristeceu com nosso relato. Desencantou.
O menino Carlos Drummond de Andrade sozinho em seu quarto numa casa em Itabira, interior de Minas Gerais, lendo à luz do lampião não tinha autor indo à escola, não tinha Feira do Livro nem outras ações de incentivo à leitura. Mas se viu encantado pelos livros. Cresceu gênio da palavra. Mas Drummond é único. Seria poeta morando na lua. Talvez, se algum autor tivesse ido a Itabira naqueles idos, ajudasse a despertar noutras crianças o prazer de ler um bom livro. Não seriam poetas. Seriam como o filho de uma espectadora daquela tarde em São Paulo que levou à mesa a seguinte história:
Meu filho tem 11 anos. Recentemente descobri que ele escreve ótimos poemas. Dia desses ele me disse: - Mamãe, já sei o que vou ser quando crescer! Professor de matemática! Naquele instante parei pra pensar e fiz uma descoberta incrível: meu filho escreve por prazer!!!

Ana Maria Machado escreve muito bem. Carlos Drummond de Andrade escreveu muito bem. Milhões de brasileiros escrevem mal, independente dos professores que os educam ou deseducam. O buraco é muito mais embaixo. Todos sabemos disso. Acho que o futuro professor de matemática guardaria o autógrafo da imortal na gaveta da memória. Poderia até não ajudá-lo no desenvolvimento, na sedução do seu prazer em ler. Mas, certamente, guardaria um sentimento de conquista. Um tiquinho de felicidade, mesmo sabendo que o autógrafo foi num pedaço de papel que a autora não fabricou, já que seu livro pode muito bem ter sido lido numa biblioteca. Desenferrujei e pronto!!!

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Quarta, 22 de agosto. Prazer em Ler - parte III

13h30.
Depois de um almoço regado a muito bate papo, comida boa, nem tão barata assim... voltamos para a Câmara Americana de Comércio (AMCHAM) bem na hora da palestra da genial ANGELA-LAGO. Seu tema foi O Prazer do Livro para o Leitor Iniciante. Gente, uma AULA sobre ilustração. Se você pensa que ilustrar um livro infantil é só colocar um desenho ali e pronto... está muito enganado. Existe todo um estudo para que estas ilustrações possam servir ao papel de oferecer ao leitor iniciante o prazer de ler. Ângela revela que a criança vai aprender com os livros de imagem a “seqüência” da leitura alfabética (da esquerda para a direita, de cima para baixo). O bom livro-imagem para criança inicialmente deve fazer uso do IR e VOLTAR. Num segundo momento, passa a uma relação de PERSPECTIVA AFETIVA, trabalhando o PEQUENO e o GRANDE. Mostrou em slides que os desenhos das crianças também apresentam ênfase no que lhes é mais importante. Ressaltou a VISÃO DE RAIO X, onde não basta desenhar o visível. Vale ilustrar o oculto.
A explanação de Angela-Lago foi rica em exemplos. A autora-ilustradora mostrou toda a complexidade teórica que envolve um livro imagem e que é intuitivamente assimilada pelo leitor mirim. A autora encerrou a palestra dizendo que o texto pode sim usar de recursos para reforçar a idéia da imagem. Falou ainda da técnica da CARTA ENIGMÁTICA (livro que usa o jogo entre palavras e ilustrações, como no seu livro A novela da panela (acima)). Por fim, deixou na cabeça de todos a idéia de que “O livro, antes de prazer, é PAIXÃO!”. Depois, nos deixou ainda mais apaixonados por sua obra fantástica.
Ainda encantados e apaixonados por Angela-Lago, fomos agraciados com a palestra da ilustradora GRAÇA LIMA sobre a Narrativa Imagética. Ela começou sua fala dizendo-se feliz e surpresa com a presença de tanta gente num seminário sobre o prazer da leitura. Lembrou que a “nova” geração tem a imagem como babá. Nossos filhos sofrem a influência do que vêem na TV, no computador, no cinema, enfim. Ressaltou a importância de se formular uma PEDAGOGIA DO OLHAR para mostrar o cuidado com o que se apresenta como imagem e como olhar o que se dá a ver. Se pôs lado a lado conosco ao destacar sua difícil relação com seu filho e a leitura. Provocou risos ao ironizar o título do seminário (Prazer em Ler) e propor o que seu filho indicou: Odeio Ler!!! Provavelmente estaria repleta de jovens. Após a descontração, falou sobre seu tema que era sobre a capacidade de contar alguma coisa através da imagem.
A partir daí, uma AULA sobre o papel da ilustração na história do livro. A ilustração, no início, era só um detalhe. Na renascença a escrita era tão sofisticada e restrita aos escribas que o próprio texto se tornava “imagem” sem significado de leitura. Só a partir do século XIX, a ilustração passa a ocorrer como reforço da fantasia, como manifestação do sonho. Graça conseguiu mostrar a que veio e certamente acrescentou muito a todos. Depois da palestra, o Tino não resistiu e levou o genial Sai da lama, jacaré (aguardem a resenha) para um autógrafo. Falamos sobre a paixão por jacarés, sobre o livro Vizinho, Vizinha (outra resenha para breve), Roger Mello e Mariana Massarani (que com Graça formam OS CAPADURA EM CINGAPURA) e o próximo projeto dos três: Mercado das Pulgas. Simpatia transbordando por todos os traços. Adoramos conhecê-la. Aprendemos um pouco mais. Depois de tudo, uma foto para registrar o encontro. Hilariana, Eu e Graça Lima. O Tino? Ah, quem mandou ele gostar de tirar fotos?

Quarta, 22 de agosto. Prazer em Ler - parte II

12h30
Pausa para o almoço. Correria para encontrar um lugar em harmonia com a tríplice aliança: comida gostosa, barata e perto do Centro de Convenções. Foi um passeio e tanto pelas redondezas. Divertido. Por fim, encontramos. A mesa reuniu cerca de 15 novos amigos. Finalmente encontramos nossa querida Denise Cantuária (Peirópolis), companheira desde o Salão da FNLIJ. Na mesa, ainda, Peter, Renata e Lúcia, a turma da Editora SM, Silvia Oberg e Stela Maris da Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato, entre outros. Papo vai, papo vem, conhecemos o trabalho incrível da Biblioteca. Fomos presenteados com um exemplar da BIBLIOGRAFIA BRASILEIRA DE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL, VOLUME 14, referente a produção literária de 2003.
O livro, publicado em 2006, é uma verdadeira referência com a citação de 591 livros lançados naquele ano, com a avaliação/resenha das obras mais relevantes. A equipe sofre toda a dificuldade de quem depende de iniciativas dos governos, mas estão no volume 14 (!!!)... impressionante.
É um trabalho gigantesco e heróico deste grupo. Deveria chegar ao alcance de cada professor deste país. Como se não bastassem as ótimas resenhas – as meninas conhecem o chão onde pisam – o livro apresenta índices que facilitam a vida do leitor. Você pode procurar os livros por autores/tradutores/adaptadores, por seus títulos, por ilustradores, por editoras, por indicação da faixa etária a quem os livros são indicados, índices de Séries e Coleções, e de gêneros.
Não sei qual a disponibilidade desta publicação para o público em geral, mas recomendo aos interessados que procurem a Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato (site no link do primeiro parágrafo) e perguntem se é possível adquirir esta obra-referência. Por aqui, posso afirmar que o Tino anda debruçado em suas páginas e descobrindo novos tesouros.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Quarta, 22 de agosto. Prazer em Ler - parte I

9h00.
Chegamos de táxi ao local do seminário Prazer em Ler de Promoçãod a Leitura. Recebemos as credenciais e uma sacola com livro, caderno de notas e outras referências sobre o evento. O espaço das palestras parecia abrigar mais de 500 pessoas. Uma estrutura ímpar de organização e nós, de olhos abertos para não perder nada. Sentamos num cantinho lateral e aguardamos a abertura do seminário. Numa coincidência daquelas, Peter O’Sage do Dobras da Leitura, senta-se ao nosso lado. Era um dos amigos virtuais que queríamos encontrar por lá. Sintonia total. Com ele a ilustradora e autora Lucia Hiratsuka (falaremos mais sobre Lúcia noutro post) e Renata Nakano da Miró Editorial. Nossos primeiros amigos. A primeira impressão: tudo daria certo. Como, de fato, aconteceu.

A manhã, fria, ansiava por Teresa Columer. Sua experiência na Espanha já tomou a forma de dois livros: A Formação do Leitor Literário e o Andar Entre Livros, que lançou neste encontro. Sua palestra teve a consistência do seu currículo como especialista em literatura para crianças. Encantada com as possibilidades da leitura no Brasil, lembrou de ver Ulisses - personagem do livro ODISSÉIA - esperando por crianças numa biblioteca no coração da Amazônia.
Falou sobre o problema da solidão urbana das crianças e da importância da leitura autônoma nos primeiros anos. É aí onde se começa o domínio da língua, se descobre o acesso ao imaginário (a criança pode ser outra sem deixar de ser ela mesma) e se dá a socialização cultural (ampliando sua experiência de mundo). Destacou a importância de ler com os outros pois, o compartilhamento da leitura cria pontes e a oportunidade de cruzá-las. Estabelece um vínculo maior com os colegas. É aí onde nasce a perspectiva narrativa. Vale conversar com as crianças sobre o que leram, cada um contando sua leitura do texto. Enfim, alertou que este importante compartilhamento não é comum na escola, embora necessário.
Por fim, falou sobre a importância de ler com os especialistas. O mestre deve alertar para alguns pontos importantes e com isso, conduzir o leitor de mãos dadas pelo universo literário e abrir portas. Cruzá-las ou não fica a critério do leitor, mas cabe aos professores alertar para várias nuances. Por exemplo: Não se pode esconder que o ato de ler é um exercício. Exige esforço e treino. Não é fácil, mas como numa academia de ginástica, com a prática, fica-se musculoso para a leitura. Outro fato esquecido é o de falar sobre as diferenças entre as traduções de uma mesma obra. Enquanto uma pode enfatizar o som, as palavras, uma outra pode realçar o sentido. Nunca se fala sobre tradução na escola e, num mercado como o nosso, feito de inúmeras traduções e adaptações, é importante que o leitor conheça essas nuances. O mestre deve sedimentar a idéia de que num texto literário não existe uma interpretação única, certa. Pode-se ler de formas distintas. Aí, ela arrasou mostrando que o livro Frankstein da inglesa Mary Shelley pode ser visto como uma novela de terror ou de ficção científica. Pode ser uma obra sobre a solidão ou um relato sobre a época e vida de sua autora. Por fim, pode ser ainda um símbolo do desencanto social sobre a emancipação das massas. Uma verdadeira aula.

12h30. Saímos para o almoço com as idéias fervendo. O seminário nos abria portas. Queremos atravessá-las, todas!!!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Prazer em ler - Roedores em Sampa!!!

Faz frio. Muito frio em São Paulo. O termômetro marca 12º Celsius. Mas nosso coração bate forte, esquentando a alma. Estamos mais uma vez bebendo na fonte. Eu e Ana Paula participamos do Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura, evento capitaneado pelo Instituto C&A em parceria com a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Hoje foi o primeiro dia. No palco principal, Teresa Columer, Angela Lago, Graça Lima, Ana Maria Machado. Nos bastidores, novos amigos e reencontros. Muito bom notar que a amizade plantada no Salão do Rio de Janeiro em maio passado já oferece deliciosos frutos. No meio de tudo, encontramos o sempre querido Renato Alencar, que tanto nos acolheu com sua simpatia quando os Roedores de Livros acontecia na Biblioteca Comunitária T-Bone. Mas nossa anfitriã neste evento é, sem dúvida, a Hilariana. Menina-fada desbravadora. Encantada com o universo das letras. Descobre aos poucos o poder transformador das histórias. A força de um bom trabalho tendo o livro como ferramenta. Divide tudo conosco. É a mágica que faz da divisão uma soma. Por aqui, estamos todos aprendendo. Teremos ótimas histórias para contar. Até a volta com fotos, fatos e muito mais. Agora vou correr para as cobertas. Enquanto escrevia este texto, deixei o Antes do Depois do professor Bartolomeu me esperando... ele me convida a deitar palavras no travesseiro. É sempre um carinho na alma. Inté!!! Abraços de letrinhas direto da terra da garoa.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Os vizinhos de Cora Coralina...

Hoje pela manhã vi na TV que em alguns estados do Brasil, como Goiás, São Paulo e também no Distrito Federal comemora-se no dia 20 de agosto o DIA DO VIZINHO. O Brasil inteiro deveria lembrar também que esta é a data do natalício de CORA CORALINA e agraciar a programação com a doce poesia desta poeta-doceira goiana. A nós, Roedores de Livros, cabe lembrar que esta comemoração foi uma sugestão de Cora aos governantes do seu tempo. Ela costumava dizer que o vizinho “é mais que parente, pois é o primeiro a saber das coisas que acontecem na vida da gente”. Como forma de homenageá-la, decidiram que o DIA DO VIZINHO seria comemorado no dia do seu ANIVERSÁRIO. É certo que Cora morava no interior e que aqueles eram outros tempos. Para lembrar, aproveito para postar fotos da nossa última visita ao Museu Casa de Cora na Cidade de Goiás – um local imperdível onde a poesia ultrapassa os limites do papel e alcança o olhar pleno de horizontes. O poema abaixo está numa moldura pendurada na parede do quintal da casa de Cora e conquistou nossos corações (Eu, Lucia Elena, Anna Claudia Ramos e Tino Freitas) naquela visita. Uma dica: se o guia parecer apressado, não lhe dê ouvidos. Tenha paciência para absorver toda a sabedoria que impera no lugar. Uma sabedoria simples de quem sabe cultivar os amigos, de quem ainda dá bom dia ao vizinho.
Minha Poesia... Já era viva e eu, sequer nascida.
Veio escorrendo num veio longínquo de cascalho.
De pedra foi o meu berço.
De pedra tem sido meus caminhos.
Meus versos: pedras quebradas no rolar e
Bater de tantas pedras
Em torno, o abandono.
Aninha, a menina boba da casa.

Foi uma ex-escrava que me amamentou no
Seio fecundo.
Eram seus braços prazenteiros e generosos que
Me erguiam, ainda rastejante, e Aninha
Adormecia, ouvindo estórias de encantamento.

Minha madrinha Fada...
Eu era Aninha Borralheira.
Era ela que me tirava das cinzas e me calçava
Sapatinhos de cristal.
Me vestia. Me carregava na Procissão.
Eu dormia na cadeirinha de seus braços.
E sonhava que era um anjo de verdade
Aconchegada na nuvem macia de seu xale.

Toda melhor lembrança da minha pueria
Distante está ligada a essa antiga escrava.

No tarde da minha vida assento o seu nome
Na pedra rude do meu verso: Mãe Didi.

Cora Coralina.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Funcionário da Fantasia Pública...

Atenção, atenção!!!
Entra em cena o CAPITÃO JONAS RIBEIRO – FUNCIONÁRIO DA FANTASIA PÚBLICA!!!

Depois de uma apresentação-declaração-de-amor de Íris Borges numa brincadeira com os títulos de seus livros, Jonas Ribeiro assumiu a PALAVRA no auditório da Escola Parque 308 Sul e encantou cerca de 300 pessoas que lotavam aquele local na última segunda, 13 de agosto, ávidas por dicas sobre como se tornar um grande contador de histórias.

Eis algumas dicas condensadas daquele bate papo:
Antes de tudo, é preciso um trabalho diário com a PALAVRA, em casa, sem a presença do público. Pesquisar as nuances, o perfume, as cores de cada história. Ler sempre. Conversar bastante. Não entregar o “discurso” pronto. Deixar espaços. Estar sempre atento às sutilezas. Reciclar para não ficar ultrapassado. Renovar o repertório.

Passado este momento, Jonas nos presenteou com uma história tibetana conquistando o silêncio de todos. No conto, a personagem materna perdia a visão pouco a pouco. Enquanto isso, era fácil perceber olhares envoltos na emoção da PALAVRA. Jonas Ribeiro era todo fábula. A história dançava na sua voz, nos seus gestos, por todo o auditório. Provocou suspiros. Arrancou aplausos ao fim de 15 minutos. O público estava no bolso.

Depois, com a ajuda do inseparável baú repleto de lenços, Jonas nos apresentou sua bruxa Cremilda provocando risos e a participação de todos durante a história. Tiradas geniais com a do GLOSS e a de que “todo professor adora transformar garrafa PET numa obra de arte” provocaram aplausos espontâneos além de vários “iuhús” na platéia. Jonas Ribeiro encanta. Distribui abraços, beijos, autógrafos. Como num passe de mágica guarda a noite e o tempo no seu baú. Cria uma viagem no tempo. Saímos todos crianças de lá. Mais sapecas, peraltas, felizes.
Na platéia, foto acima, parte dos Roedores de Livros: Eu, Tino, Edna e Luciana. Encontramos ainda muitos contadores de histórias da cidade... e a cada dia descobrimos mais gente se engajando nesta lida!!! Na foto abaixo, Míriam (elogiada publicamente por Jonas acerca da sua performance no último sábado), Aldanei e Teresa. Conversa vai, conversa vem, parece que vamos nos encontrar no SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CONTADORES DE HISTÓRIAS promovido pelo SESC do Rio de Janeiro no final deste mês. Motivo para obedecer a mais um “mandamento” de Jonas Ribeiro para ser um bom contador de histórias: conhecer outros trabalhos, reconhecer talentos, se envolver com os gigantes pois, convivendo com estes, pode-se agigantar também, compartilhando erros e acertos. Sabido este Capitão Jonas!!! Gigante este funcionário da fantasia pública!!! Seguimos aprendendo. Iuhúúúú!!!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A casa encantada de Íris e suas histórias fabulosas...

Íris Borges é a literatura infanto-juvenil em Brasília”. Assim escreveu Lourenço Cazarré em “O Livro das Feiras do Livro de Brasília”. Pois foi na casa desta mineira de Coromandel que na noite do último sábado (11/08), Eu e o Tino compartilhamos histórias, sorrisos, projetos, amigos e uma vista maravilhosa onde as estrelas encontravam as luzes de Brasília.
A casa guarda encantos em cada cômodo, objeto, gato, livro. Segundo Íris, foi planejada, construída e decorada para abrigar escritores, contadores de histórias e muita, muita inspiração. Pois foi cercado desta aura literária que o sarau ganhou forma e as histórias foram encontrando seus cômodos: Tino dividiu seus gansos na cozinha, Carleuza sacou a bruxa Miséria embaixo de uma mangueira, Simone emocionou a todos com Todas as Noites do Mundo contada na cama da anfitriã, Iclélia começou com um poema e arrebatou com a fabulosa Pele de Bode, recitada na biblioteca. Na sacada, Aldanei encantou com uma história sobre pai e filho e quase todos nos “molhamos” com a areia que saiu da sua imaginação. Por fim, Míriam sacou mais uma maravilha com o califa Harun al-Rashid no enredo.
Depois, todos nos abrigamos sobre o céu, as estrelas e o calor de uma linda fogueira para uma sessão de piadas. Ainda entre os convidados, Abadia e seu esposo (Sítio Geranium), João, sua esposa e filho, além de Mel (uma menina maravilhosamente sapeca) e Antônio (filho da Alda). Um mestre na arte de contar histórias, Jonas Ribeiro teve seu dia de espectador. Sua presença, sempre inspiradora, foi mais uma estrela a iluminar nosso céu naquela noite.
Alta madrugada, hora de voltar para casa. Deixamos para Íris um mundo de sonhos e desejos. A literatura infantil ganhou uma noite de gala. Estou certa de que os espíritos dos Grimm, Andersen, Perroult e Sherazade alimentaram o fogo daquela fogueira. Bruxas, princesas, duendes e dragões estiveram conosco na noite de sábado. Você não acredita? Que pena. Nós acreditamos. Hatuna Matata!!!

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Anjos que explicam mas não se explicam...

No final do majestoso filme “O ano em que meus pais saíram de férias” o menino Mauro, personagem principal da trama diz:
- Exílio é quando o pai da gente atrasa tanto, mas tanto, que nem aparece em casa.
Naquele momento tive a certeza que a frase era da Adriana Falcão. Esperei os créditos e... SHAZAM... lá estava ela como colaboradora do roteiro. É impressionante como alguns autores e ilustradores conseguem desenvolver um estilo próprio. Estas explicações pinçadas da mente criativa da autora me conquistaram desde que descobri o MANIA DE EXPLICAÇÃO (tenho falado tanto deste livro que em breve farei uma resenha). Depois veio o LUNA CLARA & APOLO ONZE. Até que ela resolveu agrupar várias de suas sacadas geniais no PEQUENO DICIONÁRIO DE PALAVRAS AO VENTO. O Tino, por sua vez, cuida com muito carinho da edição de A MÁQUINA com ilustrações de um tal Rinaldo (é a com capa branca, não com a capa do filme), que desde a primeira vista o deixou com uma pulga atrás da orelha que só saiu ontem.

Pois é: Adriana Falcão esteve em Brasília, a convite do Conjunto Nacional, para falar sobre seus livros, sua carreira de escritora e outras mumunhas. Lá descobrimos algumas afinidades. Não gostamos de decidir nada. Quando possível, preferimos delegar essa responsabilidade – ou culpa – para outros. O Tino, a exemplo da Adriana, leu O ESTRANGEIRO também aos 17 anos (presente de um amigo). Livro que desatarraxou uns parafusos da sua cabeça.

Outra coisa bacana deste encontro foi descobrir que tanto talento passa por um doloroso “processo de criação” quando o livro é por encomenda. Segundo ela, normalmente passa por três tentativas iniciais de resolver de uma forma mais simples:
1) Será que tem algo que já escrevi que pode servir?
2) Devolver o dinheiro depositado pela editora...
3) Se matar...

Adriana é capaz de passar a noite procurando a melhor palavra para determinada frase. Às vezes, seus anjos entregam a frase inteira de uma vez. Esses anjos...

O fato é que ela tem graça e talento de sobra. Eu, Tino e Célio, os Roedores de Livros presentes ao encontro, saímos de lá ainda mais fãs. Depois de autografar nossos livros (num bate papo informal em que a pulga do Tino se esfacelou no chão: Rinaldo, o ilustrador daquela belíssima edição de A MÁQUINA é, sim, marido de uma amiga em comum, Germana Accioly... mais do que isso não posso dizer), sessão de fotos e a lembrança do momento em que o meu sapo-príncipe-cearense, num misto de nervosismo e timidez, pediu o microfone e disparou para a escritora uma explicação para o termo ADRIANA FALCÃO: - É quando 400 páginas parecem 60 minutos ou quando a leitura se torna tão gostosa quanto um bolo de chocolate. Esses anjos...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Quanto vale uma boa história?...

Para construir este post, vou reproduzir um trechinho do livro autobiográfico A ARTE DE CONSTRUIR CIDADÃOS – As 15 lições da Pedagogia do Amor (Celebris) do pedagogo e “contador de histórias” ROBERTO CARLOS RAMOS. Ele acabara de chegar à Espanha pela primeira vez:
Foi nesse país que conheci uma senhora que era uma fantástica contadora de histórias, que me vendeu um belo potinho, que, segundo ela, havia pertencido a Napoleão Bonaparte. Ela me contou das bravuras de Napoleão e de como havia conseguido adquirir aquele pote. Fiquei tão impressionado com a história do pote, que perguntei se ela poderia me vende-lo. Ela perguntou quanto eu tinha na carteira. Quando lhe falei a cifra que tinha, ela reclamou, mas disse que apesar de ser pouco o dinheiro que eu carregava ela iria aceitar, pois havia se simpatizado comigo. Entreguei-lhe todo o dinheiro, e quando ela abriu o armário para pegar o famoso pote vi que lá dentro havia muitos outros potes iguais ao que ela estava me vendendo. Muito desconfiado, perguntei:
- Espera aí! Por que tantos potes iguais?
- Eu tenho culpa se Napoleão era louco? Eu tenho culpa se aquele homem adorava colecionar potes? Isto tudo aqui pertencia a ele, e, além de tudo, ainda queria dominar o mundo! – disse ela sem nenhum constrangimento.
Percebi que, na verdade, era uma história que ela estava me contando. Revoltado, pedi o meu dinheiro de volta. A resposta dela foi interessante:
- O dinheiro não é possível lhe dar de volta. Estou lhe dando o pote de graça porque você me pagou pela história que lhe contei, e por uma história contada não é possível devolver o dinheiro.Quando ela me disse aquilo me dei por vencido e me conformei com a perda do dinheiro porque ela me ensinou uma grande lição. A força do convencimento das palavras. Além do mais, encontrei naquela senhora, que era uma pessoa fantástica, um estímulo muito grande para me tornar um contador de histórias.

Há duas semanas quando estivemos em Pirenópolis (GO) fomos convidados a conhecer a Cachoeira do Rosário, distante cerca de 40km do centro da cidade. O acesso não tão fácil e a grana desembolsada faria qualquer professor assalariado pensar duas vezes. Ao chegarmos lá havia uma turma de jovens com “seus” carros bacanas, som alto, gritos e tudo mais. Pensei: - Que fria!!! Este lugar é o caos para quem quer sossego e natureza. Mas fomos em frente. Chegamos à cabana e subimos para o mirante repleto de redes (o Tino abriu um sorriso...) e esperamos os jovens seguirem rumo às cachoeiras. De repente, surge um caboclo, nativo, chamado Demócrito, que nos dá as boas vindas e o seguinte conselho:
- Parece que vocês são como eu. Amam a natureza, o silêncio. Então, sigam por aquela outra trilha, façam o caminho oposto. E descubram nossa beleza.
Beliscamos uns torresmos, queijo e goiabada noutra mesa, água do filtro, pegamos os cajados e seguimos até uma das nascentes do Tocantins. Depois, cachoeiras, piscinas naturais, pássaros invisíveis e um almoço caseiro de fartar um T-Rex.

Fugimos para o primeiro andar e fomos descansar os olhos nas redes do local. Perto das 17h, poucos remanescentes apreciavam aquele silêncio. Sentimos um aroma de chá. Descemos e compartilhamos aquela efusão com Demócrito e Jaqueline, sua esposa. Descobrimos que eles eram os proprietários do lugar. Papo vai, papo vem e, enquanto o sol pensava em descansar, o Tino abriu uma roda de histórias contando A DIVISÃO DOS GANSOS (uma de suas preferidas)... Aí deu-se o milagre: Demócrito, criado naquele cerrado, contou causos das noites em que ficou sozinho na mata, falou do Pai do Mato e de outras aventuras. Jurou que assombração existe. Para não fazer feio, Jaque, que conta histórias para as crianças em Pirenópolis, também desfilou seu repertório e nós, lembramos de Roberto Carlos Ramos e sua história sobre o encontro com aquela senhora na Espanha.
Ao final, o sol se pôs, a turma da Cachoeira do Rosário saiu numa Kombi que parecia a da Miss Sunshine, e nós voltamos para casa com a sensação oposta de quando chegamos lá: Pagamos pouco pelas histórias que ouvimos e ainda levamos de graça cachoeiras, redes, piscinas naturais, almoço, uma rodada de chá, o canto dos pássaros invisíveis e a primeira noite de lua cheia do mês de julho. Juro que deu para ouvir os lobisomens depois da meia noite!!!

P.S. Nas fotos, de cima pra baixo: a) Os exploradores Lucia Helena, Eu, Anna Claudia Ramos e Tino; b) Eu e o Tino em estado mineral na exata hora do meu beijo transformador; c) Os exloradores com o casal Demócrito e Jaqueline; d) A guerreira Kombi da Cachoeira do Rosário e o pôr-do-sol.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Espaço Cultural Vila Esperança

A Cidade de Goiás, no coração do Brasil, abriga muito mais que a Casa de Cora, Museus e cachoeiras... é o celeiro de gente que – como os Roedores de Livros – trabalham por uma infância melhor, por um Brasil mais justo. O interessante é que a gente acaba descobrindo isso ao acaso, onde menos se espera. Dia desses, tomando um café no Grão Café Realejo (o melhor lugar na Cidade de Goiás para um bate papo tranqüilo e um atendimento especial - veja a foto acima) ao lado de Anna Claudia Ramos, Lucia Helena e do Tino Freitas, reencontramos a Micky (terceira da esquerda para direita na foto abaixo) que nos atendeu com toda a simpatia do mundo com cafés e histórias. Ainda era cedo. Poucos clientes. Papo vai, papo vem, descobrimos que ela é voluntária do Espaço Cultural Vila da Esperança.
A Vila é um cantinho pluricultural que educa cerca de 200 crianças, gratuitamente, com uma proposta que extrapola os muros da escola tradicional, utilizando ainda recursos de uma brinquedoteca e diversas formas artísticas como o teatro a dança e a música. Na sua sede, em frente ao mosteiro da cidade, funciona ainda a Rádio da Vila, programa produzido pelas crianças, entre outras tantas iniciativas. Lembramos muito da Escola da Ponte, em Portugal. Nossa escola dos sonhos.
Pois é, Micky e outros tantos voluntários saíram do sonho e apresentam à comunidade carente da Cidade de Goiás uma proposta pedagógica inovadora, ousada e encantadora. Como diria Rubem Alves (ando apaixonada por seus escritos): “É fácil obrigar o aluno a ir à escola. O difícil é convencê-lo a aprender aquilo que ele não quer aprender”. Mas a vida na Vila não é nada fácil. O primeiro obstáculo está na família das crianças. Há muita resistência ao modo “diferente” de educar aplicado ali. Para muitos pais, o certo é como nas escolas “normais”. Mas o trabalho segue sem obrigações. O mundo ainda não está preparado para aceitar essa revolução que se aproxima. Recentemente li em algum lugar que se houvesse uma máquina do tempo e alguém do início do século XX aparecesse de repente por aqui, estranharia tudo: celulares, televisão, computadores, roupas... a única coisa que estaria ainda de acordo com o seu mundo secular seria a educação. Pense bem: isso é assustador!!! No interior de Goiás, crianças e voluntários aprendem e ensinam juntos. No final de semana passado estavam de recesso, mas em breve, faremos uma visita. Quem sabe na SACIZADA acontecerá no final de agosto?! Daqui, deixamos beijos para a Micky e toda a equipe da Vila Esperança. O tempo abraçará nossas certezas. Hatuna Matata!!!

terça-feira, 24 de julho de 2007

É o AMMOOOOOORRR...

Pois é...
Assim como a menina personagem da Adriana Falcão no genial MANIA DE EXPLICAÇÃO, não sei explicar o amor. O que posso afirmar é que os Roedores de Livros começaram quando, há cinco anos (23/07/2002) encontrei o meu príncipe-sapo-cearense-cantor. Foi amor à primeira vista, à primeira audição. A história se deu muito parecida como a que Graça Lima conta no seu maravilhoso livro-imagem SÓ TENHO OLHOS PARA VOCÊ (clique nas imagens para apreciar os detalhes). São cinco anos dividindo a vida e somando sonhos, alegrias, projetos, um ao lado do outro seguindo os tijolos amarelos, trilhando o caminho da felicidade. E isso não é fantasia: - o amor bate forte no coração dos Roedores de Livros. E está em festa!!! Cinco anos com muita história boa pra contar. Que venham outros tantos.