sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O Ano do rato!!!

Segundo o Horóscopo Chinês, ontem, 07 de fevereiro, teve início o ano do rato. O rato e os outros onze animais do zodíaco chinês, segundo a lenda, foram as únicas espécimes que se despediram de Buda antes que este deixasse a vida terrena. O roedor, que não tem na China as conotações negativas atribuídas a ele no Ocidente, foi o primeiro a se despedir de Buda, já que chegou confortavelmente até ele montado no boi (o segundo a chegar) e saltou correndo de seu lombo quando o ruminante estava chegando. Dizem que este signo carrega consigo a abundância e a prosperidade. O Tino nasceu num ano do rato (já faz algum tempo...) e, como bons roedores (de livros), esperamos que este seja um ano para comemorarmos novas conquistas no universo da leitura. Que a prometida prosperidade se transforme em mais bibliotecas, mais acesso ao livro e mais apoio a quem, de fato, trabalha com o incentivo à cultura em geral.

Mudando de continente, mas com o foco no roedor, o livro Como as Histórias se Espalharam pelo Mundo (Rogério Andrade Barbosa, com ilustrações de Graça Lima, DCL), conta que elas tiveram origem na África e foram colhidas por um ratinho e guardadas em forma de fios num baú, até que o vento espalhou os cordões multicoloridos por todo o mundo. No início do livro o autor afirma que “o rato, como dizem os contadores de histórias da África, é um bicho muito curioso e inteligente. Nada escapa aos seus sentidos”. Então, seguimos curiosos como os ratos africanos, prósperos como os roedores orientais e, irresistivelmente criativos e persistentes como brasileiros que somos. Um ótimo ano do rato para todos!!! Hatuna Matata.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O nome dela é BIDDY

Chapeuzinho Vermelho foi até a cabana da vovó, caiu na conversa do lobo e foi devorada. Para a sua sorte, apareceu um caçador que abriu a barriga do lobo e resgatou com vida a vovó e Chapeuzinho. O lobo? Morreu logo depois.

Foi assim que você conheceu essa história? Bem... no princípio, ela não era exatamente assim. A aventura de Chapeuzinho Vermelho vem dos contos da tradição oral, destinada aos adultos dos povoados, concebidos para o entretenimento noturno. Neste contexto, A História da Avó, compilada no século XIX, falava de uma menina que sem querer, comeu a carne e bebeu o sangue da sua avó, ficou nua a pedido do lobo, mas, ao final, deixa-o a ver navios, pois usando de esperteza, foge para sua casa. Com a publicação de Contos de Outrora em 1697, livro do francês Charles Perrault, manteve-se a essência dos contos da tradição oral porém, cortando e/ou modificando alguns elementos, censurando o que poderia chocar, dando a estas historias um ar mais popular, que chegaria a um público mais abrangente. Os contos tratavam de valores morais como gentileza, paciência, obediência e respeito. Seguindo esses preceitos, há sempre um prêmio, uma recompensa. Caso contrário, há uma punição. Quem transgride as regras se expõe ao perigo. Ao final de cada história, Perrault colocava uma moral. Neste livro estão as primeiras versões em texto de A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, Cinderela, Riquete do Topete e O Pequeno Polegar. Simplesmente uma das obras primas da literatura universal. No texto original de Perrault, a história de Chapeuzinho Vermelho acaba na hora em que ela é devorada pelo lobo. Ponto. Simples assim. A versão que descrevi no início deste texto data de 160 anos depois, e foi escrita pelos irmãos Grimm, adaptada do original francês.

Contos de Outrora pode ser encontrado numa edição recente da editora Landy com tradução de Renata Cordeiro e ilustrações do genial Gustave Doré. Estão lá todas aquelas maravilhosas histórias recolhidas em texto pela primeira vez. Há ainda uma introdução falando sobre os contos, a importância da obra e de seu criador.

Em 2007 a Companhia das das Letrinhas lançou uma edição de Chapeuzinho Vermelho com o texto original de Charles Perrault, traduzido por Rosa Freire d’Aguiar e com belíssimas ilustrações de George Hallensleben. Ao final, um bônus explica, de forma sucinta, precisa, e ricamente ilustrada, a importância deste conto, suas versões e outras curiosidades.

Se você se sente mais confortável com o final escrito pelos irmãos Grimm, a Cosac & Naify publicou Chapeuzinho Vermelho com texto recolhido da segunda edição do livro Contos Infantis e Domésticos, de 1819. A tradução para o português é de Samuel Titan Jr. Mas o que impressiona são as belíssimas ilustrações de Susanne Janssen. A artista apresenta um olhar diferente, fora dos padrões, mas de uma beleza ímpar. O único porém é que a edição, em capa dura, é muito frágil. A que temos em casa, mesmo manuseada com todo o cuidado, teve seu miolo destacado da capa logo nas primeiras leituras. Teve que sofrer uma restauração.

É claro que a história de Chapeuzinho Vermelho sofreu inúmeras adaptações. Autores do mundo inteiro apropriaram-se da menina e do lobo. Poderia fazer uma lista maior, mas quero me prender a três livros onde o conto ganha cores brasileiras.

O livro Chapeuzinho Vermelho e outros contos por imagem do ilustrador carioca Rui de Oliveira apresenta uma versão sem açúcar, próxima das características da oralidade. Mas nem por isso é um livro só para adultos. As crianças de hoje, há muito, convivem com a violência e a sexualidade diariamente na TV. Antes de cada história, o livro apresenta o conto numa versão de Luciana Sandroni. No caso específico de Chapeuzinho Vermelho, ela mantém o final de Perrault, mas incorpora elementos da História da Avó, como o convite do lobo para que a menina tire a roupa e se deite com ele na cama. Rui impressiona com suas ilustrações em preto e branco. Encanta e assusta. Uma forma diferente de ler uma velha história.
É imprescindível falar de Fita Verde no Cabelo – Nova Velha Estória, conto de Guimarães Rosa, publicado originalmente no livro Ave, Palavra, mas que em 1992 ganhou uma edição própria da editora Nova Fronteira com ilustrações incríveis de Roger Mello. O projeto gráfico valoriza um cinza esverdeado – nunca preto. A menina e o lobo ganham um texto poético do escritor mineiro que conversa com a sensibilidade artística do ilustrador candango. Anjos barrocos, moinhos, o interior de Minas, “velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam”... tudo é novo para o universo tradicional de Chapeuzinho Vermelho. Guimarães Rosa exige do leitor um pouco mais de atenção. Suas frases nunca são óbvias. E isso é ótimo! Saia da mesmice e surpreenda-se com este livro.
Agora, para se ter uma idéia da força que esta história tem, não deixe de ler Nove Chapeuzinhos, livro de Flávio de Souza, publicado pela Companhia das Letrinhas em 2007. O autor já havia brincado com o conto no livro Que História é Essa (1995). Lá, confessa que Chapeuzinho Vermelho é a sua favorita, explica que ela não usa um chapéu e sim um capuz... por fim, revela o nome que Perrault deu a sua personagem mais famosa e que não consta em nossas traduções: BIDDY. Em Nove Chapeuzinhos, Flávio usa a mesma estrutura do conto (uma menina, sua avó e um lobo), mas oferece nove variações. As histórias se passam no período cretáceo, na Índia, na Grécia Antiga, em Pindorama, na Inglaterra da Idade Média, na Capital do Império do Brasil, no Interior de Minas Gerais e no espaço. Todas são INCRÍVEIS, e o texto sempre nos prega uma surpresa. Na Idade Média, o personagem é um menino e se chama Wiliam. Na Grécia Antiga, é Atalanta, uma heroína daqueles tempos. De cada lugar, Flávio pinça algumas curiosidades e a história fica ainda mais gostosa. Para completar, ele convidou um time de ilustradores, cada um responsável por uma versão. Estão lá Marcelo Cipis, Laurabeatriz, Florence Breton, Fernando Vilela, Marilda Castanha, Mariana Massarani, Janaina Tokitaka, Maria Eugênia e Daniel Bueno. Li tudo numa tarde. E já reli alguns contos. Para mim, é mais uma prova de que Chapeuzinho Vermelho continua a encantar crianças e adultos. Embarque nestes livros, viva essa aventura, mas, cuidado, que o lobo pode estar por perto. Hatuna Matata.

Legenda das imagens deste post:
01) Capas dos livros Contos de Outrora e de Chapeuzinho Vermelho, com detalhe de uma ilustração de George Hallensleben;
02) Capa de Chapeuzinho Vermelho versão irmãos Grimm e detalhe de ilustração de Susanne Janssen;
03) Capa do livro Chapeuzinho Vermelho e outros contos por imagem e detalhe de ilustração de Rui de Oliveira;
04) Capa do livro Fita Verde no Cabelo e detalhe de ilustração de Roger Mello;
05) Capa do livro Nove Chapeuzinhos.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Tapetes contam mais histórias em Brasilia!!!

O Tino aprendeu a fazer chuva depois de assistir ao Cadu contar a história de Paulautte, o hipopótamo numa sessão do grupo Tapetes Contadores de Histórias em 2007. Eu aprendi mais técnicas para melhor contar histórias no curso que fiz com a Rosana Reátegui em 2006. Em 2008, mais uma vez em Brasília, reencontramos o grupo em mais uma temporada patrocinada pela Caixa Cultural.

Tudo o que a gente vê ou toca tem história pra contar é um conjunto de ações que englobam uma exposição interativa dos “tapetes”, onde as crianças podem tocar as histórias e personagens, sessões de contação de histórias e oficinas. Na exposição, pais sentam-se com seus filhos e, juntos, descobrem os enredos nos livros ao lado dos tapetes e aí, todos “tocam” as "palavras" dos autores. As histórias de Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Ricardo Azevedo, Jutta Bauer, Sérgio Capparelli e tantos outros ganham cores, texturas, formas e ainda mais emoção.

De terça a sexta, o grupo conta histórias diversas. Em fevereiro, de terça a sexta, as sessões acontecem as 10h, 14h e 15h. Se não tiverem grupos agendados, você pode bater um papo com o grupo e escolher as histórias. Eles são de uma gentileza imensurável!!! Ainda às sextas, 19h, para adultos, tem o espetáculo Divinas y Humanas. Sábados e domingos, também as 19h, eles apresentam O Mundo de fora pertence ao mundo de dentro, também só para adultos (é espetacular e o Tino vai escrever um tópico sobre esta apresentação). Sábados e domingos, 16h, Bicho do Mato é uma coleção de histórias para crianças a partir dos 3 anos. O Rei que ficou cego, encenado num cenário gigante repleto de surpresas cênicas, acontece também aos sábados e domingos, 17h.

Andrea Pinheiro estende seu riso largo e acolhedor por todo o espaço; Helena Contente traz no olhar uma bomba explosiva plena em emoções; Rosana casa experiência, simplicidade e criatividade; Cadu (Carlos Eduardo Cinelli) tem uma voz mansa que chega aos nossos ouvidos sem pedir licença e toma conta da nossa atenção assim, quase sem querer; Warley Goulart traz uma delicadeza e uma força no olhar... compõe e canta como se fizesse algo trivial, mas pleno em talento. Não vimos ainda o Edison contando histórias, mas ele – assim como outros - carrega consigo, além do dom de contar histórias, o talento para criar seus próprios tapetes-cenários.

Muito se diz que contar histórias com outros recursos – além do livro – não serve como incentivo à leitura. Fica “apenas” no segmento da pura e simples diversão. Ao ver pais e filhos juntos lendo os livros e procurando viver as histórias também nos “tapetes”, fica claro que foi daquele universo de letras, frases, parágrafos, capítulos, enredos que brotaram as linhas que teceram tanta beleza. Imagino que o grupo carioca faz um trabalho que, despido da formalidade didática, deixa no visitante a sensação de que o livro também é uma delícia. Mas esta é uma longa discussão que não cabe na mala deste texto.

O que posso dizer é que se você, leitor, mora em Brasília, ou passará por aqui até 09 de março, tem a obrigação de conhecer as maravilhas construídas por mãos e vozes do grupo carioca Tapetes Contadores de Histórias. Essa mistura de letras, linhas e fantasia não saiu da prancheta de Niemeyer, mas há quatro anos, no coração da capital do país, de janeiro a março, se torna candanga de coração e passa a ser nosso patrimônio cultural. Eu e Tino estamos por lá quase que diariamente. Descobrindo, aprendendo, levando os filhos e amigos para desfazer o nó da imaginação. A gente se encontra por lá!!! Hatuna Matata!

P.S.1. Para visitar a exposição e assistir as histórias é necessário descalçar os sapatos. Portanto, meias confortáveis são recomendadas. Como o visitante deve ficar agachado e/ou sentado para vivenciar as histórias, em nome do conforto, calças e bermudas também são bem vindas.

P.S.2. Na segunda foto, da esquerda para a direita, Andrea, Helena, Rosana, Warley e Eu. Ao fundo, o incrível cenário da história O Rei que ficou cego. Na última foto, detalhe do livro de pano El Misterio de las islas de Pachacamac, feito por artesão peruanos. Este e outros títulos estão à venda no local.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Cinco Marias

O melhor destas oficinas de brinquedos populares é que além de fazer o brinquedo e levar para casa, a gente (Roedores e crianças) brinca na própria oficina. Foi assim principalmente com os aviões de papel e com as Cinco Marias. Depois que cada criança customizou seus saquinhos, a Vilma abriu a roda e ensinou a turma como brincar. Foi bem divertido. Os pais foram chegando aos poucos, mas imagino que, em casa, todos brincaram juntos - o sentido primeiro de oferecermos estas oficinas: pais e filhos dividindo brincadeiras, sorrisos e fantasias.



quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Cofrinhos e Aviões de Papel

No segundo dia, a criançada foi correndo pedir umas moedinhas para os pais. Queriam rechear seus cofres coloridos. No terceiro dia, a brincadeira rolou solta... a turma colocou os papéis para voar. Fizemos um modelo de helicóptero, o Interceptor e o Quadrado, aviões de formas e vôos diferentes. Foi o dia mais divertido. Todos brincamos a valer durante e depois da oficina.



Fotos das oficinas na Fnac Brasília - Parte I

A seguir, fotos das oficinas que realizamos na Fnac em janeiro. Foram cinco dias com a casa cheia de crianças criativas e pais corujas. Eu e Vilma, as "pistoleiras de cola quente" acima, começamos a semana com a oficina de fantoches. Depois, posto as outras fotos. Espero que todos tenham gostado.



segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Autógrafos e reconhecimento...

Deu na Folha de São Paulo deste domingo, 27 de janeiro.

A era dos neobaixinhos
Sucesso da dupla Palavra Cantada, de música infantil educativa, e fracasso de Xuxa na TV e no cinema parecem ser um sinal de que os pais hoje buscam produtos culturais de melhor qualidade para as crianças

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Super Xuxa luta contra o baixo astral: a apresentadora perdeu seu programa diário na Globo e camela para chegar a 300 mil espectadores no cinema, resultado chocho para quem contava bilheteria em milhão. A rainha dos baixinhos não manda no reino dos neobaixinhos, filhos de uma geração politicamente correta, que vêem programa educativo na TV paga, cantam música de qualidade, ouvem falar sobre aquecimento global, aprendem a reciclar lixo e até lêem poesia.
Nessa nova era -em que pais parecem estar mais preocupados com o consumo cultural das crianças- nomes como o duo musical Palavra Cantada, antes restritos a filhos de "moderninhos" e "intelectuais", ganham o grande público.
A dupla mescla a formação clássica de Sandra Peres, 44, e a popular de Paulo Tatit, 52, e tem a proposta de criar canções infantis de qualidade. Começou em 1994 vendendo CDs pelo telefone e correio. Em um esquema totalmente independente, sem o apoio de uma grande gravadora, atingiu a marca de 14 títulos lançados com 1,4 milhão de cópias vendidas e prepara a turnê do CD "Carnaval", que inclui shows no litoral e no Citibank Hall de São Paulo, em 2 e 3 de fevereiro. O álbum tem a participação de Arnaldo Antunes e seu filho, Bras, e de Mônica Salmaso. Para este ano, a dupla negocia um programa de TV com um canal fechado e um aberto.
"O sucesso do Palavra Cantada reflete uma tendência de mudança na concepção da infância", opina a educadora Gisela Wajskop, diretora do Instituto Superior de Educação de São Paulo - Singularidades.
Ela conta que foi convidada a dar uma palestra na Globo, anos atrás, quando a emissora acreditou que poderia transformar o programa da Xuxa em algo educativo. "O problema é que a Xuxa nunca teve essa imagem", analisa Wajskop.
Para a educadora, os pais, "que antes deixavam os filhos dançar na boquinha da garrafa, começaram a ficar mais críticos". "Isso tem a ver também com a melhoria da escolaridade no país e com os resultados negativos da geração cujos pais delegaram a educação a babás, enquanto trabalhavam para ganhar mais, achando que assim os filhos seriam felizes", afirma.
Em sua opinião, "a classe média passou a intuir que o consumo de produtos culturais mais educativos poderia melhorar a formação dos filhos, raciocínio antes mais restrito à elite".
Wajskop também aponta a "pressão da mídia" e iniciativas como a do Palavra Cantada. "Eles insistiram na marginalidade e na qualidade e criaram um espaço antes inexistente."
Tatit conta que ainda hoje, apesar do sucesso, o "dinheiro é muito apertado" e é preciso correr atrás de patrocinadores para CDs e shows. Peres lembra que tudo ficou mais difícil com a pirataria -sim, pais politicamente corretos também copiam CDs no computador.
"Nós mesmos produzimos e gravamos o nosso CD, e o Palavra Cantada só continua a existir em razão da venda dos discos. O show mal se paga."

Som das loiras
Apesar das dificuldades, Peres afirma que hoje há um mercado de música para criança, o que nem existia quando eles começaram. "A música infantil era a que chegava pela TV, cantada pelas apresentadoras. Hoje tem muita gente fazendo música infantil de qualidade."
Quem também faz sucesso nesse mercado é Hélio Ziskind, autor de sucessos do programa "Cocoricó", da Cultura, que iniciou a carreira ao lado de Tatit, no grupo alternativo Rumo.
Para Tatit, o Palavra Cantada já atingiu o topo dentro de um esquema independente. "Sabemos que, para crescer mais, precisamos ir para a televisão." Canções como "Sopa" e "Rato" só chegaram à periferia, no início desta década, graças à veiculação de clipes do Palavra Cantada na TV Cultura.
Na opinião de Peres, as crianças gostam "do humor e da poesia das músicas", que não devem ter "intenção de criar modismos". Tatit diz que, ao compor, preocupa-se "menos com o que vai dizer e mais com como dirá". "Busco construir uma sintaxe que as convença."
Além disso, o que ajudou foi a parceria com escolas, que usam as músicas da dupla nas aulas. "Os professores são a nossa rádio. As crianças chegam em casa cantando, e os pais vão atrás de nossos CDs", afirma Peres.
As escolas têm mesmo sido uma das responsáveis pelo surgimento dos neobaixinhos. "Os educadores percebem cada vez mais a importância de preservar a cultura, o folclore, de resgatar cantigas de roda e brincadeiras antigas", diz Silvia Amaral, conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia.
Ela faz duas importantes ressalvas: "Esse movimento ainda não é tão intenso na rede pública e nem todos os pais têm essa preocupação com qualidade".


Comentário

Crianças não rejeitam boas novidades

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Se há algo de arrogância quando se fazem generalizações sobre o gosto do público, no caso específico das crianças, há uma verdadeira incompreensão. O "gosto" delas é mais misterioso e mais flexível do que se imagina.
Na TV, qualquer coisa que pareça minimamente colorido, agitado e barulhento atrai a atenção e é capaz de grudá-las na frente do aparelho. Isso explica, em parte, o longo reinado das apresentadoras loiras, de modos sedutores e merchandising pesado.
Mas não deixa de ser verdade que programas com teor educativo mais bem elaborado, maior sofisticação visual e narrativa e referências culturais mais amplas também podem funcionar quando são oferecidos. Todas as vezes em que a TV apostou em atrações nessa linha, como a TV Cultura nos anos 80 e 90, a resposta foi melhor do que se esperava.
Isso porque crianças gostam de conhecer coisas novas e não rejeitam a priori, como fazem muitos adultos, aquilo que é mais desafiador.
O sucesso mais ou menos surpreendente da turma do "Cocoricó" e do grupo Palavra Cantada, bem como do canal Discovery Kids, por exemplo, apontam para uma nova onda de entretenimento infantil mais "inteligente" que, espera-se, dure mais do que império de Xuxa.

Enquanto isso...

Recebi o convite virtual para o lançamento do novo CD do palavra cantada e lá está escrito: Autógrafos apenas no CD "Carnaval Palavra Cantada"... Nossos heróis musicais estarão cansados dos fãs com os CDs antigos? Só interessa vender o CD novo? E quem adora o grupo mas não pode comprar o CD naquele dia?

A Fnac, aqui em Brasília, faz o seguinte: quem comprou o produto em questão (livro ou CD) na loja, tem o direito de receber os autógrafos primeiro. Outras pessoas recebem os autógrafos logo depois.

Eu estou longe de fazer o sucesso da dupla - longe mesmo - mas espero continuar com tempo e paciência para atender aos baixinhos que pedem autógrafos em seus cadernos, mãos, livros e folhas soltas depois das apresentações que faço. O artista deve estar acima do produto. Sempre!!!

sábado, 26 de janeiro de 2008

Boa Esperança, número 13.

Vivi a meninice numa rua chamada Boa Esperança. Era asfaltada, com oito casas de cada lado, todas com grades baixas. Minha casa era a de número 13. Boa Esperança, número 13. A sorte me acompanha desde aquele tempo. Mas o grande privilégio naquele começo dos anos 80 era que a nossa rua tinha uma turma. Oito garotos davam vida àquele espaço geográfico: Riva, Delane, Sílvio e eu nos juntávamos aos mais novos Márcio, Delile e Roosevelt... ah, o pequeno Dalmo se metia vez em quando nas brincadeiras. A grade das casas, que fazia as vezes de muro da frente, formada por barras de ferro, faziam um barulho estrondoso quando brincávamos de gol a gol e alguém errava a meta. Mas o esporte preferido da turma, que levava outros amigos para a rua em intermináveis campeonatos, era o Bete. Começava às oito da manhã e não tinha hora para acabar.
Bete é um jogo inspirado no basebol. São duas duplas. Uma no ataque, outra na defesa. Quem defende usa tacos. Dois círculos de giz com uns 60 centímetros de diâmetro a quinze, vinte passos de distância uma da outra, delimita a área onde a defesa deve estar com o taco em contato com o solo. A dupla de ataque joga uma pequena bola de borracha – ou de tênis – que deve derrubar um tripé (casinha) feito com gravetos que fica no interior dos círculos. Só a dupla que está na defesa faz pontos. Para isso deve rebater a bola e a partir daí cruzar o espaço trocando de lugar com o parceiro e batendo os tacos enquanto o ataque busca a bola e não oferece risco às bases. Caso derrube a casinha num arremesso ou acerte alguém da dupla de defesa quando um dos tacos não estiver tocando a área do círculo, trocam-se as posições. Ganha quem fizer mais pontos. Essas são as principais regras do Bete, pelo que lembro. O campo do jogo era a rua. E nós nos sentíamos os donos dela.
Quem nos tirou da rua foi o vídeo game. Numa mesma semana eu ganhei um Odissey e o Riva ganhou um Atari. A turma passava o sábado na minha casa e o domingo na casa de Riva. É certo que eu e ele passávamos as noites aprimorando os conhecimentos em horas de River Raid, Come Come, Senhor das Trevas e Asteroids. Por um tempo, a rua ficou vazia de gente. Sem bola batendo nos muros, sem o som dos tacos, sem infância. A turma se escondeu em frente à TV. Depois, cada um seguiu seu rumo. Hoje, estamos em latitudes diferentes. Há dois anos visitei a rua da minha meninice. Daquela Boa Esperança, restaram só as lembranças. As casas perderam a cor, as árvores e os amigos. Até o asfalto perdeu o viço. Está cheio de buracos. Mesmo assim, ao fechar os olhos, pude ouvir o som dos tacos batendo para desespero da dupla de ataque.
Estas e outras lembranças acordaram com a leitura do livro MÃE DA RUA (Ettori Bottini, Cosac Naify). O autor desfila uma crônica da sua infância na São Paulo dos anos 50 e 60, além de apresentar um manual de instruções para jogos como bola de gude, jan ken po e taco (é como ele chama o Bete), entre outras brincadeiras. É um livro para meninos. Futebol, carrinho de rolimã e revólver de feijão não faziam parte do universo feminino daqueles tempos. O texto emociona desde o início. O capítulo A Turma é de arrepiar os cabelos da unha. O projeto gráfico é um primor. Fotos e ilustrações nos remetem a um tempo distante, medido na frase que abre o livro, em que a mãe grita para o filho: - Vai brincar na rua, moleque!!! Ettori Bottini tem um olhar aguçado que já rendeu belos e premiados trabalhos na área das artes gráficas. Neste primeiro livro, seu olhar não sensibilizou o papel com imagens. Ele foi além: fotografou parte da infância com palavras. As imagens ficam por conta de cada leitor. Para mim, ele fotografou a rua Boa Esperança e uma turma de meninos que, embora distantes, sabem-se amigos. Hatuna Matata.

P.S. Dia desses, cozinhando o corpo e a mente nas águas quentes das piscinas termais do Goiás, ensinamos os meninos a jogar "palitinho" com pedrinhas. Sucesso total! E viva a cultura infantil!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Férias e Protetor Solar...

Para quem está com saudades de novas postagens... uma foto das FÉRIAS dos Roedores de Livros. No caso, usando o Mãe da Rua como protetor solar... Voltamos dia 22 de janeiro. Abraços de letrinhas a todos. Hatuna Matata!!!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Mais oficinas para crianças na Fnac

Deu no SUPER - suplemento infantil do Correio Braziliense - no último sábado, 05/01...
Mais uma vez, a Ana Paula vai coordenar oficinas infantis na Fnac Brasília. Tudo de graça, com material incluso e a garotada pode levar o que fizer para casa. No jornal, divulgam as oficinas de fantoches (21/01), cofrinho (22/01) e cinco marias (24/01), mas a programação se estende com mais duas atividades: aviões de papel (23/01) e traca-traca (25/01). Sempre as 16h30. Vagas limitadas mediante inscrição prévia na bilheteria da Fnac Brasília ou pelo telefone 21052000. Confira a programação completa no site da Fnac.

Para uma melhor visualização dos recortes, basta clicar sobre a imagem.