terça-feira, 4 de setembro de 2007

Roedores no Museu da Língua Portuguesa

Na manhã da última quinta, 23 de agosto, ainda estávamos em Sampa. A agenda do seminário apresentava naquela manhã a palavra do premiado autor espanhol Xosé Antonio Neira Cruz, o indígena Daniel Munduruku e o professor Luiz Percival Leme Brito. Deste encontro podemos dizer o que os amigos falaram: Xosé emocionou a todos falando sobre os prazeres da intimidade com o livro. Clique nos nomes para ler a cobertura oficial sobre a presença de cada um.
Desculpe aos que esperavam nossas palavras sobre esta manhã imperdível no seminário, mas havia um sonho a ser realizado: conhecer o Museu da Língua Portuguesa. Dizem que todo mulçumano deve ir à cidade de Meca pelo menos uma vez na vida. Depois da nossa visita acho que todo brasileiro deveria ter o direito (e meios para isso) de visitar o Museu da Língua Portuguesa uma vez na vida. Impossível sair de lá sem ter no peito a chama da paixão queimando de tanto orgulho e felicidade de pertencer a esta língua. Sim, pertencer. Penso em português, falo, sinto nesta língua!!!

O museu fica na Estação da Luz (se você estiver de bobeira, pode dar uma esticadinha cultural na Pinacoteca do Estado se São Paulo, que fica ao lado) e abre a partir das 10 da manhã. Eu, por ser professora, entrei de graça. O Tino, por ser músico e jornalista pagou R$ 4,00. Precinho especial para tamanho prazer (aos sábados a visitação é gratuita). Rapidamente subimos para o terceiro piso com um grupo de estudantes do interior de Minas Gerais. Num auditório com um super telão foi projetado um curta falando sobre a importância cultural da Língua para a humanidade. Depois, a parede onde o curta é projetado abre-se convidando-nos a entrar na Praça da Língua, o espaço mais emocionante. Repleto de projeções por todos os cantos (pisos, paredes, tetos) vozes conhecidas declamam os mais belos poemas. A silêncio de uma turma de 100 adolescentes é de impressionar. A escuridão da sala nos deixa mais atento as palavras. Da definição da boneca Emília (leia-se Monteiro Lobato) sobre a vida ser pisca-pisca, passando por Guimarães Rosa dizendo que “Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura” até o mais emocionante: ouvir Maria Bethânia sussurrar Fernando Pessoa em nossos atentos ouvidos: “Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma”. A produção de José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski emociona do início ao fim. Já pagou o ingresso (incluso as passagens de avião Brasília – São Paulo, o ônibus de Guarulhos ao Itaim e tudo o mais).
Mas não pára por aí: descemos ao segundo piso. Lá, o genial Beco das Palavras (onde brincamos de criar palavras num grande, divertido e interativo jogo virtual), a Grande Galeria (projetando num imenso corredor vários filmes simultaneamente), os pilares com as línguas que deram origem ao nosso português (africanas, indígenas, espanhola, inglesa, francesa...), a linha do tempo... por falar em tempo, não adianta ir com pressa.

Devore tudo d e v a g a r.

Por fim, no primeiro piso, a exposição temporária sobre Clarice Lispector. Podemos ler as palavras da escritora no fundo dos seus olhos. Vários ambientes distintos lembram seus livros, momentos biográficos, trechos de uma entrevista televisiva e a leitura do livro A Hora da Estrela feita por transeuntes exibida em vídeo. Mas o que causa impacto é a sala das gavetas. Segundo a organização, são duas mil delas. Sessenta podem ser abertas e guardam “segredos” sobre Clarice. Correspondências, as várias identidades com datas de nascimento diversas, primeiras edições de livros e outras raridades são um prato cheio para quem tiver tempo de sobra para esmiuçar a vida da escritora. Tem até bancos à disposição dos mais exaustos. Não tínhamos tanto tempo assim. Mas o que vimos foi o suficiente para garantir forças para outra visita, quem sabe, em breve. De lá, metrô até a Paulista e táxi até o Morumbi. A língua Portuguesa nos reservava outras emoções. Vastas. Intensas. Que viagem!!!

domingo, 2 de setembro de 2007

Não escrevam para Ana Maria Machado...

A última palestra do primeiro dia do Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura foi, pra dizer o mínimo, POLÊMICA!!! Quem nos falava era a imortal e premiadíssima Ana Maria Machado. A autora de livros imperdíveis e maravilhosos como Menina Bonita do Laço de Fita, Bisa Bia, Bisa Bel e Raul da Ferrugem Azul, além de traduções primorosas como a de Alice no País das Maravilhas, parece estar cansada do seu público. Munida de um texto muito bem escrito cuja temática era “alguns equívocos sobre leitura”, ela começa falando do menino Carlos Drummond de Andrade sozinho em seu quarto numa casa em Itabira, interior de Minas Gerais, lendo sob a luz do lampião. Lá não tinha autor indo à escola, não tinha Feira do Livro nem outras ações de incentivo à leitura. Mas o menino Drummond se viu encantado pelos livros e se tornou um dos maiores poetas desta terra.
Depois, Ana Maria Machado enveredou pelas dificuldades das ações (???) governamentais de incentivo à leitura. Recomendou a inclusão da disciplina LITERATURA INFANTIL na formação de professores. Denunciou que a BUROCRACIA INSTITUCIONAL tem pavor da Literatura, pois não tem a menor intimidade com a matéria e prefere manter o magistério longe da Literatura como forma de permanecer no “poder”. Dissertou muito bem sobre o que chama de ELOGIO DA IGNORÂNCIA da parte dos Governos (e aí não fala só do Brasil) que se munem de discursos entusiasmados e vazios sobre incentivo à leitura.

Foi a partir daí que entrou num assunto delicado: a relação entre editoras, escolas, autores e alunos. Apresentou falhas como a troca servil entre escola e editora: “Eu levo meu autor à sua escola e vocês adotam o meu livro”. Reforçou a idéia dizendo que uma boa performance ao vivo não é sinônimo de um bom escritor, de um bom livro. Disse ainda que é salutar levar a criança a encontros com o livro como numa visita à biblioteca ou a uma feira do livro. Mas, segundo ela, NADA DISSO PRECISA DE UM AUTOR AO VIVO. Citou Freud: “o texto literário faz do jogo poético uma arte da sedução”. Citou Paul Auster, Mark Twain e Eça de Queiroz como ótimos sedutores literários. O prazer da leitura, concluiu, vem com muito trabalho e não precisa estar aliado à diversão.

Numa sala repleta de educadores, a imortal se mostrou impaciente com os professores ignorantes que nada sabem sobre literatura e pedem às crianças para escreveram cartas ao autor e aí este recebe pilhas e pilhas e pilhas e pilhas de missivas dizendo que adorou tal livro, que ama o autor e por fim, pedindo um livro autografado. Ana Maria Machado parecia estar tomada da ferrugem azul do seu personagem Raul. Desenferrujou mostrando garras de lobo. Detesta receber cartas de crianças ignorantes instruídas por professores ignorantes e que, apesar de ter uma equipe para responder a tais cartas e selecionar outras para uma possível e erudita carta-resposta do punho da própria autora, não acha que esta relação seja importante. Aí, eu enferrujei. Confesso que manchas azuis tomaram meu corpo. Decidi fuçar por aí para saber qual a relação que alguns autores com livros igualmente imperdíveis como os de Ana Maria Machado têm com as cartas que recebem das crianças. Descobri que existem sim, poucos, que detestam receber essas cartas que dizem “eu te amo”, “adoro seu livro”, “me dá um autógrafo”, etc (acham perda de tempo e sequer respondem). Mas uma maioria adora manter o contato com seus leitores, independente do grau de erudição (???). Realmente, não é obrigação de Ana Maria Machado responder cartas. Nem dar autógrafos em folhas de papel que não estejam permeadas com seus textos. Afinal, ela não é dona de fábrica de papel. Recomendamos a todos que leiam os livros de Ana Maria Machado. São ótimos. Mas – independente da sua erudição – não escreva para ela. Pode estar atrapalhando seu momento de inspiração. Ela não tem tempo para responder suas cartas. É uma imortal. Seu tempo deve ser restrito ao trabalho de escrever. E ela escreve muito bem. Ah, não esqueçam: Se encontrá-la por aí na rua só peça um autógrafo se estiver munido de um livro dela, numa edição bem cuidada. Cuidado para não dizer nenhuma besteira. Ana Maria Machado pode não gostar.

Curioso é que naquela noite, quando chegamos a casa onde estávamos hospedados, nosso anfitrião contou que, quando criança, estudando em Rondônia, ficou marcado pela visita de Ana Maria Machado à sua escola quando ela autografou o melhor livro da sua infância: Raul da Ferrugem Azul. Lembra de detalhes da visita da autora. Fala de trechos do livro. Lembra da felicidade de compartilhar aquele espaço tão interiorano quanto Itabira, com a imortal. Entristeceu com nosso relato. Desencantou.
O menino Carlos Drummond de Andrade sozinho em seu quarto numa casa em Itabira, interior de Minas Gerais, lendo à luz do lampião não tinha autor indo à escola, não tinha Feira do Livro nem outras ações de incentivo à leitura. Mas se viu encantado pelos livros. Cresceu gênio da palavra. Mas Drummond é único. Seria poeta morando na lua. Talvez, se algum autor tivesse ido a Itabira naqueles idos, ajudasse a despertar noutras crianças o prazer de ler um bom livro. Não seriam poetas. Seriam como o filho de uma espectadora daquela tarde em São Paulo que levou à mesa a seguinte história:
Meu filho tem 11 anos. Recentemente descobri que ele escreve ótimos poemas. Dia desses ele me disse: - Mamãe, já sei o que vou ser quando crescer! Professor de matemática! Naquele instante parei pra pensar e fiz uma descoberta incrível: meu filho escreve por prazer!!!

Ana Maria Machado escreve muito bem. Carlos Drummond de Andrade escreveu muito bem. Milhões de brasileiros escrevem mal, independente dos professores que os educam ou deseducam. O buraco é muito mais embaixo. Todos sabemos disso. Acho que o futuro professor de matemática guardaria o autógrafo da imortal na gaveta da memória. Poderia até não ajudá-lo no desenvolvimento, na sedução do seu prazer em ler. Mas, certamente, guardaria um sentimento de conquista. Um tiquinho de felicidade, mesmo sabendo que o autógrafo foi num pedaço de papel que a autora não fabricou, já que seu livro pode muito bem ter sido lido numa biblioteca. Desenferrujei e pronto!!!

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Gabriel, O Pensador - para crianças!!!

Tá pensando que fazer música pra criança é fácil? Nada disso!!! Por isso venho aqui dizer que tem CD novo na banca. Na banca? É isso aí. A revista Nova Escola lançou uma edição especial que além de um conteúdo especial sobre Educação Infantil (da creche até os 05 anos) traz encartado um super presente: um CD do poeta/rapper/escritor Gabriel O Pensador enveredando pela música infantil.
Os Roedores de Livros estiveram com Gabriel no Salão do Livro Infantil e Juvenil da Fundação Nacional do Livro Infantil (FNLIJ), no Rio de Janeiro em maio último e vimos de perto a força do carisma e da simpatia dele com as crianças. Para se ter uma idéia, devia ter umas 200 crianças ligadas no que Gabriel estava falando e aí, Ziraldo apareceu na sala. Ninguém deu bola para o autor de Menino Maluquinho. Todos queriam as novidades do jovem carioca que, no seu primeiro livro infantil já arrebatou um Prêmio Jabuti. Eu fui lá, levei o meu Um Garoto Chamado Rorbeto (assim mesmo com o R antes do B) para ganhar um carinho do autor.
Foi lá que ele falou sobre o projeto do CD com músicas para crianças. Deu uma palhinha à capela e enrolou a língua de todo mundo com a interatividade da canção GUALÍN que abre o CD. A brincadeira consiste em colocar a primeira síliaba da palavra no final dela. Por exemplo: Roedores de Livros se transforma em Edoresro de Vrosli. A música é uma delícia. Ele acertou a mão. As duas canções seguintes não me encantaram. SUPERTRABALHADOR soa como uma brincadeira sem graça. EU NÃO SOU MENTIROSO é o resgate de uma gravação feita pelo menino Gabriel em 1985. Ele brinca com versos familiares para mim como “As vacas pulavam de galho em galho / Os passarinhos pastavam / ele dizia: prefiro a morte a perder a vida”. Mas soa um pouco deslocado com a base musical. Não gostei. Aí vem NA CASA DA VOVÓ BISA. Apesar de ser muito parecida com a idéia da SOPA do Palavra Cantada (a repetição de “Na casa da vovó Bisa tem” me remete a “Que é que tem na sopa no neném”) a música é ótima e criança não está nem aí para essas coisas. Aumente o som que essa já é sucesso!!!
Para encerrar, Gabriel recita UM POEMA PARA SANDRA E PEDRO e mostra a força da sua poesia. Não quero estragar a surpresa. Vá numa banca próxima e invista R$ 6,90 na edição especial da NOVA ESCOLA que vem com o CD GABRIEL O PENSADOR PARA CRIANÇAS. Esqueça o encarte do CD. Escute a faixa 05. Você vai se emocionar. Parabéns Gabriel. Não é fácil fazer música para criança. Música boa, sem “mãozinhas pra cima”, “passinhos pro lado”. Para os Roedores de Livros você não é apenas carisma. É TALENTO! Ou melhor, LENTOTA!!!

Roedores de Livros nas ondas do rádio...


Alô, Alô, amigo ouvinte da minha, da sua, da nossa rádio... bem, estou interrompendo um pouco os posts sobre o Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura para compartilhar a entrevista da Ana Paula Bernardes que foi veiculada no dia 29/08 no programa de rádio Escola Brasil. O pessoal de lá faz um trabalho fora de série unindo a força comunicativa do rádio a uma programação dinâmica, voltada para educação. Na entrevista, Ana Paula fala rapidamente sobre o projeto Roedores de Livros. Se quiserem ouví-la é só acessar o site do ESCOLA BRASIL e procurar na página inicial. Caso já tenha saído de lá, no canto superior esquerdo do site tem um link para todos os programas. Aí, é só baixar o que foi exibido naquela data, ok? No mais, nosso fraternal abraço de letrinhas.

Quarta, 22 de agosto. Prazer em Ler - parte III

13h30.
Depois de um almoço regado a muito bate papo, comida boa, nem tão barata assim... voltamos para a Câmara Americana de Comércio (AMCHAM) bem na hora da palestra da genial ANGELA-LAGO. Seu tema foi O Prazer do Livro para o Leitor Iniciante. Gente, uma AULA sobre ilustração. Se você pensa que ilustrar um livro infantil é só colocar um desenho ali e pronto... está muito enganado. Existe todo um estudo para que estas ilustrações possam servir ao papel de oferecer ao leitor iniciante o prazer de ler. Ângela revela que a criança vai aprender com os livros de imagem a “seqüência” da leitura alfabética (da esquerda para a direita, de cima para baixo). O bom livro-imagem para criança inicialmente deve fazer uso do IR e VOLTAR. Num segundo momento, passa a uma relação de PERSPECTIVA AFETIVA, trabalhando o PEQUENO e o GRANDE. Mostrou em slides que os desenhos das crianças também apresentam ênfase no que lhes é mais importante. Ressaltou a VISÃO DE RAIO X, onde não basta desenhar o visível. Vale ilustrar o oculto.
A explanação de Angela-Lago foi rica em exemplos. A autora-ilustradora mostrou toda a complexidade teórica que envolve um livro imagem e que é intuitivamente assimilada pelo leitor mirim. A autora encerrou a palestra dizendo que o texto pode sim usar de recursos para reforçar a idéia da imagem. Falou ainda da técnica da CARTA ENIGMÁTICA (livro que usa o jogo entre palavras e ilustrações, como no seu livro A novela da panela (acima)). Por fim, deixou na cabeça de todos a idéia de que “O livro, antes de prazer, é PAIXÃO!”. Depois, nos deixou ainda mais apaixonados por sua obra fantástica.
Ainda encantados e apaixonados por Angela-Lago, fomos agraciados com a palestra da ilustradora GRAÇA LIMA sobre a Narrativa Imagética. Ela começou sua fala dizendo-se feliz e surpresa com a presença de tanta gente num seminário sobre o prazer da leitura. Lembrou que a “nova” geração tem a imagem como babá. Nossos filhos sofrem a influência do que vêem na TV, no computador, no cinema, enfim. Ressaltou a importância de se formular uma PEDAGOGIA DO OLHAR para mostrar o cuidado com o que se apresenta como imagem e como olhar o que se dá a ver. Se pôs lado a lado conosco ao destacar sua difícil relação com seu filho e a leitura. Provocou risos ao ironizar o título do seminário (Prazer em Ler) e propor o que seu filho indicou: Odeio Ler!!! Provavelmente estaria repleta de jovens. Após a descontração, falou sobre seu tema que era sobre a capacidade de contar alguma coisa através da imagem.
A partir daí, uma AULA sobre o papel da ilustração na história do livro. A ilustração, no início, era só um detalhe. Na renascença a escrita era tão sofisticada e restrita aos escribas que o próprio texto se tornava “imagem” sem significado de leitura. Só a partir do século XIX, a ilustração passa a ocorrer como reforço da fantasia, como manifestação do sonho. Graça conseguiu mostrar a que veio e certamente acrescentou muito a todos. Depois da palestra, o Tino não resistiu e levou o genial Sai da lama, jacaré (aguardem a resenha) para um autógrafo. Falamos sobre a paixão por jacarés, sobre o livro Vizinho, Vizinha (outra resenha para breve), Roger Mello e Mariana Massarani (que com Graça formam OS CAPADURA EM CINGAPURA) e o próximo projeto dos três: Mercado das Pulgas. Simpatia transbordando por todos os traços. Adoramos conhecê-la. Aprendemos um pouco mais. Depois de tudo, uma foto para registrar o encontro. Hilariana, Eu e Graça Lima. O Tino? Ah, quem mandou ele gostar de tirar fotos?

Quarta, 22 de agosto. Prazer em Ler - parte II

12h30
Pausa para o almoço. Correria para encontrar um lugar em harmonia com a tríplice aliança: comida gostosa, barata e perto do Centro de Convenções. Foi um passeio e tanto pelas redondezas. Divertido. Por fim, encontramos. A mesa reuniu cerca de 15 novos amigos. Finalmente encontramos nossa querida Denise Cantuária (Peirópolis), companheira desde o Salão da FNLIJ. Na mesa, ainda, Peter, Renata e Lúcia, a turma da Editora SM, Silvia Oberg e Stela Maris da Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato, entre outros. Papo vai, papo vem, conhecemos o trabalho incrível da Biblioteca. Fomos presenteados com um exemplar da BIBLIOGRAFIA BRASILEIRA DE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL, VOLUME 14, referente a produção literária de 2003.
O livro, publicado em 2006, é uma verdadeira referência com a citação de 591 livros lançados naquele ano, com a avaliação/resenha das obras mais relevantes. A equipe sofre toda a dificuldade de quem depende de iniciativas dos governos, mas estão no volume 14 (!!!)... impressionante.
É um trabalho gigantesco e heróico deste grupo. Deveria chegar ao alcance de cada professor deste país. Como se não bastassem as ótimas resenhas – as meninas conhecem o chão onde pisam – o livro apresenta índices que facilitam a vida do leitor. Você pode procurar os livros por autores/tradutores/adaptadores, por seus títulos, por ilustradores, por editoras, por indicação da faixa etária a quem os livros são indicados, índices de Séries e Coleções, e de gêneros.
Não sei qual a disponibilidade desta publicação para o público em geral, mas recomendo aos interessados que procurem a Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato (site no link do primeiro parágrafo) e perguntem se é possível adquirir esta obra-referência. Por aqui, posso afirmar que o Tino anda debruçado em suas páginas e descobrindo novos tesouros.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Quarta, 22 de agosto. Prazer em Ler - parte I

9h00.
Chegamos de táxi ao local do seminário Prazer em Ler de Promoçãod a Leitura. Recebemos as credenciais e uma sacola com livro, caderno de notas e outras referências sobre o evento. O espaço das palestras parecia abrigar mais de 500 pessoas. Uma estrutura ímpar de organização e nós, de olhos abertos para não perder nada. Sentamos num cantinho lateral e aguardamos a abertura do seminário. Numa coincidência daquelas, Peter O’Sage do Dobras da Leitura, senta-se ao nosso lado. Era um dos amigos virtuais que queríamos encontrar por lá. Sintonia total. Com ele a ilustradora e autora Lucia Hiratsuka (falaremos mais sobre Lúcia noutro post) e Renata Nakano da Miró Editorial. Nossos primeiros amigos. A primeira impressão: tudo daria certo. Como, de fato, aconteceu.

A manhã, fria, ansiava por Teresa Columer. Sua experiência na Espanha já tomou a forma de dois livros: A Formação do Leitor Literário e o Andar Entre Livros, que lançou neste encontro. Sua palestra teve a consistência do seu currículo como especialista em literatura para crianças. Encantada com as possibilidades da leitura no Brasil, lembrou de ver Ulisses - personagem do livro ODISSÉIA - esperando por crianças numa biblioteca no coração da Amazônia.
Falou sobre o problema da solidão urbana das crianças e da importância da leitura autônoma nos primeiros anos. É aí onde se começa o domínio da língua, se descobre o acesso ao imaginário (a criança pode ser outra sem deixar de ser ela mesma) e se dá a socialização cultural (ampliando sua experiência de mundo). Destacou a importância de ler com os outros pois, o compartilhamento da leitura cria pontes e a oportunidade de cruzá-las. Estabelece um vínculo maior com os colegas. É aí onde nasce a perspectiva narrativa. Vale conversar com as crianças sobre o que leram, cada um contando sua leitura do texto. Enfim, alertou que este importante compartilhamento não é comum na escola, embora necessário.
Por fim, falou sobre a importância de ler com os especialistas. O mestre deve alertar para alguns pontos importantes e com isso, conduzir o leitor de mãos dadas pelo universo literário e abrir portas. Cruzá-las ou não fica a critério do leitor, mas cabe aos professores alertar para várias nuances. Por exemplo: Não se pode esconder que o ato de ler é um exercício. Exige esforço e treino. Não é fácil, mas como numa academia de ginástica, com a prática, fica-se musculoso para a leitura. Outro fato esquecido é o de falar sobre as diferenças entre as traduções de uma mesma obra. Enquanto uma pode enfatizar o som, as palavras, uma outra pode realçar o sentido. Nunca se fala sobre tradução na escola e, num mercado como o nosso, feito de inúmeras traduções e adaptações, é importante que o leitor conheça essas nuances. O mestre deve sedimentar a idéia de que num texto literário não existe uma interpretação única, certa. Pode-se ler de formas distintas. Aí, ela arrasou mostrando que o livro Frankstein da inglesa Mary Shelley pode ser visto como uma novela de terror ou de ficção científica. Pode ser uma obra sobre a solidão ou um relato sobre a época e vida de sua autora. Por fim, pode ser ainda um símbolo do desencanto social sobre a emancipação das massas. Uma verdadeira aula.

12h30. Saímos para o almoço com as idéias fervendo. O seminário nos abria portas. Queremos atravessá-las, todas!!!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Remédio pra curar catapora...

Enquanto estive viajando, meu filho pegou catapora... liguei para ele e falei do medo que eu tinha de pegar a doença por telefone. Ele riu um riso que revelou sua alma sadia. Lembrei de imediato de um livro de poemas que funciona como um remédio para os dias de cama. Fala de bronquite, caxumba, dor de garganta, frieira e outros males infantis. Provoca risos a cada estrofe. Deixei me contagiar pela doença do escritor e resolvi rimar na resenha.

Ricardo Azevedo escreveu,
Parece que adoeceu,
Gripou de inspiração
Tosse, Asma, Comichão.
Transpirou poesias, rimas
Sarampo, galo, adivinhas
Também fala de alergia,
parece que contagia,
O texto é uma gostosura...
mas tem cada figura...
E pra tirar o nenê da cama,
mostre os desenhos da Mariana,
Não tem genérico que dê jeito.
Este livro é amigo do peito.
Não tem contra-indicação
Só faz bem pro coração
E pra encerrar a resenha
Antes que a doença venha
Reproduzo abaixo, agora
O poema Catapora:

Tem muito bicho pintado
Que dá gosto de se ver:

Tem a onça e a pantera
Tem a cobra e o lagarto.

Tem girafa, tem cachorro,
Tem porco, pato e besouro.

Tem galinha, joaninha,
Poço-espinho, passarinho.

Tem bicho que é uma beleza,
Pintado por natureza.

Mas eu, na frente do espelho,
Cheio de manchas, vermelho,

No mau pijama, sozinho,
Só pego e digo baixinho:

- Não amola, dá o fora!
Vai embora, catapora!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Prazer em ler - Roedores em Sampa!!!

Faz frio. Muito frio em São Paulo. O termômetro marca 12º Celsius. Mas nosso coração bate forte, esquentando a alma. Estamos mais uma vez bebendo na fonte. Eu e Ana Paula participamos do Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura, evento capitaneado pelo Instituto C&A em parceria com a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Hoje foi o primeiro dia. No palco principal, Teresa Columer, Angela Lago, Graça Lima, Ana Maria Machado. Nos bastidores, novos amigos e reencontros. Muito bom notar que a amizade plantada no Salão do Rio de Janeiro em maio passado já oferece deliciosos frutos. No meio de tudo, encontramos o sempre querido Renato Alencar, que tanto nos acolheu com sua simpatia quando os Roedores de Livros acontecia na Biblioteca Comunitária T-Bone. Mas nossa anfitriã neste evento é, sem dúvida, a Hilariana. Menina-fada desbravadora. Encantada com o universo das letras. Descobre aos poucos o poder transformador das histórias. A força de um bom trabalho tendo o livro como ferramenta. Divide tudo conosco. É a mágica que faz da divisão uma soma. Por aqui, estamos todos aprendendo. Teremos ótimas histórias para contar. Até a volta com fotos, fatos e muito mais. Agora vou correr para as cobertas. Enquanto escrevia este texto, deixei o Antes do Depois do professor Bartolomeu me esperando... ele me convida a deitar palavras no travesseiro. É sempre um carinho na alma. Inté!!! Abraços de letrinhas direto da terra da garoa.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Papa-figo na Ceilândia...

Ainda é muito recente e intensa a sensação de ver a garotada chegar com o livro na sacola dos Roedores. Desde então os primeiros momentos são de compartilhamento das histórias descobertas. No último sábado, 18/08, ouvi frases do tipo:

- Olha o que tem de legal no "meu" livro!!!
- Ah, a história do meu foi assim!!!

Enquanto isso, eu só de olho no que seria para mim o melhor dia do ano do projeto!!! Por vários motivos. Um deles foi notar o engajamento dos outros roedores. A preocupação com os "detalhes" que tanto frisamos nas reuniões e que as vezes são esquecidos. O papa-figo que a Juliana trouxe junto com as quadras de advinhas do Ricardo Azevedo deixou o grupo atento, envolvido. É isso: envolvimento!!! Acho que até os meninos não deram tanto trabalho nesta semana. Isso tem diminuído a cada encontro. A literatura tem aplacado a indisciplina.Disciplina. Uma das crianças não apareceu. Talvez por conta da minha exigência por disciplina. Outra, pela primeira vez não foi repreendida durante as três horas do projeto. Talvez por conta da minha exigência por disciplina. Não sei como avaliar isso. Vou esperar a semana que vem e espero encontrar todos na Pró Gente!!!
A oficina de artes foi outra felicidade. Vilma e Luciana deixaram todos pintarem o sete, o oito, o saci, a mula e outras fantasias. A experiência com tinta e pincel parece ter ampliado o sorriso de todos. Acredito - por algumas dificuldades motoras que notamos - que muitos não desfrutam do prazer de desenhar e pintar em casa e na sala de aula. Eles brincaram bastante com cores, pincéis. Comparavam os trabalhos. Tinha sempre um olho espiando para ver se estava melhor ou pior... enfim, a oficina foi um show!!! Para encerrar, gostaria de falar dos bastidores. Além da Edna e do Célio, que nem sempre aparecem nos comentários, mas que têm fundamental importância para o desenvolvimento das nossas idéias, nada disso seria possível na Ceilândia sem o empenho e doação dessas três maravilhas aí abaixo. Representando a Pró Gente que nos recebe com toda a atenção devida temos - da direita para a esquerda - a Tita, que nos ensina as entrelinhas, os cuidados do trabalho com as crianças daquela região (vocês não imaginam como são tortuosos os caminhos), a Néia e sua filha, imprescindíveis para o sucesso do lanche e da limpeza do espaço. Meninas, obrigada de coração. Sabemos das dificuldades - tantas. Sabemos o quanto seria fácil dizer: - NÃO!!! Obrigada pelo SIM que nos abraça, fortalece e transforma a vida de todos em volta.
Ih, eu ia me esquecendo... todo mundo levou livro para casa!!!