sexta-feira, 7 de maio de 2010

O que vocês querem aprender?

O título desse post refere-se à primeira frase que o Professor JOSÉ PACHECO disse em sua palestra na noite dessa quinta, 06 de maio, em Brasília. O encontro, promovido pela Edições SM, lotou o auditório com professores e curiosos - todos "alunos" - famintos por conhecer de perto as ideias, angústias e conquistas desse inventivo senhor com espírito de criança. Para quem não está familiarizado com o nome, José Pacheco é co-fundados da ESCOLA DA PONTE, em Portugal, ícone mundial, modelo ímpar da educação que gostaríamos de dar aos nossos filhos, quanto mais aos alunos.

Sem turmas, sem provas (a partir dos conceitos que aprendemos)... funcionando numa lógica diferente, em que os alunos escolhem o que querem aprender e são acompanhados individualmente, a Escola da Ponte parece ter saído de um mundo fantástico. Ouvíamos incrédulos as ousadias e os resultados proferidos.
Enquanto o palestrante dizia alguns clichês como "o amor é indispensável na educação" ao olhar para o lado eu lia "a política é dispensável na educação". Parece que, de fato, ele vive esse amor. Mas não foi só amor que levou José Pacheco e seus parceiros a inventar um "novo cenceito" e transformá-lo em realidade. O que ouvi naquelas duas horas foi a determinação, a imposição, o enfrentamento, a atitude de um grupo ousado. Sua fala contagia. Uns perguntam como é possível? Outros assentem: é impossível! Enfim, ninguém saiu dali impune.

Ressalto a seguir algumas frases ditas por José Pacheco:
- O amor é indispensável na educação;
- É necessário impor algumas coisas (sobre como agir numa escola mais democrática e citou a ótima história de como se tornou professor de educação musical - impagável!!!);
- O mais difícil de um projeto de educação são os primeiros 30 e poucos anos, depois é fácil (sobre a árdua consolidação da Escola da Ponte como referência mundia, cuja mudança de "planejamento" ocorreu ainda nos anos 70);
- Há dificuldades de ensinagem (sobre os que argumentam dificuldade de aprendizagem de seus alunos);
- Tá tudo errado (sobre o fato de, no ensino fundamental - do 1º ao 5º ano - termos apenas UM professor para ensinar todas as matérias de forma genérica - é preciso especialistas);
- Se o professor vê lixo, ele transmite lixo (ao comentar ironicamente que ficou sabendo que "um" professor assistia ao Big Brother - constrangimento total no auditório);

José Pacheco ainda reclamou do nosso descaso com os educadores tupiniquins (citou uma visita que fez a Caitités, cidade natal de Anísio Teixeira, que resultou nesse belo texto intitulado A SEGUNDA MORTE DE ANÍSIO TEIXEIRA).

Por fim, depois de muitas metáforas, de se mostrar esperançoso com alguns trabalhos em educação que tem acompanhado no Brasil; depois de conquistar a plateia com histórias engraçadas (agora, depois de tanto tempo passado, pois na hora em que aconteceram tinham um quê de trágicas) e de mostrar que é possível e necessário trabalhar com a inclusão de uma "nova" forma em que consigamos ver no outro um ser diferente - como somos todos - e não, deficiente, José Pacheco entregou o ouro e disse:

- BRINCAR. ESSE É O SEGREDO!

Para quem ainda não conhece a história da Escola da Ponte e tem interesse de mergulhar na sua "construção", resomendo a leitura do livro ESCOLA DA PONTE - Formação e Transformação da Educação. Mas você pode descobrir quão saborosas são as histórias de José Pacheco e seus netos ao ler os livros Para Alice, com amor e Para os filhos dos filhos dos nossos filhos.

Como aperitivo, reproduzo abaixo, a gravação do trecho de outra palestra de José Pacheco, publicada no Youtube. Nesse site você pode assistir a muitos vídeos sobre José Pacheco e a Escola da Ponte.



E não poderia deixar de agradecer à Edições SM por ter nos proporcionado tão fabuloso encontro. Esperamos por mais.

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