



Um grande contador de histórias consegue dar vida às palavras. Na sua voz, elas têm poder. Transformam-se em cheiros, cores, texturas, formas e tantas outras coisas que encantam o ouvinte aproximando a fantasia do seu mundo real. Não é fácil contar histórias com tamanho talento. É preciso, antes de tudo, estar apaixonado pelo enredo. Conhecer algumas técnicas também ajuda, mas é necessário ter consigo a vocação. Paixão e vocação são características latentes de Mo, restaurador de livros e personagem central – ao lado de sua filha Meggie – do livro Coração de Tinta (Cornelia Funke, Cia das Letras, com ilustrações da autora).
Muita gente procura os Roedores de Livros para perguntar sobre acervo de literatura infanto-juvenil. Este livro da alemã Cornelia Funke é item obrigatório. Depois, todas as outras citações de livros podem integrar tal acervo. Faltam “apenas” alguns clássicos brasileiros de Monteiro Lobato, Lygia Bojunga e Fernanda Lopes de Almeida. Se ela tivesse lido algo dessa turma, certamente estaria no livro. Ah... mas este é apenas o primeiro livro de uma trilogia. Quem sabe o que está por vir?
Desde dezembro de 2007 que nós do projeto Roedores de Livros sentimos falta do contato com as crianças da Ceilândia. Mas não é fácil manter um projeto “de verdade” somente com voluntários. Os Roedores de Livros ainda não têm sede própria. Precisamos – entre outras coisas - de um cantinho para acontecer. Este tem sido nosso "calo" desde o início.
Em 2006, o embrião do projeto aconteceu na Biblioteca Comunitária T-Bone,
Em 2007, aportamos na Ceilândia, cidade do entorno de Brasília com altos índices de violência e onde as crianças não têm acesso a tantos bens culturais. A Ong Pró Gente nos ofereceu um lugar acolhedor e escolhemos 30 crianças para o projeto. Semanalmente acompanhamos a evolução destes meninos e meninas. O apego com o livro, o desenvolvimento da leitura de cada um, o prazer em levar o livro para casa, a melhora nos relacionamentos entre eles e entre todos nós. Posso dizer que os Roedores de Livros também aprenderam muito com as crianças. No final do ano, uma notícia nos surpreendeu: a Ong informou que a sede seria vendida para uma universidade particular. Tivemos que somar a preocupação em conseguirmos outro local ao desafio seguinte do projeto: implantar uma biblioteca pública de literatura infantil, aberta de segunda a sábado,com atividades que envolvam além das crianças do projeto, outros meninos e meninas, oriundos das escolas públicas das redondezas. Quem sabe até uma parceria com os professores da rede pública de ensino. Mas esta é uma conversa para outra hora.
Hoje eu tomei ares de passarinho. Ganhei uns anos pra trás. Virei menino e desaprendi. Inocência. Independência. Infância. Hoje eu mergulhei feito borboleta no ar. Sem medo de me afogar. Arrepio de quem escuta as cores no quebrar das ondas do mar. É que hoje, na livraria, sentado no chão feito criança, passei a tarde na companhia dos livros de Manoel de Barros. Tantos. Que tenho
A tradução cuidadosa de Luciano Vieira Machado mantém o humor e a sagacidade do texto original, lançado em 1982. Parceiro de Roald Dahl numa trilha de sucessos literários, assim como Roberto e Erasmo Carlos são na música, o ilustrador Quentin Blake não deixa a desejar e compõe com maestria os espaços destinados aos desenhos. Só sinto que a edição em português não tenha o cuidado gráfico da edição inglesa. Nesta, há mais ilustrações e o formato é maior. O mais intrigante é que, se a língua inglesa não for uma barreira para você e seu filho, a edição importada sai por quase o mesmo preço da nacional. Mas estas comparações não diminuem, de forma alguma, a força que este livro tem em encantar adultos e crianças.
Antigamente a gente formava grupos de amigos na rua de casa. Quando o perigo começou a se avizinhar da rua, a turma passou a se formar nos prédios de apartamentos. Os que ainda moravam em casas ficavam reféns do irmão ou da irmã para formar uma turma de dois, três... Com a modernidade, também surgiram as turmas da internet. No meio de tantas mudanças, uma turma nunca sofreu abalo algum: a da escola.
Na turma do Pequeno Nicolau (René Goscinny, com ilustrações de Sempé, Martins Fontes) não foi diferente: O Agnaldo era o primeiro da classe; o Godofredo tinha pai rico; o Eudes era muito forte;o Alceu passava o dia comendo e era gordo; o Rufino era filho de um policial e o Clotário era o último da classe. O tema, universal (as aventuras da turma da escola), até que ajuda a fazer deste livro um sucesso. Publicado na França em 1960 ele ainda hoje oferece tantas delícias.
Nos anos
Se a rua ficar perigosa, os amigos do prédio viajarem por alguns dias e a escola entrar em férias, não se preocupe. Faça amizade com a turma do Pequeno Nicolau. Você pode levá-los para o quarto, para a sala, para a casa da tia, para onde quiser. E o que é melhor: vai fazer os adultos olharem admirados para você e soltarem a seguinte frase: - Olha como ele é inteligente!!! Aí, capriche na cara de intelectual, engula o riso e continue brincando com sua nova turma. Ler também pode ser uma brincadeira mais que divertida!!!