terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Literatura não serve pra NADA!!!

Não é sempre que a Grande Mídia abre espaço para falar sobre o universo da Literatura Infantil. Normalmente vivemos às margens das notícias "importantes" e dos cadernos de "literatura adulta". Quer um exemplo? O Menino que Vendia Palavras, Melhor Livro de Ficção de 2007, segundo o Prêmio Jabuti 2008, mal ganhou resenhas em seções de revistas do segmento infantil. Passamos à margem dos acontecimentos para o leitor "comum", embora este segmento de livros para a infância e juventude seja o que mais cresce no mercado editorial. Por isso, não podem passar em branco quaisquer referências ao nosso universo quando ocupamos algum espaço nestes veículos. A revista Carta Capital mais uma vez surpreende ao estampar na última página da edição nº 532, desta semana, uma foto do nosso querido Bartolomeu Campos de Queiroz (reproduzida acima), clicado pelo fotógrafo Eugenio Savio, com a seguinte legenda: "ARTE E TALENTO PARA INICIAR PEQUENOS LEITORES". A seção RETRATOS CAPITAIS povoada de personalidades da política e das artes deve ter deixado muita gente pensando: "Ué? Arte e talento para pequenos leitores? ... Cadê o Ziraldo?". Aqui no blog já publicamos um artigo que discutiu a ausência da literatura infantil nas grandes mídias, escrito por Milu Leite (leia aqui), estampado nas páginas da mesma Carta Capital.
Bartolomeu Campos de Queirós é um dos gigantes da Literatura Brasileira. Sorte dos nossos pequenos leitores ter vários dos seus livros na seção de títulos infanto-juvenis. Em compensação, os adultos perdem ao passar à margem da sua literatura. Conheci o Professor Bartolomeu antes de ler seus livros. Adorei a sua companhia em torno de um cafezinho e das suas deliciosas ironias. Mas também amo a companhia das suas palavras quando mergulho a minha solidão em seus livros, que venho descobrindo aos poucos desde que me envolvi mais profundamente neste universo. Minha mais recente descoberta foi o livro Sem Palmeira ou Sabiá (Bartolomeu Campos de Queirós, com ilustrações de Elvira Vigna, Peirópolis). Em suas páginas as lembranças do escritor/personagem da sua cidade de três ruas, quando este tinha três anos e buscava tocar o céu, conhecer o mar. A viagem ao tempo distante passa por memórias poéticas, cirandas e cantigas de roda. O menino quer saber quem enche o coco de água. O menino vê o futuro multiplicar seus anos e as ruas da cidade. Chega o progresso. O menino e a cidade engordaram com o tempo. Os meninos que agora se vê nas ruas não brincam mais de roda. Catam lixo. Sinto um aperto no coraçào ao ler que "As pessoas já não lhe desejam bom dia. Apenas abaixam a cabeça quando se cruzam." Minha cidade é assim. Bartolomeu me encantou e me entristeceu com sua realidade pintada em palavras mágicas. Fechei os olhos e me vi menino, brincando na rua. Livre, solto, criança. Hoje, meus filhos brincam vez em quando na rua, quando posso colar meus olhos nas suas travessuras. A cidade gorda de perigos me obriga a limitar seus vôos. Tenho medo do medo que eles não têm. Sem Palmeira ou Sabiá me arranhou a alma ao mostrar no espelho dela um pai engordado pelo tempo, assim como a minha cidade. Ao mesmo tempo, senti uma felicidade ao perceber que minhas crianças ainda dizem "Bom Dia". E eu também!!!
Não posso deixar de falar do projeto gráfico. As ilustrações de Elvira Vigna são montagens fotográficas de nuvens e cenas rurais. Um tremendo bom gosto que ajuda o leitor a visualizar o universo mágico das palavras do autor. O livro é uma viagem de ida e volta a um longínquo mundo. De difícil acesso às crianças e jovens de hoje, encerradas em seus muros, videogames, celulares e internet. Já ouvi o professor dizer que "Literatura não serve pra nada". Uma frase curta, cheia de metáforas e ironias para um uvinte mais atento. Mas, uma vez embarcados no trem das palavras de Bartolomeu Campos de Queirós, o leitor volta para casa diferente. Modificado pelo nada literário. Um nada cheio de sensações. Obrigado, professor. Quero mais!!! Hatuna Matata!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

FLIPIRI - Pirenópolis (GO).

Pirenópolis (GO) entra no circuito das charmosas cidades interioranas do Brasil - como Ouro Preto (MG) e Parati (RJ). Sua primeira FESTA LITERÁRIA, a FLIPIRI, acontecerá de 12 a 15 de fevereiro próximos no Centro Histórico do lugar. A programação contará com a presença de Ignácio de Loyola Brandão, vencedor do Jabuti 2008 (Melhor Livro de Ficção com o livro O Menino que Vendia Palavras) e de outros nomes nacionais da Literatura Infantil como Jonas Ribeiro e Hermes Bernardi Junior. Mas apresentará também o time de escritores da Casa de Autores, formado por nomes da emergente Literatura Infantil produzida aqui no Distrito Federal como Marco Miranda e João Bosco Bezerra Bomfim, que tanto admiramos. Abaixo, reproduzo uma nota publicada nesta segunda, 09/02, no jornal Correio Braziliense, falando mais sobre o evento.
Pirenópolis está cercada de cachoeiras deliciosas e seu centro histórico apresenta casas originais construídas em adobe e um calçamento ímpar feito com as famosas pedras do lugar. Tradição e cultura impressas nas cores fortes das máscaras das Cavalhadas, no trabalho de artistas locais como a ceramista Cristina Galeão e nas bolsas, roupas e acessórios incríveis feitos em lona da loja Capitão Sujeira. Para os amantes da gastronomia, em Pirinópolis a culinária goiana impera com seus perfumes e sabores típicos. Licores feitos com a castanha do Barú, Galinhada com Pequi, sobremesas de frutos do cerrado e outros petiscos. Com certeza, num local tão inspirador, a literatura será bem acolhida. Esperamos que os responsáveis pelo evento consigam colher bons frutos para que possamos desfrutar da FLIPIRI nos anos vindouros. Os Roedores de Livros estarão por lá, apreciando e informando a vocês as delícias deste novo encontro literário.

Acima, eu e Tino, numa das tantas visitas que fizemos a Pirenópolis. Clique AQUI e aprecie mais fotos desta belíssima cidade histórica.

Adeus ano velho - Feliz ano novo!!!

O encerramento das atividades em 2008 foi no sábado, 13 de dezembro. Preparamos um kit de "natal/férias" para as crianças com cadernos, lápis de cor, estojos e outros badulaques. Coisas de brilhar olho e esticar sorriso de menino tanto quanto uma boa história.
Por falar em boa história, a mediação foi seguida de muita atenção e descontração com a leitura dos livros 365 Pinguins (Jean Luc Fromental, com ilustrações de Joelle Jolivet, Cia das Letrinhas) e Até as Princesas Soltam Pum (Ilan Brenmann com iluatrações de Ionit Zilberman, Brinque Book).
Nossos monitores (Wesley, Samantha e Daniel) ajudaram na organização do espaço e também - para a nossa surpresa - trouxeram seus "presentes" para a garotada.
Nossa "Dona Benta", Emília (sentada, na foto acima), avó de Ana Letícia - que a acompanha por mais de 10Km de casa até o projeto, percorrendo longos trechos de ônibus e a pé - recebeu a companhia da Tia Bia (em pé, na foto acima), que contou a história do Natal e entoou cantigas natalinas com as crianças.
Nossa turma ficou uma graça com os tradicionais gorros natalinos. Uma das crianças hesitou bastante em usar o seu. Conversou comigo e explicou seus motivos mas, nem precisava explicar. Logo depois, estava com com ele na cabeça, brincando com todos.
Felizes, Tino, Edna, eu e Célio brindávamos com refrigerante a conquista de mais um ano de projeto, passando por cima das adversidades e conquistando mais leitores e novos amigos. 2009 chega com boas notícias para nossas crianças, mas só vamos anunciá-las em breve. Por enquanto, deixo a foto abaixo, com os votos de um ano bom, cheio de saúde e de ótimas histórias para contar.
O projeto Roedores de Livros agradece a todos que de forma direta ou indireta contribuiu para que o nosso trabalho semanal de levar a literatura além dos portões das nossas casas fosse feito com o mínimo necessário de material físico, porém, com o melhor de nossos corações. Hatuna Matata.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Roda Gigante, Carrossel e Bate-Bate...

No interior do Ceará, ao pé da Serra de Bautrité, ainda hoje, há um local chamado Boa Vista, com acesso de mais de uma légua por terra batida depois que acaba o asfalto, margeado pelo rio Candéia. Ali eu fui batizado, fiz minha primeira comunhão e passei quase todas as férias da minha infância e juventude. A casa dos meus avós ficava lá. Aliás, fica ainda hoje. Com algumas modificações, é claro. O rio, antes robusto e farto de peixes e sapos e camarões e pitús perdeu a força às custas da modernidade que foi trazendo a luz elétrica, o saneamento básico, a televisão e o telefone e mais gente.

Naquele tempo de menino – e põe tempo nisso – o banheiro era uma pequena construção que ficava separada da casa frincipal. Na entrada para o mato. Tinha uma “casa de abelhas” pendurada em uma das paredes. Era uma pequena caixa de madeira onde abelhas Jandaíra fizeram uma colméia. Nunca soube o porquê de se criar mel em um local tão incomum. Mas, sempre que ia me demorar por lá, ficava um pouco apreensivo.

Entre os fundos da casa e o banheiro, galinhas, patos, pintos, cavalos, jumentos e o meu inesquecível pé de ciriguela. Meu, porque passava horas montado em seus galhos tortuosos colhendo e devorando seus frutos coloridos e saborosos. Uma trilha passava rente ao banheiro externo e seguia para o rio atravessando o bananal e mangueiras imensas que davam sombra e espaço para uma boa pelada com meus primos. O som da água correndo ainda hoje me chega aos ouvidos.
Enquanto o futebol rolava solto por sobre as folhas caídas das mangueiras, minhas tias e primas passavam por nós carregando bacias de alumínio repletas de roupas para lavar. A gente brincava e elas davam um duro danado. O barulho das roupas estalando na pedra grande à margem do rio, o sabão de coco arrancando a sujeira num frenético vai-e-vem, a conversa solta sobre a vida que corria mansa, tudo isso mais os gritos que anunciavam o fim da partida e o início do banho de rio que quase sempre levava a uma pescaria com landuá, construíram a trilha sonora das minhas férias.
Trilha sonora que estava há muito silenciosa em minha memória como um CD que a gente gosta muito mais que foi ficando embaixo da pilha de novos discos, novas músicas até que, finalmente, num dia de faxina, é redescoberto e a sua música invade as caixas de som e a sala e os ouvidos como se nunca tivesse deixado de soar. Pois foi assim. Quando deitei os olhos em O Vento (Elma, Global), foi como se apertasse o play daqueles momentos empoeirados e agora, eles estão aqui comigo, novinhos em folha.

Há tempos não lia um livro imagem que mexesse tanto comigo. A ausência de texto oferece mais possibilidades para a história e fortalece a nossa imaginação pois outras leituras e sensações podem ser vividas pelo leitor, seja ele criança ou adulto. Elma sopra no papel suas cores vivas e seu traço original que – aos poucos – ganha mais contornos ímpares, para contar um passeio entre uma mulher, um balaio de roupas e três crianças. O passeio se transforma numa grande brincadeira para as crianças. O vento faz daquele enorme quintal um grande parque de diversões em que roda gigante, carrossel e bate-bate dão lugar a árvores, passarinhos e elefantes.

A mulher trabalha com um sorriso nos lábios enquanto as crianças se divertem. Parecia assim no meu tempo de menino. Sorrisos para todos os lados. O vento a soprar roupas no varal, folhas da mangueira e a voz de minha mãe chamando a todos para um lanche ao final da tarde. O Vento de Elma despertou em mim a lembrança de uma infância rica em sensações. Talvez não consiga tanto numa criança com memórias tão frescas. Mas os sorrisos de um brincar despreocupado com a vida certamente serão soprados das páginas do livro e farão cócegas nas bochechas dos pequenos mais sensíveis. Então, voaremos todos com a brisa, os pássaros, os traços e a imaginação de Elma para um lugar sem tempo nem distância onde o pensamento voa, voa, voa sem pressa de pousar. Hatuna Matata.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Novos leitores Roedores de Livros!!!

Uma das coisas mais bacanas que acontece lá no Projeto Roedores de Livros é quando as crianças pedem para ler uma história. É uma vontade contagiante que vai passando por todos e aí a gente pára tudo e a turma se volta para ouvir a voz do novo leitor. Percebe-se claramente que durante suas leituras em voz alta, as crianças imitam alguns trejeitos que usamos na mediação. Apresentam o livro, dizem o nome do autor e ilustrador, identificam a editora e, durante a leitura, fazem algumas pausas para mostrar as ilustrações. É preciso paciência pois muitas vezes a história escolhida por eles é longa demais e, quase sempre, a leitura em voz alta esbarra na insegurança e na própria dificuldade que a precária formação escolar impõe à leitura. Mas deixamos o grupo sempre muito à vontade e esperamos o tempo de cada um. Ali, não temos pressa para chegar ao fim da história. Afinal, a história destes meninos e meninas está apenas começando.

Neste post, algumas fotos da nossa turma em pleno ato de ler, no dia 06 de dezembro de 2008. A seguir, as legendas das fotos. That's all, folks.
Na primeira foto, Deysiane lê o conto A Morte e o Ferreiro do livro Contos de Morte Morrida (Ernani Ssó, com ilustrações de Marilda Castanha, Cia das Letras). Acima, Jaderson lê um capítulo do livro Aula do Além, da coleção Fantasmas da Rua do medo (R. L. Stine).
A Casa que João Construiu foi lido por Stefany.
Layane leu Clifford - O Cachorro Vermelho (Norman Bridwell, Cosac Naify).
Por fim, Lucas divertiu a todos ao ler Assim Assado (Eva Furnari, Moderna).

sábado, 31 de janeiro de 2009

Firimfimfoca na Livraria Cultura (BSB)

Olá Pessoal,
Neste DOMINGO, 01 de fevereiro, às 17h, apresentaremos o espetáculo FIRIMFIMFOCA - Histórias de uma fada carioca, no AUDITÓRIO DA LIVRARIA CULTURA (CASA PARK - Brasília - DF). ENTRADA FRANCA!!!
No espetáculo músicas e histórias homenageiam a obra de Sylvia Orthof.
+ Informações pelos telefones 34104033.
Apareçam!!!

Quer saber mais sobre a firimfimfoca? Clique aqui!!!

Capoeira de surpresa!!!

Quando chegamos à Creche Comunitária da Ceilândia naquela manhã do sábado 06 de dezembro fomos surpreendidos por uma visita inesperada. Bem, inesperada, porém muito querida. É que o nosso "veterano" roedor de livros Jardeson (na foto acima, de camiseta azul) convidou o grupo de capoeira BERIMBAZU - que ele participa - para conhecer o projeto, nossas histórias e, é claro, para uma apresentação.

A presença dos esportistas deixou nossa turma agitada. Já havíamos recebido um grupo de capoeiristas antes (veja aqui) mas eram todos adultos. Neste novo grupo, crianças e jovens seguiam as palavras do Professor Bruno Henrique, que aproveitou para falar um pouco da história da capoeira e das suas virtudes enquanto esporte e ação de cidadania. Foi ele o prmeiro a contar histórias naquela manhã. Depois, a roda foi aberta e todos fizeram a sua exibição - inclusive a Deysiane (de azul, à esquerda) que também foi aluna do grupo.
O tempo passou rapidinho. O Tino fez a mediação com o livro A PROMESSA DO GIRINO (Jeanne Willis, ilustrado por Tony Ross, Ática) que inova na sua editoração gráfica, em que a leitura se faz de cima para baixo e não da esquerda para a direita, e ao abordar de forma simples temas como a morte e a transformação que sofremos na vida. As crianças não desgrudaram o olho das ilustrações maravilhosas de Tony Ross e a última página deixou em todos um "- Ahhhhhhh..." saindo meio torto da boca.
Depois, ele ainda leu A Morte e o Paxá e A Morte e o Fujão, duas histórias do ótimo CONTOS DE MORTE MORRIDA (Ernani Ssó, com ilustrações de Marilda Castanha, Cia das Letrinhas). O livro apresenta uma narrativa fluente para quem conta e não assusta o ouvinte. Pode-se pensar que se trata de um livro de terror, mas cabe na estante dos contos de esperteza onde figuram outros ótimos livros sobre o tema como CONTOS DE ENGANAR A MORTE (de Ricardo Azevedo, Ática) e SETE HISTÓRIAS PARA SACUDIR O ESQUELETO (Angela Lago, Cia das Letrinhas). Não é fácil escrever sobre este tema e parecer original depois destes dois livros. Contos de Morte Morrida faz parecer simples. No livro de Ernani, vale ressaltar as ilustrações de Marilda Castanha. São de uma originalidade que encanta. Desde a morte usando snorkel embaixo d'água (reproduzida na capa e no miolo), passando ao quase imperceptível marcador de livros de ossinho na página 8. Na medida para olho guloso de criança. Hatuna Matata.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Surpreende. Encanta. Conquista.

Lembro perfeitamente de quando conheci o Luís Dill pessoalmente. Foi nos corredores da Feira do Livro de Porto Alegre de 2008, numa tarde quente de sábado. André Neves nos apresentou. Ele estava ao lado da sua esposa e foi muito simpático. Parecia até incomodado com tantos adjetivos que recebeu do ilustrador pernambucano. Depois, a escritora Christina Dias se juntou ao grupo e trouxe consigo mais elogios. Eu quase me senti incomodado por não conhecer “O Cara”. Normalmente fico curioso para conhecer os autores dos livros que li e gostei. Naquele dia, a lógica foi invertida. Quis conhecer os livros daquele autor que me cativou com seu jeitão tímido.

Uma semana depois, quando voltei para casa, trouxe na bagagem Olhos Vendados (DCL, 2007) uma das indicações dos amigos para me introduzir na literatura de Luis Dill. O livro ficou descansando ao lado da cama, em meio a outros títulos até que o tempo casou com a curiosidade e abri a primeira página. Só consegui fechar o livro após a última página. E olha que ele nem ficou muito tempo assim pois Ana Paula ficou curiosa por me ver tão imerso numa leitura e também devorou suas 110 páginas num só fôlego.
O livro oferece uma trama misteriosa. Uma adolescente é sequestrada e toda a cidade se mobiliza para encontrá-la e punir seu sequestrador. A população acompanha o desenrolar dos acontecimentos através de um programa de rádio local pois o suposto vilão se comunica apenas com o radialista através de cartas. Quem é – de fato – a vítima? Porque não há pedido de resgate? Qual a real motivação do bandido? Será mesmo ele o bandido? Luís Dill quebra a estrutura normal da narrativa escrevendo sua história por meio das 20 cartas enviadas pelo sequestrador. O autor apresenta uma sociedade corrupta, onde os filhos da elite passam leves e impunes por sobre a balança da justiça. Mergulha no íntimo das motivações por que passa a mídia ao decidir divulgar ou não “a verdade”. O livro surpreende a cada capítulo e é impossível descobrir a identidade do autor das cartas até que o leitor alcance a última carta. E aí, é hora de se deixar surpreender mais uma vez. Uma grande história contada de forma magistral. Eu e Ana Paula ficamos fãs.

Não resisti e no dia seguinte mandei um email para Luís Dill:

"Pois é... A gente teve o prazer de te conhecer na Feira de POA. Aí, resolvemos trazer os Olhos Vendados para casa. Ele ficou ali, no meio de tantas outras "novidades" que vêm e que vão... até que na quarta e na quinta, eu e Ana Paula devoramos a sua cria. Maravilhoso!!! (com todas as exclamações). Ficamos curiosos por outros filhotes, mas, como sào tantos queria que você indicasse".

Foi então que ele sugeriu Todos Contra Dante (Cia das Letras), sua publicação mais recente. O livro já surpreende pelo formato incomum para títulos juvenis (22,5 comprimento x 15,5 cm de altura). Mas o autor foi muito mais além. Inspirou-se em um fato para escrever uma história sobre bullying escolar. O personagem Dante é vítima de agressões por seus “colegas”. Desde xingamentos velados e bilhetinhos ameaçadores até comunidades depreciativas na internet, chegando às vias de fato, quando o menino sofre uma agressão física que o leva ao coma. A sensação de impunidade parece rondar os agressores, adolescentes na faixa dos 13 anos. A omissão - da escola e dos pais - está presente em todo o livro. É impossível sair da leitura sem sentir pelo menos um incômodo no fundo do peito. É literatura da boa misturada com realidade. Aqui não há fantasia. Luis Dill disseca o falso moralismo e mergulha a ferida social num balde de merthiolate, com aquela fórmula antiga, que arde mas cura. Cura? Leitura recomendada a todos os jovens e também aos seus pais.

O texto, a exemplo de Olhos Vendados, foge da narrativa tradicional e aproxima o livro do universo virtual de blogs e comunidades povoados dos adolescentes. Não há um “modo de usar” explícito, mas também não me parece difícil de entender como o autor desenha seu enredo. A história acontece nas páginas ímpares, à direita do leitor. Ali, entre diálogos, confissões de Dante em seu blog e o coteúdo da comunidade Eu Sacaneio o Dante, há sempre um link que leva ao que está escrito nas páginas pares, à esquerda, contextualizando a história central: trechos de A Divina Comédia, recortes de situações passadas, as ameaças recebidas e até a citação da música Far Away, de Nickelback (um tema romântico de primeira para embalar casais adolescentes).

Gostaria ainda de ressaltar o projeto gráfico de Helen Nakao. As páginas de um azul quase cinza, as letras em tons de verdes e azuis e a diagramação “moderna”, a meu ver, aproximam ainda mais o livro do público adolescente. Na capa, ao fundo, uma sequência de dados binários nos remete sutilmente ao filme Matrix. No mínimo, uma produção ousada. Gostei. Mesmo. Muito. Um dos melhores que li em 2008.

Luis Dill consegue mais do que criar boas histórias. Olhos Vendados e Todos Contra Dante mostram toda a criatividade do autor em contá-las de um jeito incomum. Surpreende o leitor. Encanta o leitor. Conquista o leitor. Fui fisgado por seu texto. Tanto que agora vou sair para encontrar Tocata e Fuga (Bartrand Brasil, 2007). Dizem que este é voltado para o público adulto. Estou curioso para saber se Luis Dill continuará a me surpreender. Para falar a verdade, estou torcendo por isso. Hatuna Matata.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Pedro Tino e Pandolfo Bereba juntos, nos Roedores de Livros.

Quando Pedro Tino veio a Brasília pela primeira vez, aos cinco anos, ele já era um roedor de livros. A minha edição surrada de Bom Dia Todas as Cores (Ruth Rocha, com ilustrações de Alberto Linhares, Quinteto Editorial) que o diga. Por isso, aproveitando a prmeira visita do nosso caçula aos Roedores de Livros, naquele sábado 29 de novembro, levei o exemplar ainda com a marca dos seus dentes na borda (hehehe) frutos da sua leitura naquela primeira viagem. Fizemos a foto que você vê acima e foi esta a história que deu início à mediação.
Eu havia levado outros livros e aí sugeri a leitura de Pandolfo Bereba (Eva Furnari, Moderna). Ao ver a capa e ouvir o título, dois dos meninos disseram que não queriam aquela história. Porquê?, perguntei. - Ah, deve ser muito chata!
- Mas vocês não vão nem me deixar ler um pedacinho para decidir se é chata ou não?, insisti.
Pedi com todo o jeito para que eles me deixassem ler só um pouquinho, que eu estava certa de que iriam gostar muito. Mas a certeza de criança às vezes é teimosa. Enfim, outros se pronunciaram a favor e eu comecei a leitura.
O príncipe Pandolfo Bereba, está longe de ter o perfil que temos do príncipe encantado. Na verdade, é o mais "desencantado" possível. Feio de doer, adora falar mal dos outros e não aceita opiniões diferentes da sua. Desde a primeira página, a história já dominava a atenção de todos (inclusive daqueles dois relutantes) que participavam da mediação com exclamações sobre as atitudes do príncipe e com as ilustrações de Eva.
Enfim, a história foi um sucesso. Cheia de surpresas divertidas. Nada como um pouco de Eva Furnari para fazer cócegas na imaginação da criançada. Aliás, não só dos pequenos. Eva deveria ser lida por todas as idades. Hatuna Matata.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

365 Pinguins na geladeira dos Roedores de Livros!!!

1º de janeiro. Mais um ano começa. 365 dias para guardar as boas histórias na cachola e na estante. E por falar em primeiro de janeiro e em boas histórias lembrei que foi lançado recentemente um livro muito bacana. Daqueles que fica ainda mais gostoso quando a gente lê junto com os filhos, brincando com as possíveis janelas que cabem na mediação. Chama-se 365 Pingüins (Jean-Luc Fromental, com ilustrações de Joëlle Jolivet, Cia das Letrinhas) e é um livrão em todos os sentidos!!! Gigante no formato, mede 36 de altura por 28 de largura. O belo projeto gráfico usa e abusa de azuis e laranjas, além das cores da ave, é claro! E a história… bem, a história vem com um mistério que se agiganta a cada página.

No dia 1º de janeiro, a família das crianças Amanda e Téo recebem a visita de um motoboy que entrega uma caixa com um conteúdo intrigante: nada menos que um pinguim em carne e osso e penas!!! Ah, e desde hoje, graças ao novo acordo ortográfico, uma ave sem trema no nome. No embrulho, não há o nome do remetente, só um bilhete: “Sou o nº 1. Me deem de comer quanto eu tiver fome”. Até aí, tudo bem (se é que receber um pinguim em casa seja alguma coisa normal, mas se tratando de literatura e fantasia, tudo é possível). O problema é que a cada dia, chega mais um pinguim, e mais um e mais outro. A vida da família começa a se complicar quando janeiro termina (são 31 aves!!!).

O ano segue o seu curso e a família vai tentando acomodar o bando em pilhas de 15, em caixas com dúzias, num grande cubo com 216 (!!!) animais. Mas sempre chega mais um para desorganizar a vida de todos. Como alimentar tantos bichos? Como manter a casa limpa? Como organizar a hora do banho? Além da bagunça, o mistério persiste: quem estaria mandando as aves diariamente para aquele endereço? E por qual motivo? No fim do ano, a casa está um verdadeiro caos, com 365 pinguins ocupando todos os espaços e obrigando a família a passar o reveillon do lado de fora quando, enfim, tudo se explica. E depois do fim, sempre com um bom humor, o livro nos oferece uma surpresa que, no mínimo, nos arranca mais um sorriso.

O texto brinca com soluções matemáticas sem ser chato. E fala sério aos olhos e ouvidos de todos sobre um tema atualíssimo: o aquecimento global. A família de Amanda e Téo vivem um ano difícil depois que os pinguins foram morar na casa deles. Será que a gente não está ocupando e incomodando tantas outras “casas” por aí? A história é ótima, bem escrita e ilustrada, numa edição caprichadíssima. Originalmente publicada na França (terra que normalmente não abriga pinguins), o livro, agora editado em português, traz as aves aquáticas para mais perto do seu habitat natural – o Pólo Sul. Se você encontrar o bando por aí, numa livraria (preste bem atenção porque eles não cabem numa estante tradicional) não se incomode em convidá-los a conhecer o aconchego do seu lar. Além de não dar trabalho no mundo real, eles encantam, enfeitam e divertem. Pode crer. Palavra de roedor de livros.

1º de janeiro. Mais uma ano começa. 365 dias para guardar as boas histórias na cachola, na estante e sobre a geladeira. Porque não? Assim fizemos por aqui (veja a foto). Só espero que você não precise receber nenhuma destas aves via sedex. Mas se for este o caso, certamente ela virá com uma história intrigante, curiosa e cativante. Como a do livro 365 pinguins. Hatuna Matata!!!