Nem sempre nossos registros mensais são sobre livros. Às vezes, são sobre o que eles despertam. Em julho, quem nos trouxe um desses momentos inesquecíveis foi Anna Luísa, nossa arte-educadora recém-chegada, mas já profundamente tocada pelas histórias (as dos livros e as da vida).
Logo em seus primeiros dias na Biblioteca Comunitária Roedores de Livros, Anna conheceu Deyvid, um menino de 7 anos, falante, esperto, que fazia questão de ser o primeiro a chegar e o último a sair. Tocava a campainha antes mesmo de abrirmos as portas — e às vezes, até depois de fecharmos.
Semana após semana, aquele pequeno roedor — como carinhosamente chamamos nossos leitores — foi se transformando. A agitação inicial deu lugar à escuta atenta, às perguntas curiosas e a uma relação de carinho com os livros e com quem estava por perto.
Mas julho trouxe uma despedida. A mãe, que trabalhava numa feira próxima, precisava mudar-se com o filho para outra cidade. No dia anterior à mudança, ele pediu para levar dois livros emprestados — um pedido inédito vindo dele. No dia seguinte, sua mãe devolveu os livros com um sorriso emocionado e contou que haviam lido juntos, que ele tinha adorado. E, de novo, com aqueles olhos brilhando, ele pediu:
"Tia, me dá um livro?"
Naquele mesmo dia, entre abraços, sorrisos e uma última roda de leitura, Anna entregou o presente: um livro com dedicatória e uma almofada em forma de ratinho — símbolo do nosso projeto — para que levasse um pedacinho da biblioteca consigo.
Quando Anna nos contou essa história, não estava apenas emocionada. Estava em lágrimas. E nós choramos com ela. Porque cada leitor que parte leva uma história. E deixa muitas outras aqui.
A biblioteca é, antes de tudo, um espaço de afeto. Um lugar de permanências, encontros e despedidas. E, sobretudo, de vínculos verdadeiros.
Boa viagem, Deyvid. E boas leituras. 💛📚