sábado, 20 de junho de 2009

Aprendendo sobre ilustração em livros para crianças.

Este convite é para quem estiver em Brasília. Aproveitem!!!

Palestrantes:
MIRIAM GABBAI, formada em Belas Artes e História,dona e editora de arte da Editora Callis.
JONAS RIBEIRO, formado em Letras, escritor e ilustrador,autor de cerca de 80 livros infanto-juvenis.
O livro A HISTÓRIA ROCAMBOLESCA DE MADAME VALESCA, estará em promoção no local: DE 38,00, por 15,00.




quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um lançamento SEM JUÍZO...

Queridos amigos,
Desde sábado passado (13/06) acompanhamos de perto o 11° Salão FNLIJ, no Rio de Janeiro. Sei que vocês passam por aqui sempre em busca de novas informações sobre o projeto, sobre novos livros e sobre o que acontece de bom culturalmente referente à infância. Pois é: estamos colhendo todas essas informações para repassar a vocês assim que retornar a Brasília, pois por aqui são muitas emoções e pouco tempo para o computador. Desde sábado encontrei os amigos, vi meu livro pela primeira vez numa estante, recebi o crachá como autor, dei o primeiro autógrafo, aprendi muito nos seminários, enfim... tudo isto estará relatado por aqui, em breve.
Passo por cá somente para convidá-los oficialmente para -se não de forma presente, que seja no pensamento - nos encontrarmos na próxima sexta, 19 de junho, para o lençamento do meu primeiro livro, CADÊ O JUÍZO DO MENINO? (ilustrações de Mariana Massarani, Editora Manati), as 15h, na BIBLIOTECA FNLIJ PARA CRIANÇAS, dentro da superprogramação do 11° Salão FNLIJ, no CENTRO CULTURAL AÇÃO DA CIDADANIA (Av. Barão de Tefé, 75), no Rio de Janeiro.
Caso vocês se encontrem distantes e queiram adquirir o livro, ele está à venda no SITE DA LIVRARIA CULTURA.
Abraços Musicais e até breve!!!
Hatuna Matata.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Os meninos descalços

O motivo da Ana Paula estar com este sorriso solto aí na foto acima é um só: Samuel. Menino roedor de livros desde o ano passado, naquele dia apareceu com uma pergunta daquelas que desconcertam a gente pela simplicidade, expontaneidade e força quando acontece dentro de um projeto de leitura. Foi no final da manhã de sábado, 30 de maio. Era a hora das crianças escolherem os livros para empréstimo. Edna e Célio estavam viajando, cada um com seus motivos profissionais e particulares. Na Ceilândia, eu, Ana Paula e as crianças.

Ao chegarmos, muito barulho (a creche passa por uma reforma) e foi preciso uma sessão enorme de músicas e brinquedos cantados até que fosse possível reunir o grupo para uma boa mediação. Ouvidos atentos para Marina e Makulelê (Gilles Eduar, projeto Bem Me Quer). O livro encantou a todos com seu enredo simples valorizando as amizades que se formam apesar das diferenças seja na aparência, nos costumes, enfim. Após a leitura, Ana Paula perguntou ao pequeno grupo se ali havia alguém diferente.

Depois de um breve silêncio um deles respondeu afirmativamente e apontou para outro: "Fulano é diferente". Observamos ali que uma das crianças com mais características distintas do grupo enxergou no outro algum problema. Mas ressaltou: "Eu gosto muito dele. Somos amigos". E são mesmo. Brincam juntos. Brigam juntos. Como todas as crianças. Dividem suas histórias. As da vida. As dos livros.

Ana Paula leu ainda As Meninas Descalças (Jonas Ribeiro, Projeto Bem-Me-Quer), outro texto reforçando a importância em conviver bem na diversidade. Ali, no tapete vermelho, todos atentos à história do encontro, na praia, entre duas meninas de classes sociais opostas. "As meninas estão descalças como nós aqui no tapete", lembrou uma das crianças. Pura sabedoria infantil.

Depois da mediação, hora de escolher os livros. Ana Paula com as fichas e sacolas, eu com a câmera e os meninos comos livros. Foi então que apareceu o Samuel perguntando: "Tem mais livros do André Neves?". Ana levantou a cabeça e pescou na caixoteca A Caligrafia de Dona Sofia. "Esse eu já li", disse o menino. Ana procurou mais um pouco e ofereceu Poesias dão nomes ou nomes dão poesias? "Esse eu já li", disse o menino. Ana então encontrou O Monstro Monstruoso da Caverna Cavernosa, de Rosana Rios que, em nova versão, ganhou ilustrações de André Neves. "É esse o que eu vou levar", gritou Samuel, pegando o livro e guardando-o na sacola. Aquele livro havia acabado de chegar junto com o Mateus (que veio depois da aula, mesmo atrasado), outro fã do autor e ilustrador pernambucano. As outras crianças escolheram seus livros e fomos todos para casa. Eu e Ana Paula, felizes, por colher frutos tão saborosos em nosso jardim de livros. Amo muito tudo isso! Hatuna Matata!!!

Nas Bancas...

A Revista Crescer de junho chegou às bancas com a sua lista dso 30 melhores livros infantis do ano (não informa se de 2008 ou 2009 ou de junho de 2008 a junho de 2009). A lista é criada a partir da avaliação de 40 personalidades ligadas ao universo do livro infantil (livreiros, pesquisadores, professores, bibliotecários, pedagogos, etc). É o quarto ano da lista. Não é comum se falar dos melhores livros na grande mídia, portanto, esta seleção, de responsabilidade das jornalistas Cristiane Rogério e Marina Vidigal, é um oásis no deserto em que muitos pais se encontram quando encontram a seção infantil de sua livraria preferida com os livros apertados uns contra os outros de um jeito que quase não dá para tirar da estante.

Entre os contemplados, há livros de 16 editoras, destacando a Cosac & Naify, com 6 títulos; a Cia das Letrinhas, com 5, Salamandra e Brinque Book com 3 indicações, cada. São apresentados em seções e com indicações de idade. Como em toda lista, a gente sempre sente falta de um ou outro livro que poderia estar ali, afinal são só 30 títulos em meio a tantos lançamentos. Mas vale a sua corrida à banca para conhecer os indicados.

A revista apresenta ainda uma reportagem com os 10 passos para escolher um bom livro; outra, sobre o cuidado com o livro politicamente correto, além de um especial de três páginas com o carismático Roberto Carlos Ramos, considerado um dos maiores contadores de histórias do planeta. Vale à pena. That's all, folks.

No site da revista Crescer você pode conferir OS INDICADOS DESTE ANO, os de 2008, de 2007 e a lista de 2006 que elegeu os "55 melhores livros para o seu filho".

Destelhado, descoberto, deslumbrante.

Trimmmmm!!!

- Alô!

- Alô... Tino?

- Sim, quem é?

- Oi, Tino. Sou eu, nonononono. Estou ligando porque chegou um livro novo ilustrado pelo André Neves – só chegou um, viu?! – e estamos todos aqui curiosos para dar uma olhadinha, mas tem um selo, um lacre, que não dá pra tirar... só se comprar o livro... você vai querer?

- Hã... livro novo do André?

- É... a ilustração. O texto não é dele. Deixa eu ler aqui... o texto é da Ninfa Parreiras. O livro é da DCL, o título é UM TETO DE CÉU, tem umas estrelas na capa e o formato é tipo um envelope. Bem bacana. Mas tem um selo, um lacre, que não dá pra tirar... Você vai reservar?

- Vou, vou. Obrigado por ligar.

- Ah, Tino, quando você vier pegar o livro, passa aqui na seção que a gente quer ver o livro, tá? Você vem hoje?

- Hoje não dá. Mas passo aí amanhã à tarde.

- Combinado então. Tá reservado. Não esquece de passar por aqui. Tchau!

- Tchau!

Fiquei curioso, mas naquele dia não deu para ir à livraria. Fui no dia seguinte, conforme havia prometido. Na seção de reservas fui surpreendido com um livro num formato diferente, novidade para mim. Um selo com as inicias de Ninfa e André tornava a obra inviolável para os curiosos. Não dava para tomar um café com o livro antes. Era preciso comprar o livro para depois descobrí-lo. Se não, a gente danifica o livro para um outro cliente. Não tive dúvidas. Um livro da dupla era certeza de uma ótima aquisição. Os dois são artistas do mundo da boa literatura infantil.

Fui ao caixa, investi algumas realidades e – com cuidado – retirei o lacre da fantasia. Ao abrir a capa preta cheia de estrelas, fui presenteado com o mundo de cores de André e com a bela história de Ninfa sobre uma menina, Luana; sua vila, onde só havia uma estação: a seca; onde as casas não têm teto, pois nunca chove por lá – aliás, o teto era o céu; o sol e as estrelas -; um encontro com uma moça da terra das águas e uma troca de presentes. Tudo absurdamente lindo. Emocionante.

Mas, antes de me derreter de paixão pelo texto de Ninfa, entrei no jogo do livro objeto em formato de envelope preto que ao se abrir derrama cores e pede ao leitor que mude a posição do livro para entrar na história. Algumas páginas se desdobram oferecendo surpresas aos olhos do leitor. Algumas palavras crescem, outras dançam nas páginas. O projeto gráfico, assinado por André Neves e Thiago Nieri é FANTÁSTICO. Torna a leitura diferente sem interferir na linearidade do texto. Agiganta o livro. Gostei. Muito.

André – como sempre – faz da sua arte um instrumento para brincar com o leitor. Um olho recortado cabe numa janela; um pássaro entrega o livro para a personagem – o livro que estamos lendo; estrelas pingam do céu como gotas de chuva ou como frutos maduros; há um chafariz de areia colorida; objetos de casas do interior brasileiro; texturas, colagens e talento.

Ninfa - como sempre – faz da sua arte um instrumento para brincar com o leitor. Imprime no papel as frases mais bonitas, como um ourives lapidando o cristal. “O teto era o céu. Sem nuvens, sem chuva. A chuva não conhecia aquelas casas sem teto. A chuva sempre demorava, atrasava, nunca chegava. A chuva perdeu o calendário das estações... perdeu o relógio. A chuva foi chover por outras bandas”. Beleza pura. Rara por estes dias.

Um teto de céu é o resultado de um encontro entre amigos. E a gente sempre oferece o melhor para quem amamos. O melhor tempo, o melhor texto, o melhor traço, o melhor tudo. Assim é o novo livro de Ninfa e André. Fotografia para o meu álbum dos melhores momentos da literatura brasileira para a infância deste começo de século.

E a turma da livraria? Ah, passei uma boa hora tomando café enquanto eles enchiam os olhos de estrelas. Que bom que ainda hajam vendedores de livros interessados em livros. Liguem sempre. Hatuna Matata!!!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O DARIZ...


O melhor em viver um Salão da FNLIJ, além de reencontrar os amigos e fazer novas amizades é o encontro com o livro. Livros novos que, mitas vezes passamos um ano inteiro e não os encontramos nas prateleiras por motivos diversos. Acabamos de receber um email da Cosac & Naify sobre seus lançamentos e gostaria de compartilhar com vocês a delícia que deve ser O DARIZ de Olivier Douzou, francês, escritor, ilustrador e designer de móveis que estará lançando o livro no dia 20, as 17h, no 11º Salão FNLIJ. Estamos curiosos para conhecer o texto traduzido por Paulo Neves pois "um dos grandes méritos do livro está na utilização dos desvios de grafia para simular a pronúncia típica de alguém resfriado" informa o texto de divugação que reproduzo acima (clique sobre a imagem para ler a resenha por inteiro). Parece engraçado e feito para uma boa mediação. Vai pra lista de compras no salão!!! Hatuna Matata.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Seu Tino, é pro senhor...

Foi assim, logo de manhã.
A moto buzinou. Uma voz gritou: - CASA 29!!! Eu abri um olho.
A empregada foi ver o que era. O portão rangeu o ferro no piso. Vozes ao fundo.
Depois toc toc toc na porta do quarto...
- Seu Tino, é pro senhor...
Depois... pregaram um sorriso no meu rosto assim, de manhã...
Tô com ele até agora!!!

Enfim, a Manati mandou meu primogênito sem avisar e a semana começou muito bem.

E já está a venda na LIVRARIA CULTURA!!!

Coleção de livros do Projeto Bem-Me-Quer

No dia 28 de maio foi lançado na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, uma coleção de livros do Projeto Bem-Me-Quer, do INDICA (Instituto dos Direitos da Criança e do Adolescente). No final de 2008 recebemos uma ligação da equipe do Indica nos convidando (o grupo FIRIMFIMFOCA) para gravar seis das nove histórias de uma coleção de livros paradidáticos que seriam lançados e distribuídos a 2.600 entidades sociais apoiadas pelo Itaú Cultural. É claro que topamos.

Por acaso estava em Sampa na ocasião do lançamento da coleção e pude reencontrar o escritor Jonas Ribeiro (na foto acima) e a editora Denyse Cantuária e Iago Sartini, além de conhecer pessoalmente a até então amiga virtual Lígia Pin (também na foto acima). Mas a vitrine da noite eram os livros. De fato. Não é cômoda para nós, Roedores de Livros, a idéia de que o livro serve para alguma coisa. E esta coleção trata da boa convivência entre as diferenças: sociais, sexuais, religiosas, raciais, etc. Mas o cuidado que o INDICA dispensou a obra fez com que eu pensasse melhor a respeito.

Um time de autores experientes como Adriana Falcão, Anna Claudia Ramos, Jonas Ribeiro, Gilles Eduar, Flávia Lins e Silva, entre outros, ao lado de ilustradores tarimbados como Ana Raquel, Jô Oliveira, Leicia Gotlibowski (ilustradora argentina que não conhecia e fiquei fã) e José Carlos Lollo, para citar alguns, deram uma pincelada de arte no produto final, muito bem acabado no belíssimo projeto gráfico de Alex Chacon. Dois livros foram ilustrados por Maurenilson, ilustrador veterano, amigo dos Roedores (mora em Brasília), e que agora estreia na literatura para crianças e jovens. Que venham outros tantos.

Diante de tantos livros, há os que saltam aos olhos. O texto de Jonas Ribeiro, As Meninas Descalças, é muito bom. Roda-Gigante de Adriana Falcão fica mais encantador em combinação com as ilustrações+recortes+colagens de Lollo. Pena não poder levá-los juntos para o áudio. Marina e Makolelê, de Gilles Eduar - como sempre - alcança o ouvido das crianças com seu texto curto e ilustrações coloridas. Como Somos de Flávia Lins e Silva mostra o quanto um escritor precisa estar atento ao seu cotidiano para pescar boas ideias na boca das crianças.

As histórias são para várias faixas de idade. Textos curtos. Textos longos. Temas clássicos - como A Cor do Ovo, de Chico Salles, sobre preconceito racial. Outros nem tanto presentes na literatura para jovens como Porque eu não consigo gostar dela?, de Anna Claudia Ramos, que trata da homossexualidade com cuidado e talento. Enfim, uma coleção e tanto. Estou certa de que a coleção faria sucesso em todas as escolas - se tratadas com a devida atenção por um professor-mediador. Como já disse antes, o Itaú Cultural, comprou a ideia, o Indica criou o produto e 2.600 instituições receberão o kit com 9 livros e um audio-livro para que - principalmente - os deficientes visuais possam desfrutar das histórias.

Por falar eu áudio-livro, Aldanei Andrade, Míriam Rocha, Simone Carneiro e Tino Freitas participaram da gravação de seis das nove histórias. É particularmente emocionante poder desfrutar delas em livro (nós recebemos só os textos) e descobrir a força que um bom ilustrador aliado a um projeto gráfico criativo podem dar a um livro. Esperamos que ao ouvir as histórias gravadas, as crianças possam viajar nas palavras e colorir sua imaginação com os personagens, com os cenários, com o que de melhor cada história pode passar.
Parabéns ao INDICA pela competência com que trataram o projeto. Roemos e indicamos. Que, no futuro, estes livros possam alcançar outros tantos leitores. Hatuna Matata.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Os Olhos Que Comiam Carne

Duas e vinte e sete da manhã. No quarto, a TV ligada exibe a sequência de um filme de terror. O que deu origem a série até que não era ruim, mas este é uma tortura para qualquer mente insone como a minha. Sinto frio. Sinto fome de algo prazeroso para meus olhos que teimam em não dormir. Ao lado da cama alguns livros que Ana Paula trouxe de uma recente viagem à Sampa. Muita coisa boa. Escolho um e vou para a sala. Levo o cobertor. Acendo a luz e Hermione, nossa gata, se aninha perto do sofá. O livro, escolhido a dedo, intitula-se Os Olhos Que Comiam Carne e outros contos de terror de Humberto de Campos (organização de Denyse Cantuária, publicado pela Noovha América, para o selo Sete Luas). Ganhei a noite e mais um motivo para escrever no blog.

Composto por cinco contos, este livro já é – para mim – um clássico nacional do gênero. Com sua pesquisa, Denyse nos mostra que a literatura de horror tupiniquim pode caminhar lado a lado das estrangeiras. Lado a lado com Edgard Allan Poe (Wiliam Wilson), Guy de Maupassant (O Horla) e Charles Dickens (O Sinaleiro), para citar alguns. Os textos do maranhense Humberto de Campos (1886 – 1934) datam de quase uma centena de anos. Apesar de algumas referências – óbvias – àquela época, seus contos podem facilmente ser devorados por olhos juvenis famintos de boa literatura. Mas não pense que vai encontrar ali um balaio de sustos, rios de sangue, monstros fantasmagóricos ou outros clichês que acompanham mutos dos “novos” livros deste gênero que se estendem em coleções nas prateleiras de muitas livrarias.

O terror dos contos de Humberto de Campos não vem de fora, à meia-noite, carregado pelo uivar do vento. É mais íntimo e poderoso. Nasce dentro da gente. Range dentro da gente. É inesperado como o primeiro soluço. De repente. Em Catimbau, o fim, súbito. Pronto. Acabou-se. E a gente fica assim, sem fala, na página 24. A Noiva foi escrita principalmente para quem – como eu – vive garimpando livros em sebos e vez em quando encontra pertences de outros leitores guardados nas páginas de velhas edições: eu já encontrei uma nota de 50 Cruzados Novos (aquela com o Drummond), um extrato de banco, um pedaço puído de uma fita do Senhor do Bomfim e uma rosa desidratada. Quantas histórias por trás destes objetos, não é mesmo? A tal noiva, por exemplo, procura há anos por um pertence seu esquecido num livro.

O conto que dá título ao livro é absurdamente bem escrito. Me lembrou O Extraordinário Caso dos Olhos de Davidson, conto de H. G. Wells, que tenho em casa no excelente quarto volume da série Contos e Poemas para Crianças Extremamente Inteligentes (Coletânea organizada por Harold Bloom, Objetiva). Há ainda O Seringueiro, em que a gente vai se encantando com o mocinho até que... Enfim, o livro termina com O Poço dos Maridos, que dedico a tantas belas mulheres caçadoras de príncipes encantados sem defeitos. Há ainda uma apresentação do autor, da organizadora e do selo Sete Luas.

O livro apresenta um belo projeto gráfico de Iago Sartini feito a partir da seleção e do aproveitamento de imagens de dominio público criadas por artistas dos séculos XVI, XVII, XVIII. O novo beija o antigo numa edição primorosa. Literatura de primeira. Ótimas histórias. Um livro para a gente se deliciar com seu conteúdo e perceber como o dedo de um bom editor (no caso, Denyse Cantuária) pode dar mais sabor a uma obra quase centenária. Não vi as horas mas certamente passavam das quatro da manhã quando terminei de ler o livro e lancei meus olhos agora famintos de sono de volta para o quarto. Desliguei a TV, deitei na cama e... tenho certeza de que dormi com um sorriso no rosto. Hatuna Matata.

Buzinas, carros de som, crianças e literatura...

O sábado, 23 de maio, teve um componente que não costuma incomodar no projeto Roedores de Livros: o barulho. Tivemos que nos reunir na área externa da creche pois acontecia uma reunião importante no interior do prédio. Até aí, nada de novo. De repente apareceu um caminhão tipo trio elétrico anunciando o aniversário de um supermercado local. Passou devagarinho com o volume nas alturas bem no meio de A Cobra e o Grilo (Graziela Hetzel, com ilustrações de Ivan Zigg, Ediouro). Uma paradinha para os "comerciais". Plim, plim.

Fiz um brinquedo cantado para descontrair e introduzir a a mediação de O Amigo Urso (Mery Weiss, Formato). Fom Fom! Buzinou um grande carro preto para um barulhento fusquinha que se arrastava na pista ao lado da gente. Bip Bip! Respondeu o fusquinha. Cri Cri! Ssssssssss!! Groaaarrrr!!! A cobra, o grilo, o urso e as crianças se manifestaram. Outra pausa para a rua deixar as histórias se acomodarem no pensamento. Plim, plim!

Parti para a leitura de uma história do Contos de Artimanhas e Travessuras (Vários Autores, Ática). A raposa estava comendo os peixes quando o mesmo primeiro caminhão voltava pela via oposta convidando a todos para a promoçào de aniversário do tal supermercado. Desta vez, era seguido por algumas kombis, fiorinos e outros veículos da frota da empresa. Ora o tomate estava em promoção, ora Claudia Leite cantava seu axé. As crianças pareciam mais incomodadas que a gente - mas nem eu, nem Edna, nem Tino, nem Célio cabíamos em meio a tanto aborrecimento. Plim, plim!

Foi então que a pequena Samara pediu para ler um livro que gostamos muito por aqui: Coitada da Raposa! (Sandra Ronca, Cortez). A história é bem divertida e vai levando o leitor por um caminho que parece mas não é tão óbvio. Aí o livro ganha o sorriso no olhar dos pequenos. Samara começou a leitura em voz baixa, ainda tímida, mas depois a história pegou e - sem interrupções - chegou ao seu final surpreendente. Depois a monitora Samantha pediu para ler A Cidade dos Carregadores de Pedras (Sandra Branco, ilustrado por Elma, Cortez). Partindo de uma metáfora genial, a autora desfila um enredo gostoso em que ora os meninos se espantam com uma cidade em que todos carregam pedras ora se encantam com o final transformador da história. Por fim, brinquedos cantados como o Andar de Trem (foto abaixo) descontraíram a turma antes do retorno para casa.

É sempre bom que o mediador tome conhecimento prévio do que vai ler para o público. Assim, prepara-se melhor para as palavras difíceis, para as entonações certas, para o jogo entre o livro e o espectador. Naquela manhã barulhenta, as crianças perceberam nosso incômodo e pediram para ler novas histórias. Não foi um exemplo de mediação. Mas, certamente, um exemplo de carinho pelo outro. Sim, nas manhãs de sábado, não só aprendemos - todos - o prazer em descobrir boas histórias nos livros. Aprendemos também a respeitar o próximo. Sem barulhos. Hatuna Matata.

P.S. Um dia, escreverei um post sobre a conquista da nossa sede. Enquanto este dia não chega, agradecemos ao pessoal da Creche Comunitária da Criança que nos acolhe sempre com muito carinho. Fazem o possível para que sigamos com o nosso trabalho.