Há muitos anos encontrei Janaína numa tarde quente em Brasília. O papo foi rápido, mas lembro como se fosse hoje. Falamos da vida. Impressões divergentes, convergentes. Sintonia de velhos e bons amigos. Lembro ainda que brincamos com seu sobrenome diferentão (Michalski) e o meu nome não menos incomum (Florentino). Depois disso… pluft: Janaína sumiu. Ou eu sumi. Sei lá...
Passou o tempo.
De repente, no meio dos coredores do 11º Salão FNLIJ encontro a moleca saindo do lançamento do seu primeiro livro. Na verdade, ela me encontrou: - TINO? É VOCÊ? Êita mundinho pequeno esse. Não é que Janaína resolveu escrever para crianças e jovens? Bem, trouxe seu livro para casa e só aqui, depois que a tempestade repousou, deitei os olhos sobre a história e gostei muito do que li.
ONDE O SOL NÃO ALCANÇA (ilustrações de Alê Abreu, Nova Fronteira) é um livro sobre amigos. Mais que isso: conta sobre como nasceu a amizade entre Nana e Ana Paula. Uma história que começa no quintal, sobe o muro, se avizinha e ganha a rua até ficar no coração da gente. Apesar de ser o seu primeiro livro, Janaína Michalski mostra muita intimidade com a arte de pescar palavras. E ela pesca as mais bonitas para a sua história.
“ – Bala de quê?
- De hortelã.
Foi tudo o que elas disseram. Sentadas lado a lado, passaram a tarde olhando a rua. Nenhuma palavra. Só o barulho dos papéis das balas de hortelã. Às vezes Nana olhava para ela. Às vezes ela olhava para Nana. Nana achou o olhar da menina igual à água cintilante da piscina quando estava coberta de sol. De vez em quando, a menina dava um sorriso para Nana.
Na mesma hora em que a tarde foi embora, o saco de balas acabou. As meninas se olharam e concordaram que tinham de ir”.
As ilustrações de Alê Abreu dão mais calor ao texto. Caprichos de grafite e lápis de cor. As páginas do livro estão repletas de tardes quentes. E as tardes de Alê têm cores fortes e muita imaginação para conquistar a amizade do texto de Janaína. Parecem saber os segredos um do outro, como bons e velhos amigos.
Não lembro se naquela longínqua tarde quente em Brasília, Janaína e eu dividimos balas de hortelã. Mas depois daquele encontro, certamente posso usar das palavras da personagem Ana Paula para dizer a minha amiga de longa data:
“- Desce daí, vem brincar”.
Convido a todos para brincar com as palavras de Janaína. Hatuna Matata.
Um comentário:
achei as imagens lindas! de uma poesia muito sutil... com certeza está na minha lista de proximos a adiquirir
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