
Lá, respirei os ares da sua poesia, passeei por salas e corredores que ouviram aqueles passos calmos, repletos de sabedoria.
É indescritível a sensação. Fica guardada aqui no meu coração. Registrada apenas na foto acima. Melhor homenagem para lembrar esta data é ler um poema da Cora. Hoje, deixo aqui o "Todas as vidas". Não tem o estigma do infantil, tão presente neste blog. Mas tem o carinho de uma "neta" das palavras dela. Sinto-me assim. Ah, meu Goiás, tão quente nestes dias, tão delicioso em seus sotaques e manias... sua filha retorna ainda mais saudosa destas raízes... raízes que Cora Coralina descreveu tão bem em sua tardia obra.
"Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
Pedra de anil sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
Toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceito,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
A mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida
Minha irmãzinha...
Tão desprezada,
Tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida
– a vida mera das obscuras."
Cora Coralina vive dentro de mim... nestes dias, cada vez mais viva!!!
Obrigada, Cora por me receber tão bem em sua "casa".
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