terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Um Balaio de Gatos ou ... eu acho que "ouvi" um gatinho...

Normalmente as madrugadas na toca dos Roedores de Livros são calmas e sonolentas. Mas ontem um fato inusitado manteve a casa inteira acordada por um bom tempo. Por volta das 3h00 da manhã dois gatos começaram uma briga sobre as nossas cabeças. Protegidos apenas pelo forro de gesso, ouvíamos assustados os passos, chispas e miados que, amplificados pelo silêncio da madrugada e pela acústica do local, parecia esturro de onça ou o rugido de leão. Juro! Foi assustador! Acordei num susto que junto com o barulho despertou Ana Paula. Acho até que vi aquele sorriso do gato de Alice emoldurado pelo breu. Corremos para o quarto das crianças e lá estavam elas também acordadas e assustadas. Entre silêncios e gatazarras (algazarra de gatos) o desconforto durou mais de hora e mesmo assim, depois do fim, ainda demoramos outro tanto até pegar no sono outra vez.
De manhã, achamos tudo muito divertido. Principalmente com as hipóteses absurdas que cada um fantasiou acerca do ocorrido. - Eram dois gatos machos! (dizia um); - Era um casal!! (dizia outro); - Era um só!!! (afirmava um terceiro). O fato é que nós, Roedores de Livros, sofremos de medo e susto com a possibilidade de sermos atacados por felinos. Coisas de quem assistiu muito Frajola e Piu Piu ou Tom & Jerry. Mas não são só os felinos da TV que habitam nossa fantasia. Numa busca rápida em nossa desorganizada biblioteca, descobrimos alguns bichanos que convivem conosco há muito tempo sempre provocando nossa admiração. Convidamos a turma para aparecer no blog e aí foi uma festa!!!
É óbvio que o inteligente e sagaz Gato de Botas apareceu. Gostamos muito do texto integral do Perrout que está no livro Contos de Fadas (Maria Tatar, Jorge Zahar). Jorge Amado nos presenteou com a apaixonante história d’O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (ilustrações de Carybé, Cia das Letrinhas). Sylvia Orthof veio logo com três: Mina, seu namorado e o Xadrez de A História Engatada (Ilustrações de Eva Furnari, Braga); Deodato, de O Sapato que Miava (em nova edição ilustrada por Ivan Zigg, FTD); e a Clementina, resgatada de uma emocionante história do fabuloso Os Bichos que Tive (Ilustrado por Gê Orthof, Salamandra). Roger Mello apareceu com seu Viriato, em duas histórias (ambas pela Ediouro). Veio também o divertido gato Ronroroso (ADORO esse nome) e sua troca de cartas com a família em busca de uma solução para o seu problema inusitado(texto de Hiawyn Oram, com ilustrações de Sarah Warburtoncom, Salamandra). Anda apareceram por aqui dois bichanos criados pela Marilda Castanha. O primeiro está no seu livro Pula Gato (Scipione). Ali, o felino salta de um quadro e passeia pela galeria, "brincando" com outras obras e com a menina que faz uma visita ao local. O segundo, ilustra o texto O Gato e o Escuro (Cia das Letrinhas) em que Mia Couto, com muita delicadeza, fala sobre o medo que guardamos dentro da gente.
No último mês, chegaram dois novos bichanos por aqui: A Cida e o Veludo. O livro Cida, a Gata Maravilha (Ilustrações de André Neves, Record) foi escrito pelo dulcíssimo Luiz Paulo Faccioli, o LP, com quem tive o prazer de dividir momentos incríveis numa recente estada em Porto Alegre. A Cida existe, de fato. É a gata de estimação do autor e divide sua casa com não sei quantos outros bichos. No livro, LP entrega – com um texto leve, ágil e com pitadas de bom humor – as mil faces de sua gata: possessiva, interesseira, dissimulada. Quase humana no jeito manhoso de conseguir o que quer. Arrisco dizer que mesmo se o leitor não tiver muita intimidade com os felinos, certamente vai gostar das histórias da Cida. Mas esteja certo que a história da gata maravilha é um prato cheio para quem gosta de ouvir um ronronar tranqüilo (ainda com trema pois não virou o ano). Mas não foi este som que ouvimos na madrugada passada.
A trilha sonora mais apropriada seria aquela do filme Psicose de Hitchcock. E certamente o Veludo estivesse mais próximo de ser o animal que encontraríamos no forro da casa. Se alguém tivesse a coragem de subir até lá, é claro! Veludo é o personagem central do livro Diário de um Gato Assassino (Anne Fine, com ilustrações de Sofía Balzola, Edições SM) que, apesar de ter sido lançado há um bom tempo, só chegou à nossa toca depois de um papo informal que a Ana Paula teve com a Dolores Prades (Editora da SM) numa recente viagem à Sampa. Foi ela quem deu a dica. Valeu, Dolores!!! Neste livro, Veludo é um exímio gato matador de pássaros e ratos - como a natureza lhe designou. Um dia aparece em casa com um coelho morto. Pior: o tal coelho é o bicho de estimação dos vizinhos. Pobre veludo. Estará em apuros? A família que o adotou terá problemas com os vizinhos? O que fazer? Anne Fine põe o próprio gato como narrador deste breve suspense. Mas não se engane. Não se trata de um livro de horror. O suspense está no fato de que o leitor não desistirá da leitura até descobrir o mistério por trás da morte do coelho.
Mesmo depois de tantos personagens, pode ser que algum não tenha vindo à memória ou não apareceram para a foto (caso do Ronroroso). Talvez tenham sido os que fugiram da estante e foram passear no telhado. Ou não! Quem sabe? Mas não deixa de ser divertido o fato de – numa casa de roedores de livros – os gatos serem tantos e não oferecerem perigo algum. A não ser alguns sustos de madrugada. Hatuna Matata!!!

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